No caminho de casa cada passo que eu dava sobre a neve me fazia ficar mais zangada, mais triste... Eu comecei a culpar Quione por tudo... Até mesmo por eu ser daquele jeito, talvez se eu tivesse tido um, ao menos um, conselho de mãe eu poderia ser diferente, minha vida podia ter sido diferente. Seria legal saber que você não foi só o “fruto” de um erro dos seus pais, e depois abandonada de forma indiferente por sua mãe. Eu amava muito meu pai porque ele tentou o máximo que pode me confortar, a verdade é que ele nunca me colocou contra Quione, nem mesmo fala muito dela... Das poucas vezes que falou dela ele usa um tom bastante respeitoso, dizendo que é porque ela é uma deusa, que muitas responsabilidades pairam sobre ela... Mas e quanto a responsabilidade dela de ser mãe?! Será que isso é uma coisa tão insignificante pra ela? Quando me dei conta estava parada em frente casa, chorando... Minhas lágrimas faziam pequenos buracos na neve que estava a minha frente... Derretendo o gelo. Girei a maçaneta e entrei, o meu pai ainda não havia chegado do trabalho, ele era corretor de imóveis. Subi para o meu quarto e joguei minha mochila no chão, ele estava bastante desarrumado, havia patins de esqui espalhados no chão, minha escrivaninha estava com o livro sobre as flores aberto, do lado dele havia uma foto minha e do meu pai, do ano passado, semanas antes de quando eu caí no lago... Meu cabelo ainda era castanho, da cor do cabelo do meu pai... Nós riamos montando um boneco de neve. Virei-me e vi meu reflexo no espelho do meu guarda-roupa, como em um ano tanta coisa havia mudado e aquela foto agora... Parecia um passado distante. Debrucei sobre a cama, me encolhendo... Como se estivesse com frio, aqueles pensamentos realmente me davam frio, mas então olhei para a janela... Havia um Lírio que brilhava, parecia que era a única coisa quente que havia ali, fiquei olhando pra ele por mais tempo foi como se de repente, uma luz tivesse sido acendida, eu estava revendo memórias, memórias calorosas... Eu e meu pai na praia, no zoológico... Sempre eu e meu pai, até que apareceu William, a vez que ele me deu a flor, quando ele me mandou o bilhete... Tudo foi mudando de novo, havia mais algo... Um rosto, apenas um rosto... De uma mulher, ela tinha a pele quase pálida, olhos cor de café e cabelos pretos, ela me deu um leve sorriso, parecia que eu estava em seus braços, como se eu fosse um bebê. Ela foi me abaixando, me colocando... No chão? Na verdade, eu estava em uma cestinha, ela apertou a campainha. Olhou pra mim novamente e disse com a voz calma e mansa.

–-- Adeus minha menina, até um dia... Quem sabe.

Então ela começou a brilhar, e desapareceu... Apenas um floco de neve caia sobre mim. Como um choque despertei à realidade, olhei para a flor incrédula... Que raios era aquilo? O que havia acontecido? Aquilo eram... Memórias?! Sim, eram... Me arrepiei e me dei conta de que a última memória... Só podia ser uma coisa, ou melhor... Uma pessoa, Quione. Me levantei depressa e fui até aquela flor... Ela não podia ser uma planta comum. Mas então logo meus pensamentos mudaram... Para a mulher que eu havia visto, para Quione... Então... Aquela deveria ter sido a última vez que eu a vi, quando ela me deixou com meu pai. Era minha mãe, eu consegui ver a minha mãe... Peguei a flor rapidamente, abri meu armário e a tranquei lá dentro. Deslizei sobre a porta ainda á segurando. Eu não sabia se queria ter essas lembranças, não nesse momento. Escutei a porta do andar de baixo abrir e fechar, meu pai avisou que havia chegado como ele sempre faz.

–-- Susan? --- Disse ele mais uma vez, querendo saber se eu já havia chegado da escola.

–-- Estou no meu quarto. --- Respondi.

–-- Esta muito ocupada? --- Perguntou ele.

–-- Não...

–-- O.K, então tem visita subindo.

Visita?!

–-- Como?! --- Falei quase gritando, quando me dei conta já batiam na porta do meu quarto.

–-- Susan... Posso entrar? --- Disse a voz do outro lado, que logo reconheci... A única pessoa que iria me visitar: William.

Demorei responder, porque não sabia o que responder. Ele deu uma batidinha mais uma vez.

–-- Se não quiser conversar agora... Tudo bem, eu entendo. Já vou indo.

Levantei e abri a porta.

–-- Pode entrar...

Antes que eu pudesse fechar a porta, meu pai entrou assoviando como quem não quer nada, e colocou uma pedra segurando a porta aberta.

–-- Não se preocupem, não vou incomodá-los.

E esse foi um jeito à moda do meu pai de se dizer: “Estou de olho em vocês”. Me virei um pouco envergonhada para Will.

–-- Talvez seja melhor conversarmos lá fora... --- Opinou ele.

Assenti e saímos do quarto. Andamos em direção á pequena praça que havia no bairro.

–-- Olha me desculpe se por acaso à ofendi falando sobre Quione...

–-- Não me senti ofendida. --- O interrompi. --- Não precisa se desculpar por isso.

Will parou e dei mais alguns passos e então parei também.

–-- Pode me dizer se está com raiva de mim? Porque ao que parece, você tirou a flor da janela.

Ele havia notado... Olhei para ele.

–-- O que tem naquela flor? --- Perguntei.

Ele sorriu para mim.

–-- Ela é especial... Possui um toque a mais de “lembranças”. Principalmente lembranças calorosas.

–-- E no caso de alguém não querer se lembrar de algo...

Will deu um leve suspiro e retornou a andar.

–-- A flor só vai mostrar as melhores lembranças que estiverem guardadas dentro de você... Se esse “alguém” não quiser se lembrar disso... Estará mentindo para si mesmo.

Ele parou ao meu lado e olhou dentro dos meus olhos.

–-- Agora, será que poderia me dizer o que você viu naquele Lírio que te deixou tão abatida.

Fiquei na dúvida se contava ou não... Era algo pessoal, nunca falei da minha mãe para ninguém... Talvez porque ninguém falava comigo, mas então decidi que não precisava esconder.

–-- Eu vi... Quione.

–-- Isso não deveria ser bom? --- Perguntou Will um pouco espantado.

–-- Não quando ela nunca manteve contato com você...

Continuamos a andar, e resolvi contar tudo... Que ela nunca manteve contato comigo, sobre o que eu havia visto na flor.

–-- Talvez você só esteja com raiva... --- Disse ele. --- Mas lá no fundo, você ainda sente que ela é sua mãe, você quer conhece-la.

Eu estava começando a achar que aquilo era verdade... Quem eu estava tentando enganar?... Havíamos passado a tarde falando sobre mim. Resolvi mudar um pouco de assunto.

–-- Teve mais alguma pista, sobre o seu sonho? --- Perguntei.

–-- Acho que sim. --- Respondeu Will. --- Depois da nossa conversa na laje da escola, e das minhas várias tentativas escorregadias de sair dali... --- Ele me olhou com um olhar um pouco acusador. --- Me dei conta que pode estar relacionado não à Quione... Mas sim a outra deusa. Despina, irmã de Perséfone, relacionada ao inverno.

~ Invadindo aqui a história, é que eu já coloquei imagens de mais ou menos como é a Susan, então resolvi colocar uma foto de como eu imagino o Will =D~

CLIQUE AQUI (não consegui colocar a imagem direto =[ )

~ *-----* Eu o imagino exatamente assim, só que com os olhos mais esverdeados, mas ta aí pra quem tem curiosidade ^^~