Acordei com um chute na cabeça.

- Ai meu Deus! Desculpa! Eu esqueci que você estava aí. - Sophie disse se ajoelhando ao meu lado.

- Eu to bem. Mas acho que uma parte do meu cérebro saiu pelo meu ouvido.

- Que cérebro, Simon? - Ela perguntou rindo.

- Vai se fuder! - Ela riu mais ainda. Levantei e fui pro banheiro. Quando saí, vi que ela tinha arrumado minha cama. - Quem vê pensa que é uma menina prendada. - Ela revirou os olhos. Sentei do lado dela. - Ér... Você lembra de ontem a noite?

- Algumas partes.

- Antes da gente dormir. - Ela ficou olhando pra mim por um tempo.

- Lembro.

- Você estava bêbada ou com sono demais pra eu levar a sério? - Ela fez que não com a cabeça. Sorri. Fui pra frente e a beijei. Dessa vez ela não recuou. Quando o ar ficou necessário, nos separamos.

- Não precisa quase me matar sufocada. - Ri. - Eu preciso ir pra casa.

- Acho que sua calça ainda não tá seca. - Ela deu de ombros. Pegou a calça e vestiu.

- Te vejo mais tarde se eu não estiver morta?

- Eu passo lá. - Ela sorriu e saiu.

POV Jenny

Ouvi a porta da sala fechar e eu olhei pra lá. Graças a Deus que consegui convencer o Jason a ir visitar a mãe dele enquanto eu esperava essa menina.

- Juro por Deus que não acredito que você fez isso comigo! - Berrei e ela nem tinha chego na sala ainda. - Você tem noção do quanto fiquei preocupada?! E teu pai tá querendo te matar! Sua sorte é que não contei pra ele que o babaca te drogou! - Ela se jogou no sofá. E parecia não ouvir uma palavra que eu dizia. Ela estava com olheiras profundas, com cara de retardada (ou de sono) e com o cabelo desgrenhado.

- Bom... Simon apareceu lá.

- Graças a Deus!

- Mãe, eu... Me desculpa. Eu sei que o que eu fiz foi errado, mas...

- Mas...?!

- Não me arrependo.

- Ele te drogou, sua idiota!

- Não to falando disso. Se eu não tivesse ido, Simon não apareceria lá. - Agora começou a ficar interessante. - Ontem na minha perca de lucidez acabei soltando que gosto dele.

- E...?

- A gente se beijou hoje de manhã. Eu... Eu acho que a gente tá junto.

- Já estava na hora. Amém senhor! Mas o que você fez é errado e vai ficar um mês sem celular e sem sair.

- Mas, mãe...

- Não precisa gastar a saliva. Não vou mudar de ideia.

- Sabia que você tá linda mesmo carregando um fedelho na barriga?

- Obrigada, mas não puxa meu saco. - Ouvi a porta da sala abrir.

- Jesus! O que aconteceu contigo?! - Charles perguntou olhando pra Sophie. Ela gelou olhando pro Jason.

- Já falou o castigo? - Ele perguntou pra mim.

- Já. - Ele me deu um selinho e foi pra cozinha.

- Ele vai me ignorar? - Sophie perguntou.

- Acho um absurdo.

- Cala a boca, Charles. - Disse e ele fez cara de ofendido. - E depois você conversa com ele, Sophie.

- Que orgulho da minha sobrinha pulando a janela pra ir em festa.

- Cala a boca, Charles. - Disse de novo.

- Tua mãe vai falar a mesma coisa quando ficar sabendo.

- Ela já sabe.

- E o que ela disse:

- "Na minha época era pior". Mas para, isso é errado e ela sabe.

- Você sabe? - Charles perguntou empurrando ela com o ombro.

- Não me enche.

- Jenny, essa menina é mais estressada que você. Já pensou em botar ela pra fazer terapia contra raiva? Ou dar vacina, quem sabe funciona. - Ela deu um soco no braço dele. - Eu to falando!

- Cala a boca, Charles. - Dissemos e ele resmungou alguma coisa.

POV Sophie

Um mês sem celular e sem sair. Acho um exagero. Não precisava desse tempo todo. Até porque, só do idiota ter posto algo na minha bebida já é um castigo. Ainda mais por ele ser um Deus Grego.

E pior ainda por ter me deixado nesse estado. Meu corpo ainda dói e eu devo estar parecendo um cruzamento do demônio com uma mistura de yorkshire, poodle e guaxinim, porque tio Charles já chegou tirando uma com a minha cara. Queria poder voltar no tempo e não ter exagerado na maquiagem dos olhos.

E pra fechar com chave de ouro, meu pai não está falando comigo. Acho que não precisava de tanto.

- Posso entrar? - Ouvi a voz do Simon da porta do meu quarto. Joguei meu caderno e a apostila pro chão e olhei pra ele.

- Desde quando você pede pra entrar?

- Desde a vez que você me expulsou daqui. - Ele disse entrando.

- Eu sou uma idiota, não sou?

- Na maior parte do tempo, é.

- Era pra você negar!

- E eu vou mentir?

- Isso não foi nada romântico.

- Tá querendo agora ser que nem aquelas menininhas de filmes românticos em que o mundo é sempre rosa?

- Não! Prefiro azul. - Ele riu. O silêncio se instalou entre nós. Isso nunca tinha acontecido antes.

- Bacana o tapete vermelho. - Simon falou depois de um tempo pra quebrar o gelo.

- Idiota. Te odeio, Simon. - Ele passou o braço pelos meus ombros e me puxou pra perto.

- E eu te amo.

- Para. Você sempre diz isso.

- E eu não to mentindo. - Sabia que ele não me amava do jeito que meus pais se amam. Acima de tudo, éramos amigos.

- O que a gente tem?

- Não sei. Amizade colorida?

- Sempre achei bonitinho. - Ele sorriu e me beijou. Até que alguém deu um murro na porta, fazendo com que a gente pule de susto.

- Olha a pornografia, garota! - Bufei.

- Para de ser chato, tio Charles!

- Só errei a porta do banheiro. Não precisa ser agressiva.

- Desde quando você erra alguma coisa aqui em casa? - Ele deu de ombros e fechou a porta. - Eu sei que ele é chato.

- Eu não acho.

- Ah, é! Esqueci que você é a versão mais nova dele.

- Posso te processar por calúnia.

- Cala a boca. - Disse rindo e ele voltou a me beijar.