"Você fica muito bonita de branco." -Artie disse encostando na porta e olhando Bertha de cima a baixo.

"Não comece." -Ela sorriu e arrumou a manga do vestido.

"Só estou dizendo." -Ele deu de ombros e sorriu.

Bertha suspirou e sentou na cama.

"O que foi?" -Artie levantou uma sobrancelha- "Não parece tão animada."

Ela negou com a cabeça e juntou as mãos em cima do joelho.

"Estou preocupada, Artie." -Ela o olhou.

"Preocupada com o que?" -Ele fechou a porta do quarto e sentou ao seu lado.

"Muitas coisas." -Ela o olhou- "Com a minha casa, minha mãe e Logam."

"Logam?"

"Ele... esta muito diferente." -Ela desviou o olhar pensativa- "Eu achei que ele ficaria mais abalado com o que aconteceu. Mas ele parece tão normal."

"Não deve se preocupar com isso." -Artie sussurrou, pondo uma mexa do seu cabelo atras da orelha- "Fique feliz por ele estar bem."

"Mas... Ele anda estranho ultimamente. E aquele amigo dele, ele não me parece confiável."

"O que quer dizer com isso?"

"Logam estava na floresta quando acharam Annita." -Bertha o olhou- "Deus, me desculpe pelo que vou dizer, mas acho que Logam tem algo a ver com isso."

"Não diga isso." -Artie acentuou as sobrancelhas.

"Eu não quero pensar, mas toda vez que lembro do dia e de como ele ficou... E agora. Você tinha que ter visto-o, agora parece outra pessoa." -Os olhos de Bertha brilharam.

"Logam é um bom garoto." -Artie pegou sua mão- "Você não precisa se preocupar com isso."

No mesmo momento, Logam entrou pelo quarto e quando viu os dois na cama e o rosto de espanto da tia, recuou.

"Eu... Não quera atrapalhar." -Ele disse.

"Tudo bem querido." -Bertha se levantou e arrumou o vestido- "O que quer?"

"Só ia pedir ajuda com a gravata." -Ele disse entregando a mesma a tia.

A cidade toda estava iluminada e pronta para o término do ano. Logam e Haskel andavam atrás de Bertha e Artie. Os dois pareciam distraídos, mas de vez em quando Bertha olhava com o canto do olho para trás.

Logam sentia o pequeno objeto curioso formado chumbo no bolso e tentava entender sua imagem. Ele não sabia ao certo quando havia começado essa tradição de derreter chumbo e jogar na água, mas ele gostava, mesmo não acreditando muito na superstição. Só sabia que parecia com uma forma retangular, mas nada que pudesse influenciar seu ano seguinte.

"Acho que aqui é um bom lugar para ver os fogos." -Artie disse parando no meio do parque.

"É... Acho que sim." -Bertha disse.

Ele estendeu a toalha de mesa branca na grama e todos se sentaram esperando pelos decisivos dez segundos. Bertha tirou da cesta os copos e a garrafa de champanhe lacrada.

"Uma ótima visão." -Disse Haskel sorridente.

"Sim." -Logam concordou- "Você não me mostrou seu chumbo."

"Dá má sorte." -Haskel disse.

"Claro que não." -Logam riu- "Você nem é austríaco para acreditar nisso."

"Deixei em casa, depois eu te mostro e você tenta adivinhar."

Logam deu de ombros.

Ele começou a se lembrar do ultimo ano novo que passou com a sua mãe. Ela tinha feito porco e todos estava lá, sua avó, sua tia e alguns amigos. Ele se lembrava das risadas, do cheiro adocicado dos doces, do barulho da garrafa de champanhe sendo aberta e todos comemorando. Feliz ano novo, todos diziam, mas ele não entendia por que o ano tinha que acabar. Mas ele se sentia feliz... muito feliz...

"Um minuto." -Disse Artie.

Logam sorriu e olhou para o céu. Estava muito estrelado e bonito, como se o céu também estivesse comemorando o ano novo. Estava tão bonito que Logam ficou triste em saber que toda aquela beleza ia ser apagada pelos fogos. Ele suspirou e esperou.

Uma chuva de cores e brilho explodiu no céu. Haskel não sabia p que sentia. Era melhor que o natal... Mas um lado dele não queria que o ano acabasse, porem ele queria que acabasse e tudo que tivesse acontecido de ruim acabasse.

"Feliz ano novo." -Ele ouviu a foz abafada de Logam no seus ouvido.

Ele sorriu e desejou o mesmo.

Bertha suspirou aliviada e bebeu o champanhe. Artie brindou com o seu copo e sorriu. Tudo estava bem agora, ele disse com os lábios em silêncio.

Tudo estava bem.