Nothing Left To Say escrita por Jules


Capítulo 3
Estilhaçada


Notas iniciais do capítulo

Ta aí mais um!! hahaha.
Desculpem a demora. Realmente, a escola, os treinos e os ensaios não estão cooperando :/ mas prometo que irei postar mais seguido! :)
Um obrigada super especial à Leni, que está me ajudando(e muito!) no desenrolar da história. ♥
Nos vemos nas Notas Finais!



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Temos um bebê abordo.

Não entendo o motivo de seu desespero. Mel está chorando descontroladamente. Sua reação me deixa sobressaltada, meu coração parecem pesar mil quilos agora.

- Me ajude. Eu não sei o que fazer, Peg. – Sua voz está trêmula, e ela se controla para não cair no chão.

Não tenho palavras. Isso não deveria ser uma notícia boa? Uma nova vida. Essa notícia não poderia ser recebida com lágrimas de desespero.

- Mel, eu não compreendo. – Falo e ela arregala os olhos. – É uma nova vida. Será mais uma alegria a esse mundo.

- Alegria é a última coisa que essa criança terá, Peg. Não posso permitir que sofra tanto quanto estamos sofrendo agora. Não quero que essa criança cresça como uma fugitiva. Não posso permitir isso. – Ela fala seriamente, contendo mais uma vez as lágrimas.

Suas palavras me afligem. Teríamos mesmo afetado tanto seu planeta ao ponto de tornar os humanos resistentes em fugitivos? A culpa me consome, e sinto que vou me encolhendo aos poucos.

- Não pense assim, Mel. Pense em como o Jared vai ficar feliz com isso! Vocês dois vão ter... – Sou interrompida por seu berro estridente.  

- Controle de natalidade era a primeira coisa que ele queria quando nos conhecemos! Ele literalmente me mataria se soubesse disso. – Suas lágrimas rolavam e escorregavam por suas bochechas rosadas.

- Então, o que pensa em fazer? Não contar a ele? Até quando irá esconder isso, Melanie? – Algo dentro de mim borbulhava. Uma sensação totalmente nova. Não a reconheço. 

- Irei interromper essa gravidez, o mais rápido possível. – Ela fala e meu queixo parece roçar no chão.

Raiva, meu cérebro avisa-me. Essa é a sensação.

- Não! – Permito-me gritar e Melanie parece ficar mais assustada que eu mesma com a minha reação – Essa criança não tem culpa, Melanie! Ela não tem que levar a culpa de vocês! Você não pode fazer isso, é cruel.

- Não tenho o porquê deixá-lo aqui, Peg. – Ela massageia a barriga – E, não está nem completamente formado. Não é um bebê, não teremos receio em acabar com isso. – Sua voz parece equilibrada, mas seus olhos me dizem que ela está sendo corroída pela culpa.

- Como consegue ser tão cruel? – Estou gritando, e meu próprio tom me deixa assustada – É uma vida, Melanie! E você certamente não irá fazer isso. Eu não vou permitir. – Meus dentes rangem, e sinto o borbulharão aumentar.

- Tente o que quiser. Não irá mudar a minha decisão.

Caminho pelo quarto, totalmente desnorteada. Melanie não seria insensível ao ponto de destruir um fruto recém-criado. Ou seria? Ela é humana, mas não tão humana ao ponto de exterminar um fruto de seu próprio amor com Jared.

- Ele saberá quando? – Pergunto em um fio de voz que ainda me resta – O Jared.

- Ele seria a primeira pessoa que concordaria com o meu ato.

- Não acredito nisso. Vocês não são assim, eu não consigo identificá-los agora.

- Ele não ficará sabendo, como mais ninguém aqui. Está certo? – Ela pergunta. Não aceno com a cabeça, e nem falo nada. – Peg, sei o que estou fazendo. Sei que é errado, mas é o certo para que preservemos tudo aqui. Para que preservemos todos aqui.

Aceno com a cabeça, sem realmente concordar com o que ela está falando. Ela suspira e prossegue.

- Você e Doc são os únicos cientes desse acontecimento, como continuarão sendo, apenas. – Aceno mais uma vez, sem olhar para ela.

- E se alguém me perguntar algo sobre você? O que devo fazer? – Minha voz treme.

- Minta. – Diz ela, mas logo se convence do que disse. – Oh, não. Não minta. – Ela caminha pelo quarto, pensativa. – Se não consegue mentir, não diga nada. Caminhe, ou troque rapidamente de assunto. – Aceno novamente.

Mentir nunca fora o meu forte.

Levanto-me e me dirijo até a porta. Mel consegue alçar meu braço rapidamente, me puxando para trás, fazendo-me virar para ela.

- Mostre-me que estou certa de que poderei confiar em você. – Ela fala pausadamente.

- Vivi um ano inteiro junto a você, eu nunca havia lhe dedurado, por que isso mudaria agora? – Pergunto a ela com um leve tom de sarcasmo. Ela sorri.

- Obrigada. De verdade. – Sua voz embargada novamente, mas ela consegue contê-la. – E, desculpe-me se não irei fazer o que você propôs. Eu sinto muito, mas não conseguirei viver com essa culpa de ter uma criança nesse mundo terrível. Quero que sejamos os últimos, e dos últimos que venham coisas melhores. Desculpe-me, Peg.

Minha bochecha está úmida, e eu coro. As bolhas de ar voltam a estourar dentro de minha barriga. A raiva me consome por completo.

Ela sabe o que está fazendo, e é isso que me deixa indignada. Melanie está acabando com uma graça feita por ela mesma, sem nenhum esforço. Ela está acabando com algo que mal começou, sem hesitar. Meu rosto contorce-se em uma careta de desgosto profundo.

Não mudo a minha expressão e me solto dela, seguindo para fora do quarto. Ela me libera sem medidas protetoras.

O ar úmido e sufocante corta a minha pele enquanto corro em direção ao nada. Não sei para onde estou indo, apenas estou correndo sem prestar atenção para onde. Minhas lágrimas rolam pela extensão de meu rosto.

Sinto-me completamente culpada. A raiva me consome. Sou tão fraca ao ponto de não conseguir falar ou agir de algum modo para que possa impedir o ato insolente de Melanie.

Sigo pelo túnel negro, até chegar ao quarto de Ian. Aparentemente ele já estava lá, jogado na cama com os braços esticados sobre a cabeça. Sorri quando eu entro e não posso deixar de sorrir em resposta.

- Você demorou. Pensei que não voltaria para terminar o café da manhã, então vim para cá. – Ele resmunga.

- Sem problemas. Eu não estava com fome mesmo. – Digo em um tom de voz baixo e me dirijo até o colchão. Ele recua, abrindo espaço para que eu possa me encaixar de baixo de seu braço.

É tão aconchegante. Sinto-me novamente como um passarinho sendo coberto pelas asas da mãe. Minhas mãos estão sobre seu abdômen, e quando Ian suspira elas sobem e dessem ao mesmo ritmo de sua respiração. Ignoro o calor humano excessivo em que estamos sendo postos e apenas o deixo acariciar meus cabelos.

- Já pensou como será o nosso futuro? – Ian me retira de pensamentos sem sentido algum com suas palavras. Sua voz está calma, totalmente passiva. – Vamos ter filhos? E como eles serão? – Suas palavras me pegam de surpresa e eu tremo. – Digo, você é loira e eu sou moreno, acha que serão mestiços?

Não respondo. A culpa passa a me corroer por dentro novamente.

- Você gostaria de ter filhos, não é? – Ele se curva sobre mim, se apoiando em um dos cotovelos. Apenas balanço a cabeça e ele volta a sua posição. – Acredito que serão lindos se puxarem a mãe. – Ele ri e eu o acompanho sem entusiasmo. – Teremos uma família linda.

Imagino nossas crianças correndo de um lado para outro. Talvez em um mundo melhor, um mundo mais passivo. E por um momento todas as palavras de Melanie percorrem a minha mente inundada de informações.

Realmente, não há sentido dar a vida a um ser, se ela poderá ser retirada dele em tão pouco tempo. Crianças são alvos fáceis e as mais desejadas das almas. Lentas, fracas e jovens. Um pacote completo para uma vida plena.

Não quero pensar nisso, então apenas concentro-me nas palavras que são jogas de Ian para mim.

- Imagino você grávida. – Ele imagina, assim como eu monto a imagem em minha mente. Ele ri.

Imagino-me com uma barriga. Massageando-a levemente, e em seguida estou com um bebê nos braços. Ian sorrindo, com lágrimas nos olhos. Estou cansada, e aparentemente repleta de olheiras. O bebê resmunga e Ian lhe faz um cafuné.

Sorrio feita boba, apenas pelo pensamento. Não seria tão ruim assim. Consigo sentir o peso de um bebê recém-nascido nos braços.

- Seríamos uma família linda. – Ian fala baixinho.

- Seremos uma família perfeita. – Falo e olho diretamente para ele. Seu sorriso é devastadoramente perfeito, mas o desmancho com um beijo simples e rápido.

Algo dentro de mim é pressionado contra as paredes de meu corpo. Culpa, novamente. Tudo o que Melanie havia me dito estaria sendo jogado contra mim. Sou pressionada mais uma vez, e dói. Dói ter de esconder os acontecimentos, sendo eles medianos ou não, de uma pessoa que planeja um futuro perfeito e claro comigo. Fungo e mantenho a forma. Não posso desfazer o meu trato com a Melanie.

- Você seria a grávida mais linda do mundo inteiro. – Ele fala baixinho e ri pelo nariz. Eu o acompanho.

Tremo novamente, e algo é pressionado dentro de mim novamente. Ian tem um futuro planejado, um lindo e divertido futuro. E isso de certa forma me incomoda. Não por Ian, mas em parte pelo futuro que nossas crianças teriam. Olhar para elas me deixaria com o coração pesado, tendo as palavras de Melanie rondando minha cabeça pelo resto de minha vida. Sinto uma leve umidade em meus olhos, e a primeira lágrima escorre de meu olho e conchega-se na dobra da orelha. Ian parece perceber e se curva sobre mim. Limpo-as rapidamente, mas ele emite um suspiro e tenho certeza de meu movimento não foi a tempo.

- Eu disse algo que incomodou... – Ele começa a se desculpar, mas eu o interrompo gritando.

- Você bateria em mim se eu ficasse grávida? – Estou chorando, desesperada. Eu perdi o controle. – Iria querer que o bebê levasse a nossa culpa?

Controle-se, Peregrina!, Meu cérebro avisa-me. Estou fora de controle.

- Peg, eu... – Não o deixo terminar.

- Acha que estaríamos errados em trazer uma nova vida para esse mundo? – Não consigo medir as palavras. Elas simplesmente saem de minha boca, sem controle. – Iria querer que eu matasse o bebê o invés de dar-lhe a vida? – Estou sem ar, completamente desnorteada.

Ian me encara com ares de surpresa, tanto quanto eu devo estar. Ele empurra as minhas costas para que eu sente na cama.

- Peg, por que você está falando isso? Eu não compreendo. – Ele segura meu rosto com as duas mãos.

Não consigo. Simplesmente estou consumida pela culpa de ter que esconder-lhe um acontecimento tão insuportável de guardar para si. Chorar na frente dele se tornou tão normal que não me importo tanto quanto antes.

As últimas palavras que digo não são realmente ditas por mim. Não as controlo. São palavras jogas para fora, totalmente impulsionadas por algo dentro de mim que é impossível conter.

- Melanie está grávida, Jared não sabe e ela irá matar o bebê. – Falo e o queixo de Ian cai. 


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? hahaha. Espero que tenham gostado de ler, tanto quanto eu gostei de escrever *-*
Então, eu não vou focar muito nessa gravidez da Mel, por que o que interessa é O'Wanda, não é mesmo? kkk. Aguardem os próximos, que eu posso garantir que serão melhores do que esse. :)
Beijos, até. ;*