As pessoas são estranhas. Elas andam com suas próprias vidas e pensamentos, sem saber o que acontece na vida de outras pessoas. Tantas vidas indo e vindo a todo instante e muitas não fazem ideia de muitas coisas que acontecem, por simplesmente não prestar atenção. Vendo as pessoas andarem em um lugar movimentado nos dá muito o que pensar. São todas tão diferentes.

Enquanto umas caminham para estudar, outras caminham para trabalhar ou ainda para procurar aonde trabalhar. Cada uma com suas tristezas e felicidades, cada uma com seus sofrimentos e conquistas.

Umas felizes pela declaração feita pelo garoto que gostava há anos, ou pela proposta de casamento feita pelo namorado que a ama mais que tudo, enquanto outras se encontram em uma tristeza profunda pelo casamento de anos que acabou em traição, ou pela namorada que terminou o relacionamento por uma aventura.

As pessoas também não fazem ideia de quem está ao seu lado até que isso seja provado, como a garota que com uma criança nos braços, chora no colo da amiga o abandono do namorado, mal ela sabe que ele a abandonou para ficar com a 'amiga', e imagino que nunca saberá. Ou como o homem que passa com evidentes olheiras, por ainda não conseguir entender o suicidio da mulher que há anos era depressiva pela morte do filho que nem chegou a nascer.

Eu era boa em descobrir a vida dos outros apenas olhando. Afinal, era isso que eu vinha fazendo há três meses, sentava na estação do metrô, esperando o meu chegar, tomando coragem para ver se eu iria ou não trabalhar. Enquanto fazia isso analisava a vida das pessoas para ver se elas sofriam tanto quanto eu vinha sofrendo.

Era fácil ver atrás dos rostos apresados. Uns tinham um sorriso enorme, outros continham lágrimas escondidas, e segredo ocultos, outros mantinham uma expressão indiferente, o meu era um desses rostos. Não precisava que ninguém me analisasse, que alguém percebesse que a minha vida tinha virado de cabeça para baixo da noite para o dia.

Há três meses eu tinha uma família sólida e feliz, e hoje o que eu tinha? Minha filha foi sequestrada pelo meu ex-namorado que atormenta a minha vida há doze anos, e meu marido foi morto por esse mesmo maluco. E eu não podia acreditar que o amor da minha vida tinha partido, que eu nunca mais veria seus olhos verdes, ou seu sorriso torto, e era por isso que eu levantava toda manhã. Era por isso que eu ainda não tinha desmoronado, porque eu ainda tinha esperança. Ele tinha que estar vivo, ou eu não estaria.

Não tinha nenhuma pista do paradeiro da minha filha, ela sumiu sem deixar rastros, meu marido podia ser a única chance de eu encontrar ela. Mas todos achavam que eu estava louca, que não tinha como ele ter sobrevivido a uma explosão como a que houve, mas eu tinha fé. Eu ia ter minha família de volta, e ia fazer ele pagar pelo que fez, quando tirou tudo de mim novamente. Eu ia ter minha vingança, lenta e dolorosa. Era só isso que eu desejava.

Vingança.