Everything Has Changed escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 2
Party


Notas iniciais do capítulo

Reviews, please?



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Acordei num quarto completamente em tons de branco e bege, ouvindo os sons dos aparelhos em que eu estava conectada. Sentia-me dolorida, meu tronco doía mais que tudo. Percebi os curativos em meu rosto, minha perna e minha costela. As lembranças da noite anterior vieram como uma enchente, me fazendo ficar com medo novamente. Virei a cabeça para o lado esquerdo, dando de cara com Ângela e Emma conversando baixinho, sem perceber meu olhar.

– Ai – eu gemi de dor quando tentei me sentar.

– Oh, meu Deus, Bella! – Ângela falou, percebendo que eu estava acordada se aproximou para me abraçar delicadamente. Emma me sorriu e as duas se ajoelharam ao lado de minha cama.

– Eu pensei que eu não fosse conseguir escapar... Eu... Como eu vim parar aqui? – consegui falar, minha mente completamente confusa.

– O Dr. Cullen te salvou Bella. Você não iria acreditar, ele é pai dos alunos novatos do colégio! Ele ouviu seus gritos e conseguiu afastar aquele homem de você antes que ele... – Ângela falou devagar, como se não tivesse certeza de que eu estava entendendo.

– A-agora eu me lembro – gaguejei.

– Ele é médico nesse hospital, te trouxe pra cá e depois contatou sua mãe... Graças da Deus você não correu risco de morte, só uma costela quebrada, alguns arranhões e hematomas. Você quase me matou de susto, Bella! Quando soube que você estava aqui, só pensei o pior. Jéssica não pôde vir, por que a mãe dela não a deixou faltar aula, então eu chamei a Emma para não vir sozinha enfrentar a simpatia da sua mãe. Quase que ela não nos deixa entrar... – Ângela tagarelou, me colocando a par dos fatos.

– Vocês não precisavam ter faltado aula por mim, Âng – falei, sentindo minhas bochechas esquentarem.

– Enlouqueceu, Bella? Você é mais importante do que qualquer aula – ela disse, me fazendo sorrir.

– Obrigada – eu murmurei, ainda mais envergonhada.

Depois, Emma e Ângela tentaram me animar, falando que elas estavam torcendo por minha melhora e coisa e tal. A chegada da enfermeira interrompeu a conversa animada das duas comigo para me sedar, o que aceitei de bom grado. As dores tinham aumentado gradativamente com o tempo em que fiquei acordada.

Dormi um sono sem sonhos, e o que pareceram ser segundos depois, acordei. Sentia-me molenga e dormente, e as dores, é claro, ainda não tinham sumido. Pouco tempo depois que acordei, uma figura adentrou a sala. Quando se virou para mim, percebi que tinha me esquecido de quem ele era parente. “Ele é pai dos alunos novatos do colégio...”.

Assumi logo uma expressão normal, mas por dentro estava meio assustada. Eu não sabia o motivo, é claro, afinal aquele homem salvara a minha vida e eu devia muito a ele. Percebi as características que no fundo eu sabia que ele teria: Incrível beleza, olheiras, olhos dourados. É claro que eu não deveria deduzir aquilo, pois nenhuma família tinha características iguais em cada membro. Os caracterizei assim inconscientemente, provavelmente.

Ele sorria gentilmente enquanto caminhava para mais perto da minha cama, e logo perguntou:

– Como se sente, Bella?

– Melhor – consegui dizer, a voz rouca pelo sono.

– Isso é bom, mas receio que mesmo assim você terá que passar mais um tempinho aqui conosco – ele disse, sorrindo como se quisesse me pedir desculpas.

– Acho que já deduzi isso, doutor – as dores não me deixavam esquecer de duas coisas: O quanto eu fui burra por cortar caminho por aquele beco escuro; E que eu iria passar muito tempo naquela cama maldita de hospital, nessa sala sem graça, e nesse tédio sem fim.

Nunca estive num estado tão dramático. Talvez eu devesse voltar a dormir.

Ele percebeu minha expressão de descontentamento e disse, gentilmente:

– Logo, logo você estará curada, não se preocupe.

Um silêncio se seguiu, e logo passou pela minha cabeça o que aquele homem tinha feito. Ele tinha me salvado, eu poderia ter morrido, ou pior; Ter ficado com um trauma marcado em minha memória para sempre. Eu lhe devia agradecimentos formais, por mais que eu os odiasse.

– Obrigada, doutor. Quero dizer, por tudo. Por ter me salvado – corei, não era boa com agradecimentos, desculpas ou qualquer coisa que envolvesse sentimentos.

– Não foi nada, querida. Agora descanse – ele estava feliz, mas por algum motivo, também parecia hesitante e apressado e logo saiu do quarto. Não entendi sua pressa, mas não pensei nisso por muito tempo para realmente me preocupar.

A tarde se passou tediosa e até as dores menores me incomodavam. Minha mãe veio me visitar, e é claro, nem estar machucada me livrou do seu sermão de quem-mandou-você-entrar-num-beco-escuro. Ela não parecia preocupada, nem triste, sua expressão era de tédio, como sempre. Logo ela saiu, disse que ia trabalhar e que minhas amigas viriam á noite. Jéssica e Ângela vieram uma eternidade depois, me fazendo rir um pouco. Logo dormi sem precisar ser sedada, e no dia seguinte as dores pareciam ter melhorado um pouco. Mas só um pouco.

Quatro dias depois fui liberada. Eu me sentia bem, fora algumas dores musculares e hematomas que ainda não tinham se curado. Os arranhões estavam quase curados, minha costela ainda doía, mas não tanto como antes. Eu faltei aula os dois dias seguintes, por recomendação do super médico/super herói/super modelo. Não era justo alguém ter tantas qualidades. Até minha mãe ficou toda derretida quando eles conversaram sobre meu estado de saúde.

No sábado era o jogo de futebol americano do time do colégio, e todos passaram meses ansiando por esse dia. Logo depois do jogo, haveria uma festa de comemoração (eles eram tão convencidos, que planejaram uma festa de comemoração de um jogo que ainda nem venceram) para os jogadores e convidados – fui convidada por que Mike é do time, mas ainda não sabia se deveria mesmo ir. Essas festas sempre eram muito agitadas para mim.

Mas, mesmo contra minha vontade, Jéssica e Ângela iriam me obrigar a ir. É claro. No sábado de manhã, Ângela me ligou, quase fazendo um escândalo para que eu fosse a tal festa. Tentei usar a desculpa “ainda estou doente”, mas não funcionou. Ela sabia que eu havia melhorado. Como eu não tinha como escapar de ir ao jogo e a festa, decidi aproveitar o tempo que me restava. Passei o resto da manhã comendo todo o sorvete da geladeira e assistindo a maratona de Supernatural na TV.

Me desliguei da TV por alguns momentos, por alguma razão pensando nos Cullen, em como eles eram incomuns. Não fazia ideia por que eles não saiam da minha mente e por que isso me assustava, mas era como eu me sentia. Será que eles iriam ver o jogo? Será que ele iria? Pelo que eu soube, nos últimos dias só foram á escola os dois casais que vi no refeitório. Nenhum sinal de um garoto com cabelos cor de bronze. Provavelmente ele não tenha gostado do colégio, ou coisa assim. Pensei, mesmo assim não convencida pela minha própria hipótese.

Mesmo me sentindo estranha, logo peguei no sono. Tive um pesadelo com demônios e vampiros por causa da série. Acordei me sentindo estranha, eu assisti a todas as temporadas dessa série e nunca tive um pesadelo se quer, nunca me assustei com nada. Estranho.

Ignorando esse pensamento, fui me arrumar para ir para o maldito jogo. Quem me mandou ter amigas malucas.

Me vesti com o primeiro jeans limpo que encontrei e uma blusa que Melanie tinha me dado de aniversário. Resolvi passar um pouco de maquiagem só para cobrir a cicatriz que eu tinha no rosto e não ouvir o sermão de Jéssica de como eu era bonita e precisava realçar minha beleza. Já bastava ela criticar minhas roupas.

Logo ouvi a buzina do carro de Jéssica. Fechei as portas e marchei em direção ao veículo, avistando Jéssica, Ângela, Emma e Melanie me esperando. Entrei no banco da frente, o único vazio, ao lado de Jéssica.

– Meu Deus, vai chover! Você está usando maquiagem! – Ângela me olhou pelo espelho retrovisor.

– Ah, não, espero que não chova por que o jogo é no campo aberto, não quero molhar meu cabelo – Jéssica disse.

– Calem a boca – eu disse, rindo.

Chegamos em minutos no colégio, e Mel e Emma foram direto para o campo, enquanto Jéssica obrigou a mim e á Ângela a ir nos vestiários com ela, dar boa sorte a Mike. Chegando lá, ouvimos várias reclamações masculinas, mas ainda bem que não havia ninguém totalmente sem roupa.

– Cadê a minha água? EU QUERO MINHA ÁGUA AGORA! Quero saber quem foi o responsável por esse uniforme ridículo... Não, não seu imbecil, É ÁGUA SEM GÁS! – logo vi Jacob, que dava uma de diva de Hollywood, gritando com um garoto do primeiro ano.

– Ele não é seu empregado – disse, me aproximando e tirando o garoto dali.

– Bella, você não cansa de atrapalhar a minha vida? QUE OBSESSÃO É ESSA COMIGO? – Jacob teve que gritar conforme nós nos afastávamos. Virei e mostrei o dedo do meio, deixando-o com uma cara de idiota.

– Não fique mais perto dele, garoto – falei para ele, que agradeceu. Afastar pessoas do veneno de Jacob. A história da minha vida.

Depois de minutos de agarramentos, uns milhões de "boa sorte" e "eu te amo", finalmente Jéssica deixou Mike e saímos aliviadas do vestiário.

– Vai nos dizer por que nos obrigou a passar por isso? – Ângela perguntou, irritada.

– Não queria ir ao vestuário masculino sozinha, ué!

– Vai dizer que estava com medo de ver homem nu? Jéssica, você já superou essa faz tempo. Eu e a Bella somos sensíveis.

– Só vi uma vez, ok? Quer parar de jogar na minha cara que meus países baixos já foram descobertos?

– Calem a boca, por favor – eu disse.

– Você tá um porre hoje, Bella.

– Olha, estou de mau humor e minha cabeça está para explodir, então será que vocês poderiam ficar em silêncio só um pouquinho?

– Tudo bem, tudo bem! – Jéssica disse, erguendo as mãos.

– Toma aqui um analgésico, sua mau humorada – Ângela rapidamente estendeu a mão com um comprimido e e eu tratei de colocar para dentro.

Fomos para o campo e o jogo passou como um borrão devido à conversa que engatei com Melanie e Emma, sobre séries de TV e bandas. Nós três odiávamos futebol, só estávamos ali por Jéssica. Conversar sobre coisas aleatórias era mehor do que ouvir as fofocas de Ângela e Jéssica, admito. O nosso time ganhou, e Jéssica desceu a arquibancada para comemorar com o namorado. A segui com o olhar e pela primeira vez prestei atenção a arquibancada do outro lado do campo.

Ele estava lá. O garoto da aula de biologia.

Sem evitar minha curiosidade encarei-o e percebi que sua expressão não era de raiva ou ódio. Ele estava assistindo a comemoração do time, com o sorriso de canto de boca.

– Bella? Bella! – Emma chamou minha atenção e eu vi o olhar do garoto parar exatamente em mim, como se ele tivesse ouvido ela me chamar.

– Tá ouvindo, Bella? – Emma chamou novamente.

– Acho que ela está catatônica.

– Catatônica nada! Desembuchem - disse, balançando a cabeça, desviando minha atenção do garoto.

– Temos que ir, a festa já vai começar.

Nesse momento Jéssica chegou e disse que os meninos iriam para festa depois. Ela começou a tagarelar sobre Mike, como sempre.

– Ele jogou tão bem! Meu namorado é TÃO maravilhoso... Pessoal, o Jacob estava com um bafo de cerveja, deu pra sentir de longe. Ainda não credito que o cafajeste bebeu mesmo antes de um jogo tão importante.

– Típico.

Rimos e logo me lembrei de que tinha de pegar o livro de geografia por que na segunda-feira haveria prova e eu tinha que estudar amanhã. Jéssica e Ângela insistiram para vir comigo, com medo de me deixar sozinha e eu acabar tropeçando e morrer. Quanto drama só por que eu saí do hospital alguns dias atrás.

Quando cheguei perto do meu armário percebi um buquê de rosas no chão, com um bilhete. Talvez nem fosse pra mim, mas eu decidi pegar o cartão que estava junto às rosas e ler mesmo assim.

– OH MEU DEUS, QUE ROMÂNTICO! – Ângela explodiu, toda encantada.

Ignorei-a enquanto desdobrava o bilhete e lia seu conteúdo.

Para Bella Swan,

As rosas mais lindas,

Para a garota mais perfeita.

– ME DÁ AQUI, ME DEIXA LER – Ângela brigou comigo para ler o bilhete, até que eu entreguei-a, derrotada. – BELLA, VOCÊ TEM UM ADMIRIDOR SECRETO!

– Quer parar de gritar? – sibilei, e ela ergueu uma sobrancelha – que admirador secreto Ângela, provavelmente foi o Jacob tentando ser engraçadinho.

– Não acho que tenha sido o Jacob – disse Jéssica, que agora lia o bilhete. – ele é muito previsível. Provavelmente teria colocado o nome.

– Quer saber, não me interesso quem seja – falei, tirando do armário meu livro de geografia.

– Sei, claro que não... Quero ver quando ele começar a colocar bilhetes todo dia aí dentro – Ângela falou irônica, enquanto cheirava as rosas.

– Que coisa mais clichê – falei, colocando o livro na minha bolsa.

– Tudo que é clichê é bonitinho e tudo que é bonitinho leva a namoro, e consequentemente a sexo – Jéssica, que só estava observando, falou – então eu diria que esse cara é um pervertido.

– Um pervertido sexual me mandando flores – ri.

– Vocês nem sabem quem é, coitado do garoto...

– Mas quem quer que seja esse garoto, ele não é muito inteligente. Como é que ele coloca as flores na frente do seu armário, no corredor onde todo mundo passa... Vai que outra pessoa tivesse lido primeiro – Jéssica falou enquanto eu tomava as flores de Ângela e as jogava na lixeira mais próxima. Só podia ser piada. Saímos em direção à festa de comemoração que seria organizada por alguns professores. A festa já deveria ter começado, pois todo o colégio sabia do acontecimento, então mesmo com segurança na porta, haveria penetras. Seria num bar/restaurante ali perto. Não era permitida a entrada de bebida alcoólica, mais nenhum professor sabia que os alunos do time iriam batizar o ponche com vodka. Dessa eu iria rir.

Logo na entrada havia dois professores revistando os alunos. Ri. Queria ver se iriam conseguir batizar mesmo o ponche. A professora de história me pediu para eu esvaziar os bolsos – mostrando-lhe meu celular, e alguns poucos dólares que eu havia economizado do meu salário e iria usar desnecessariamente nessa festa – minha bolsa não tinha nada mais que maquiagem e uma garrafa d’água. Foi bem menos rígido do que eu havia imaginado, talvez por que ela soubesse que nós não éramos alunas encrenqueiras.

Entramos e a festa estava a todo vapor, a música eletrônica ecoando nos meus ouvidos. As mesas estavam cheias pelos alunos, e o ambiente estava parecendo mais uma discoteca que um restaurante. Havia quatro globos de luz pendurados no alto, e um DJ tocando perto do bar.

Jéssica já estava dançando conforme o ritmo, animada.

– Que tal a gente beber alguma coisa, que não seja o ponche, é claro, vai que tenham batizado com veneno – falei alto para as meninas me escutarem e fomos em direção ao bar, ver o que estavam vendendo.

– Como posso servi-las, meninas? – a senhora da cantina. Por que, meu deus, por que...

Antes que pudéssemos responder alguma coisa, Derek, garoto engraçado da minha turma chegou por trás da senhora da cantina, dando nela um susto.

– Tia Nancy, como a senhora está linda hoje... Fez algo no cabelo? Maquiagem? Aplicação de botox? Estás tão divina como a lua brilhante nessa noite linda e escura... – ele falou, e me segurei para não rir. Na certa estava tentando tirar ela dali pra vender álcool clandestinamente.

– Ah, você acha Derek? Fui ao salão de beleza hoje... – ela parecia acreditar no que o garoto dizia, deixando a situação ainda mais cômica.

– Então foi isso... Então... A Sra. Mendes disse que os seus serviços não eram mais requeridos essa noite, que ela mesma iria ficar aqui quando chegasse...

– Realmente? Ela não me disse nada...

– Ela não teve tempo, sabe, estava muito ocupada organizando tudo... Ela me disse para passar o recado, e então a senhora pode ir para casa – Derek falou, esperançoso que ela acreditasse em sua mentira.

– Mas eu acabei de chegar – ela disse, decepcionada.

– Foi mesmo? Mas seu filho me ligou e disse que está com uma dor terrível...

– Você conhece meu filho?

– Mas é claro! Somos grandes amigos! – ele disse e eu ri baixinho, mas ninguém percebeu, felizmente.

– É mesmo? Oh, meu deus, o que ele está sentindo?

– Uma dor na próstata terrível, ele estava praticamente gritando de dor quando me ligou... Cuidado que isso dá câncer, sabia?

– Jesus Cristo, então eu tenho que ir! Muito obrigada, Derek! – ela saiu destrambelhada.

Nem eu nem as meninas ousamos dizer a verdade para a pobre senhora por que o pessoal do time de futebol fazia os piores trotes e nós não queríamos ser vítimas. Derek riu então, e veio falar conosco.

– Tão afim de uma viajem, gatinhas? – ele falou, olhando para o decote de Jéssica, malicioso.

– Só se for pra Londres, Derek. Vai me dar a passagem? – falei irônica – vocês estão vendendo drogas agora? Fascinante.

– Que drogas, Bellinha – e então ele tirou várias garrafas, algumas com um líquido transparente e outras com líquidos meio amarelados. Bebidas.

– Um professor vai descobri isso cedo ou tarde, Derek – Ângela disse rapidamente, apontando para o professor de matemática do outro lado do restaurante.

– Caso vocês não saibam, garotas – ele falou, se debruçando contra o balcão e eu me afastei – nós vamos tomar essa festa dos professores. Vamos fazê-la bombar! Somos nós, o time de futebol, que devemos comemorar, afinal.

– Boa sorte com isso – falei e puxei as meninas para longe dali.

Avistamos uma mesa em que estavam Emma, Melanie e Eric, e fomos em direção a eles rapidamente.

– Estávamos esperando vocês três, meninas – Melanie nos falou, e sentamos nas cadeiras que estavam vazias.

– Cadê o Ben? – Ângela disse ao mesmo tempo em que Jéssica falava:

– Cadê o Mike?

Rimos das duas e Eric disse que eles logo chegariam. Conversamos por muito tempo, assunto não faltava; Jéssica e Emma não calavam a boca. Tagarelas.

Por um tempo esqueci-me de que ainda estava meio machucada até as dores aumentarem gradativamente. Peguei rapidamente outro analgésico na bolsa de Ângela coloquei pra dentro. Dois analgésicos em um dia.

Admito que eu não era o tipo de garota que ia em festas. Eu preferia passar o final de semana em casa, lendo um livro ou compondo músicas.

Bebi um pouco de água, estava morrendo de sede. Não podendo confiar no ponche, e com o bar indisponível, água era a única opção até que Ben e Mike chegassem com os refrigerantes. Jéssica já estava dançando feito louca na pista de dança improvisada perto do DJ. Os garotos logo chegaram e a agarração começou.

Ok, eu tive que sair dali por que um casal já não era legal, imagine dois se beijando apaixonadamente na mesma mesa que você.

Para evitar os dois casais apaixonados, Emma, Mel e Eric foram dançar. Eu os acompanharia se não estivesse tão dolorida. Eu não tinha mais onde sentar, as mesas estavam todas abarrotadas pelos alunos – alguns já bêbados. Cogitei a ideia de contar a algum professor, mas desisti assim que me lembrei do trote que fizeram com a garota nova, ano passado. Colocaram um vídeo dela nua na internet. A garota mudou de país.

Era ridículo termos coisas desse tipo no colégio onde havia tanta gente bem educada. Mas era um fato que já havia virado normalidade. Não quer encrenca? Não se meta com esses garotos. E só. Não era tão difícil assim.

Olhei em volta e tudo estava abarrotado de gente. Eu estava começando a ficar meio tonta. O analgésico ainda não tinha feito efeito. Ainda conseguia ver os cabelos avermelhados de Mel brilharem na confusão, então fui em sua direção.

– Mel, avise os outros que eu vou indo, não estou em sentindo bem – falei logo a verdade, meio entorpecida.

Ah não, Bella! O que você tem? – ela disse alto, desesperada.

– Eu vou ficar bem, só estou um pouco... Tonta – falei sem forças, esperando que ela tenha ouvido.

– Quer que alguém te leve pra casa? Quer que eu ligue pro meu pai pra te levar de carro? – ela me puxava em direção à entrada do banheiro feminino, um lugar com menos gente.

– Ele vai demorar pra chegar, eu só quero sair daqui – reclamei.

Ela ficou calada por um momento, pensando.

– Olhe Mel, não se preocupe comigo, eu vou pegar um taxi – tentei fazer a minha voz parecer mais limpa e uniforme mais eu ainda parecia rouca. Ela ergueu as sobrancelhas, pouco convencida.

– É sério – falei, mas pareceu mais um suspiro. Uma náusea tomava conta de mim, meus ouvidos zumbiam. A cada segundo que se passava eu me sentia mais claustrofóbica, respirando com força, buscando ar.

– Quer saber? Eu mesma vou te levar e depois volto, sua casa não é tão longe e eu não vou te deixar sair sozinha nessas condições...

– Como uma garota de quinze anos fosse me salvar de algum perigo. Vamos lá Mel, me deixe ir embora logo – suspirei.

– Ah, é? Então vou chamar o Eric para ir com a gente...

– Tanto faz. Vamos embora.

– Espere aqui. Você parece muito fraca pra procurar alguém nesse lugar abarrotado de gente. Já volto – ela prometeu e entrou no meio da multidão.

Com o passar dos segundos eu só me sentia pior, me irritava com a minha própria agonia. A cada pessoa que esbarrava em mim, eu me sentia mais claustrofóbica. A Melanie estava demorando tanto! Quanto tempo mais disso? Eu não aguentava. Sentia que podia vomitar a qualquer momento.

Decidi então ficar na saída do restaurante, onde teria mais ar fresco, esperando por eles lá. Comecei então a abrir caminho na multidão, fraca. Eu conseguia ver a porta de saída sendo aberta e fechada várias vezes de onde eu estava. Andei e andei o mais rápido que eu podia com aquela sensação de náusea. Pelo que pareceram anos depois de gente e mais gente no meio do caminho, consegui chegar à porta. Quando estava prestes a abri-la, aliviada, alguém esbarrou em mim. Tinha certeza que foi alguém por que senti a textura das roupas no meu braço. Mas a pessoa era tão dura! Eu sentia que tinha batido num muro de cimento coberto com roupas. Doeu.

Cambaleei para trás, quase caindo. Quando olhei para cima, tudo estava girando, não consegui ver quem havia esbarrado em mim, tudo estava embassado. Fiquei paralisada no mesmo lugar, esperando passar, confusa.

– Você está bem? – ouvi alguém perguntar, mas a voz parecia estar longe.

Abri a boca para responder mas acabou que saiu apenas uma lufada de ar, e mais nada. Respirei fundo e as coisas pareciam parar de rodar, agora eu conseguia ver mais claramente as pessoas. Alguns segundos depois então respondi para quem que fosse, sinceramente:

– Não.

Então virei a cabeça para o lado oposto do que eu estava olhando e congelei.

Era ele.

Ele estava parado ao meu lado, a expressão preocupada. Não era como se estivesse com raiva, não era como se fosse me atacar. Seu semblante perfeitamente normal e cordial. Isso meio que me chocou. Ainda tonta, eu me sentia mais confusa do que nunca. Eu havia imaginado aquele olhar de ódio na aula de biologia? Eu estava ficando louca, afinal?

Ele parecia estar esperando de mim uma reação, mesmo eu já tendo respondido sua pergunta. Uma música pop tocava no restaurante e parecia estar longe diante de toda minha confusão. Eu já conseguia ver seu rosto normalmente outra vez através de minhas lentes de contato com grau, eu era praticamente cega. Mas ver seu rosto só piorava as coisas. Ele era incrivelmente bonito; Mais que Jacob, mais que qualquer homem que eu já havia visto na vida.

– Q-quer dizer... Eu estou bem – gaguejei, tentando concertar meu erro de dizer a verdade inicialmente.

– Tem certeza? – Sua voz era suave, doce como mel.

– Sim – consegui falar.

Avaliei sua expressão, ele ainda não parecia convencido. Seus olhos eram cautelosos. De repente me senti sendo puxada para o lado oposto do seu rosto perfeito.

– Bella, você quer me matar de preocupação? – Melanie quase gritou, me segurando pelos ombros.

Ignorando-a, voltei para olhar para o lado onde ele estava, mas ele tinha sumido. Ok, talvez eu realmente tivesse ficado louca. Eu só podia ter imaginado aquilo tudo por causa da tontura, claustrofobia, ou o que quer que fosse. Suspirei e virei-me para Melanie.

– Vamos embora – falei, abrindo a porta e saindo para o ar fresco da noite.


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