Capuz Vermelho escrita por Greensleeves


Capítulo 36
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Pois é... acho que podemos dizer FIM agora. (Minha nova fic: http://fanfiction.com.br/historia/402387/Naquele_Verao )



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 Logam tinha acabado de desfazer suas malas, ele estava cansado e com fome. Ficar em Viena tinha sido muito bom, mas ele também sentia falta de casa.

 Desceu as escadas e foi para a cozinha. Pelo cheiro que estava no ar, sua tia preparava um bolo, e, só de pensar nisso, sua barriga roncou.

  "Podemos voltar no final do ano, não podemos?" -Ele perguntou sentando-se a mesa.

 Bertha riu.

  "Quem sabe." -Ela deu de ombros e colocou o bolo na mesa.

  "Você ouviu Artie, ele gosta de mim." -Logam sorriu olhando para a tia, que apenas negou com a cabeça e sentou na cadeira a sua frente.

  "Podemos ver isso. Mas lembre-se que a sua avó ficou sozinha todo esse tempo."

 Logam assentiu.

  "Por que não faz um bom ato e leva um pedaço de bolo para ela, ela ligou ontem anoite e disse que estava com saudades do neto querido." 

 Logam sorriu.

  "Tudo bem, mas eu posso comer o bolo primeiro?" -Ele perguntou.

  "Leva o pedaço e coma com ela." 

 Logam suspirou e acabou concordando.

  "Vou pegar meu casaco." -Ele disse indo até a sala.

  "Amo você." -Sua tia disse da cozinha.

 Logam pegou seu casaco vermelho que havia deixado na sala e voltou para a cozinha. Ele não estava com muita vontade de sair de casa no frio, mas só de pensar na sua avó, ele faria o esforço.

 Quando entrou na cozinha, sua tia arrumava a bolsa com o pedaço de bolo e outras coisas que havia preparado.

  "Seu amigo gostou de viajar?" -Ela perguntou.

  "Ele adorou." -Logam riu.

  "Ele voltou para casa tão rápido ontem. Nem quis jantar."

  "É... ele é assim." -Logam deu de ombros.

  "Pronto."

 Logam pegou a bolsa e lançou um beijo para a tia. 

 O dia estava frio, mas por sorte não nevava. Ele odiava quando um floco de neve caia dentro do seu casaco e ia escorrendo até o final das suas costas. Ele saiu pela porta e andou em silêncio pela calçada.

 Ele não pode deixar de perceber a fumaça que saia pela chaminé da casa de Annita. E percebeu que nesse tempo todo ele não havia pensando uma vez nela... E não sabia se achava bom ou ruim.

 Entrou na floresta e continuou andando em silêncios. As coisas estavam bem e normais. Ele não tinha ouvido nenhuma noticia de assassinato ou coisas do tipo, a cidade parecia calma agora. 

 Ele desceu os morros mas não escorregou em nenhum. Sua mente estava longe. Quantos flocos de neve caíam em uma noite? Neve era uma chuva congelada?

 Os pensamentos de Logam encerraram-se quando ele viu a porta sa cada de sua avó escancarada, as janelas quebradas e nenhum sinal dela.

 Ele não teve coragem de se aproximar, tudo estava bagunçado e jogado no chão. Mas onde ela estava?

  "Logam!" -Ele ouviu uma voz gritar seu nome e se virou para a fonte.

 Sua avó vinha em sua direção em passos devagar mais desesperados.

  "Vó." -Ele foi até ela e tentou dizer algo, mas não sabia o que.

  "O que houve? O que houve com a minha casa?" -Ela gaguejava olhando tudo em volta.

  "A senhora esta bem? Esta ferida? Onde estava?" -Logam a enchia de perguntas.

  "Querido, eu estou bem." -Ela disse segurando sua mão.

  "Quem fez isso?" 

 Ela o olhou e seu olhar responde a pergunta.

  "Eu estava na casa da Merthir." -Ela respondeu, mesmo Logam não fazendo ideia de quem era essa pessoa.

  "Vó..." -Logam correu o olhar pela casa, pelas paredes e pelo chão. Foi quando percebeu algumas marcas na parte de terra que terminava a floresta- "Alguém..." 

 Logam entregou a bolsa para a avó e foi atrás das marcas no chão. Ele não sabia ao certo do que estava atrás, apenas queria saber quem tinha feito aquilo. Teria sido um ladrão? E se sim o que ele procurava? E se sua avó estivesse na casa? Ela poderia estar ferida...

 Perguntas e perguntar, tudo rondava na sua pequena cabeça. Sua respiração era a unica coisa que ele ouvia na densidão da floresta. estava frio, sua mão tremia e seus olhos procuravam por mais marcas na grama. As vezes se questionava se não estava indo longe de mais, se não era melhor deixar aquilo para as autoridades. 

 Ele sentia sua nuca esquentar e suas mãos suarem. Então ele viu a fonte de todos os seus problemas.

 Na sua frente não estava um ladrão, um delinquente ou até um estranho. Ele sabia quem era, ele já tinha visto aquilo antes. Na quela floresta.

 Imagens invadiram sua mente. Tudo vinha a tona. Annita. A floresta. A corrida. Medo. Gritos. Pelo. Olhos. Desespero. Raiva. Lobo.

 A alguns metros a sua frente, estava o lobo.

 Se Logam o tivesse visto pela primeira vez, teria corrido para sempre. Porém ele já o tinha visto, e o tinha visto na pior maneira possível. Mas não agora. Ele estava passivo e calmo. Parecia apenas uma criatura descansando. Uma criatura assustada e confusa, assim como ele.

 Logam não sabia se corria ou ficava olhando aquilo a sua frente. Ele não conseguia imaginar o que teria acontecido com a sua avó se tivesse ido de encontro a ele. Ele tentava evitar isso.

 Então a criatura soltou algo parecido com um suspiro e, em uma fração de segundos, suas costas começaram a se desfazer como se toda sua pele fosse uma capa de veludo. Seu tamanho começou a diminuir... encolhendo... encolhendo, até ficar na mesma altura que Logam. Sua cabeça careca começou a criar finos fios de cabelo e suas mãos tingiram de um rosado claro.

 Agora a criatura não passava de apenas uma pessoa.

 Logam não acreditava no que via. Seu coração parecia saltar do peito, que doía como se tivesse sido acertado por um martelo. Tudo fazia sentido. Tanto sentido que ele começou a se sentir idiota por nunca ter percebido. 

 As mortes, Annita, a floresta, sua avó, a viagem, a festa. Tudo estava ligado.

  "Haskel." -Logam disse num suspiro, como se toda sua energia e fé tivesse ido embora com aquele único nome.

 Haskel virou a cabeça e olhou para Logam com os cantos dos olhos.

  "Logam." -Sua voz soou rouca e fraca.

 Logam não tinha reações. Ele tinha acabado de presenciar uma criatura assassina se transformar no seu melhor amigo. 

  "Não devia estar aqui." -Haskel disse se virando por completo.

 Logam desviou o olhar. Ele não queria ver, não queria acreditar que Haskel estava lá, que Haskel era a criatura. Ele cerrou os punhos tentando recuperar toda sua força, mas era inútil.

  "Eu sinto muito." -Haskel sussurrou, como se qualquer barulho fosse partir Logam aos pedaços.

  "Era você... o tempo todo." -Logam o olhou.

 Haskel mantinha seus olhos fixos em Logam.

  "Era." -Ele respondeu.

  "Você matou.. todas as quelas pessoas." 

  "Matei." -Haskel disse dando um passo a frente.

  "Como pode fazer isso!" -Logam gritou, e todo seu medo saiu com aquilo.

  "Acha que eu queria... Acha que eu queria?" -Haskel disse cerrando os dentes.

 Logam apenas o olhou.

  "Você acha que gosto de acordar todos os dias e saber que matei alguém?" 

 Logam desviou o olhar. A floresta estava muito silenciosa.

  "Você acha que eu escolhi ser assim!" -Haskel gritou- "Acha?" 

 Logam se escolheu com o tom da sua voz. Ele queria sair dali, queria estar bem longe.

  "Eu mato pessoas! Aquilo mata pessoas!" -Haskel apontou para o chão, como se a criatura estivesse deitada ao seu lado.

  "Todos temos escolhas." -Logam sussurrou.

  "Escolha!" 

 Logam tampou os ouvidos e fechou os olhos. 

  "Desculpe Logam." -Sua voz soava agora mais calma e melosa- "Eu não queria...não queria que estivesse aqui... não queria que tivesse visto isso." -Ele olhou para Logam- "Me perdoe." 

 Logam abaixou as mãos e olhou para Haskel.

  "O que você fez não tem desculpa... Você matou pessoas inocentes, matou Annita." 

 Haskel assentiu.

  "Eu não queria ter feito isso, não queria." -Ele negou com a cabeça, seus olhos se arregalaram, como se a floresta estivesse escura de mais para ver Logam- "Me desculpe."

 Logam negou a cabeça.

  "Você disse..." -Haskel apontou para ele- "Você disse uma vez que todos merecem o perdão." 

  "O que vocês fez não tem perdão, Haskel!" -Logam gritou tentando em vão silencias a voz de Haskel. Ele precisava pensar.

  "Eu não fiz isso.. Eu não fiz isso..." -Haskel deu um passo para trás e respirou fundo- "Lembra da minha história? O meu pai... O meu pai me caçou por dinheiro..." -Haskel desviou o olhar- "Ele me caçou... Dias... E quando me achou... Ele me caçou Logam. Que pai caça um filho?" 

 Logam olhou para Haskel, suas mão tremiam.

  "E quando finalmente ele pode mirar a arma... ele apertou o gatilho... apertou sim..." -Haskel encarava o chão ao seu lado- "Eu morri na quela noite... Mas por algum motivo... Algum maldito motivo eu voltei. Mas voltei com isso... eu não estava mais sozinho." -Ele olhou para Logam e apontou para o seu olho- "Vê isso? Eu tenho duas almas."

 Logam lambeu os lábios e suspirou.

  "Eu matei todos que se aproximaram de mim... Meu pai... Matylda... o senhor Shinniths... o velho lenhador... Essas pessoas queriam meu bem... e eu as matei, Logam... E quase matei você." 

  "Não." -Logam negou com a cabeça.

  "Mas... algo me impediu." -Haskel o olhou- "A menina."

  "Não! Não, você esta mentindo!" -Logam foi até ele e empurrou seu peito nu, fazendo Haskel cambalear para trás- "Isso são histórias, Haskel. Histórias... Bobas..." 

 Um barulho alto de metal se chocando metal fez Logam se calar. Toda a floresta ficou em silêncio depois disso. Logam se virou rapidamente tentando achar a fonte do barulho, mas não viu nada. Seus olhos voavam de canto em canto, mas ele percebeu que ele e Haskel eram os únicos na floresta.

  "Histórias bobas." -Ele disse, virando-se para Haskel.

 Mas Haskel apenas tirou a mão do canto da barriga, revelando um pequeno ferimento coberto de sangue.

 Haskel sentiu seu corpo caindo para trás como uma pena. Logam tentou segura-lo, mas ele foi rápido de mais. Com estrondo abafado, ele caiu no chão.

  "Haskel." -A voz de Logam entrou nos seus ouvidos, o fazendo sorrir.

 Ele não sentia dor, mas sentia algo molhado na sua mão. 

  "Deus Haskel. Você esta sangrando." -Logam disse se ajoelhando ao seu lado.

 Ele sentiu algo macio em baixo da sua cabela e uma pequena pressão no canto da barriga.

 Logam tentava tampar o ferimento com a camisa, mas a unica coisa que conseguia era manchar o pano branco de vermelho. Estava frio, suas mão tremiam e suas costas ardiam no ar gelado. Ele não sabia que gritava por socorro ou se tentava parar o sangramento.

  "Logam." -Haskel disse segurando seu braço, deixando uma marca vermelha no lugar- "Me escute."

 Logam negou com a cabeça. Aquilo não podia estar acontecendo. Haskel não estava ferido... não estava.

  "Logam." -Haskel chamou.

  "Que foi?" -Logam o olhou.

 Haskel sorriu ao ver os olhos castanhos do garoto de encontro aos seus.

  "Annita...Eu... Eu não queria..." -Ele tentava dizer, mas sua voz não saía.

  "Calhe a boca, Haskel." -Logam disse- "Você esta sangrando, eu preciso de ajuda." -Logam olhava desesperado ora para o ferimento, ora para a floresta, tentando achar alguma alma viva que pudesse ajuda-lo.

  "Logam... me escute..." -Haskel puxou seu braço- "Me perdoe...."

 Logam o olhou e respirou fundo.

  "A culpa não foi sua." -Ele sussurrou.

 Haskel subiu sua mão pelo seu braço, até parar no seu ombro. Ela tremia involuntariamente e isso incomodava Logam.

  "Haskel, por favor, me ajude." -Logam suplicou.

 Haskel pois a mão em cima da camisa e forçou a mão de Logam para longe.

  "Esqueça isso." -Ele disse.

  "Você esta sangrando muito..." -A voz de Logam falhou.

  "Eu não quero me lembrar de você preocupado, quero me lembrar de você sorrindo."

  "Você não vai morrer." -Logam limpou a testa com o braço e olhou em volta- "Socorro! Alguém me ajude." -Ele gritou com toda sua força que sentiu sua garganta sangrar.

  "Logam..." -Haskel sussurrou- "Esqueça isso... eu preciso morrer." 

 Logam o olhou.

  "Esta maluco, esta delirando." -Ele voltou a pegar a camisa e fazer pressão no ferimento que sangrava cada segundo mais.

  "Se eu morrer, menos pessoas vão morrer." 

  "As pessoas não morrem por sua causa." -Logam sussurrou.

  "Logam, por favor." 

 Logam suspirou e o olhou. A mão de Haskel acariciou seu rosto, estava tão fria que Logam se arrepiou com o toque.

  "Eu... eu não te disse isso... mas..." -Ele fez uma pausa e tossiu- "Eu... eu gosto muito de você." 

  "Eu também gosto..."

  "Você... você me fez sentir alguém... e não um mostro..."

  "Você não é um mostro." -Logam tentou se segurar, mas uma lágrima acabou escorrendo pelo seu rosto.

  "Você é... queria ter conhecido mais pessoas como... como você... Obrigado por me fazer feliz."

  "Haskel..." 

  "Annita... ela... sabia..."

  "Sabia o que?" 

  "Minha casa... na cama..." 

  "Haskel por favor." -Logam segurou sua mão e o olhou.

  "Então... O Lobo mal foi morto pelo Caçador... e Chapeuzinho Vermelho e sua avó viveram felizes para sempre na floresta." -Haskel disse em um suspiro e então fechou os olhos.

 Logam sentiu seu corpo sendo puxado para longe, ouviu vozes, mas todas abafadas. Algumas pessoas se aproximavam de Haskel, mexiam nele, tentavam tira-lo dali. Logam tentava gritar para deixa-lo em paz. Alguém o segurava, prendia seu braços. Sua voz não saia... O lobo estava morto.


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Notas finais do capítulo

bem.. como sempre.. eu quero agradecer a você que leu minha fic. Obrigada. sem você... eu acho que nunca teria chegado a isso. Obrigada ^-^