Meu celular tocou. Aquele barulhinho único dizia que havia chegado uma nova mensagem. Coloquei o celular entre as pernas, pra que o professor não percebesse. Abaixei a cabeça e comecei a ler mentalmente: "Precisamos muito de sua ajuda. A gente pode se encontrar no intervalo na sala de laboratório? Descobrimos também que Alice namora com ele. Vamos falar agora com ela. E quando a Edward Cullen... Ele que nos aguarde. Dê um toque depois de ler essa mensagem".

     Franzi o cenho. Como elas descobriram o número do meu celular? Ai... Por isso que eu detesto o funcionamento dessa escola. Todo mundo sabe o número de todo mundo com a maior facilidade. Liguei para o numero que havia no remetente de quando recebi a mensagem. Me encolhi mais um pouco na cadeira e coloquei o telefone proximo de minha orelha. Esperei chamar uma vez e desliguei. Pronto! Guardei o celular no bolso e esperei até que o sinal tocasse. Não demorou muito e ele tocou. Esperei que a sala se esvaziasse e todos saissem. Quanto menos gente me visse com as meninas, menos iriam desconfiar.

- Não vai pro intervalo, Bella? - Mike perguntou, parando na porta.

- Ah... Ahn... Ah... É... - gagueijei. Droga. Espera. Respira, inspira e agora responde. Você consegue Bella. Minta! - Não... Vou ficar aqui um pouco. E depois... Talvez eu desça pra poder tomar um pouco de ar.

- Quer que eu te faça...

     Companhia. Era isso que ele ia falar. Mike Newton definitivamente não desistia de mim. Que droga! Não gostava muito de misturar amizades com namoros. E Mike eu considerava apenas um grande amigo. 

- Ah. Não, não, obrigada. - interrompi-o.

- Tudo bem então.

     Ele saiu então, me deixando só na sala. Quando ele se distanciou o máximo, decidi sair da sala e ir até o laboratório, onde tinhamos marcado. Do lado de fora da porta, dava pra ver pelo menos a sombra de que estava lá dentro: quatro meninas. Parei um pouco pra pensar em desistir. Mas uma vingança viria bem. Detestava homens daquele tipo: diziam coisas bonitas, as mulheres se encantavam, eles davam um beijo e depois pediam desculpas dizendo que fizeram aquilo por impulso, isso fazia com que as mulheres se apaixonassem ainda mais por eles, depois eles iam usar isso contra elas, dizendo que também estavam apaixonados, iam pedir elas em namoro, elas obviamente aceitariam, ele se dedicaria um dia inteiro pra elas e no dia seguinte, as trairia. Lindo isso, não é? Claro que não. Fizeram isso com elas, fizeram isso com minha mãe. Eu fico pensando... E quando for eu a iludida? É, provavelmente eu ainda me juntaria à massa de mulheres iludidas do mundo. E precisava dar o troco. Mais confiante ainda, apertei com força a maçaneta da porta e pressionei-a para baixo, fazendo com que a porta se abrisse. Elas olharam na mesma direção automaticamente, na mesma hora e ficavam mais tensas a cada passo que eu dava na direção delas.

- Ahn... - respirei, tomando coragem de falar de novo e um pouco mais audivel. - Olá. Estou aqui.

- É verdade o que elas falam? Ele está mesmo namorando todas nós ao mesmo tempo? - Alice vinha em minha direção, com os braços cruzados.

- É o que parece. - eu disse, meio sem graça, arrumando uma mecha de cabelo que insistia em cair como franja por cima do meu olho.

     Ela deu um murro numa mesa, em que antes ela estava encostada.

- Droga! - ela dizia. - Como eu pude ser tão burra?

- Da mesma forma que todas nós fomos. - Angela aparecia entre nós, saindo por trás de Rosalie.

- Você vai mesmo nos ajudar? - Jessica perguntou.

- Tá. Se vocês me disserem o que eu posso fazer... - dei de ombros.

- Bom... - Jessica olhou pras meninas e todas riram. Não entendi a graça. Aliás, entendi quando Jessica suspendeu um vidrinho cheio de pimentas. - Você já pensou em ser cozinheira, Bella?

- Hã... Não. Mas o que, vocês querem que eu... eu...?

     Elas acenaram com a cabeça.

- Sim, queremos que você coloque essas pimentas no almoço do Edward. - Jessica balançava o frasco de um lado para o outro, rindo. - Pode fazer isso?

     Franzi o cenho, achando tudo aquilo bem ridiculo. Precisei reformular meus pensamentos, o mesmo que eu havia pensando antes de abrir a porta.

- Tudo bem, eu faço.

- Dizem que essa pimenta é a mais ardosa, não é? - Alice perguntou, mordendo os lábios.

- O que é? Vai dizer que ficou com peninha agora do Edward? - Impaciente, Rosalie virou-se para ela, esperando uma resposta.

- Não, Rosalie. É só que...

- Chega! - ela ordenava.

- Olha só, quem é você pra falar assim comigo, hein? Lembre-se, eu sou a namorada dele. - Alice respondeu, enraivecida.

- Rá, rá. Como se isso valesse alguma coisa. Acorda, todas nós somos. - Angela foi pra cima delas duas.

- Guardem suas raivas pra ELE. Não briguem entre si. - falei mais alto que todas elas. Elas me obedeceram.

- Tudo bem, já disse que faço. Mas a pergunta é: Como faço? - perguntei, enquanto pegava a pimenta das mãos de Jessica.

- Angela tem alguns contatos com as cozinheiras e se ela insistir um pouco e fingir que você vai fazer um teste pra trabalhar nessa area porque seus pais tão desempregados e agora você vai sustentar a casa, acho que elas vão cair direitinho e deixar você entrar. Lembre-se, só no prato dele. - Jessica explicava.

- Tá... - a única coisa que consegui responder.

     Antes mesmo que eu dissesse mais alguma coisa, elas me arrastaram até a cozinha.

- Dona Cecília. - Angela dizia, abraçando a cozinheira enquanto todas nós entravamos na cozinha.

- É proibido entrar aqui, meninas! - ela dizia, com um leve sorriso no rosto.

- Vim por uma causa nobre.

     E elas contaram a falsa história dos meus pais, que Jessica havia criado. A cozinheira se sensibilizou e deixou que eu fizesse o tal teste. Vesti meu avental, pus as luas e a máscara cobrindo meu nariz e minha boca e elas saíram da sala, deixando-me sozinha com as cozinheiras.

     Como todas estavam segurando a bandeja de pratos, fiz o mesmo e as segui até o balcão. E fiquei esperando Edward Cullen. Não demorou muito e ele apareceu pela porta e com logo veio em minha direção.

- Meu prato, por favor. - ele disse, com a voz encantadora. Foco, Bella. Foco. Aquela era a primeira vez que ele havia falado alguma coisa para mim. Fiquei surpresa e não encantada, claro. Mas foi só isso que ele disse mesmo.

- Ah... Claro... - sem que ele percebesse, abaixei o prato embaixo do balcão e espremi as pimentas. Sorri, enquanto entreguei pra ele, mesmo sabendo que ele não iria ver meu sorriso por causa da máscara. Quando o prato passou perto do meu nariz, fiz uma cara de nojo. Ia sentir muita pena dele quando ele sentisse o gosto.

- Valeu. - ele agradeceu.

     O proximo prato era de Jake, mas não lembro se as meninas haviam dito pra que eu colocasse a pimenta no dele também. Não coloquei. Entreguei assim mesmo. E vi os dois se afastarem e seguirem até a mesa mais próxima.