Nothing Left To Say escrita por Jules


Capítulo 5
Tocada


Notas iniciais do capítulo

DESCULPEM-ME, DESCULPEM-ME, DESCULPEM-ME!! Nossa, mil desculpas pelo tempo que fiquei sem postar, de verdade.
Bom, um obrigada novamente à Leni ♥ sem ela, esse cap não teria saído, hahaha.
Ah, pra compensar o tempo que eu fiquei sem postar, tá aí um cap. super-hiper-mega grande çalslçaçls
Nos vemos lá em baixo ;*



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Meus pés não chegam a tocar no chão enquanto estou sentada no catre, então fico os balançando para trás e para frente em um ritmo desordenado. Ian ri quando aumento a velocidade dos pés e os paro rapidamente, como uma brincadeira. É legal vê-los no ar, não tocando em nada. Ian ri novamente e eu percebo o quanto o que estou fazendo é idiota, mas ele gosta. Faço questão de continuar até meus dedos começarem a reclamar da dormência.

Doc destaca um Corta Dor e eu o ponho abaixo da língua. Tem efeito imediato. Não há dor em nenhuma região que meu corpo foi afetado. Nem nas pernas, por causa do tombo, e muito menos na lateral do meu rosto, por causa do tapa. Suspiro pesadamente, me certificando que meus pulmões também foram afetados pelo Corta Dor. Não tenho dificuldade alguma para respirar. O agradeço mentalmente e lhe dou um leve sorriso.

- Como se sente? – Doc pergunta.

- Estou me sentindo renovada. – Digo e ele ri.

- Está liberada. – Diz por fim, esticando o braço e apontando para a saída de sua cabana. Dou um pulo e agarro a mão direita de Ian, que se põe ao meu lado e saímos juntos de lá.

Não há conversa ao longo de nossa lenta caminhada até eu não sei para onde. Ian parece seguir um caminho decidido, e eu apenas o sigo. Cruzamos diversas aberturas, viramos diversas entradas e caminhamos por praticamente toda a extensão da caverna, ambos sem dizer uma única palavra. Até o momento em que ele para e interrompe a minha caminhada, vira-se e me encara.

- Para onde quer ir? – Ele pergunta.

- Pensei que já tivesse um caminho certo, eu estava apenas seguindo você. – Falo e ele ri daquele jeitinho envergonhado. Fofo. O acompanho. – Eu preciso de um banho. – Falo decidida.

- Está bem. Eu pego as toalhas e as roupas. Encontro você na Sala de Banhos. – Balanço a cabeça e ele me deixa sozinha assim que me deposita um beijo na testa.

Sigo atenta pelos túneis. Cumprimento diversas pessoas que, aparentemente, não estavam cientes dos acontecimentos de alguns minutos atrás. Se elas soubessem, iria estar me tratando diferente. Elas jamais iriam acreditar na minha versão, portanto eu ficaria como a ruim na história. A responsável pela discórdia entre os humanos daquele lugar. Agradeço pelo fato de que nenhum deles ainda estivesse sabendo de nada.

Cruzo com mais algumas pessoas até dobrar a última curva e agradecer por ter certeza de que aquela era a última que eu precisava dobrar. Este lugar é um labirinto, mas com o tempo me acostumei passivamente a ele. É a minha casa.

Quando finalmente dobro a última curva, há uma silueta magra se formando. Põe o cabelo atrás da orelha e eu me encolho, praticamente estou começando a ficar na posição fetal, quando vejo quem é. Melanie sorri sem mostrar os dentes e para na minha frente, como se quisesse impedir a minha passagem. Acompanho o seu sorriso sem maior entusiasmo, apenas para não deixá-la sorrindo sozinha.

Se prepare para o soco que ela te dará, sua traidora. Tremo assim que meu cérebro joga-me essa informação. Ou talvez ela reduza a pena, apenas um tapa como o de Jared. Já ande na direção contrária, você já, já precisará ver o Doc de novo.

Shhh.

- Está tudo bem? – Ela pergunta, aparente percebendo alguma mudança em mim que não fui capaz de conter. Ela bota sua mão em meu ombro e eu me encolho, quase encostando os joelhos no chão. – Ei, calma. Eu não vou machucar você. – Assegura-me.

- Eu estou começando uma guerra interna novamente, desculpe. – Falo sem olhar diretamente para ela.

- O Hospedeiro está resistindo? – Nesse momento, a voz de Melanie sai como a voz da Buscadora. Havia meses que eu não pensava nela, naquela pobre alma que ainda estaria viajando pelo universo estrelado. Tremo, mas consigo conter o tremor que vem em seguida.

- Não, não. Na verdade, eu estou resistindo de mim mesma. – Falo e posso ver seu cenho se enrugar. – Estou apenas confusa, nada que valha a sua preocupação.

Ficamos em silêncio. Não é preciso muito para que a minha boca se abra e fale coisas sem sentido. Não totalmente sem sentido, mas desnecessárias.

- Desculpe-me, Mel. – Falo e ela retorce a cabeça. O motivo pela qual as minhas desculpas estavam sendo jogadas voltam à mente dela e ela se encolhe. – Você confiou em mim, e eu desfiz a minha promessa. Eu peço desculpas, do fundo da minha alma.

Isso pareceu soar engraçado para ela e a minha capa protetora interna me cobriu por completo. Ao contrário do que eu imaginei, ela não levanta a mão para mim, apenas sorri. Talvez esteja esperando a minha capa sumir para que me dê um tapa realmente doloroso. Não, ela não me dá um tapa. Apenas continua sorrindo.

- Eu sabia que você não conseguiria guardar esse segredo, e eu lhe agradeço por isso. – Sua resposta me pega de surpresa.

Agradecer? Pelo que eu fiz? Por quê? Não é preciso que eu faça as perguntas, ela percebe que meu semblante está completamente confuso.

- Eu sabia que estava errada em matar... Desculpe... Em interromper essa gravidez. E, como um apoio, eu lhe contei. Eu não poderia tomar essa decisão sozinha, eu precisava de mais ajudantes. – Ela respira pesadamente – Lhe dei um tempo, e eu sabia que não conseguiria guardar isso, mesmo com a sua promessa. Eu não ligo pra promessa, Peg, não precisa se sentir incômoda com isso. – Ela ri – Eu pensei que talvez se mais algumas pessoas soubessem, não por mim, mas por outra pessoa, eu poderia ter uma mudança drástica de pensamento. E foi isso que aconteceu. E eu lhe agradeço. – Ela sorri abertamente e ri quando eu ainda assim permaneço com o semblante confuso. – Iremos levar essa gravidez, Peg. Eu irei ter esse bebê.

Minhas bochechas doem e eu tenho certeza de que meu sorriso está grande demais. Provavelmente a expressão ‘sorrindo de orelha a orelha’ serviria agora. Abraço ela com uma força brutal, enquanto estou rindo à toa. Estou feliz. Muito feliz. Tanto pela vida que será preservada, quanto pelas pessoas que serão responsáveis por essa nova vida.

- Ah, Jared lhe pediu desculpas pelo que aconteceu. – Ela sorri e tenta imitar a voz de Jared - ‘Aquele tapa não era para ela.’. Ele alegou que não se sentiria bem estando perto de você para pedir desculpas. Você as aceita? – Nego com a cabeça e ela solta uma risadinha. – Está bem, eu tentei.

Ian chega algum tempo depois, sorrindo. Mel não pareceu intimidada com a presença dele, mesmo ele tendo praticamente destroçado seu amado. Não me intimido também e agarro a mão de Ian, logo me despedindo dela e seguindo para a entrada da Sala de Banhos. O barulho das águas enche os meus ouvidos.

- Está tudo bem entre vocês duas? Digo, você e a Melanie? – Ian preenche o silêncio. Ele nunca gostou de chamá-la pelo apelido, Mel.

- Uhum. – Balanço a cabeça.

- Aqui estamos. - Ele aponta para a entrada da Sala de Banhos. – Vá, eu vou depois. – Ele solta a minha mão e me dá um leve empurrão nas costas.

Algo passa em minha cabeça. Pensamentos e imagens. É hora de agir, talvez. Riu comigo mesma e viro, ficando de frente para ele novamente.

- O que foi? – Ele fala rindo.

- Nós precisamos de um banho, Ian. – Eu falo seriamente.

- Eu sei. É exatamente para isso que estamos aqui, não é? – Ele ri, sem compreender meus pensamentos.

- Ian, nós precisamos de um banho. - Falo e não contenho uma risada com o seu semblante confuso. Ele arqueia as sobrancelhas. Tudo se encaixa e ele ri, balançando a cabeça daquele jeito confuso e fofo. Ele olha para mim sem levantar totalmente a cabeça.

- Você estaria pedindo para tomar banho comigo, Peregrina? – Ele fala com uma careta medonha e ri. – Ou eu estaria interpretando errado?

- Não, O’shea. Você não esta interpretando errado. – Volto a falar seriamente com a cabeça inclinada.

Ele ri e me encara com um sorriso sincero sem mostrar os dentes. Dança com as sobrancelhas e me beija carinhosamente, afagando meus cabelos com os dedos.

- Venha. – Agarro sua mão e ele se deixar ser guiado por mim.

Dirigimos-nos até as piscinas, agarro a mão de Ian com mais força a capa passo que damos. É muito escuro, portanto não consigo ver Ian completamente. Há apenas uma silueta magra e formidável na minha frente. Apenas pergunto-me se Ian consegue me ver tanto quanto eu consigo ver ele, não perfeitamente, mas de uma forma em que é possível ver suas curvas.

Ele não hesita e retira a camisa, logo desabotoando as calças e as puxando para os pés. Viro-me de costas para ele. Talvez não tenha percebido que os vultos ainda sim são visíveis, talvez ele fique envergonhado de perceber que estaria sendo observado. A água é movimentada e chego a conclusão de que ele já está totalmente despido.

- Venha Peg, não se acanhe. – Ele ri e agita a água mais um pouco.

Não, não é Ian que estaria se sentindo incômodo em ficar nu perto de mim. Eu estou incômoda de ter de estar perto dele totalmente despida.

Ideia estúpida e tanto, não é?

Shhhh.

Fungo e balanço a cabeça tentando organizar os pensamentos. Ian não ficaria o dia inteiro esperando que eu perdesse essa vergonha estúpida e adentrasse na água. Ele agita a água novamente. Agarro a barra da blusa e a puxo para cima, estando de costas para a entrada da piscina negra. Dispo-me por completo e desejo do fundo da minha alma que esse escuro seja o suficiente para me cobrir de quaisquer silhuetas. A água se agita mais uma vez e eu a adentro de uma vez. Está em uma temperatura agradável, e a minha altura faz com que ela me cubra parcialmente até os seios. Não sei onde Ian esta, eu não consigo vê-lo.

- Ian? – Eu o chamo. A água se agita próxima de mim.

- Aqui. – Sua voz não está muito longe de mim.

Agito meus pés e sigo até onde acho que sua voz veio. Há uma longa distancia que estou percorrendo, e tenho quase certeza que estou indo para o lado errado de onde ele está. Choco-me com algo duro, ele ri e onde minhas mãos estão posicionadas se agitam a sequencia de seu riso. Estão sobre seu peito. Retiro e as boto para baixo da água novamente. Eu consigo ver a sua silueta, como também acredito que ele pode ver a minha.

Cruzo os braços na frente do corpo, mas ele agarra uma de minhas mãos e caminha para o centro da piscina. Ponho-me à sua frente, sufoco o suspiro e contenho a vontade de cruzar os braços na frente do corpo novamente. Os dedos da mão esquerda de Ian entrelaçam meus cabelos e ele me beija, com a outra mão ele despeja carinhos abaixo da minha cintura. Suponho que talvez eu esteja com problemas de visão. Ian parece perfeitamente adaptado ao escuro, como se fosse um gato capaz de enxergar perfeitamente nesse tipo de situação. Eu não consigo ver nada, absolutamente nada. Apenas a sua silhueta bem-apessoada.

- Venha. – Ele põe as mãos sobre a minha cintura e me puxa para cima, fazendo meus pés deslizarem e se posicionarem acima dos dele.

Seu corpo está agora completamente colado no meu. Completamente. Os gomos de seu abdômen se chocam contra a minha barriga, e seus dedos parecem mais cálidos aos tocarem em minha pele nua. Há algo em seu toque que está diferente. A forma de como seus dedos me tocam estão diferentes. Sou como uma conexão novamente. Sou como fios desencapados e desconectados de um Hospedeiro. Novamente me sinto como se um ponto brilhante em um universo alternativo. Estou frágil e vulnerável, e é isso que está deixando Ian diferente. Ele se sente tão incomodo quanto eu. Eu sou um pontinho novamente nas mãos dele, e seu único intuito é de não me machucar. O beijo sem hesitar, acariciando sua nuca e ele ofega rapidamente.

Estamos em movimento agora. Não em movimento de verdade, mas Ian está movimentando os pés e o corpo logo em seguida. Estamos dançando. Eu não sei como se faz isso. Agarro-me mais ao seu corpo, e ele me ajuda a manter o equilíbrio sobre seus pés.

- Você dança muito mal, Peg. – Ele admite e eu não me sinto incômoda, apenas concordo com um muxoxo.

- Eu nunca fiz isso, não me culpe. – Riu e ele me acompanha. – E, aliás, não há o porquê dançar aqui. Não há música. – Faço uma careta.

- Claro que há! – Ele parece indignado com a minha percepção. Ele me retira de cima de seus pés, e se junta ao meu lado. Parecendo contemplar o horizonte escuro feito breu. – Abra os pensamentos, Peg. Sempre há música onde menos se espera. – Seus lábios estão o mais próximo de meu ouvido agora. – Escute com atenção.

Eu o faço, e a única coisa que consigo escutar é a batida das águas e um zumbido qualquer. Agito a cabeça.

- Não há nada, você está louco. Louquinho. – Riu e ele não me acompanha.

- Peg, você que está louca. – Finalmente ri e desta vez eu é que não o acompanho. – Abra a sua mente, meu amor. Sinta o fervor destas águas. Você será capaz de sentir a música se deixar a mente vazia. Sinta-a e a contemple. – Ele fala calmamente como se fosse um personagem de um livro de ficção que estivesse falando isso para um grupo de jovens artistas.

Ele está pirando.

- Cada gota que respinga, é como uma batida em um tambor. – Ele espera o barulho de uma gota qualquer cair - Cada raspada de pés no fundo desse chão – Ele arrasta o pé direito e eu sinto a água bater -, é mais uma peça do xilofone sendo tocada. Há música aqui dentro, - Ele toca em acima do meu peito com a ponta do dedo, logo o dirigindo para o meu ouvido. – Não aqui. As músicas mais belas são feitas assim, contemplando ao redor o nosso dia-a-dia. Sei que é capaz de senti-la, Peg. Basta querer, que você sempre vai conseguir alguma coisa. Basta ter força de vontade. – Eu espero por mais uma continuação. - Feche os olhos, e me deixe guiá-la.

O faço e a mão de Ian segura a minha com firmeza. Ele posiciona a minha mão direita sobre a dele, e a esquerda sobre seu ombro. Sendo assim, sua mão esquerda está segurando a minha, e a direita está posicionada na minha cintura.

- Deixe-se libertar. – Ele sussurra e começa a se movimentar na água.

Controlo-me para não rir. Isso é tão estúpido de ambas as partes. Mas me deixo acalmar e tentar ao máximo ‘sentir’ a música que nem sequer existia. Relaxo e movimento o corpo de acordo com os movimentos de Ian.

Ele me gira e anda de um lado para o outro, comigo aos seus pés. Os pés dele brincam abaixo da água em uma sequencia eletrizante de passos que eu nunca ouvi falar. Estou acima de seus pés, lutando para permanecer equilibrada, enquanto ele age como se meu peso não fosse uma total novidade para ele.

Então, algo estranho acontece. Meu coração está palpitando rapidamente e meus ouvidos se aguçando para escutarem melhor o burburinho que está começando a se formar enquanto eu mantenho os olhos fechados. É algo estranho. Não é como uma conversa ou algo assim, é como se o som que estou escutando não existisse de verdade. Apenas eu estou escutando, bem no fundo da minha mente, um tilintar. Recuso-me a abrir os olhos e sair desse sonho.

Eu estou sentindo a musica.

Há um barulho dentro de mim. Algo forte capaz de fazer um ritmo ordenado que nossos pés estivessem se movimentando junto a ele. Não estou sozinha nessa, Ian também parece senti-la. Deixo-me ser levada pela sensação.

Saio de cima dos pés de Ian ainda com os olhos fechados. Ele pega a ponta de minha mão e beija as costas dela, logo me girando em sentido anti-horário. Ele dança comigo mais um pouco fora de seus pés. Aparentemente eu peguei o jeito, e agora estamos dançando sem que eu pise em seu pé ou cambaleie.

Ian termina o número de passos em mais um giro anti-horário e uma inclinação. Ele me deixa sobre a água, deixando minhas costas encostarem-se à superfície gélida, e beija a extensão do meu pescoço esticado. Uma onde de energia me atinge e eu me curvo em sua direção, atacando seus lábios.

Não há tempo para muitas carícias. Nós terminamos nossos banhos e nos dirigimos ao dia repleto de trabalho que nos aguardava. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, novamente *-*
Esse foi um capítulo simples, e lembrem: tudo tem um porquê, portanto esse cap. não será 'por acaso' ;)
Mais uma vez, MIL desculpas pela demora ;s eu to sobrecarregada hahaha. Treinos (faço vôlei), estudo e os ensaios da peça de teatro. :( Farei de tudo para mudar isso, sério.
Comentem, por favor. E até o próximo ;*