Krasnaya escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
krasnaya


Notas iniciais do capítulo

Posso dizer que isso é para a AnaStrakovinch porque mimimi, você postou uma foto esses dias no FB que me deu Russian feelings, ok? Enquanto não vou pra lá, eu me corrôo com esses feels e leio autores russos, ouço músicas russas e tento falar um pouco da língua -Q



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A Rússia era como ele esperava: fria e bela. Ele sentia seus dedos congelarem mesmo por debaixo da luva grossa que ganhara de presente de Abraxas e seus dentes baterem mesmo por detrás da gola do casaco e do cachecol que usava no pescoço. Aquele frio parecia penetrar-lhe o corpo de tal maneira que nem mesmo toda a roupa pesada poderia protegê-lo, e penetrava-lhe até as veias, misturando-se ao seu sangue e gelando tudo o que podia dentro de si. Talvez essa fosse a explicação para a conhecida frieza russa. Realmente, o frio lhes congelava a alma e o coração.


Ainda se perguntava porque diabos fora até lá, mas então se lembrava daquele homem, aquela figura quase mística da qual ouvia tanto falar por parte de Malfoy. Anton Ilitch Dolohov, o russo das maldições complicadas e da irmã morta. Isso e o fascínio que tinha pelo país, é claro. Ele nunca admitiria para mais ninguém alem de Abraxas, mas Dostoievsky e Maiakovsky tinham um lugar especial entre os seus pertences. A Rússia que via ali era a Rússia de Dostoievsky: fria e cruel, mas ainda esperava ver a paixão de Maiakovsky em algum lugar e esperava que esta o aquecesse um pouco.


Combinara de encontrar com Dolohov em Moscou. Aparentemente o homem não era dali, mas sim de algum fim do mundo na Sibéria, mas volte e meia aparecia na cidade para tratar de alguns assuntos que intitulava de pessoais. Dolohov era quase um tipo de mercenário que recebia dinheiro tanto de bruxos quanto de trouxas para fazer o seu trabalho, apesar de sempre torcer o nariz para os trouxas. De qualquer forma, ele tinha curiosidade de conhecer aquele bruxo e isso o levou à Moscou. Isso e a Catedral de São Basílio, que se erguia na Krasnaya Ploshad’ e coloria o cenário cinzento com suas cúpulas coloridas. Era incrível aquilo ainda estar de pé em pleno regime soviético, mas Tom acreditava que a possibilidade de a construção estar protegida com inúmeros feitiços era enorme, afinal, Ivan Grozny fora o primeiro soberano a confiar tanto em bruxos. Ivan e sua Oprichnina. A magia estava fixa naquele país desde os primórdios dele.


Mas, apesar do frio, ele não podia dizer que não estava gostando de lá. Era lindo, era quase mágico, apesar de estar entre trouxas. As cúpulas da catedral pareciam algo de outro mundo aos seus olhos; os muros do Kremlin também se destacavam no meio do cinza e do branco; a arquitetura do Museu Histórico do Estado enchiam os seus olhos...


E, para completar tudo, o som à sua volta. Russo. Ele já ouvira o antigo médico do orfanato falando aquela língua e o som dela sempre lhe enchera os ouvidos. E ali ele percebia como aquilo parecia música: intenso e complicado e com aqueles erres fortes demais que fazia a língua de quem o falava tremer contra o palato. Ele mesmo falava um pouco, muito pouco, mas nunca conseguia reproduzir aqueles sons com exatidão. Mas ali ele podia ouvi-la o tempo inteiro... Nada da fluidez do inglês ou da suavidade do francês, apenas a força e brutalidade russa, características as quais disfarçavam uma fluidez e uma suavidade tão intensa quanto a do inglês e do francês.


Ele podia ficar o dia inteiro ali, observando a praça e se esquecer de seu assunto principal. Podia perder-se no tempo ouvindo os dois homens ao seu lado falarem com tanta força que pareciam estar brigando... Ou ouvir a senhora há alguns metros que cantava alguma cantiga para a criança que carregava nos braços. Era fácil perder-se com tudo aquilo, mas não era fácil não perceber o olhar gelado que recebia de um desconhecido. Certo, não era um desconhecido completo. Ele já havia visto aquele rosto em fotografias, mas ele normalmente estava acompanhado de uma jovem bonita e de sorriso gentil. Ali era apenas um rosto carrancudo e solitário no meio de tantos outros. Um rosto russo, com toda a melancolia russa, perdido no meio de tantos outros russos. Ele poderia ter passado despercebido aos seus olhos ingleses caso ele não o tivesse visto em fotos antes.


O russo na língua de Dolohov parecia ainda mais forte. Parecia que ele falava para ferir, para acuar os outros. Até mesmo seu ‘Zdrastvuity, vy Riddle?’ soou terrivelmente agressivo, como se ele estivesse pronto para lançar-lhe uma maldição caso não gostasse de sua companhia. Para a sua sorte, Anton Ilitch pareceu se contentar com o seu ‘Da, eto ya, Anton Ilitch’ um tanto travado, já que sua expressão séria pareceu aliviar um pouco. Muito pouco, mas já era algo. A conversa que se seguiu em russo fora rápida e um tanto estranha - ‘Ty govorish pa-russkii?’ perguntara Dolohov, um tanto surpreso, mas sua resposta pré-formulada e lenta fora o suficiente para fazer o homem rir e começar a falar com um inglês manchado com um sotaque forte.


O que se seguiu fora uma garrafa de vodka, algumas palavras russas soltas no meio da palavra, uma explicação rápida sobre a situação política do país e uma troca de idéias em relação ao poder dos bruxos sobre os trouxas. O russo que escapava das bocas das outras pessoas ao redor deles abafava a conversa e o frio traiçoeiro parecia dar à eles a atmosfera ideal para a negociação que se desenrolava lentamente entre os dois bruxos. Tom decidira que a Rússia era um bom lugar para fazer negócios.




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Notas finais do capítulo

1) Krasnaya Ploshad - Praça Vermelha
2) Zdrastvuity, vy Riddle? - Olá, você é o Riddle? ("Zdrastvuity" na real significa algo tipo "esteja bem", é uma saudação usada lá)
3) Da, eto ya, Anton Ilitch - Sim, sou eu, Anton Ilitch.
4) Ty govorish pa-russkii? - Você fala russo?
5) Anton Ilitch Dolohov - no livro é Antonin, mas na minha cabeça ele assumiu o nome Antonin quando foi morar na França em algum momento da vida dele. O equivalente russo é Anton. Ilitch é o patronímico, ou seja, o pai dele se chamava Ilya.


Ao invés de estudar russo eu fico escrevendo essas coisas, argh.



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