A Riddle escrita por petit_desir


Capítulo 18
For Martha -




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if you have to go, don't say goodbye;
if you have to go, don't you cry;
if you have to go, I will get by;

someday I'll follow you and see you on the other side.
- - - - - - - - - - - - - - -



Por mais que fosse difícil de acreditar, todo aquele procedimento, toda aquela cerimônia, parecia como uma trágica música. O ritmo de nossos passos adentro do cemitério, eram os mesmos das notas tocadas ao piano. Ray tinha os olhos vermelhos, inchados... E eu, também. A música era triste demais. Nenhum de nós conseguíamos nos conter... Nós cantávamos baixo... “the past has let me be returning as if dream... shattered as belief”... ninguém entendia por que cantávamos isso, mas, era a música para aquele dia. Todos vestiam preto, manchas escuras diante de nossos olhos. Guarda-chuvas voavam para longe, pela ventania, que aos poucos se acalmava. “But for the grace of Love, I'd will the meaning of heaven from above”... Já tínhamos 17 anos, naquela época... Éramos grandes, quase homens... Mas, mesmo assim ainda chorávamos como duas crianças. A música triste reproduzida dentro de nossa cabeça fazia com quem ambos andassem bambos, como se não tivéssemos coragem em nossas pernas. Poucas vezes havíamos ficado assim, mas, hoje era o inconsciente falando... era nosso coração sangrando e nossa alma chorando. Sem que pudéssemos, ainda carregávamos o caixão sobre nossos ombros entre as lápides. Nós tentávamos não cair, nem escorregar, tentávamos honrar o seu nome... Mesmo parecendo impossível. Naquele momento, um enorme vazio crescia em nossos peitos, fazendo que fraquejássemos. O chora era inevitável e não apenas para nós... Todos lá... Todos pareciam sofrer com a perda de Martha, a mãe de Raymond. Ela havia sido baleada três dias antes, quando voltava do supermercado. Eu e Ray estávamos viajando... E havia um enorme aperto em nossos corações por não termos dito que a amávamos mais, antes de irmos... Por mais que não fosse minha mãe... Eu a considerava. Saber que nunca mais a veríamos, receberíamos um abraço dela, um “eu te amo”, fazia com que ficássemos destroçados... A chuva fria se tornava cortante, como se aquilo aumentasse cada vez mais nossa angustia. Ainda marchávamos como se a música ecoasse em nossas cabeças. A tristeza era tão vital, tão viva, vívida... Tudo. Podíamos tocá-la, senti-la, cheirá-la. “Your picture out of time left aching in my mind, shadows kept alive”. O pai de Ray não chorava, mas, podia-se notar uma enorme tristeza em seu rosto duro e machucado pelo tempo. Era como se todos nós houvéssemos levado uma bofetada no rosto e tivéssemos perdido o rumo. Quando todas as orações foram feitas, o padre pediu para que falássemos algo sobre ela... Raymond foi o primeiro, mas, parou no meio sem condições de continuar... Sua voz gaga, os olhos derramando lágrimas... Todos nós começamos a chorar. Então, eu decidi falar algo. Havia escrito na noite anterior, sem ter certeza de deveria... Mas, quando todos lá falavam, eu precisei também dizer... O quanto Martha significava para mim.

QUOTE

Quando eu ainda era um bebê, fui abandonado. Então, minha vida permaneceu vazia, até os 11 anos quando conheci Raymond. Não apenas para sua casa ele me levou, como me apresentou sua família e a mesma me fez parte dela. E hoje em dia, eu posso falar com convicção que eu os amo como se realmente fossem sangue do meu sangue. O pai de Raymond me tratou como um filho e sua mãe, Martha, também. Martha era não apenas uma mãe para mim, como também era um ídolo. Sei que falo por Ray também, quando digo que nosso amor era eterno e incondicional. Ela foi uma mãe para mim, me deu tudo que a minha verdadeira não pôde e eu retribui com o amor mais sincero que existia dentro de mim. Quando crescemos sem ninguém, percebemos o quanto pode ser dura a vida... Martha fez da minha mais suave. Talvez ela nunca soubesse disso, tanto por quê não sou o tipo de homem que fala o que sente, tampouco demonstra... Mas, a falta que ela fará nos deixará marcados para sempre. Tenho certeza disso. O mundo tirar uma mulher dessas da Terra, me faz perguntar qual é o grande plano de Deus. Os testes, o sofrimento... Ela costumava dizer que todos temos uma hora. Pelo menos, foi o que nós disse... Para mim e para Ray, no enterro de Emily, nossa amiga que veio a falecer alguns anos atrás. “Todos temos uma hora”. Hoje, infelizmente, foi o da Sra. Knight. Gostaria de dizer que não, que ela não precisava ter partido, mas, talvez sua missão estivesse cumprida. Comigo eu sei que estava, por que ela me deu um pouco de mel, enquanto eu me afogava em tanto fel.”


‘Long horses we are born, creatures more than torn... mourning our way home’

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