Skyler

Aqui estava eu, mais uma vez, em Wichita. Desci do avião e suspirei. Carlos, que estava ao meu lado, ouviu e deu um pequeno sorriso.

-- Ah, vamos lá! É só uma semana, Sky. Nada vai acontecer. – Ele falou. Ele sabia que eu detestava Wichita e detestava ainda mais ir pra lá, ver minha mãe. Olha, eu amo minha mãe, foi ela que me tirou de um orfanato, então, só tenho que agradecer á ela, certo?

-- Ok, ok! – Falei e comecei a descer a escada, enquanto ele ia mais á frente. – Ei, Rodriguez!

Ele se virou, no meio da pista, e eu parei.

-- Não está esquecendo nada, tipo, sua noiva? – Falei e ele balançou a cabeça, vindo em minha direção.  Quando vi, ele tinha me levantado e me posto em seus ombros. – Ei!

-- Você me disse que eu tinha esquecido algo. Bom, eu fui pegar! – Ele falou.

-- Sabe que isso não é necessário. As pessoas estão nos encarando. – Falei, assim que vi alguns passageiros  nos olharem, assustados, e eu cobri meu rosto com uma das minhas mãos.

-- E daí? – Ele falou e eu suspirei, me rendendo. Continuamos caminhando – quer dizer, ele caminhava, eu estava sendo carregada – até que chegamos á seção de bagagens e ele me desceu.

-- Ei, eu já estava gostando! – Falei, fazendo uma cara triste e ele riu, me dando um leve selinho.

-- Depois eu te carrego mais, McField. Agora, vamos pegar nossas malas. Meus pais disseram que iriam viajar essa semana e deixaram a chave com o Antonio, ou seja, a casa é toda nossa.

-- Tirando o fato de que seus três irmãos mais novos e gatos estão lá...

-- É, mais isso não... O que disse? – Ele falou e eu cobri minha boca. Opa, escapou.

-- Nada. E-eu não disse nada.

-- Você disse que meus irmãos eram gatos. Eu ouvi, Sky.

Cara, eu tô muito ferrada. Merda.

-- Hã, é! Mas, é uma brincadeira,  Carlos. Sabe que eu gosto é de você. Além do mais, eles são muito novos e eu não namoro caras mais novos do que eu. – Falei e ele continuava carrancudo, pegando a bolsa dele e pondo no ombro com força. – Ei, olha pra mim.

-- Sky, pega suas malas e vamos embora. Rápido. – Ele falou e eu revirei os olhos, pegando seu queixo e o fazendo olhar em meus olhos.

-- Ei, foi só um comentário, ok? Seus irmãos são realmente gatos, mas você é mais, você é muito mais gato, Carlos. Tipo, você pegou 50% da beleza e os outros 50, foram para os três dividirem. – Falei e nós dois rimos. – Não fica zangado comigo.  Odeio quando isso acontece.

-- Tudo bem, eu te perdôo. Mas, se falar mais uma vez que meus irmãos são bonitos, você está ferrada. Sabe disso, né?

-- Sei sim. Vamos para sua casa agora. – Falei e peguei sua mão, enquanto saíamos do aeroporto. – Seus pais foram para onde?

-- Algum cruzeiro de Natal. Sei lá, eles disseram que só não queriam passar mais um Natal aqui. – Ele falou e eu franzi o cenho. Á essa hora, já estávamos no lado de fora do aeroporto e esperávamos um táxi, até que vi o conversível preto de Antonio estacionado em uma vaga para táxi – tipíco de Antonio – e ele dentro.

-- Peraí, você não disse que seu irmão estava saindo...

-- Sim, mas ao que parece, ele veio me buscar. Para a minha infelicidade. – Ele falou e bufou, pegando as malas e levando até lá.

-- Carlos, há quanto tempo! – Antonio falou, como sempre, sarcasticamente, e Carlos revirou os olhos.

-- Poupe-me do seu sarcasmo, Tonio. Quero saber o que está fazendo aqui.

-- Ora, eu vim te buscar, óbvio! Além da minha querida cunhadinha. Oi, Sky. – Ele falou, acenando para mim e eu revirei os olhos. Deixa eu explicar : Carlos estava sendo tão ríspido com ele, porque os três irmãos dele vivem tentando dar em cima de mim. Tipo, toda vez que a gente se vê, sempre há piadinhas e comentários e, toda vez, eu e meu noivo sempre acabamos brigando e deixando as festas mais cedo. Só espero que dessa vez seja diferente.

-- Olha, eu não preciso que venha me pegar. Tenho dinheiro suficiente pra levar a Sky até Porto Rico, se eu quiser! Agora, por quê não dá o fora daqui antes que eu soque sua cara por estar quase tirando a roupa dela com os olhos? – Carlos falou e eu comemorei por dentro. Ele podia ser romântico, mas quando ficava zangado, não havia uma pessoa que o segurasse.

-- Tá bom, tá bom! Pega as chaves. Eu vou embora. – Antonio falou e jogou as chaves para mim, que as peguei, em um reflexo. Desencostamos do carro bem na hora que ele acelerou e saiu do nosso campo de visão.

-- Bye, Tonio. – Falei e Carlos me olhou, e aí começamos a rir. É, a gente não é nem um pouco normal. – Ok, ok, a gente têm que ir pra sua casa ainda, lembra?

-- É, eu me lembro. – Ele falou. – Táxi!

*

-- Então, vamos jantar com sua mãe hoje e na véspera de Natal? – Ele falou e eu assenti, aparecendo na sala com um balde de pipoca.

-- Sim, ela praticamente ordenou que fôssemos jantar com ela hoje. – Falei e peguei um pouco da pipoca. – Mas, estou com medo.

-- Medo do quê? – Carlos falou e eu apenas o olhei, até que ele pareceu se tocar do que eu estava falando. – Ah! Sky, eu já te falei uma vez e vou repetir. Não há nada que sua mãe possa fazer que vá separar a gente. Não foi ela quem eu pedi em casamento, foi você. E você disse sim. O que me importa é você e sua felicidade, nada além disso. – Ele falou e eu sorri, envergonhada. Será que ele sabia o poder que seus olhos tinham em mim quando ele falava daquele jeito? Eu simplesmente derretia por dentro, parecia que ele até sabia o que eu queria ouvir.

-- Mas... Eu queria tanto me casar com ela ao meu lado, na igreja. Nossas famílias juntas enquanto eu entrava lá e via esse seu sorriso bobo quando me visse de noiva pela primeira vez. – Falei e peguei sua mão. – Nada disso pode acontecer se ela não aceitar.

-- Pode e vai acontecer, Sky. Podemos nos casar em Vegas, com Elvis Presley como nosso padre. Ou então Kendall arruma uma licença de ministro pela internet. Podemos chamar nossos amigos e nossa festa será em um cassino. Nossa lua de mel pode ser em Los Angeles. Tudo o que você quiser, eu faço. Mas, você não pode desistir do nosso casamento só porque sua mãe tem a possibilidade de nos reprovar. Confia em mim, tudo vai dar certo. Eu prometo. – Ele falou e eu respirei fundo. Me levantei e sentei-me em seu colo, de frente para ele. Envolvi meus braços em seu pescoço enquanto suas mãos escorregavam pelos lados do meu corpo. Encostei nossas testas e fechei meus olhos, e aí falei.

-- Tudo bem, amor. Eu confio em você.

Carlos

-- Qual é a casa mesmo? – Falei e ouvi ela bufar baixinho do meu lado

-- É a azul, Carlos. Não essa... Aquela lá! É essa aqui, chegamos. – Ela falou e eu entreguei o dinheiro ao taxista, descendo junto com ela. Estávamos em frente á sua casa, aonde sua mãe nos esperava, e talvez aquele fosse nosso primeiro e último jantar juntos, porque eu não sabia se ela poderia ter um ataque cardíaco ou não, dependendo do que falássemos – e vamos falar.

Ela pegou em minha mão e a apertou, sussurrando um “Vai dar tudo certo”, talvez para si. Apertei sua mão, também, e ela olhou para mim, mordendo o lábio. Me aproximei dela e lhe dei um beijo, como forma de se acalmar.

Imediatamente, senti seu corpo começar a amolecer e ela afundar mais o beijo, suas mãos agarrando com força meus braços, enquanto eu apertava seu cabelo com as minhas. Quando nos separamos, tentamos recompor nossas respirações e ela riu.

-- Ótimo, agora tenho que passar batom mais uma vez. – Ela falou e eu sorri, enquanto ela tirava um batom de dentro da bolsa prata e passava em seus lábios.

-- Eu já falei o quanto está incrivelmente bonita essa noite? – Falei e ela sorriu, pondo o batom na bolsa.

-- Sim, mas eu adoraria ouvir de novo. – Ela falou e começamos a caminhar pelo caminho de pedras que dava para a porta de entrada. Peguei sua mão e a fiz rodopiar, o que a fez parar do meu lado e eu sussurrei em seu ouvido.

-- Você está magnífica.

E ela realmente estava. Usava um vestido azul escuro até a altura dos joelhos, bem colado ao corpo e de alças finas, o que realçava bastante as curvas do seu corpo – que é só meu, caso alguém aí tenha ficado animadinho – e sandálias prata. O cabelo castanho estava como sempre: solto e meio enrolado, e ela usava os brincos que dei á ela no nosso aniversário de 3 anos.

Ela corou e então chegamos á porta. Antes mesmo de batermos, a mãe dela apareceu, já sorrindo.

-- Skyler, minha filha! – Ela falou, abrindo os braços, e Sky sorriu, indo abraçá-la.

-- Oi, mãe. – Ela falou e então, se desvencilhou.

-- Há quanto tempo não vejo você... e Carlos aqui. Como vai, querido? – Ela falou e estendeu a mão, á qual, prontamente, peguei e apertei.

-- Muito bem, Barbara. Obrigado por perguntar. – Falei e ela me lançou um sorriso simpático, enquanto fazia um gesto para entrarmos. A casa ainda continuava a mesma. Havia fotos de Skyler, Kendall e seus outros dois irmãos em toda a sala. Chegamos a sala de jantar e havia uma bela mesa posta para nós. Sentamo-nos e começamos a conversar um pouco, para ver se o nervosismo acabava, um pouco.

-- Antes de jantarmos, eu queria fazer uma pergunta. – Barbara falou e engoli em seco. A hora havia chegado.

-- Sim, mamãe. – Sky falou.

-- Quando ia me contar que tinha ficado noiva de Carlos? – Ela falou e eu fiquei pasmo, assim como Skyler.

-- Hã... Ma-mãe... Qua-quando descobriu isso? Quem lhe falou? – Sky perguntou e olhou para mim.

-- Ei, eu não falei nada! – Me defendi e Barbara riu, tomando um gole de vinho.

-- Kendall me ligou á 2 meses atrás, muito preocupado, dizendo que tinha algo importante para me falar. De início, pensei que fosse com ele, mas aí ele me deu essa notícia e eu fiquei em estado de choque, digamos assim.

-- Quer dizer que está brava? – Skyler falou.

-- Olha, Barbara, nós íamos te contar hoje mesmo, mas não fizemos por conta de...

-- Calma, não precisam se explicar. Kendall me falou tudo, desde o namoro até o noivado. Ele também pensou que eu ia ficar zangada, mas, Skyler, minha filha, eu vou falar a mesma coisa que falei á ele por telefone. Eu te amo e só quero seu bem. Se com Carlos acha que vai encontrar a felicidade, por que eu deveria intervir? Não sou contra você, Carlos, pelo contrário, lhe acho um garoto mais do que perfeito para a minha filha, mas... Eu tinha medo, entendem? Meu marido me deixou com 4 filhos para criar e nenhum dinheiro, e eu falava aquilo para Skyler porque estava zangada com ele e tinha me esquecido que havia homens diferentes no mundo. E você, meu querido, é a maior prova disso. Me desculpa, filha, se te fiz ter essa visão de “mãe monstra” de mim, mas eu só estava preocupada com você. Só isso.

-- Oh, mamãe... – Skyler falou e a abraçou, algumas lágrimas caindo. – Eu também te amo muito. Desculpa ter guardado isso de você por tanto tempo. Eu deveria saber que não ia se importar. Me desculpa.

-- Carlos, por quê não vem até aqui?

-- Eu? Não precisa, isso é um momento muito familiar e eu nem faço parte da família!

-- Mas fará! – Barbara falou, limpando algumas lágrimas. – E deve se acostumar, porque agora só vou lhe chamar de meu genro!

-- Tudo bem, sogrinha. – Falei e Sky abriu os braços, bem na hora que eu cheguei mais perto e a abracei, com sua mãe no nosso meio. Ela me olhou e me deu um beijo na bochecha, sussurrando um leve “Obrigada” para mim.

(...)