Juntos, eles voltaram até a mesa onde aguardaram pela chegada do pedido, que foi rapidamente servido, vindo acompanhado de um nada discreto olhar da atendente, na direção do rapaz, que entrou vestido como civil e saiu do banheiro como um policial. James se certificou de que o estabelecimento não tivesse câmeras de segurança antes de tudo, já que isso poderia deixá-los expostos. E com toda a certeza, o que fariam naquela noite, não precisava de nenhum tipo de exposição, certamente.

Eles não se deram ao trabalho de comer no local. Em silêncio absoluto eles seguiram até o carro, onde finalmente se viram na condição de poder conversar.

– James, eu sei que o que agente está fazendo é loucura, então, antes de tudo eu preciso dizer, que se você estiver sentindo dor, ou qualquer coisa que não te deixe cem por cento hábil para fazer a sua parte, por favor, me diga agora. Um erro nosso, e você sabe que estaremos mortos ou encrencados. – Lilly disse e James deixou de encarar a comida que devorava avidamente para olhar para ela.

– Eu pareço incapaz? – Ele disse grosseiramente e ela deixou cair os ombros em sinal de frustração.

– Eu não quis dizer isso. – Ela respondeu cansada e ele continuou parecendo irritado.

– Mas foi o que você disse. – James respondeu voltando a comer e passando de irritado, para pensativo. – Eu não queria ter me machucado Lilly. Eu queria proteger vocês e acabei inconsciente por dias. Eu devia ter protegido você, e a Alice também. E veja onde estamos? Perdemos a Alice enquanto eu estava desacordado, e agora eu estou levando você para uma empreitada que pode muito bem ser suicida. Você acha que me sinto como quanto a tudo isso? Eu sou um fracasso, Lilly. Um fracasso épico.

Lilly encarou James como se ele de repente tivesse criado mais uma nova cabeça, ou duas, talvez. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Não. Não de James. O cara que havia derrubado um grandalhão no soco, e atirado contra mais uns tantos. Ela não podia aceitar ouvir isso do James. Não do James que havia dirigido feito um louco para fugir de bandidos, e tomado um tiro para proteger a ela e a sua irmã. Esse James não era um fracasso e ela diria isso a ele.

– Será que você pode se ouvir? – Lilly perguntou e James não ousou a encarar de frente. – Você acabou de desconsiderar tudo o que você fez por mim, pela Alice, por você. Por nós James, e pelos nossos pais. Você não é nem de longe um fracasso épico. Você pode não ser um herói, mas no momento, é tudo o que eu tenho. – Lilly reproduziu a frase que ele mesmo havia usado com ela dias atrás, e no mesmo momento viu um pequeno sorriso se formar nos lábios perfeitos do rapaz a sua frente. – Então, por favor, não desista Jay, por que se você desistir, eu não vou ter mais nada.

– Desculpa Lírio. – James pediu e ela sorriu. Sorriu, e rapidamente envolveu os braços no pescoço de James, o abraçando apertado, de forma como não fazia ha muito tempo.

– É bom poder contar com você. – Ele disse retribuindo o abraço e a apertando um pouco mais contra si.

– Eu sei disso. – Lilly disse com uma pitada divertida de humor brincando na voz, fazendo James a soltar rapidamente, bagunçando o cabelo dela da maneira que ele sabia que ela odiava. Ele sorriu, ela gargalhou.

– Precisamos ir Lilly. – James disse em seguida, retomando a sua pose séria, e quase fazendo Lilly acreditar que ele era mesmo um daqueles policiais violentos. Se bem que o nível de violência do James andava bastante questionável ultimamente.

James dirigiu rapidamente pelo caminho recém combinado e parando em uma loja qualquer ele deu a Lilly exatos cinco minutos para comprar uma roupa que a fizesse parecer apresentável outra vez. Apresentável como uma suposta investigadora deveria parecer.

James repassava mentalmente todo o seu plano. Ele estava vestido como um dos policiais da cidade para poder entrar no hospital onde sua avó e sua tia estavam. Ele assumiria o posto de um dos guardas do quarto, enquanto Lilly viria com ele para dar uma suposta ordem ao policial que estivesse lá. As duas senhoras estavam sob proteção, devido ao ataque que sofreram na escada, e o suposto seqüestro do restante da família delas. Assim que o guarda de verdade estivesse fora de vista, James e Lilly deveriam entrar no quarto e tentar ao maximo conseguir alguma informação necessária que pudesse ajudar a descobrir o que ou quem poderia ter algum interesse em seqüestrar seus pais. Caso elas ainda estivessem desacordadas, todo o esforço teria sido em vão. Mas eles não tinham outra opção. Era tudo ou nada. Eles tinham grandes chances de continuar no escuro, mas não seria sem antes ter procurado pela luz.

James olhava atentamente para a fachada da loja a sua frente. Quinze minutos já haviam se passado e Lilly ainda estava lá dentro. Talvez incluir um relógio no plano pudesse ter sido uma boa ideia também. Não demorou mais do que dez segundos para que alguém saísse de dentro da loja. A calça jeans bastante apertada combinava perfeitamente com a blusa social de botões intercalados. O cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto e nos pés uma sandália alta a deixava parecida com uma daquelas agentes de filmes. James nunca havia visto Lilly daquela forma antes. Na verdade, ele desconfiava que em todos esses anos ele nunca tivesse nem se quer notado a bela garota à sua frente.

– Que cara de panaca é essa James? – Lilly perguntou se escorando na janela do carro com um sorriso sacana no rosto. James logo abriu um sorriso maroto para ela.

– Que peitos são esses Lilly? – Ele disse casualmente fazendo Lilly corar até a raiz dos cabelos. Ela abriu e fechou a boca enquanto procurava por uma resposta, desistindo em seguida. Uma coisa era certa: A capacidade de James para perguntas deixar as pessoas sem fala, era muito maios que a de Lilly.

– Estúpido. – Ela falou assim que conseguiu recuperar a fala e ele riu ainda mais da cara dela.

– Obrigado. – Foi a resposta de James, e provavelmente a última brincadeira dele antes de tudo começar a ficar sério outra vez.

E foi só quando eles pararam o carro em frente ao hospital, que ambos perceberam que não tinha mais volta. Dali para frente, tudo ficaria ainda mais difícil.

– Pronta? – James perguntou estendendo a mão para Lilly assim que abriu a porta do carona para ela sair do carro.

– Só se você estiver.