– Pare de tentar bancar o herói James. – Ela disse enquanto tentava manter as mãos dele impossibilitadas de puxar o gatilho da arma contra ela. – Você está correndo país carregando uma garota inútil atrás de pessoas mortas. – Ela disse e sorriu ao ver um brilho de dor tomar conta dos olhos de James. – Sua parceira vai morrer não importa o que você faça, por que ela fraca, e isso vai matar vocês dois. Afinal, você não estaria aqui agora lutando comigo se não tivesse tentado salvar a vida dela ao invés e só a sua. A fraqueza dela enfraquece você James. – A mulher sussurrou enquanto levou a mão de James a se direcionar ao lugar onde Lilly estava antes. E foi com surpresa que ambos notaram que agora lá estava vazio. E James não teve tempo ainda de ficar surpreso, já que no instante seguinte, a moça com quem ele lutava caiu inerte aos seus pés.

Lilly o encarou com os olhos em chamas. Nas mãos ela tinha a arma que o homem que antes a ameaçava segurava. O corpo tremulo foi amparado por James no momento em que ele percebeu que ela cederia ao desespero. E em lágrimas a garota encarava o corpo no chão, da mulher que ela havia matado.

– Shhiii Lill’s. – James a apertava forte contra si. – Está tudo bem. Você fez o que tinha que ser feito. Ela queria matar a nós dois. Shhiii... – Ele a embalava nos braços enquanto sentia a camisa ser encharcada pelas lágrimas dela.

– Por que você me deixou fazer isso James? – Ela chorou uma vez mais enquanto ele tentava em vão fazer com que ela se movesse.

– Não foi culpa sua Lírio, foi tudo culpa minha. Eu devia ter atirado eu sei, eu não devia deixar você ter que passar por isso. Nós precisamos sair daqui Lilly, a policia... – E ele falaria mais caso ela não tivesse outra vez fraquejado a ponto de cair caso não fosse amparada.

– Você tem que ser forte Lilly, tem que ser forte agora. Muito forte amor. – Ele deixou a palavra escapar antes que tivesse plena consciência disso.

– O que vai ser de mim agora James? – Ela chorava colada ao peito dele e ele já estava lutando contra o próprio desespero.

– Precisamos sair daqui Lilly. – Ele disse assim que viu que algumas pessoas já começavam a se aproximar. Com certeza o barulho dos tiros havia chamado à atenção de alguém. – Agora. – Ele disse a empurrando de leve forçando a garota a se aguentar nos próprios pés. Mas já era tarde de mais. Alguém viu que eles estavam fugindo e entre algumas exclamações de medo, alguém se fez ouvir.

– Ei vocês, parados aí. – A voz era de um homem, provavelmente o segurança da boate ali perto.

– Não pare de andar. – James ordenou em voz baixa. – E quando eu disser, corre, você começa a correr. – Ele disse e de repente, ele fez pressão contra os dedos dela que ele tinha entre os seus, e a palavra “corre” ecoou pelos seus lábios.

A adrenalina mais uma vez tomou seu lugar no organismo de Lilly. Sem conseguir conter o impulso dos próprios pés, Lilly se viu correndo enquanto segurava a mão de James. O sol já começava a nascer ao longe, dando a eles uma boa visão do caminho. Nenhum estabelecimento estava aberto. Alguns bares funcionavam apenas para abrigar os clientes adormecidos sobre as mesas. E foi então que eles viram o único lugar que estava a pleno vapor. O nome “Sin*” enfeitava em neon uma das placas da rua. E foi para lá que eles correram. A boate ainda funcionava a pleno vapor. O cheiro de drogas e álcool impregnava o local a ponto de fazer com que James e Lilly perdessem um pouco dos sentidos já bastante cansados.

James viu alguns homens passarem pela mesma porta que ele havia passado segundos atrás junto a Lilly. No intuito desesperado de se camuflar, o jovem arrancou do corpo a camisa soada que vestia e colou o corpo de Lilly ao seu direcionando ambos à parede mais próxima. Algumas exclamações de espanto foram ouvidas pelo caminho, mas logo a cena se fez esquecida. Outros casais protagonizavam cenas bem mais pesadas que essa em várias partes da pista. Lilly sentiu o corpo sem prensado contra parede suja da velha boate e arfou ao sentir o peso de James contra o seu. Ela mantinha os olhos abertos ao maximo para tentar atentar a qualquer aproximação de seus perseguidores. Mas em poucos segundos. Ambos se deixaram levar. O cheiro forte da maconha enchia as narinas de ambos e trilhava um caminho certeiro para a mente já nem tão sã. Uma garrafa trazida por uma garota enfeitava uma das mãos de James, e sentada sobre uma das mesas do bar Lilly assistia extasiada à cena. Duas garotas se enroscavam em volta de James que dava a elas a melhor demonstração de que a muito já não estava mais sóbrio.

Quando o sol finalmente terminou de se impor, os dois jovens estavam no chão. Esgotados, física e emocionalmente. O cigarro recém apagado na mão de Lilly ainda exalava o odor que a fizera esquecer por alguns segundos o monstro que ela era. O braço forte de James se mantinha preso em volta da cintura dela, e em um ultimo segundo de sobriedade, ele sussurrou as palavras que ela tentava convencer a si mesma de que eram verdadeiras.

– Vai ficar tudo bem...

E naquela noite, a vida levou mais um pedaço da alma daquele jovens. Envoltos no pecado, Lilly e James se deixaram adormecer.

*Sin = Pecado