Travelers escrita por sky_


Capítulo 1
Capítulo 1 -


Notas iniciais do capítulo

"Se é isso que você quer, é isso que você vai ter."



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Acordei olhando para o teto branco. Mais um dia como qualquer outro. Esfreguei os olhos, me espreguicei e olhei para o relógio. “8:30 a.m.” ele piscava.

- Que ótimo – resmunguei tentando me levantar.

Acordar atrasada já era rotina. Ninguém naquela casa se preocupava comigo, nem eu mesma... Peguei minha mochila e algo na geladeira e saí sem rumo. A escola de nada me servia mesmo. Não estudava, não tinha amigos. Antigamente eu era rodeada deles. Quando comecei a me tornar impaciente por causa dos meus problemas, eles simplesmente me deixaram. Se fossem bons amigos não teriam feito isso. Tirei meu caderno da mochila e o abri na primeira página, sendo recepcionada com um rosa. Na parte de dentro da capa eu sempre guardava uma foto do Diego Ferrero com uma rosa. Aquilo iluminava meu dia. Na vida eu não tinha ninguém além dele. Ok, ele não me conhecia e eu sinceramente não tinha esperanças de isso acontecer. A realidade dele era bem diferente da minha... Ele era famoso, lindo, charmoso e aparentemente legal. Quem eu estou querendo enganar? Aparentemente legal? Pelo que eu conheço ele (e, modéstia à parte, conheço muito bem), ele é perfeito. Talvez não pros outros, mas pra mim ele é. Ele havia nascido pra mim, mas não sei se eu havia nascido pra ele... Nunca tive esperanças de tê-lo comigo um dia. Sempre o vi como um deus, algo superior, um porto seguro, se é que dá pra entender isso. Sei que sou exagerada, mas aprendi a amar esse cara com todas as minhas forças. A primeira vez que o vi admito que o achei meio estranho... Mas quando ele sorriu.. Ah! Quando eu o vi sorrir pela primeira vez (mesmo que pela televisão), fui ao chão de joelhos prestes a derreter. Eu já sabia quem ele era, já era apaixonada por sua voz.. Mas ele, depois daquele sorriso, me conquistou e foi me conquistando cada vez mais a cada dia que se passava. Botei meu caderno debaixo do braço e segui andando por aí. Andei em linha reta, dobrei diversas esquinas... Não demorou até eu me perder.

- Pronto, acho que encontrei o lugar certo.

Me deparei com um prédio não muito grande mas muito bonito. Sentei no pequeno muro que protegia o canteiro de flores do prédio. Assim que me ajeitei no pequeno espaço que tinha, abri meu caderno e comecei a desenhar. Meu caderno só servia para duas coisas: encontrar meu Diego e desenhar. Admito que não desenho muito bem. Gosto de fazer rabiscos, corações, estrelas, bonecos, situações, coisas aleatórias... O lugar onde eu me encontrava parecia estar me ajudando. Além de ser uma rua bem bonita, eu não sabia mais o caminho pra casa, o que era tranqüilizante o suficiente pra que eu pudesse me divertir um pouco. Abaixei minha cabeça e desenhei, desenhei, gastei folhas e mais folhas. As horas haviam passado e meu caderno acabou. Resolvi desenhar na contracapa mesmo.

- Acho que você precisa de um caderno novo! – disse com um misto de riso e ironia uma voz masculina um pouco familiar. Parecia que a pessoa estava com dor de garganta. Dei de ombros e continuei rabiscando de cabeça baixa.
- Ok, não me responda se quiser. Sua cabeça parece ser tão confusa quanto seus desenhos! – gargalhou o estranho, que, mesmo rindo da minha cara, me pareceu simpático. Fui lançar-lhe um olhar de poucos amigos, mas, ao por meus olhos nele, agradeci ao fato de estar sentada, pois se não estivesse teria caído no chão de tão moles que minhas pernas ficaram.
- Diego? Diego Ferrero? – sussurrei tentando não gaguejar.
- Eu mesmo. – falou ele, rindo mais ainda. – Você me conhece?
Eu não podia dizer a ele que era a pessoa que mais o amava na face da Terra. Minha cara já estava me fazendo passar vergonha o suficiente.
- É, já ouvi falar de você. – falei.
- Ah, que bom! Assim facilitamos as apresentações! Só me falta você me dizer o seu nome! – e me estendeu a mão. A mão que tantas vezes passou pelo meu rosto nos meus sonhos.
- Victória. – respondi, tentando parecer um pouco mais simpática.
- Bonito nome. O que te traz aqui, Victória? – gelei ao ouvi-lo falar meu nome. Como eu podia falar pra ele que eu odiava minha vida e fugia dela o máximo que podia, chegando ao ponto de sair com a intenção de me perder? Sempre detestei contar meus problemas pras pessoas, principalmente quando as pessoas ficavam com pena de mim. Falei a primeira coisa que me veio à cabeça:
- Vim tomar um ar. Gosto de rabiscar ao ar livre.
- Você mora aqui por perto então? – ele me perguntou com uma simpatia inenarrável.
- Acho sim, não sei ao certo... Eu me perdi. – respondi sem conseguir controlar o riso.
- Eu moro aqui nesse prédio mesmo... – falou com o sorriso que tanto me encanta há anos – Mas como assim você se perdeu? Vamos, eu te ajudo a encontrar sua casa! Você sabe seu endereço, certo? – senti um ar preocupado em sua voz.
- Não precisa se preocupar. Eu prefiro assim. – disse e abri um sorriso desconfortável, que talvez nem tivesse aparecido em meus lábios se não fosse com ele que eu estivesse falando. Ele me olhou com cara de desconfiança. Havia uma diferença de idade significativa entre nós e ela definitivamente não estava torcendo por mim.

Certamente ele havia percebido que havia algo de errado na minha resposta, mas fingiu-se de desentendido e me chamou para subir em seu apartamento para comer alguma coisa, afinal já estava quase na hora do almoço. Sempre detestei lanchar ou fazer qualquer tipo de refeição na casa dos outros. Tenho minhas frescuras e sei que são extremamente irritantes. Não queria passar vergonha na frente dele, mas sabia que por mais que eu fizesse não teria nada além de sua simpatia e, com muita sorte, sua amizade. Sem saber o que responder disse um simples “certo, pode ser” e subimos. Comecei a ficar indiferente quanto à situação.

- Espero que você goste de sanduíche. – riu Diego – Não esperava visitas.

O largo sorriso que dei pra ele serviu como resposta. Achei engraçada a forma com que ele se preocupou comigo, tão atencioso... Mas ele não estava fazendo nada de anormal. Eu era a visita, ele o dono da casa. Só estava me tratando bem. Me deixou esperando na mesa e foi pra cozinha, de onde voltou 15 minutos depois com dois sanduíches extremamente tortos (porém muito gostosos).

- Eu sei que não está muito bonito mas... – ele justificou passando a mão na cabeça e rindo – fiz o melhor que pude!

Só pude rir da justificativa dele. Realmente ele era perfeito, não tinha como negar. Terminamos de comer, ele recolheu nossos pratos e deixou de qualquer jeito dentro da pia. Me ofereci pra lavar mas ele disse que não era necessário, que depois ele fazia. Diego, Diego... Sempre bagunceiro! Conversamos por umas duas horas até ele receber uma ligação. Pediu licença e desligou com um “Ok.”.

- Estou indo pro ensaio da banda agora. Posso te dar uma carona pra casa. Não tem desculpa pra não aceitar! – disse ele, mais simpático impossível.
- Mas eu não estou muito afim de ir pra casa agora... Pode deixar que eu volto mais tarde sozinha – respondi com visível desânimo. Aquilo foi o bastante para ele perceber que havia algo de muito errado comigo.
- Qual o problema? – ele me perguntou com tom sério.
- Nada... Só gosto de ficar sozinha às vezes. – menti.
- Sozinha? Hm, sei. Não é preciso te conhecer muito pra ver que você não está falando a verdade.
- Não estou mentindo! – insisti.
- Eu sempre soube que tinha cara de idiota, mas não a esse ponto! – respondeu rindo. Seu bom humor era inabalável.
- Ok, Diego, você venceu. Eu tenho meus problemas sim, mas te contar eles não vai me ajudar. – cheguei a ser um pouco grosseira, mas era a única forma dele parar de tentar me ajudar.
- Se não quer me contar, tudo bem. É compreensível, sou só um estranho. Se precisar de um amigo sabe onde eu moro. Por via das dúvidas... – parou de falar e pegou meu caderno. Folheou de trás pra frente até encontrar algum espaço em branco (e graças a Deus não chegou até a capa, onde ficava a foto dele). Lá anotou algo, rasgou o papel e o estendeu para mim após fechá-lo. Fiz cara de questionamento e ele disse o óbvio:
- Meu telefone. Agora que eu e o resto da banda nos acomodamos, tenho tido tempo de sobra. Pode me ligar pro que precisar. – sua expressão estava séria como eu raramente tinha visto antes.
- Não quero te incomodar Diego. – falei no mesmo tom que ele.
- Não vai ser nenhum incômodo. Me parece que você precisa de alguém, e se alguma outra pessoa não pode te ajudar, farei o possível pra conseguir.
- Quem disse que outra pessoa não pode me ajudar? – menti ao ver que ele percebeu o quanto eu era solitária. - Até parece que não seria incômodo!
- Se você tivesse alguém bom o suficiente pra te ajudar, não estaria em uma rua desconhecida fazendo rabiscos no horário que você deveria estar na aula. – era perceptível que essa não era a intenção dele, mas senti todas aquelas palavras serem esfregadas com fúria na minha cara.
- Como você sabe que é meu horário de aula? Eu posso estudar à tarde! – eu já estava gritando de tanta raiva. Ele podia ser mais velho e mais experiente, mas ele não tinha o direito de saber tanto sobre a vida. Principalmente sobre o meu tipo de vida.
- Talvez porque já estamos quase no meio da tarde e nada de você se coçar pra ir pra aula. – ele me respondeu o óbvio. É, passar todo aquele tempo ao lado dele me fez esquecer o tempo que passou.

Me vi na frente dele sem argumento. Uma mentirosa, problemática, sozinha. De repente, desabei no ar em meio às minhas lágrimas. Não chorava na frente de ninguém há anos, muito menos me abria pros outros. Os únicos que sabiam meus segredos, meus problemas, minhas lástimas eram os inúmeros “Diegos” que haviam no meu quarto, fosse em revistas, pôsteres, encartes de CDs ou até mesmo na minha imaginação. Parece que eu havia me esquecido que aquele Diego não era uma foto, não era uma voz, não era o meu travesseiro. Ele era o Diego real e tinha a vida dele. Por outro lado, os outros “Diegos” viviam pra mim, ficavam comigo 24 horas por dias e estavam me protegendo em qualquer lugar que fosse. Pra minha surpresa, ele me segurou e me sentou no sofá, sentando-se ao meu lado. Ele me abraçou em forma de proteção e posicionou minha cabeça em seu peito. Ele não falava nada, só o que se ouvia na sala era o meu choro infantil. Aos poucos fui me acalmando e pude ouvir o coração dele. No momento estava calmo, assim como sua respiração no meu cabelo. Aquilo me acalmava. Parecia o que minha mãe fazia comigo quando eu era pequena. Comecei a ver que era assim que ele me via. Uma criança. Eu não passava de uma criança pra ele. Eu não me importava, só queria a companhia dele. Quando vi que ele iria se atrasar pro ensaio, segurei o resto das lágrimas, me levantei rapidamente me desvencilhando dos braços dele, limpei as lágrimas restantes nas minhas bochechas e me desculpei com muita vergonha. Ele sorriu pra mim e me deu um abraço apertado (porém macio, assim como seus braços).

- Era sobre esse tipo de ajuda que eu estava falando. Parece que você não a tem há muito tempo. – falou baixo perto do meu ouvido. Aquilo era uma tortura.
- Obrigada Diego. Agora é melhor você se apressar, já deve estar atrasado! – falei nervosa.
- Não se preocupe com isso, os meninos vão entender. Aceita a carona agora? – respondeu ele com aquele sorriso perfeito.


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que tenham gostado do primeiro capítulo. ^^
Obrigada pela preferência! Próximo capítulo em breve! :D



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