Um Jogo Sem Fim (Hiatus) escrita por Lost in Neverland


Capítulo 3
Que os jogos comecem


Notas iniciais do capítulo

Olá, seus lindos!
Quero agradecer a vocês que estão acompanhando a história, espero que estejam gostando.
Enfim, mais um capítulo saindo fresquinho. Espero que gostem de lê-lo tanto quanto eu gostei de escrevê-lo! *-*
Boa leitura :)



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A multidão agora tornava-se cada vez menor e, o pequeno aglomerado de pessoas que restava, também já estava dispersando-se.

O corpo de Snow foi removido cuidadosamente por três homens. Talvez fosse imaginação minha, talvez eu realmente estivesse completamente surtada, mas, juro que ainda podia vislumbrar resquícios de um sorriso sarcástico, no rosto imóvel do presidente.

Ex-presidente, quero dizer.

“Fizemos um acordo de confiar um no outro.”

Ainda podia ouvir suas palavras ricocheteando em minha mente.

Quando o corpo inerte passou do nosso lado, tive a certeza que o sorriso não era imaginação minha. Ótimo, não estava completamente louca. O cara estava prestes a morrer, e morreu sorrindo. Ele só podia ser doente.

“Você ainda não venceu.” Sentia sua voz atrás na minha nuca e lembrei do fedor de seu hálito de sangue. Balancei a cabeça forte, como se isso pudesse expulsar todos os maus pensamentos. Certo, agora definitivamente eu estava ficando maluca.

Peeta me conduziu em direção à mansão.

- Coin disse que precisamos resolver alguns assuntos – falou ele

- Que assuntos?

- Boa pergunta.

Seus braços envolviam-se nos meus, encorajando-me a seguir em frente. Provavelmente eu ainda estaria paralisada no mesmo lugar se não fosse por isso.

Estava feliz em tê-lo ali, do meu lado. Por um momento pude vê-lo como o bom e velho Peeta. Isso me confortou. E mais confortante ainda, foi senti-lo tão perto de mim, pois significava que ele não pensava mais que eu era uma bestante. Ou, pelo menos parecia não me ver mais como uma.

- Como você está? – perguntei, e depois tive vontade de engolir as palavras de volta, já que foi uma pergunta meio ridícula. Afinal de contas, todos nós estávamos mal com tudo o que estava acontecendo. Era óbvio que ele estava se sentindo, no mínimo, nada bem.

Peeta deu de ombros e respondeu, parecendo distante.

- Vou sobreviver – disse ele, por fim. Percebi que seus olhos estavam marejados. Decidi não falar nada a respeito e seguimos adiante.

Caminhamos o restante do caminho em absoluto silêncio. Mas, não havia muito a se falar agora, afinal. Palavras de consolo soariam falsas e, palavras de comemoração, pelo menos para nós, soariam hipócritas. Perdemos nossa família aos poucos, e definitivamente. Um rastro de destruição foi deixado atrás de nós e por nós. E, provavelmente, um rastro novo ainda se formará. Engana-se quem pensa que tudo acabou e que, a partir de agora, a paz reinará.

Enquanto o ser humano viver, haverá guerra. Não estou sendo negativa, muito menos pessimista, isso é um fato. Brigar e lutar pelos seus interesses, sejam eles certos ou errados, está na natureza humana.

Porém, apesar de nossa quietude, palavras trasbordavam em meio ao silêncio. Não precisávamos pronunciá-las, apenas sabíamos da existência delas, bem ali. Trocamos um olhar rápido que foi capaz de transmitir todas essas emoções e muito mais.

A entrada da mansão estava repleta de seguranças, por toda a parte. Essa visão fez-me lembrar dos Pacificadores percorrendo todo o Distrito 12, os Pacificadores castigando Gale, os Pacificadores procurando por nós, enquanto adentrávamos na Capital. Um arrepio percorreu a minha espinha.

Essa comparação, dos seguranças ali com os Pacificadores está errada, certo?!

Quer dizer, eu devo estar ficando neurótica, só isso. Os seguranças são rebeldes, vindos do 13, talvez? Não sei. Mas, de qualquer maneira, eles estão do nosso lado, não há motivo para temer. Deveria associá-los à segurança e não ao contrário.

Sim, eu só posso estar neurótica. Essa guerra não fez bem para a minha saúde mental.

- Bom trabalho – um dos guardas disse para mim, cumprimentando-me com um aceno de cabeça, enquanto eu entrava no lugar e, ele estava tão imóvel quando cheguei ali que levei um susto com sua voz. Achei meio inútil esse comentário, mas enfim.

Seguimos em frente.

A mansão estava lotada de gente, tanto do lado de fora quanto do lado de dentro.

- Segundo andar, quarta porta à direita.

Levei outro susto e dei um pulo, dessa vez porque não havia percebido esse segurança até ele levantar a voz grossa atrás de nós.

Peeta apertou mais forte meu braço, provavelmente porque percebeu meu desconforto. Fiquei grata com esse gesto.

Chegamos à sala, na qual fomos instruídos a entrar e parecia que acontecia uma reunião. O lugar era colossal. Havia muitas estantes transbordadas de livros e foi difícil imaginar Snow, ali lendo. Três lustres de ouro pendiam do teto, com breves detalhes incrustados de... aquilo seria diamantes? Perto das estantes de livros, havia uma lareira, que estava apagada. Sofás grandiosos colocados estrategicamente ali, nem tão perto e nem tão longe da lareira. Mais para o meio da sala encontrava-se uma mesa de jantar suntuosa cujas algumas cadeiras eram ocupadas.

- Olha só, vocês chegaram – disse Coin, com pouco entusiasmo – Ótimo, vamos começar – anunciou ela, dessa vez já com mais animação – Sentem-se.

Sentei ao lado de Haymitch e Peeta seguiu-me, ocupando a cadeira do meu outro lado. Estavam presentes, além de mim e Peeta, Johanna, Beetee, Haymitch, Annie, Enobaria e Coin. Todos ainda vestindo os uniformes cinzentos dos rebeldes do 13.

- Bom, como vocês se lembram bem – começou Coin – foi decidido que faríamos uma nova edição dos Jogos Vorazes, usando as crianças relacionadas diretamente àqueles que tinham mais poder.

- Isso é ridículo – disse Peeta

- Não interessa o que é, o que interessa é que vivemos uma democracia, e baseando-se nisso, a maioria decidiu que assim seria então assim será.

Soltei uma risada nervosa. Todos os olhos se voltaram para mim.

- Democracia? Se isso realmente existisse não estaríamos aqui. Não seja hipócrita, por favor.

Coin me fulminou com o olhar.

- Você não quer vingança? – disse Johanna, virando-se para mim e em seguida correndo os olhos para todos os que estavam ali – Todos vocês, não querem vingança? Esse é um bom jeito. Como Coin disse, sem muito desperdício de vidas.

A presidenta exibiu um sorriso seco, e voltou-se para mim, com os olhos em chamas, ainda me fulminando.

- Achei que tivesse votado “sim”, sra. Everdeen.

- E votei. Mas agora percebo que foi um erro, estava com a cabeça cheia, não conseguia pensar direito. E é claro que quero vingança, mas devo descontar minha raiva nas pessoas certas - respondi

- Acabar com os Jogos Vorazes, não era esse motivo principal de toda essa guerra? Essas crianças não têm culpa de serem parentes de quem são. Pelo amor de Deus! – explodiu Peeta – Escutem só o que vocês estão falando.

- Proponho uma nova votação – falei, um pouco alto demais.

Sei que, inicialmente votei em haver essa tal edição dos Jogos Vorazes, proposta pela Coin. Mas, não menti quando disse que estava com a cabeça cheia. Prim se fora, e eu estava com raiva por conta disso, tudo o que eu queria era liberar minha raiva e frustração de alguma maneira. Frustração por não ter tido como salvá-la, raiva por ela ter sido enviada até lá. O sangue subiu à minha cabeça e um bolo começou a se formar em minha garganta. Senti o arrependimento de não ter matado Coin quando tive a oportunidade.

Ela tinha culpa, Snow tinha culpa, muita gente tinha culpa. Mas, definitivamente, as crianças da Capital não eram culpadas de nada. Eram apenas crianças! Como Peeta bem lembrou, elas não pediram para nascer no berço de corrupção. E já que nasceram, não significa que seriam assim também.

Será que, na primeira edição dos Jogos Vorazes, houve uma reunião assim? Para decidir o futuro dos rebeldes dos distritos?

Lutamos contra isso, e não seria justo e menos ainda, correto, defender uma coisa que sempre fomos contra.

- Não era a única de cabeça cheia aqui, Coin. Todos nós estávamos. Por isso, acho mais que justo uma nova votação. O que você tem a perder com isso? Você mesma nos disse que, caso houvesse jogos, o público saberia que fomos nós quem decidimos. Então, não há nada a se opor – disse, dirigindo-me à presidenta, e, sem perceber, desafiando-a a discordar de mim.

Seu olhar ainda tinha chamas dançando e ela exibiu aquele mesmo sorriso seco. Em muitos aspectos, poderia dizer que ela se assemelhava muito à Snow.

- Tudo bem, então, podem votar. Katniss, você vota sim ou não para a nova edição dos Jogos Vorazes ir ao ar?

- Não.

 - Peeta?

- É claro que não!

- Johanna?

- Eu voto sim. Eles não se importaram em quem descontavam a raiva e agora, é minha vez de não me importar.

- Beetee?

- Não.

- Haymitch?

- Concordei com o Tordo na última votação, optando pelo sim, e continuo com o Tordo agora. Não.

- Annie?

- Não.

- Enobaria?

- Sim.

- Cinco pessoas votaram não – disse Peeta – e apenas duas, sim. O que significa que os seus Jogos não irão acontecer.

- Quem te disse isso? – retrucou Coin, com um brilho maldoso no olhar – Eu sou a presidente agora, portanto, eu decido.

- Como é que é? – perguntou Haymitch

- Eu achei que nós que decidiríamos. Ah sim. Claro. – começou Peeta – Nós servíamos apenas como um escudo seu, certo?

Coin apenas se limitou a sorrir secamente e disse:

- Talvez.

Ela olhou para mim, com o brilho mortífero em seu olhar ainda presente.

- Os Jogos continuarão. De forma diferente, mas continuarão. Ainda vamos resolver os detalhes, mas isso será uma coisa rápida – disse ela, gesticulando bastante com as mãos – E vocês não podem fazer nada contra isso. Eu sou a presidente, certo?

- Você já repetiu isso milhões de vezes, ninguém aqui é surdo – murmurou Peeta

Ela o fulminou com o olhar.

- E caso tentem ir contra as minhas ordens, haverá consequências.

Coin sorriu e levantou-se da cadeira onde estava sentada.

- Essa reunião está encerrada, podem ir.        


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?