Além Das Flores escrita por ThansyS, BiaSiqueira


Capítulo 20
Revelações


Notas iniciais do capítulo

Aviso de linguagem imprópria neste capitulo!



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– Você está certa. - Foi a vaga resposta vinda dos lábios de James. - Chegamos.

E então, sem dificuldade alguma, ele girou a maçaneta. A enorme porta vermelha se abriu.

Derek Andeza sabia o significado da palavra dor. Ele viu seu pai ir embora para nunca mais voltar para casa, viu sua mãe derramar lágrimas que não cabiam mais dentro de si. Viu amigos sofrer, viu sua irmã morrer. Ele encarou a morte de frente tantas vezes que a ideia de revê-la já não o assustava mais por completo. Ele sabia que iria morrer. E foi isso que quando a enorme porta, pintada estranhamente de vermelho fez menção de se abrir ele nem se quer deu a ela um segundo olhar. A estranha porta nunca antes havia sido aberta. A única porta que ele não sabia o que escondia. Mas ao ouvir o suspiro de espanto escapando em uníssono dos lábios de seus companheiros de cárcere Derek se atreveu a levantar o olhar e encarar o motivo da estranha reação dos outros três ocupantes de maldita sala em que estavam sendo mantidos. E pela primeira vez em muitos anos Derek sentiu medo da morte. Não por si, mas pelo casal que os encarava perplexo pela abertura causada pela porta vermelha. James e Lilly estavam ali e tudo o que Derek podia ver nos olhos daqueles que até poucos dias atrás ele chamava de crianças era morte. A dor do inevitável que a qualquer segundo viria. Era então, viria o fim.

Andrew Montanova havia tido uma boa vida. O dinheiro de seu pai sempre o comprou toda a felicidade que necessitava. Nada tirava dele o ideal de que apesar de todo o sofrimento ele era um homem de sorte. Nunca em toda a sua vida Andrew havia reclamado de sua sorte. Nem mesmo quando Alice, a irmã de Derek morreu sem culpa em seus braços Andrew havia se sentido tão amaldiçoado. Até o momento em que ele viu a expressão no rosto dos dois jovens que estavam parados de pé à sua frente. A garota que ele chamava de filha e o menino que o via como o parceiro de heroísmo do seu pai agora os olhavam como se encarassem o nada. Quem dera fosse vazio o olhar daqueles jovens. Andrew viu dentro dos olhos das suas crianças toda a dor que ele havia se negado a sentir. Todo o pânico, o sofrimento, o desespero. Tudo o que ele não se permitia sentir era jogado sobre si pelo breve olhar que James e Lilly lançaram em sua direção.

Janina Cantini não tinha mais lágrimas para chorar. Ela havia há tempos se negado o direito de ser fraca. Sua vida nunca a havia permitido escolher ser fraca. Tantas vezes ela havia se arrependido de sua escolhas. Tantas vezes ela havia dito a si mesma que nem sequer havia tido escolhas. Mas no momento em que ela encarou os olhos cansados e a figura machucada ao extremo de sua filha mais velha, Janina desejou com todas as forças que ainda tinha dentro de si que tivesse sido mais forte quando deveria ter sido. Foram suas escolhas que haviam guiados todos até ali e em toda a sua vida, Janina Cantini nunca antes havia se sentido mais culpada.

Layane Ferrero sempre pensou que havia sido forte. Raras foram as vezes que se sentiu no direito de chorar. Ver o corpo estirado e sem vida de seu progenitor não a fez chorar, saber que ele era o culpado da morte da mulher que a deu a vida nunca a fez derramar uma estúpida lágrima, mas no momento em que ele se viu refletida nos olhos desesperadas de seu único filho, Layane sabia que era a hora de chorar. Chorar não por si mesma, não por Derek ou pelos outros, chorar por James e Lilly, que carregavam no sangue a culpa imerecida dos erros cometidos por seus pais e avós desde antes de eles nascerem. E foi ao ver a falta de vida que aqueles dois jovens carregavam nos olhos que Layane se permitiu chorar.

Os quatro adultos presentes na sala sabiam que a brincadeira infame do desgraçado que o havia capturado estava fazendo havia acabado no momento em que viram seus filhos ali.

– Jay! Lill’s! – A voz da pequena Alice choramingou em êxtase de algum canto da sala diante da visão de seus entes queridos e só ali todos perceberam que não estavam sozinhos. No canto da sala a figura de cabelos loiros e olhos escuros os encara com um misto de diversão e entusiasmo nos olhos. E pela primeira vez todos ali puderam ver de frente o arquiteto de seu maior tormento. E para dizer que já haviam encarado aquele olhar calculista antes seria bastante clichê. Aquele rapaz dispensava apresentação, mas mesmo assim, ele decidiu por fazê-lo.

–Brett Haala. – Ele disse e deixou que Alice escorregasse de seus braços para se abraçar com força às pernas de Lilly que não hesitou em leva-la aos braços e beija-lhe a testa com carinho. Era bom ver sua irmã sã e salva. O jovem rapaz à sua frente não podia ter mais do que a sua idade e o fato de o nome dele não lhe trazer explicação nenhuma a deixou irritada. Bastou encarar seus pais, no entanto, para saber que eles sabiam a resposta para todas as suas perguntas.

– Então é disso que se trata? – Derek rosnou e Andrew repetiu o gesto. – Se achou no direito de tocar em nossa família em nome de vingar o desgraçado do seu pai.

– Quer dizer que você lembra do homem do qual você destruiu a vida. – Brett disse e ouviu como reposta a risada de Derek.

– Vamos lá rapaz, não dê a mim todo o credito. Aquele cretino era um fodido antes mesmo de cruzar o meu caminho. – Foi a vez de Andrew intervir na conversa e ganhar um aceno de confirmação de Derek.

– Vocês agem como se fosse uma maldita brincadeira! – O jovem Haala bradou. – Minha mãe se viu na ruína por conta de vocês. Meu pai foi encontrado no meio de uma poça do seu próprio sangue e condenado mesmo morto pelo crime que vocês cometeram. Vocês sequestraram a vadia Cantini, vocês levaram Layane. E vocês estavam brincando de casinha enquanto eu nascia como o filho de um psicopata. O legado de um maníaco.

– Não fale como se soubesse de algo criança! - Layane ponderou e em segundos Brett a segurava firme pelos cabelos emaranhados a forçando a encara-lo de perto.

– Não toque nela! – James cuspiu as palavras enquanto se aproximava perigosamente de Brett.

– Dê mais um passo e eu garanto que será seu último. – Ele disse e quando Derek notou que seu filho sequer o ouviu, se viu obrigado a intervir.

– Não se mova James. Ele fala sério. – Derek avisou e James o encarou, atordoado.

– Não me diga o que fazer! – O jovem que se parecia tanto com o pai o respondeu com magoa pingando de cada palavra. Foi preciso a voz de Brett para trazer a atenção de todos de volta para a conversa anterior.

– Não fale comigo como se tivesse o mínimo direito. Não fale como se soubesse de coisa alguma. Você não passa de uma vadia que forjou a própria morte e sujou o solado de suas botas caras, compradas com dinheiro sujo da prostituição da sua própria mãe, com o sangue do homem que lhe deu a vida. – Brett dizia tudo obrigando Layane a encara-lo nos olhos, e quando seu olhar se focou em Janina que segurava com força as lágrimas, ele viu que seu alvo agora seria outro.

– Não ainda nada chorar agora Jane. Ou devo dizer Janina? – Ele disse em meio a uma curta risada. - Eu também mudaria de nome no seu caso. Além de Janina ser um nome tosco, quem quer ser associada à vadia Cantini, sequestrada por um traficante, grávida de um drogado qualquer, carregando um filho sem pai fruto de uma noitada de verão. Tão desesperada com suas lágrimas infelizes que conseguiu afogar em melancolia o coração do estúpido Andrews Montanova. O filho que nunca teria dado orgulho ao seu pai. – Ele disse agora caminhando em direção a Andrew.

– Samuel Montanova deu a vida para construir seu império magnífico. Dizimou famílias para construir sob a desgraça dos infelizes a fortuna que sustentou seu único filho por anos. Fortuna essa que Andrews Montanova não soube administrar. Você deixou sua própria casa virar cinzas para queimar o passado que sempre vai ser uma parte sua. Querendo ou não você é o filho criado e alimentado pelas lágrimas de tantas mães que perderam seus filhos para o mundo infame do seu pai. E você será sempre lembrado como o filho de um honorável criminoso que falhou em criar um filho forte como si mesmo. Um filho que forjou a própria morte se enterrando nas cinzas do trabalho de seu pai. Se escondendo nas costas dos Andeza. Foi assim que Alice morreu não foi Derek? – Ele disse cuspindo veneno nas palavras. – Salvando você e seu melhor amigo...

– Não fale sobre ela. – Derek disse, forçando sem sucesso as cordas que o mantinham preso à cadeira de madeira.

– Por que não? Você não gosta de ser lembrado que o homem que agora você chama de irmão foi o responsável por você perder a única irmã que você teve de verdade? – Brett disse e Andrew encarava Derek como se cada palavra o ferisse como uma bala de prata. – Você age como se nada no mundo pudesse abalá-lo, mas me diga, ó grande Derek Andeza, como você se encara no espelho sabendo que a única que realmente dependia da sua proteção foi exatamente aquela que morreu bem diante dos seus olhos. Nos fundos do Cassino que era herança para a sua mulher, com um tiro dado pelo pai daquela que Andrew agora chama de esposa! – Brett bradou a plenos pulmões e por um segundo, ninguém era capaz de expressar sequer uma reação.

Do canto da sala, Lilly e James agora não encaravam mais seus pais e tios. As quatro pessoas presentes naquela sala eram para eles completos estranhos.


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