Não sabia o que era mais difícil: lidar com a ex namorada do meu namorado ou com o meu namorado.

Ele tentava desesperadamente me explicar a situação, dizendo que ele não sabia que ela tinha voltado e que não queria que eu soubesse dessa história, por enquanto, para não me preocupar. Mas isso era o de menos; nós estávamos sujos de café e com certeza os outros iriam pedir uma explicação. O que dizer, por acaso? "Não foi nada, é que a ex do Percy jogou na gente."

–Percy - eu disse, tentando acalmá-lo. - Eu entendo, tudo bem. Você teve uma vida antes de mim e eu não posso culpá-lo por isso, apesar de ter achado errado você me esconder essas coisas.

Mas as palavras pareceram pesadas e eu logo me arrependi de ter dito aquelas coisas pra ele, porque eu também escondia um passado horrível. Ok, ele tinha uma ex namorada suicida e louca, mas o meu ex namorado tinha feito coisas bem piores, e comigo. Eu não poderia tocar nesse assunto tão cedo, só fingir que estava tudo bem e que eu o perdoava.

E eu até perdoava. Todo mundo erra e eu o amo demais para perdê-lo assim, de repente.

–Está tudo bem - eu disse, beijando-o de leve e pegando na sua mão de novo. - Vamos naquele outro café.

–Você é incrível - ele disse, mas ainda desanimado pelo que havia acontecido.

–Você também - então nós continuamos á andar em silêncio.

Fomos até o outro café e nos sentamos, em um silêncio confortável. Eu tinha que deixar aquilo de lado, porque as coisas começavam á voltar a tona... Eu não podia me abalar de novo.

–Antes que aquelas coisas todas pudessem acontecer, eu nem te contei o melhor - disse Percy, logo que o nosso café chegou.

–O que?

–Como as férias estão chegando, os pais de Thalia vão para a casa de praia deles e todos os anos nós vamos pra lá. Ficamos mais ou menos uma semana, por causa do aniversário dela.

–Isso é um convite? - eu disse, sorrindo.

–Se você quiser ir, é claro - ele disse, com um tom de "por favor, vá!"

–Mas é claro que eu quero ir! - eu disse, empolgada. - Quando?

–Daqui á duas semanas. No último dia de aula a gente já vai pra lá - ele disse.

–Ah, tudo bem, vou falar com a minha vó hoje. E como que é lá?

Nós começamos a conversar sobre a casa e a praia e, de repente, tudo o que havia acontecido á tão poucos instantes já nem passavam pelas nossas cabeças - como se nem tivesse acontecido.

Deu nosso horário e então voltamos para a sala. Bianca e Leo conversavam em um canto da sala, cheios de sorrisos e palavras... Você podia ver a animação dos dois sempre que um estava por perto.

Nossa supervisora entrou na sala e todos ficaram em silêncio, olhando para ela.

–Bom, eu vim aqui pra dar um comunicado. Como está chegando ao final do bimestre e vocês estão caindo drasticamente de 8,0 para 5,5, o corpo docente resolveu arrumar um jeito para vocês conseguirem nota. Vamos fazer um teatro sobre um clássico que será sorteado e vocês serão OBRIGADOS a participar. Vocês garantem 5 pontos na média em todas as matérias e só terão as duas primeiras aulas durante essa semana. - ela fez uma pausa. - Mas não pensem que vocês vão ficar de vagabundagem não, viu? Todos vão trabalhar nesse teatro. Vocês tem muita sorte.

Todo mundo suspirou, desanimado. Mas eu fiquei feliz, porque sou grande fã da Jane Austen - e ela é um clássico da literatura. Quem sabe não sai ela?

–Peguem suas bolsas e etc. e vão para o teatro. Seus professores já estão reunidos e provavelmente sorteando e organizando os personagens.

Todo mundo foi se arrastando corredor á diante. Eu e Percy fomos de mãos dadas, mas o caminho inteiro eu fui conversando com a Bianca, que compartilha o mesmo amor por literatura que eu.

Sentamos na última fileira de cadeiras. O anfiteatro não é muito grande; cabe até 100 pessoas. Os nossos professores estavam com papeis nas mãos e com microfones.

–1A, silêncio! - nossa monitora disse no microfone. - Aos personagens e a peça.

Então ela entregou o microfone para a nossa professora de português.

–Esse é um projeito criado pelos professores, graças as notas excelentes de vocês nas provas. - então ela sorriu. - Bem, vamos á peça. Nossa autora é a Jane Austen e vamos fazer a peça sobre Orgulho e Preconceito.

Silêncio. Ninguém nunca havia ouvido, sequer, sobre isso.

–Escutem bem o nome dos seus personagens, gente! depois vamos chamar aos poucos vocês aqui. - então ela começou a ler a lista de chamada. - Alícia, você vai ser Georgiana Darcy. Annabeth, você vai ser Jane Bennet. Bianca, você vai ser Charlotte Lucas.

Legal. Jane Bennet é incrível. Só tenho medo de quem vai ser o meu Sr. Bingley.

E sabe quando coisas legais não vão acontecer depois de coisas boas acontecerem? então.

–Íris, você vai ser a Mary Bennet. Jason, você vai ser o Sr. Bingley.

Jason não deve ter percebido nada pois ele não tinha o mínimo senso. Mas Bianca arregalou os olhos pra mim e disse: nossa.

Nossa mesmo. Eu estava ferrada.

Depois que a professora terminou de falar os nomes dos personagens, ela chamou de quatro em quatro pra ir conversar com ela. Ela explicou para todo mundo o que iria ser e depois, lá na frente, ela fez um contexto geral do livro.

Percy seria o Sr. Darcy, e nossa Elizabeth Bennet seria a Piper. Merda. Não que eu seja insegura, mas todo mundo baba por ela...

Ele também não estava feliz, por causa de quem seria meu par. E o mais incrível: é que eu teria que fingir estar apaixonada por Jason durante a peça pra conseguir a nota. Merda².

Ela começou com os personagens principais: as irmãs Bennet e seus pretendentes. Ela pediu para que cada um ficasse na frente dos outros e dissesse o que estava em um papel. Ela disse que seria um ótimo exercício para começar.

–Srta. Bennet, me honraria a primeira dança da noite? - ele disse, fazendo uma pequena mesura. Mesmo prometendo a mim mesma evitar qualquer contato com ele, eu ri.

–É uma honra, Sr. Bingley.

Ele pegou a minha mão e começou a me rodopiar. Depois de um tempo, nós paramos, rindo.

–Você não sabe como conduzir uma garota, Sr. Bingley - eu disse, sem ler o papel, e olhando para ele. Agora era eu quem falava como Jane. - Quem sabe uma outra garota esteja interessada em você?

–Seria impossível olhar para outra quando eu tenho a mais bela criatura do salão diante de mim, Srta. Bennet.

Minhas bochechas coraram involuntariamente. Olhei para o lado e Percy olhava com ódio para Jason, mas ele nem parecia ligar.

–Vamos, garotos - disse a professora, diante de nós. - Vocês estão apaixonados, lembram? Vamos!