She Is... Everything escrita por Whimsy


Capítulo 1
Chapter One




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Aquele seria o último dia que teria de aguentar isto. O barulho das panelas se movendo sob os meus pés, no primeiro andar, os urros desesperados de meu pai para com seu time que deveria estar perdendo na TV e o barulho que parecia um aranhão constante que as pontas dos galhos da velha árvore que ficava fora de casa produziam enquanto ficavam em atrito com minha janela de vidro, já rachada em várias partes. Amanhã eu iria viajar com Cole, meu amigo, para uma ilha... estranha no Atlântico. Ela se chamava Undone. Chamava-se assim porque perdera mais de metade de seu território devido à uma grande enchente que havia engolido várias terras. Duas vezes por mês a outra parte de Undone ficava submersa por vinte centímetros e depois afundava novamente de forma muito rápida sugando alguns centímetros à mais da ilha junto consigo. A ilha de Undone deveria estar totalmente submersa daqui à cento e cinqüenta anos se tudo continuasse naquele ritmo. Era um fenômeno não compreendido por ninguém e que acabava com a vida de, no mínimo, duzentos animais todo ano, que não conseguiam fugir rápido o suficiente antes que toda aquela parte da ilha fosse submersa.



É óbvio que para mim ela não era estranha, era fantástica, uma oportunidade de se destacar em algo para com a sociedade. Uma oportunidade para que eu e Cole tivéssemos nossos nomes gravados em livros de escola como grandes pesquisadores no futuro. Nada era mais prestigiado por Cole do que ter seu nome sendo decorado por crianças que fariam uma prova no dia seguinte. Isso sim eu considerava estranho, ver as coisas por este lado, mas isto nunca seria necessário para dominar o êxtase que se apoderava de mim ao ouvir a palavra "Undone". Eu estava arrumando minha mala bege, enfiando tudo o que eu achava espalhado pelo quarto, variando entre catorze pares de meias até vinte e duas cuecas e sungas. Eu levava um gerador de energia portátil e Cole deveria levar uma antena para conseguirmos sinal de celular enquanto estivéssemos lá.



Estava quase terminando de fechar por fim a mala, espremendo tudo para conseguir passar todo o zíper, quando ouvi pela quarta vez:



–Zac... Zac! Chris, esse menino tá surdo, é? -A voz estridente de minha mãe enchia a casa toda. Chris era meu pai e eu pude ouvir seu suspiro mesmo estando no segundo andar.



Bufei antes de dizer um "Tô indo já, mãe" e descer as escadas de madeira pacientemente até o primeiro piso.



Quando cheguei no portal da cozinha me apoiei neste e fechei calmamente os olhos.



–Sim, senhora? -Disse.



–Senhora? É mãe, pra você, moleque. -Ela disse.



Moleque? Eu já tinha dezessete anos... Me contive para não falar algo e arranjar uma briga acalorada com minha mãe, não no último dia que eu tinha com ela antes de passar no mínimo quatro meses em Undone.



–Sim, mãe? -Repeti, abrindo os olhos.



A senhora que me encarava tinha os cabelos presos em um coque sobre os olhos azuis grandes e penetrantes, o corpo roliço, bochechas grandes e coradas e a pele quase translúcida de tão clara. Parecia nunca ter visto o Sol.



–Tem certeza que ir para essa tal... Endone? -Ela disse, enxugando um prato antes de colocá-lo em uma gaveta.



–É Undone. E sim, tenho. Já não tivemos essa conversa? -Eu disse, meus calcanhares quase girando automaticamente para voltar ao meu covil, digo, quarto.



Minha mãe suspirou.



–Você não tem idade para isso. Olha, Zac. Fica aqui mais um pouco, arranja uma namorada, um emprego... -Ela começou com o mesmo discurso de sempre.



–Calma, mãe. -A interrompi. -Se eu não sair de casa até ter vinte e dois anos eu mesmo me chuto para a sarjeta. Prefiro até morar no beco da esquina do que ser um velho que mora com os pais.



–Não é isso, Zac! -Ela choramingou.



–O que é então?



–Eu não quero perder meu bebê em uma ilha estranha, estúpida e assassina. Deve ter alguma razão para ninguém ir lá, querido. Acredita em mim, pelo amor de Deus! -Ela emendou a frase quando viu que eu já estava revirando os olhos e me virando.



Eu suspirei e me virei para ela novamente. Ela havia guardado os pratos e agora colocava toda sua atenção em mim, os grandes olhos mal piscando.



–Ei, mãe. -Eu me aproximei dela. Sua cabeça batia um pouco acima de minha cintura, era muito pequena. -Vai tudo ficar bem... Eu não sou mais um bebê. Você vai ver. Todos vão se lembrar de você como "A Mãe de Zac Rogers". -Abracei seus ombros com dificuldade, como se abraçando uma criança.



Nunca fora muito bom em consolar alguém, mas acho que fiz um bom trabalho porque ela parou de me incomodar pelo resto da noite. Depois de programar meu despertador e de arrumar a mala toda empurrando várias coisas e quebrando e colando o zíper três vezes antes de fechar a mala finalmente consegui dormir. Amanhã seria um dia legal. Eu iria ver Cole pela manhã e nós iríamos para o porto da cidade, o qual quase nunca estava cheio, e encontraríamos Janett, nossa guia. Ela tinha nossa idade e eu estava investindo um tempo em conquistá-la, mas, embora ela parecesse interessada, eu sabia que isso daria muitas complicações depois, ainda mais se namorássemos e não desse certo, pois do mesmo modo teríamos que nos encontrar todos os dias na ilha, apenas eu, ela e Cole.



Amanhã seria o começo real de nossas vidas e, por mais que eu esperasse deste dia, jamais iria imaginar o que aconteceria nos próximos meses. Eu me remexia na cama vez por outra, incomodado com o barulho dos galhos arranhando a janela. Quando ouvi um barulho diferente. Parecia um canto, algo muito estranho e distante. Eu me levantei para checar o que era e quase dei um pulo para trás. Aquilo... Aquilo era...?



“Algo estranho, inacreditável, assustador, mas fantástico.”




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Notas finais do capítulo

Entãoooo, por favor deixem reviews anjos *-*
xoxo, Whimsy



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