Agora É Guerra! escrita por LDMRPB


Capítulo 18
Aquele do TOC de arrumação.


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei, o cap tava pronto já faz tempo, mas to passando por uma séria crise de coração partido. Por favor, me perdoem :(



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No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto



a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo



extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela — silêncio perpétuo



extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais



mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos

saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas.



É incrível como um dia pode começar bom, melhorar e quando você já acha que vai se tornar o melhor dia da sua vida, o dia começa a só piorar.

Quando eu cheguei em casa já não conseguia mais conter minhas lágrimas, e ignorando meus pais preocupados me tranquei no quarto gritando que precisava ficar sozinho. Me encostei em uma parede próxima à cama e deixei meu corpo cair até que lentamente encontrasse o chão. Eu não sabia o que era aquela dor, aquela raiva, aquela vontade de quebrar tudo ao meu redor ou de me jogar do alto do prédio. Eu só sabia que queria o beijo dele, queria naquela hora, queria nesse momento. Queria que ele aparecesse agora em minha casa, derrubasse a minha porta, me pegasse em seus braços e me beijasse até que eu não conseguisse respirar mais.

Novamente eu me encontrava naquela situação, sem saber se estávamos juntos ou não. Se ele me queria ou não. Se isso algum dia daria certo ou não. Minha mente gritava para que eu o esquecesse, seguisse em frente e partisse pra outra, para uma mais fácil, uma mais certa. Puxei meu travesseiro da cama e o trouxe ao chão junto a mim, o aproximei do rosto e gritei com toda a força dos meus pulmões, como se pra afastar toda aquela dor em gritos. E horas, horas mais tarde eu me acalmei, não sei se dormi ou se só viajei no momento, mas quando dei por mim, as lágrimas já tinham secado no rosto e meu telefone tocava me trazendo de volta a realidade.

— Alô!? – Atendi meio confuso não reconhecendo o número que ligava.

— Daniel? Sou eu, Rafael! – Falou a máscula voz do outro lado da linha.

— Oi, Rafa! Tudo bom? – Indaguei tentando demonstrar alguma empolgação em minha voz.

— Comigo está tudo bem, e com você? Me parece que você está precisando de um abraço. – Deixei um breve riso escapar pelos meus lábios.

— Está assim tão obvio? – Questionei.

— Apenas para um bom observador. – Riu. – Quer fazer algo pra distrair essa cabecinha? A gente ainda precisa colocar o papo em dia. – Analisei sua proposta enquanto caminhava até a janela do meu quarto e observava que o inicio da noite já tinha tomado o céu.

— Eu adoraria, mas estou sem carro. – Justifiquei.

— Sem problema, eu posso passar ai pra te buscar. – Sugeriu. Pensei rapidamente em sua proposta antes de decidir aceita-la.

— Eu vou avisar aos meus pais e te passo o endereço por mensagem, ok? –

— Claro, até mais então. – Despediu-se.

— Até já. – Após desligar meu aparelho dei uma longa respirada sugando todo ar em minha volta. Apenas Marco estava em casa e após avisar-lo que pretendia sair, voltei ao meu quarto para tomar um banho rápido e esperar pela ligação do Rafael, avisando-me que havia chegado. Demorou cerca de meia hora para que o moreno me enviasse uma mensagem avisando que me aguardava na frente da minha casa.

Adentrei no volvo prata que me esperava e o cumprimentei amistosamente ao entrar.

— E então, aonde você quer ir? – Me perguntou animado. Isso era uma das coisas boas que eu guardava em minha memória sobre o Rafa, com ele não havia tempo ruim, em todo o tempo que passamos juntos, eu não lembro de um dia sequer ter visto o moreno de mal humor.

— Não tenho ideia, mas de preferencia algum lugar calmo onde possamos conversar um pouco. Temos muito assunto pra colocar em dia. – Lhe sorri gentil, tentando parecer tão animado quanto ele com aquele reencontro.

— Podemos ir para um café, o que acha? – Sugeriu.

— Não sei, não estou muito afim de encarar desconhecidos. Que tal sua casa? – Opinei, tentando soar o menos atirado possível, e torcendo para que ele não achasse que aquilo era um convite para sexo.

— Você não está no clima de sair mesmo, não é? Não me lembro de um Daniel que gostasse de ficar em casa sem fazer nada. – Sua face revelou que essa era uma das memorias que ele guardava de mim. – Eu moro um pouco longe daqui, mas desde que você não se incomode com as caixas de mudança, acho que é o lugar perfeito para matarmos a saudade. – Apenas concordei, tentando não dar uma conotação sexual ao que ele acabara de dizer.

O Rafa começou a dirigir pela cidade a caminho do seu mais novo apartamento, no percurso, que demorou quase uma hora, conversamos bastante, mas apenas futilidades para matar o tempo. Ele me contara como acabara que de mudar para o país e como estava sendo desafiador trabalhar com seu pai exigente. Me contara também que ao decidir vim morar aqui definitivamente, ele terminara um noivado e que ele ainda estava bastante triste com a decisão e que as vezes se sentia muito solitário.

— Chegamos! Esse é o lar do mais novo e cobiçado solteirão do país! – Comentou com humor ao estacionar seu carro na garagem. – Peço novamente para não reparar na bagunça, eu não esperava receber visitas nem tão cedo. – Pediu aparentemente constrangido antes de abrir a porta e revelar a sua sala que era acoplada com a cozinha.

— Que é isso Rafa, nem ta tão bagunçado assim! – Menti, afinal a sala parecia um verdadeiro campo de batalha, caixas fechadas no local, algumas abertas com objetos caindo delas, além de roupas e pratos espalhados nos lugares mais inusitados.

— Desculpa, assim que eu tiver um tempo eu arrumo e contrato alguém para ajudar. Meu primeiro mês aqui tem sido uma verdadeira corrida com obstáculos. – Justificou, visivelmente sem graça.

— Por que a gente não arruma agora? – Sugeri recebendo um olhar estranho em minha direção.

— Devo me sentir ofendido ou chamar um manicômio? Quem em sã consciência se prontificaria para arrumar uma casa nesse estado? – Indagou com humor.

— Ah, eu adoro arrumação! – Falei com mais entusiasmo do que imaginava. – Por que você não liga esse som, coloca umas músicas legais e a gente pode começar. – Falei apontando pra um som encostado na parede que era quase tão grande quanto eu.

— Dani, eu não te trouxe aqui pra arrumar minha casa! Era pra gente fazer algo divertido e se distrair. –

— Mas isso vai ser uma mega distração, e eu bem que to precisando disso. – Minha voz falhou um pouco, fazendo com que o Rafael notasse.

— Então vamos fazer assim, a gente dá um jeitinho aqui e depois você me conta o que vem te tirando esse sorriso lindo do rosto, combinado? –

— Combinado! – Respondi bastante animado, o Rafa deve pensar que eu sofro de algum tipo de TOC de limpeza, mas arrumação é apenas uma das coisas que gosto de fazer quando não quero pensar nos meus problemas.

Dizer que tivemos trabalho seria um eufemismo, eu fiquei totalmente suado e até um pouco dolorido depois daquilo tudo. O Rafael colocou umas músicas latinas, que além de animadas foram uma ótima distração para os momentos de silencio, que foram pouquíssimos. Acho que eu nunca havia conversado tanto com uma pessoa como conversei com o Rafa. Lembrávamos de acontecemos do passado, falamos do momento em que perdemos contato, o que havia mudado em nossa vidas, ele me contou do seu emprego na firma do pai, dos seus relacionamentos falhos e quando o assunto virou nossos hobbies que os assuntos não acabaram mais, gostávamos dos mesmos esportes, filmes, séries, era como conversasse com uma versão minha mais velha e sensual. Umas quatro horas se passaram como se fossem alguns minutos e quando faltava apenas uma enorme pilha de pratos sujos o Rafa decidiu pedir uma pizza, algo que aceitei de bom grado, e combinamos até em nosso sabor favorito.

— Meu Deus Daniel, eu estou exausto! Senta ai e eu termino essa louça. – O Rafa pediu.

— Estou morto também, mas agora falta pouco. Se a gente se ajudar terminaremos mais rápido, eu lavo e você enxuga, ok? – Rafa concordou com a cabeça e juntos começamos a nossa última tarefa. Já próximo do fim da pilha de pratos eu senti o Rafa me abraçando por trás e me pegando totalmente desprevenido o que por muita sorte não resultou em um copo quebrado.

— Eu nem acredito que passei tanto tempo longe de você. – Sussurrou em meu ouvido, apertando-me ainda mais em seus braços, fazendo-me sentir a dureza do seu tórax contra meu corpo. Virei meu corpo para olhar-lo de frente e me deparar com sua beleza tropical.

— Eu também senti a sua falta. – Assumi, colocando meus braços em seu pescoço e recebendo um sorriso em resposta da atitude. Eramos quase da mesma altura, o moreno sendo apenas alguns centímetros mais baixo que eu, e com a proximidade do abraço, nossas bocas se distanciavam por um minusculo e sufocante espaço. O Rafael não esperou muito tempo para uni-las, seus lábios era grandes e macios, e foram sutilmente ao encontro dos meus, e como antigos conhecidos eles já sabiam por onde ir. A sutileza tornou-se cada vez mais voraz, e em determinado momento eu já me encontrava prensado contra a pia com seus lábios me devorando e minhas mãos passando sem pudor algum por seu corpo forte. O barulho do interfone nos separou a contra gosto. E pude ouvir um muxoxo de desagrado do moreno.

— Deve ser a pizza. – afirmou revirando os olhos em sinal de desagrado. – Por que não vai ao meu quarto, tomar um banho? Eu vou descer para pegar e deixo alguma roupa limpa sobre a cama. – Aceitei sem delongas, afinal meu corpo agora estava ainda mais quente e seria melhor acalmar um pouco os ânimos.

A suíte do moreno, assim como o resto da casa, ainda tinha caixas ocupando o chão, além de uma cama de casal e algumas prateleiras com porta-retratos e enfeites de países diversos o local estava praticamente vazio. Automaticamente me dirigir aos portas-retratos analisando as fotos que lá estavam. O sorriso do Rafael era genuíno em quase todas elas, alguns amigos junto a ele numa foto de formatura, outra que eu deduzi ser com a família, porém havia uma que se destacava das outras. O Rafael parecia totalmente infeliz, ao lado de um rapaz um pouco mais velho que ele em um aeroporto. O rapaz era atraente e ao contrario do moreno, tinha um sorriso em seus lábios que brilhavam em seu rosto.

Depois de matar a curiosidade caminhei ao banheiro da suíte, único comodo da casa que parecia completo. Enquanto arrumávamos a casa decidimos deixar o banheiro central como deposito, colocando quase todas as caixas lá. Tranquei a porta, peguei uma toalha que ficava em uma gaveta embaixo da pia e me despi. Me sentia suado e exausto da faxina que fizermos, e meu corpo, ao entrar em contato com a água morna, relaxou completamente. Não demorei muito no chuveiro, assim que ouvi o Rafael bater na porta e dizer que as roupas estavam na cama, me apressei para sair. O moreno me separara uma bermuda cinza e uma camiseta de alguma banda que nunca ouvi falar. As roupas ficaram folgadas em meu corpo, tive que usar o meu cinto para que a bermuda se mantesse no lugar. Peguei minhas roupas sujas e fui ao encontro do Rafa que estava na sala já tomado banho, sentado no sofá com uma caixa de pizza na sua frente.

— Você tomou banho? – Perguntei.

— Eu estava morrendo de calor, não aguentei. – Comentou com um sorrisinho. – Nem foi tão difícil, só quase morri soterrado pelas caixas. – Piscou. – Vem, você deve está morto de fome.

— Você deve ter bagunçado ainda mais aquele banheiro... – Comentei num falso tom de repreensão indo sentar ao seu lado e pegando uma fatia da pizza.

— Talvez sim, mas agora já sei a quem devo ligar quando precisar de uma ajudinha pra arrumar a casa... – Me empurrou levemente com seus ombros. Continuamos a comer e conversar banalidades por algum tempo, até que a caixa de pizza se esvaziasse.

— Rafa, foi tão bom te ver! Tinha esquecido como ficar com você me faz bem. – Assumi lhe dando um abraço amigável.

— Daniel, eu te adoro, nós não devíamos ter perdido o contato, ainda bem que o universo te trouxe a mim novamente. – Me apertou em seus braços, antes de soltar um pouco e levar meu rosto a lhe encarar. – Mas, você não acha que deveria me contar o porquê ficou tão triste hoje? –

— Ah, Rafa... É infantilidade. – Falei cabisbaixo.

— Eu não me importo, sou todo ouvidos. Tem algo a ver com aquele garoto que estava com você no shopping, né? – Confirmei com a cabeça. – O que ele te fez? -

— Ta mais para o que ele não fez, na verdade... – Respirei fundo tomando coragem para revelar aquela novela mexicana que tinha sido toda essa minha quase relação com o loiro. – Ele é complicado demais, eu entendo que ele não é assumido, mas eu acho que já passei da fase de namorar em armários e não apresentar quem gosto aos meus pais. Eu gosto dele, mas eu queria alguém que eu pudesse gritar pra o mundo que am... – Me cortei antes de terminar a frase. – Que eu gosto. Quero andar de mãos dadas, beijar no cinema... Eu não preciso que ele conte para a família ou amigos homofóbicos que ele tem, mas ele me trata como um desconhecido, ou pior ainda, como alguém insignificante na vida dele, sabe? As vezes... – Senti meu olho encher de lágrimas. – As vezes, eu só acho que não to preparado para ser o experimento de um garoto que vai me largar assim que descobrir que só estava curioso. –

— Ei, ei calma Dani! – O Rafael falou quando acabei desabando em lágrimas. Me abraçou bem forte e deixou que curtíssimos o silencio até que eu parasse de chorar.

— Desculpa! – Pedi em um sussurro, me afastando do seu abraço e limpando meus olhos com as costas das mãos.

— Daniel, você não tem porque se desculpar. Eu não sei se sou a melhor pessoa para lhe ajudar com isso, pois como estou interessado em você vou acabar não sendo impacial. – O acompanhei em um fraco riso sem graça. – Mas, sinceramente, o que minha experiência me ensinou, é que meninos vivem dando desculpas, mas homens dão um jeito. Sua vida foi cheia de meninos, talvez agora seja a hora de ficar com um homem de verdade. –

— Acho que o que eu mais odeio Rafa, é esse meio termo. Não saber se devo insistir ou desistir. Se vale a pena ou não. –

— Isso, infelizmente, eu não posso te ajudar, apenas você pode decidir o que vale ou não a pena para você, mas Dani, se não for ele eu tenho certeza que você vai achar quem te faça parar de questionar e apenas ter a certeza de que é aquela pessoa que você quer ao seu lado. – Ele colocou sua mão em meu rosto ainda molhado pelas lágrimas que escaparam. – E quem sabe esse alguém não seja um ex-namorado estrangeiro. – Brincou dando uma piscadela.

— Você é um fofo! – Elogiei acariciando sua mão em meu rosto. Era inegável a atração que sentia pelo moreno, ou nossa história tão bela quanto breve. Existia um magnetismo que me atraia a ele e com isso em mente aproximei nossos lábios novamente os selando demoradamente. Mas era ainda mais claro que todo aquele sentimento que ele despertava em mim, não chegava aos pés da sensação que me preencia o peito quando se tratava do gigante.

— Eu vou ao banheiro. – Comentei ao me afastar do contato recente, pois as lágrimas ainda teimavam em descer pelo meu rosto.

— Tudo bem, vou escolher algum filme para vermos quando voltar, ok? –

— Excelente ideia. – Elogiei, em seguida levantando e caminhando ao banheiro da suite. Não demorei mais do que dez minutos, lavei meu rosto, me olhei no espelho infantilmente falando algumas palavras de incentivo para mim mesmo. Quando retornei à sala o Rafael havia mudado de posição e o menu de um filme estampava a tela plana de sua TV.

— Ainda bem que você gosta de ficção. – Coçou a nuca. – Eu basicamente só tenho filme assim. –

—Eu adoro! - Sentei ao seu lado no sofá e juntos começamos a assistir ao filme.




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Notas finais do capítulo

Aceito dicas de como esquecer alguém. OBG T_T

*O poeminha no inicio não me pertence.



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