Encanto escrita por Leah Montgomery
Hope estava sentada em frente a sua casa, observando sua pequena Clemency de apenas cinco anos brincar alegremente com um cachorro, enquanto folheava ardilosamente um livro que ela havia encontrado no testamento de sua mãe.
O livro possuía uma leitura complicada embora não passasse de um livro de receitas, em latim, por sorte essa era uma língua passada de geração a geração na família de Hope, mas era difícil imaginar o que uma simples parteira fazia com algo tão meticuloso e complicado como aquele livro.
Hope vivia do plantio e da venda de ovos e leite produzidos por seus animais, seu marido há pouco morto por uma briga costumava trabalhar nas docas de Salem, carregando e descarregando barcos para aqueles que podiam pagar por seus serviços. Mesmo estando em uma péssima situação financeira Hope se orgulhava por sua filha nunca ter passado fome e por serem bem vistas na comunidade, como mulheres simples, que frequentavam a igreja e estavam o mais afastado possível de qualquer hipótese de bruxaria.
Hope odiava essa gente que vendia a alma ao Capeta, ela era totalmente a favor das execuções e da excomungação, até houve uma vez em que ela depôs contra uma velha que havia enfeitiçado uma jovem e levado-a a morte, ela se lembrava perfeitamente como os olhos da mulher ficaram acinzentados quando caíram sobre a bela menininha e como ela adoecera algumas horas depois.
Cansada da brincadeira com o cachorro Clemency se levantou e foi na direção de sua mãe com um sorriso sapeca no rosto, Hope a pegou no colo com extrema ternura e cautela, como se a garotinha fosse uma porcelana rara, e encostando os lábios sobre a face da menina percebeu que sua febre voltara.
Há algumas semanas Clemency vinha sofrendo de ataques repentinos de febre, Hope já havia chamado três curandeiras à sua casa na esperança de curarem a menina, mas nenhuma de suas tinturas parecia surtir efeito sobre a estranha doença da filha, e Hope não podia dar o luxo de perder mais dinheiro e ovos de sua galinha, por mais que parecesse estranho desde a morte de sua mãe as coisas pareciam andar mais devagar nos negócios, as plantas demoravam mais a crescer e a produção de ovos e leite havia diminuído consideravelmente.
Mas Hope estava certa de que isso era apenas fruto de sua cabeça, uma mascara criada por sua dor para tampar a saudade que sentia de sua mãe e de seu marido, com Clemency nos braços dirigiu-se para dentro da casa, pondo-lhe sobre a cama feita de palha e retornando para buscar o livro. Quando chegou ao seu jardim deparou-se com uma mulher sentada sobre a grama, folheando seu livro, folheando não, fazendo com que as páginas se mexessem sozinhas.
O terror tomou conta de Hope enquanto ela dava alguns passos para trás e esbarrava na porta, emitindo um som que chamou a atenção da mulher, permitindo que seu único olho bom encontrasse os de Hope e que sua boca se abrisse em um grande sorriso.
- Sai daqui, agora! – Hope começou a gritar, mantendo-se o mais afastada possível daquele ser imundo.
- Não tema, não te farei mal algum, só estou interessada em seu livro, pelo visto você não tem ideia do que tem em mãos.
- Já avisei para que saia! – Hope berrou com mais intensidade, agarrando uma pequena vassoura que se encontrava encostada na porta.
- Sobre o alto da árvore uma menininha brincava, voava, voava, no céu sem estrelas, em busca de uma nova companhia – Cantarolou a mulher antes de se desviar das vassouradas que levava de Hope. – Vocês falam de nós mais quem esta me atacando é você. – Disse a mulher antes de mudar a página e recomeçar a cantar, fazendo com que Hope parasse o seu ataque. – Cantava e dança com os pássaros, ria, voava, voava, em cima da árvore, cantava com uma eterna alegria.
- O que você quer? – Perguntou Hope desesperada.
- Atenção. – Respondeu a mulher, voltando a cantar – Mas lá em baixo, com o olhar zangado, o povo todo rugia, voava, voava, a menina, levada a força até o fim de seus dias.
- Estou ouvindo, diga logo e vá embora.
Levantando-se, a mulher continuou a cantar – Para o fogo e o esquecimento aquela alma pura iria, queimada por ser livre, uma bruxa, quem diria. – Satisfeita com a sua canção a mulher abriu um grande sorriso, demonstrando a falta de vários dentes em sua boca. - Sua filha foi enfeitiçada. – Hope perdeu o equilíbrio.
Ignorando a sena patética de Hope caindo sentada sobre sua vassoura a mulher continuou – Aquela que tanto nos judia nunca pensou que seria o alvo, certo? Sua filha pode ser salva, mas para isso você terá de me ajudar, se me denunciar como bruxa acusá-la-ei de calúnia além ganhar alguns anos de vida extra com o elixir exuberante de vida que é Clemency.
- Farei o que você pedir, apenas salve minha filha! – Hope implorava e chorava, seu desespero era gigante e seu ódio se multiplicava cada vez mais dentro dela.
- Ótimo, me encontre a meia noite sob o velho salgueiro, mas vá sozinha, e leve esse livro com você. – Quando terminou sua frase a mulher começou a se distanciar da casa de Hope, voltando a cantar sua musica, Hope chorava agarrada ao livro, o que Clemency poderia ter feito para ser alvo de um feitiço?
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