Barulhos Irritantes escrita por Lushaws


Capítulo 1
Capítulo Único




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POV Nathaniel

O dia estava frio. Realmente frio, eu diria. Estava nevando há quase dois dias seguidos, e a temperatura estava anormalmente baixa. Eu estava usando quatro camadas de roupas e, ainda assim, poderia jurar que meus ossos estavam batendo uns nos outros. Mas isso, eu poderia apostar, não era pelo frio, e sim pelo nervosismo.

Se há uma coisa no mundo todo que me faria perder a cabeça imediatamente, é a crítica. Qualquer tipo de crítica, fundamentada ou não. Eu não tenho nada contra opiniões alheias, mas – por motivos aparentemente desconhecidos – eu criei em mim mesmo um perfeccionismo sufocante, e eu juraria poder sentir meu próprio coração disparado por tudo que a diretora acabou de dizer.

Eu sou o representante de classe, quase não tenho vida social, passo a maior parte do meu dia no grêmio, resolvo qualquer problema que passe por mim e ainda aguento os favores pessoais que sempre chegam à minha mesa. Tudo isso pra quê? Para um dia, ela chegar e falar na minha cara que, caso eu não resolva o problema que acabou acontecendo com todas as matrículas desse ano no Sweet Amoris, serei expulso do grêmio?! Eu não sou obrigado a passar por isso!

Apesar da revolta, eu me dediquei por anos para me tornar o representante, e não deixarei que nada me tire esse título. Não enquanto conseguir evitar.

Ouvi batidas na porta e finalmente sai de meus devaneios, percebendo que estava quase adormecendo sobre as fichas das matrículas.

Olhei em direção ao som e revirei os olhos ao ver Castiel parado na porta.

- Castiel, por favor, hoje não... – ele deu um sorriso debochado.

- É, eu ouvi o que aconteceu. Deve estar bem estressado, não é Nath? Coitado! A velha reclamou do trabalho impecável do Sr. Certinho.

- Eu só não... Hoje não. Você pode me provocar qualquer dia, mas eu realmente estou ameaçado a perder coisas importantes para mim, coisas essas que eu lutei para conseguir, se não terminar isso aqui.

- Eu sei. E vim te fazer companhia. – disse, puxando uma cadeira e sentando na minha frente.

- Você realmente não tem nada pra fazer hoje à noite?

- Não, estou totalmente livre. Ficarei aqui até você ir embora, e prometo que farei o possível para me dar bem com você hoje. – sorriu cínico.

- Ótimo, então me faça um favor e me passe àquela caneta. – apontei para o objeto ao seu lado, e ele pegou, me passando.

- Confesso que fiquei surpreso quando ouvi que você estava de castigo – olhei-o de canto de olho – e mais surpreso ainda quando disseram que ia ter que passar a noite aqui. Então pensei... “Eu não tenho nada para fazer hoje mesmo, e ele estará tão solitário, irei unir o útil ao agradável e...”

- Só fique quieto. Não faça nada irritante e, definitivamente, nada desnecessário. Estou ocupado e peço respeito, caso você saiba o que significa.

- Claro que eu sei, Nath... Só não uso com frequência.

Revirei os olhos e continuei meu trabalho, agradecendo mentalmente quando ele ficou quieto. Porém, não demorou muito para que um barulho irritante começasse a chegar aos meus ouvidos. Era repetitivo e chato, e minha cabeça quase explodiu ao perceber que vinha de Castiel, que batia ritmicamente com um lápis na mesa a sua frente. Continuei em silêncio e apenas puxei o lápis de sua mão, continuando o que fazia.

Quando finalmente consegui ignorar sua presença desagradável, mais um barulho interrompeu minha concentração. Olhei para o ruivo e vi que ele pegara uma caneta e apertava seu botão intencionalmente para me provocar. Ele me olhava com seus olhos debochados, e continuava insistentemente com a caneta nos dedos. Bufei e tentei ignorar o som, mas começou a ficar mais rápido e eu já podia sentir meu sangue sendo rapidamente bombeado pela raiva e frustração. Estiquei minha mão e puxei a caneta, batendo na mão de Castiel o mais forte que consegui com a mesma. Ele puxou a mão rapidamente e a olhou, como se tivesse doído, mas ainda assim ouvi sua risada rouca.

Percebi, olhando-o discretamente, que o mesmo colocara o fone de ouvido e fechara os olhos ao ouvir a música que tanto o dava prazer. Estava alto, e eu conseguia ouvir os ruídos que saiam do fone, mas não chegava a ser desagradável. Na verdade – por mais que eu não fosse o fã número um das bandas de rock – até que estava gostando do pouco que conseguia escutar. Só agradeci novamente e continuei meu serviço.

Porém, como tudo que é bom dura pouco, logo a voz de Castiel acompanhava baixinho a música que ouvia. Embora me irritasse um pouco, eu não tinha certeza que ele fazia por mal, sabia que ao ouvir música, a maioria das pessoas gostava de acompanhá-la e, como não estava alto, resolvi deixar pra lá.

Claro que, em pouco tempo, ele estava praticamente gritando a letra da música e, então, eu percebi: Era por mal.

Eu sinceramente não conseguia entender por que diabos Castiel gostava tanto de me ver infeliz. Ok, nós nunca nos demos muito bem, mas eu também nunca o provoquei tanto!

Olhei-o com raiva, e ele apenas continuou cantando, embora tenha abrido os olhos para ver minha reação.

- Porra, Castiel! O que é que eu tenho que fazer pra você calar a boca?!

- Bom, eu tenho uma ideia, – se inclinou sobre a mesa, quase encostando o rosto no meu. – mas eu não sei se você vai gostar.

- Eu faço qualquer coisa se você me prometer que vai embora logo!

- Qualquer coisa, Nath?! – sua voz assumiu um tom que eu poderia jurar ser malicioso.

Mas eu sabia que Castiel não era gay. Afinal, ele namorou com Debrah, não foi?! E sempre dá em cima das novatas – não que eu vivesse percebendo isso, claro. E já o vi saindo com muitas garotas de fora da escola. É claro que isso não me dá 100% de certeza que ele não seja bissexual, pelo menos. Mas... Não, é claro que eu já saberia se Castiel gostasse de garotos também. Então, não havia motivos para me preocupar.

- É, qualquer coisa. – afirmei, tentando pôr certeza na voz.

- Ok. – ele encostou os lábios nos meus e depois os separou, olhando minha expressão, que realmente deveria estar engraçada: Eu tinha certeza que meus olhos estavam arregalados, e provavelmente estava corado. – Qualquer coisa, Nath?

Eu não respondi, mas senti meu rosto ficar ainda mais vermelho e, por algum motivo, só inclinei mais meu rosto, tocando novamente nossos lábios. Pude sentir sua hesitação e surpresa no início, mas sua mão logo tocou meu cabelo, me puxando para o mais perto possível e aprofundando o beijo. Eu não tenho certeza de como aconteceu – até porque meus olhos estavam fechados – mas no segundo seguinte Castiel estava na minha frente, sentado no meu colo.

As coisas aconteceram rápidas – ou talvez minha mente estivesse alienada demais para perceber os detalhes –, mas logo estávamos ambos nus. Ele me segurou pela cintura e me colocou sentado na mesa, antes afastando os papéis da frente. Porém, o pensamento da palavra “papéis” me fez lembrar onde estávamos, o que faríamos, as graves consequências caso fôssemos pegos e o motivo por eu estar ali àquela hora.

- Ca-Castiel... Hmm... – gemi com uma carícia mais ousada – Est-estamos no grêmio! – quase gritei ao sentir sua mão no meu pênis.

- Eu sei... E daí?

- Nós não... aqui... Eu estava... importante... Pare! – consegui afastá-lo, embora minha excitação provasse que eu estava absolutamente louco por aquilo.

- Como é que é?! Parar agora? Nem morto! – tentou vir novamente, mas eu o segurei o mais longe possível – Qual é, Nathaniel!

- Eu não vou... ahm... dar pra trás. Prometo! Nós continuaremos, só que não aqui, não agora.

- Mas hoje? – assenti a contragosto, sentindo que a temperatura baixa de antes já havia se elevado bastante, embora soubesse que Castiel contribuíra muito para isso. Ele começou a se vestir, e eu podia sentir sua irritação – até por que, mantinha-se calado. Eu o repeti, mas deixei o casaco mais grosso por fora, sentando na cadeira e puxando os papéis para minha frente.

Fiz tudo da forma mais rápida possível, quase no automático.

Eu realmente nunca achei que talvez fosse gay. É, nunca. Sei lá, é estranho. Até porque eu e Castiel nunca nos demos bem, e o principal motivo para isso foi justamente uma garota. Bom, talvez eu não seja exatamente gay, só bissexual. Se bem que nenhum outro homem nunca me atraiu dessa forma.

- Já acabou? – assenti, pondo todos os papeis na gaveta onde ficavam. – Ótimo, então vamos.

- Vamos... para onde?

- Minha casa, a sua, um motel, você decide! Mas eu aconselharia minha casa, pois está vazia e é gratuita. Pelo menos, economicamente falando. – sorriu malicioso.

- Ok, sua casa então. – peguei meu casaco, vestindo-o devagar para que ele não percebesse o quão corado eu estava. – Mas... Castiel?

- O que? – olhou pra mim.

- Como vamos fazer pra... ahm... disfarçar... isso? – olhei para os volumes em nossas calças, e ele riu alto.

- Não vamos fazer nada, só relaxe, ok? – me deu um selinho e saiu, embora ainda ouvisse sua risada pelo corredor. Tranquei o grêmio e o segui.

Bom, talvez eu não fosse gay nem bi; talvez só estivesse apaixonado por Castiel.

[...]

Eu estava ansioso. Tive que vir mais cedo para conferir se já estava tudo pronto e – ao conferir que sim – permaneci no grêmio, sentado em uma das cadeiras. Eu não queria admitir para mim mesmo que, na verdade, estava esperando Castiel, que sem dúvidas viria me procurar. Mas, por outro lado, era aceitável que eu o esperasse ali, afinal, precisávamos de privacidade para falarmos sobre o que fizemos.

As cenas voltavam em minha mente sempre que começava a pensar sobre alguma coisa, e sempre me faziam suar.

O pior é que... Fui interrompido – mais uma vez – por Castiel batendo na porta, e quase pude ver meu rosto corar.

- Imaginei que fosse me esperar aqui.

- Eu não estava... – parei o que falava, enquanto ele se aproximava mais que o necessário. – O que você está fazendo?

- Te beijando, não vê? – e encostou sua boca na minha, segurando-me pela cintura e aprofundando o beijo. Fechei os olhos e me rendi ao beijo, que acabou durando vários minutos, visto que só parávamos para pegar fôlego.

- Temos que... hmm... – suspirei quando ele beijou meu pescoço - ... conversar sobre isso, Castiel.

- Conversar o que? – senti seu hálito contra meu pescoço, me causando arrepios.

- Sobre... o que fizemos... e o que estamos fazendo...

- E o que faremos. – riu – Estamos no nosso direito, afinal, namoramos agora, não é?

- Namoramos?

- Oh, Sr. Certinho querendo fazer sexo casual?! – fingiu espanto, voltando ao meu pescoço – Que feio, Nath...

- Eu quero.

- Quer o quê?

- Namorar com você.

- Hmm... – riu, beijando-me na boca e depois me olhando nos olhos, ainda sorrindo. – Isso é bom... – e voltamos a nos beijar.


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