Amanhecia lentamente enquanto a brisa fria ainda soprava sobre os longos e loiros cabelos de Azera que mantinha sua cabeça apoiada sobre os joelhos, estava adormecida em cima do telhado de uma casa depois de ter passado a noite em claro por conta de inúmeros pesadelos.

Ela despertou de súbito quando um pequeno pássaro pousou do seu lado. Ergueu o rosto ainda coberto pela máscara e estendeu a mão para o pássaro que subiu em seu dedo carinhosamente, colocou-o em seu ombro e por alguns minutos se dedicou a conversar com a ave já que podia entender o que os animais diziam:

–Você é muito pequeno, por quê está sozinho?

–Não estou exatamente sozinho, eu vi você aqui e fiquei curioso – A voz do pássaro ecoa em sua mente.-

–Onde está seu bando?

–Aqui perto, o que um dragão faz aqui sozinho?

–Não tive uma noite muito agradável, meu bando está longe agora.

–Eu achei estranho um elemental estar entre os humanos assim, do nada. Mas por quê não está com eles?

–Eu preciso proteger os humanos, prometi para a minha ancestral.

–É uma tarefa difícil hein? A todo momento tem alguma confusão, que nem essa de agora pouco.

–De agora pouco?

–Oh sim, uns rapazes andam fazendo bastante bagunça por aqui!

–Rapazes?

–Sim, são agressivos e estão ferindo muitas pessoas, vasculhando cada rua de Midgard, parecem procurar alguém.

–Obrigada pelo aviso, acho melhor você voltar para seu bando e avisá-los para não pousarem por aqui hoje.

–Certo, boa sorte defensora dos humanos, foi bom falar com você.

A pequena ave parte em um suave voo. Azera suspira pesadamente e se levanta, erguendo as mãos cobertas pelas luvas em direção ao céu e invocando a foice branca que usara na última batalha contra Kadaj, segurou-a com a mão direita ao passo que voltava sua atenção para o centro da cidade; ajustou a botas de salto e saiu de onde estava em um salto ágil.

Pousou sobre o solo sem emitir som algum e caminhou pelas ruas paralelas menos movimentadas em passos apressados, deixou-se guiar pelo cheiro fresco de sangue que invadiu o ar e logo chegou no cenário odioso que procurava. Loz segurava um rapaz pela gola da blusa enquanto desferia uma sequência cruel de socos no rosto deste que foi arremessado contra a parede:

–Vou perguntar mais uma vez, onde ela está?

–Eu não sei, nunca ouvi falar dessa pessoa.

–Por favor, pare de bater no meu filho! - Uma senhora de meia idade implora chorando-

–Ouça a senhora Loz, solte o rapaz-

–Yazoo, você não estava procurando do outro lado?

–É inútil procurar assim, eu descobri um jeito melhor.

–Qual seria?

–Solte-o que eu te mostro.

Loz larga o rapaz violentamente no chão enquanto Yazoo se vira para uma menininha que estava se escondendo atrás da irmã e se aproxima delas lentamente, a irmã mais velha se coloca à frente numa tentativa de protegê-la. Porém Yazoo a empurra para o lado e agarra a menininha enquanto coloca a arma conta sua cabeça:

–AZERA, EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ VENDO ISSO, SE VOCÊ NÃO APARECER AGORA EU VOU MATAR ESSA MENINA!. - Yazoo grita olhando para todos os lados-

–NÃO!- A irmã da menininha implora desesperada-

A fúria toma conta do corpo de Azera que simplesmente ergue a foice e lança conta Yazoo, a longa lâmina corta rapidamente o ar em uma velocidade tamanha que cortou o peito alheio, fazendo-o cair e largar a menininha que correu desesperada para junto de sua irmã A foice bate contra a parede e volta para a mão de sua mestra que sai do meio das sombras e chama a atenção para si:

–Estava me procurando seu covarde? - Ela rosna-

–Eu sabia que você não deixaria um inocente morrer diante dos seus olhos.- Yazoo se levanta-

–Você queria que eu aparecesse, aqui estou.

–Se você colaborar e vir conosco, garanto que não vai se ferir.- Loz se aproxima de Yazoo-

–O dia em que eu me render, não terei mais a honra de um elemental, se você me quer tanto venha me pegar.

–Bom, você que pediu. - Yazoo ri-

–Vocês, saiam daqui agora.

–E... E a senhorita? - A menina mais velha se pronuncia-

–Não se preocupe comigo, saiam enquanto há tempo!

–Certo, obrigada por salvar minha irmã.

–Esse é meu dever, agora vão!

A menininha que foi salva por Azera se aproxima e abraça a perna da draconiana em forma de agradecimento, sorrindo ao dizer “obrigada“ e logo sai dali com os outros. Azera suspira e volta seu olhar para os dois, soltando um rosnado forte em seguida, pode sentir sua máscara vibrar com seu rosnado e logo ergueu a foice, partindo para o combate corpo a corpo com os dois, tendo a vantagem em velocidade.

Yazoo empunha a arma e logo começa a atirar enquanto Loz tenta uma aproximação corpo a corpo com a mesma que é mais ágil e o joga em direção a rua principal. Se aproxima de Yazoo enquanto se defende com a foice e logo faz o mesmo com ele, observando-os se erguer com certa dificuldade.

Ela solta uma risada abafada enquanto volta a se posicionar, os dois expressam certa fúria nos olhos e pela primeira vez Azera percebe que os mesmos estão empenhados, ela para de rir e assume uma postura mais séria enquanto vê os mesmos repetindo a frase “Chega de Brincadeira”; ela não sente medo mas sabe que dessa vez será diferente.

Os dois voltam a atacar em conjunto e começam a desferir uma série contínua de socos e chutes que acabaram por derrubá-la, que usa de sua força para se proteger de todas as maneiras. Quando encontra uma brecha ela afasta os dois de si e consegue se levantar mais uma vez com um rápido mortal para trás.

A respiração do dragão se altera, certo peso se abater sobre seu corpo por conta dos ataques que sofrera. Sente então uma dor forte na perna e direciona seu olhar para a mesma, vendo ali um pequeno arranhão em sua roupa e uma parte roxa em sua pele, seu olhar se estreita por baixo da máscara e ela avança mesmo assim.

As investidas deles duram mais um tempo, até que surge Kadaj em cima da moto e entra também na batalha que se espalhou pelas ruas, Azera sente sua respiração pesar já que seu corpo estava sobrecarregando por lutar contra três ao mesmo tempo. O calor do ambiente não estava ajudando a draconiana que começou a sentir vertigem e fraqueza, tentou se concentrar na batalha mas logo foi derrubada por Loz que prendeu o pescoço da mesma contra o solo violentamente:

–Agora você vê que somos mais fortes que você?

–Mal...Dito....

–Não consegue respirar não é?

–Não a mate Loz, a MÃE a quer viva.

–Certo, ainda bem que fundimos as matérias no nosso corpo, caso contrário já estaríamos mortos.- O braço dos três brilham, indicando as matérias.

– Agora devemos nos focar nela antes que se solte.

–Se soltar de mim Yazoo? Nessa posição eu duvido muito.

–Não.....vai...me...levar! - Ela começa a se remexer-

–Ela é incansável, não podemos pelo menos imobilizá-la um pouco não?

–Talvez uma perfuração no corpo a faça parar. - O mais novo chega mais perto-

Kadaj puxa a Souba da cintura e se aproxima, colocando o pé esquerdo sobre o peito da mesma e posicionando a espada na direção do ombro, quando ele coloca força para descer a espada sobre ela, um tiro arranca a Souba das mãos do mais novo que se vira procurando de onde veio. Sua distração foi tanta que nem percebeu quando um animal aproximou-se velozmente, empurrando-o de cima de Azera e levando Loz com ele.

Azera sentiu o ar voltar para seus pulmões e pode pelo menos respirar fundo e tossir, olhou para o animal que lembrava um cão e ao mesmo tempo lembrava um tigre, sua pelagem vermelha era única e ela pode ver uma escrita no ombro onde estava a inscrição “Red XIII” :

–Você está bem? - O animal se vira para ela-

–Eu..Estou......

–Azera!- A Fenrir se aproxima rapidamente-

–Cloud? O que faz aqui? - Vê o loiro se aproximar ainda em cima da Fenrir-

–Nós soubemos o que estava acontecendo e viemos o mais rápido possível. -Desce da moto e ajuda-a a se levantar-

–Nós?

–Vejo que você já conhece o Red XIII certo?

–Sim..... Eu acho.....

–Tudo bem ai? - Berret se aproxima com sua metralhadora em punho-

–Alguém ferido? - Vincent aparece atrás de Berret-

–Hã?

–Azera, esse é Berret e esse é Vincent, eles também fazem parte da nossa equipe.

–Então essa é a famosa Azera que a Marlene me falou? Prazer em conhecê-la. -Barret cumprimenta com um aceno-

–....Igualmente... Como sabiam que eu estava aqui?

–Escutamos o burburinho de que uma garota estava brigando contra três caras sozinha. Se machucou?

–Estou bem, Obrigada... Só recebi alguns golpes mas nada grave.

–Como está seu pescoço? - Vincent vira seu olhar para as marcas deixadas pelas mãos de Loz-

–Não dói pelo menos, só formiga.

–Azera, deixe isso conosco e saia daqui.- Cloud pega a Buster.

–Como?

–Se eles estão atrás de você é nosso dever te ajudar, afinal, você salvou a vida da Tifa.... Estamos em divida com você.

–Não posso.

–Por favor, confie em nós.

–Cloud......

–Vá.

–A gente segura a bronca. - Berret sorri-

Azera encara os olhos azuis do loiro, encara os olhos de Berret e os olhos carmesim de Vincent decidindo logo por concordar com a cabeça, pega a foice do chão e foge o mais rápido que pode. Caminha se apoiando nas paredes para sai dali mas é levada pelo impulso de olhar para trás, vendo Cloud, Vincent, Berret e Red XIII lutarem contra os três. Um aperto vem sobre o coração da draconiana que olha para sua foice e em seguida para o céu:

–Mas o que é que eu estou fazendo?

Nesse exato momento, Cloud travava sua luta contra Kadaj que desferia golpes violentos contra si, Vincent e Red XIII lutavam contra Yazoo e Berret contra Loz, mas a metralhadora resolve travar bem na hora de um ataque decisivo.

Loz aproveita para jogá-lo contra a parede e para desferir um choque forte contra o peito dele, o baque de seu corpo contra o chão chama a atenção dos outros e faz Loz rir debochado. O mais forte dos três ergue o punho para mais um golpe contra o membro da Avalanche quando suas costelas são cortadas pela lâmina de uma foice que o arremessa para longe de Berret que ergue seus olhos e vê Azera diante de si:

–Você segura a bronca não é? Estou vendo.

–Mas, o que está fazendo aqui? Você deveria ter fugido!

–Que dragão seria eu se abandonasse meus companheiros no meio de uma luta? Eu te ajudo, vem.

–Obrigado. - Se apoia nela e se levanta-

–Por isso que eu não uso armas com frequência, travam quando mais preciso.

–É, essa precisa de ajustes.

–Percebi!

–Cuidado! - Vincent ergue o tom de voz-

Azera percebe um vulto se aproximar rápido e joga Berret para o lado enquanto desvia de Loz mas a distração deste ajuda Kadaj a sair de perto de Cloud e a correr enquanto ergue a Souba contra a loira que não teve tempo de sair da mira das lâminas; conseguiu segurar uma ponta desta, mas teve sua máscara perfurada pela outra ponta da espada afiada do mais novo:

–Te peguei!

Kadaj da um tranco na espada cuja ponta entra por completo na máscara alva. Um grosso rastro de sangue escorre por dentro desta e segue o percurso pelo pescoço de Azera, manchando sua roupa de rubro, ela segura com mais força a ponta da espada que estava entre seus dedos e consegue afastar Kadaj de si, levando a Souba junto.

O dragão cambaleia para trás e se apoia em uma parede próxima enquanto sente o sangue escorrer, todos podem ver a máscara começar a se partir ao meio enquanto ela abaixa o rosto. A máscara cai se dividindo em duas ao bater contra o solo e a draconiana respira pesadamente levando a mão de encontro ao próprio rosto.

A luva e o braço da menina se tingem de carmesim, o sangue pinga constante enquanto Kadaj ri e os membros da Avalanche se preocupam com o estado em que Azera se encontra. O ferimento causado pela espada era profundo mas não foi capaz de conter a raiva que brotou nela, um forte rosnado saiu de sua garganta enquanto ela erguia a cabeça:

–Seu desgraçado...

–Como você ainda está de pé? Com aquele golpe você deveria estar no chão! - Kadaj fica sério-

–Até hoje você foi o único maluco que teve a audácia de quebrar minha máscara e ferir meu rosto. - Mantém a cabeça abaixada enquanto da um passo para frente-

–Kadaj, cuidado. - Yazoo pressente o pior-

–SEU DESGRAÇADO!

Azera ergue a cabeça rapidamente e encara Kadaj com seus olhos verdes ardendo em fúria, os mesmos perdem sua cor e se tornam amarelos, a cor natural dos olhos de um dragão. O ar ao redor dela perde calor e o chão congela instantaneamente, as presas da menina saltam da boca enquanto uma cauda branca surge da base de sua coluna. Retirando as luvas, era possível ver as longas garras pontiagudas.

Pela primeira vez Kadaj estava vendo o rosto de sua presa sem aquela máscara, considerou aquele rosto tão perfeito quanto o de um anjo, sua aparência não apresentava defeito algum. Os três irmãos permaneceram estáticos ao ver aquele rosto tão belo se transformar em algo mortal, o sangue ainda escorria quando esta ergueu a cabeça e soltou um grande rugido em direção ao céu.

Aquele ato assustou a todos porque naquele momento a voz dela foi substituída por um tom agressivo e selvagem, algo que não era mais humano, a voz de um dragão furioso que virou seus olhos para os três e simplesmente correu até eles deixando uma vala profunda onde suas garras tocavam.

Loz é o primeiro alvo da fúria descontrolada da draconiana que o enterrou em uma parede apenas com uma das mãos, Yazoo tentou se defender com a arma que foi arrancada de sua mão pela boca dela. Azera se afastou alguns metros e destruiu a arma de Yazoo apenas com uma fechada de sua mandíbula, entrou em pânico pela primeira vez diante da fera que ela havia se tornado e tentou correr para a moto mas sua perna foi enrolada pela cauda do dragão que o jogou contra um poste usando toda a força de seus músculos.

Kadaj e os membros da Avalanche estavam estarrecidos com a visão que estava diante deles, nenhum deles haviam visto o rosto dela já que a mesma estava de costas para eles mas pela expressão de Kadaj, a visão da face transtornada dela não deveria ser nada agradável:

–Agora....Quem é a presa de quem hein? - A voz agressiva dela ecoa-

–Droga...

–Você não queria me capturar? Tente agora seu pirralho!

Azera segura a perna de Kadaj com a cauda e com um alto e imponente rosnado, joga-o de um lado para outro formando crateras no chão, Kadaj consegue se soltar e monta em sua moto, fugindo e sendo seguido por Yazoo e Loz gravemente feridos; a draconiana iria segui-los mas se lembrou dos Avalanche que estavam atrás de si e deixou-os escapar.

Tentou controlar sua respiração descompassada e se apoiou em uma parede ao sentir a vertigem voltar a seu corpo por conta do calor, sabia que não demoraria de voltar ao normal e então se virou para Cloud e os outros:

–A....Azera? - Cloud se aproxima lentamente sendo acompanhado dos outros Avalanches-

–O que restou dela..Talvez. - Faz seu corpo voltar ao normal e abaixa a cabeça-

–Levante a cabeça, por favor.

–Vocês estão feridos? - Ela ergue o rosto para eles-

–Estamos bem..... Seu rosto...Está.....

–Mas por quê você cobria seu rosto? Ele é belo! - Berret fica ao lado de Cloud-

–É uma coisa cultural.

–E você se irritou quando Kadaj cortou sua máscara, isso representa alguma coisa ou era só apreço por ela? - Vincent guarda a Cerberus-

–Cortar a máscara de um elemental representa um insulto......Dos mais graves.....

–Azera, precisamos estancar esse ferimento na sua cabeça.- Cloud se coloca do lado dela-

–Cloud........O calor....... - Ela vai perdendo as forças-

–Azera! - Ele segura-a, a apoiando em seus braços-

–Ei, Azera? - Berret tenta ajudar-

–Ela perdeu a consciência, se não estancarmos logo esse sangramento ela vai morrer. - Vincent ajuda-os a sustentá-la-

–Certo, vamos levá-la para casa, Tifa pode nos ajudar nessa parte.

Cloud pega a menina no colo, vai até a Fenrir e apoia o corpo de Azera em suas costas, Berret monta na Moto também e ajuda Cloud a apoiar o corpo da draconiana. O loiro da partida em Fenrir e sai em alta velocidade enquanto é seguido por Vincent e Red XIII, o corpo de Azera começa a esquentar demais, o calor daquele dia com certeza estava afetando a menina que só não piorou porque Barret lhe fez sombra com seu próprio corpo.

Cloud sabia que tinha pouco tempo mas teria de pagar sua dívida com o dragão que havia salvado sua irmã, sua melhor amiga, Tifa.