Como Se Explica O Amor? escrita por yumesangai


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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O interfone tocou cedo. Michiru ainda estava deitada perdida no meio do lençol de sua cama king size. Ela puxou a máscara que estava sobre os olhos e viu o relógio digital marcar 8h, ela virou para o lado e afundou o rosto no travesseiro. O barulho infernal do interfone continuou, mas não demorou muito para parar, se o porteiro quisesse entregar algo ele que esperasse até às 10h. O que eles dizem mesmo sobre horário comercial?

O apartamento estava silencioso e ela ouviu quando a porta da casa foi aberta e também os passos e vozes altas se aproximando. Ela girou os olhos, mas continuou quieta onde estava.

Seria uma manhã longa.

“Michiru Kaiou!” A porta dupla do quarto se abriu violentamente e a voz alta de uma loira ecoou. “Como você ousa nos ignorar desse jeito?!” Ela saiu entrando batendo o salto pelo chão e subiu na cama sem nem se preocupar em tirar os sapatos.

A outra garota que a acompanhava era mais alta e tinha o cabelo castanho preso num rabo-de-cavalo alto.

“Michiru como você pode esquecer de dizer que terminou tudo com o Taiki? Nós esbarramos com ele na rua e ficamos sabendo de tudo”. Disse num tom mais compreensivo, porém parecendo um pouco magoado.

A loira jogou o travesseiro no chão. Michiru finalmente foi obrigada a atirar a máscara e a se sentar.

“Eu não contei porque sabia que vocês viriam até aqui”. Respondeu cruzando os braços.

“É porque a gente se preocupa com você...” A morena defendeu, mas ela conhecia o jeito de Michiru, ela não gostava do excesso de preocupação e pessoas muito agarradas e de fato as duas podiam se comportar assim as vezes...

... principalmente quando se tratava de relacionamentos.

Michiru sorriu, se levantou da cama e abraçou a morena.

“Eu sei, obrigada Mako”. E beijou o rosto da mais alta que corou.

“Ah!” A loira gritou. “E eu?!”

Michiru continuou meio abraçada em Makoto que agora passou o braço por sua cintura de forma protetora. Ela já estava acostumada com as investidas de Michiru, mas sabia que também era só para provocar.

“Minako, você está sujando o meu lençol com esse sapato que você veio pisando desde lá de fora”. A acusou.

Minako fez uma careta, sentou na cama e tirou os sapatos mostrando o solado.

“É um Louboutin original está bem?” Disse apontando para o vermelho que ficava na parte debaixo.

Michiru riu.

“Pode pegar o que você quiser no meu armário”. Disse enquanto caminhava para fora do quarto e ia na direção da cozinha. Minako já estava pulando para abrir as portas mágicas daquele closet maravilhoso cheio de coisas lindas que Michiru tinha, mas antes disso, Makoto a segurou pelo braço.

“Nós viemos aqui por outras razões”. Cochiou para que só ela ouvisse.

“Eu sei, mas é que... Chanel, Dior, Burberry, Givenchy, Prada--” Minako choramingou.

Makoto balançou a cabeça negativamente. “Vamos, ou é capaz dela deixar a gente aqui e se mandar”.

Michiru estava ocupada servindo três copos com um suco que já estava pronto. Makoto a ajudou em silêncio enquanto abria os armários sem cerimônia e preparava coisas aqui e ali.

Minako pegou um dos lindos aventais e preparou um cantinho na mesa da sala de jantar para que elas pudessem comer juntas. Makoto e Minako se acomodaram primeiro, Michiru retornou para o quarto onde vestiu um robe de seda por cima do baby doll curto com que estava desfilando ainda a pouco.

Elas começaram a comer em silêncio, mas Michiru sabia que as perguntas iriam começar logo, e as vezes ela se arrependia de ter dado passe livre para aquelas duas e ter deixado uma cópia da chave embaixo do tapete.

“Onde vocês encontraram com o Taiki?” Decidiu ela mesma perguntar.

“Foi na rua, estavamos saindo de uma confeitaria que abriu a pouco tempo”. Makoto respondeu primeiro.

Michiru olhou para Minako que parecia nervosa por alguma razão.

“E ele estava acompanhado?” Perguntou com um sorriso.

Makoto rapidamente se calou. Minako bateu com as mãos na mesa.

“Aquele cretino!” Gritou. “Eu ia dar uma boa lição nele!”

Michiru balançou a cabeça negativamente já imaginando a cena no meio da rua.

“Ele foi interessante por dois no máximo três meses”. Disse fazendo pouco caso.

“Mas Michiru, ele parecia um príncipe!” Minako disse com os olhos brilhando. “E no primeiro encontro ele arranjou um jantar num barco e te deu aquele cordão maravilhoso!”

Michiru teve que rir, se presentes caros fossem a definição de príncipe encantado no meio em que vivia ela conhecia vários, mas todos não passavam disso, pessoas como ela com muito dinheiro e pouco dispostas a se abrir.

Por isso, seus relacionamentos não duravam mais do que 5 meses, logo os passeios e presentes maravilhosos ficam chatos, sempre as mesmas ideias e os mesmos lugares. Óperas, teatros, barco, helicoptero, balão... Ela estava cansada disso tudo.

Foi então que seu olhar caiu para Makoto a quem ela havia conhecido por um acaso, Makoto trabalhava de auxiliar de obras na galeria, quando esta estava passando por uma reforma e Michiru gostou logo de cara dela, era forte e decidida.

Podia lembrar como se fosse hoje...

A pequena cozinha que ficava num anexo da galeria tinha uma geladeira, cafeteira e um armário com alguns mantimentos, graças a Michiru, que não era exatamente uma funcionária de lá, mas como expositora e com um nome importante, tinha acesso livre ao local, o lugar havia ganhado um conjunto de jantar de porcelana pintado exclusivamente por ela.

Era um de seus talentos não comerciais. A galeria estava sempre expondo seus quadros e volta e meia ela era convidada a tocar violino, embora normalmente só o fizesse em lugares grandes.

“Com licença”. Foi a primeira vez que ela viu Makoto, ela estava usando um boné um macacão sujo de tinta. “Você poderia me dar um copo d’agua, por favor?

Michiru entregou uma de suas xícaras para ela.

Makoto aceitou sem pensar duas vezes, mas depois que terminou de beber viu que estava segurando algo delicado e suas mãos ainda estavam sujas de tinta, a porcelana ficou manchada.

Ela deu um sorriso extremamente sem graça para Michiru, rapidamente limpou as mãos no macacão, o que não adiantaria muito. A mulher em sua frente estava vestida de forma elegante, Makoto não precisava entender de grife para saber que ela provavelmente se irritaria e que ela não teria dinheiro para repor aquela peça.

“Me desculpe, se eu tivesse visto eu não teria aceitado”. Pediu fazendo uma reverência.

Michiru, no entanto, deu de ombros. Ela poderia pintar outra depois. “Não se incomode com isso”.

Makoto voltou a trabalhar e Michiru voltou ao que fazia, no entanto, ao final daquele dia as duas se encontraram novamente, mas não foi por acaso. Makoto procurou por ela.

“Senhorita!”

Makoto veio correndo com uma sacola de papel em mãos. Ela vestia suas roupas normais, uma calça jeans, camiseta e o casaco estava amarrado na cintura. Michiru estava na porta da galeria e terminava de vestir seu sobretudo marrom.

“Sim?” Ela se virou um tanto surpresa ao vê-la novamente, mas logo abriu um sorriso enigmático.

“E-eu procurei algo para repor aquela que ficou manchada”. Disse recuperando o fôlego e estendeu a sacola.

Michiri riu. “Eu já disse que não era problema, mas obrigada”. Ela abriu a sacola, que ela reconheceu como sendo de uma das lojas próximas, era uma loja comum de acessórios para o lar.

A xícara da caixa era branca com algumas ondas pintadas. Michiru franziu o cenho, não havia nenhuma coleção daquele porte sendo vendida em lojas, ela havia feito o desenhado daquele conjunto especialmente para a galeria.

Como uma boa artista ela reconhecia uma cópia quando via uma e também reconhecia as muito mal feitas, aquilo não era licenciado ou nada parecido, era completamente amador e feito com caneta específica para porcelana.

Ela olhou novamente para Makoto.

“Você comprou isso na JK’s?” Perguntou olhando para a embalagem.

“S-sim”. Makoto assentiu ainda sem graça.

“Essa xícara?”

“Sim...”

“Com esse desenho?”

“...Sim...?”

“Saiba que aquele conjunto de ondas foi pintado por mim e nenhuma loja vende algo parecido? Eu me certifiquei disso ao cria-lo”. O rosto de Makoto estava super vermelho. “Mas eu agradeço por tentar substituir aquele”. Disse com um sorriso sincero. “Vou aceitar esse como presente. Como se chama?”

“Ki-kino Makoto”.

“Michiru Kaiou”. E deu um beijo no rosto dela. “Obrigada pela xícara, Mako-chan”. E sem esperar por uma resposta foi embora.

E tudo poderia ter terminado por ali, mas o destino as juntou novamente. Quase um mês depois, Michiru estava saindo da praia quando encontrou com Makoto que vendia protetor solar.

“Você trabalha em todos os lugares?” Perguntou sem fazer cerimônia de se aproximar.

“Michiru-san!” A mais alta se surpreendeu ao vê-la. “Bom... eu faço bico aqui e ali, o aluguel anda muito caro, mas Tokyo é o melhor lugar para se morar ultimamente, então...”

“Você sabe dirigir?” Perguntou de repente.

Makoto assentiu. “Eu tenho uma moto...”

“Estaria interessada em trabalhar como manobrista? Tem um concerto à noite, sei que eles estão precisando de pessoas. E como é um lugar chique, a gorjeta é alta”.

“Ah...” Makoto não sabia se sentia constrangida por falar de seus problemas financeiros para alguém visivelmente rica ou se deveria ter um pouco mais de orgulho em aceitar esse tipo de convite, no entanto, não era como fosse algo desonesto que ela estivesse oferecendo. “Eu não acho que tenho roupa para trabalhar nesses lugares...”

“Eles dão o uniforme. Vou te passar o telefone, você procura pela responsável e diz que eu te recomendei, isso deve ser o bastante”. E tirou da bolsa um bloquinho e uma caneta.

E Makoto se perguntou pela primeira vez se ela queria saber quem de fato era Michiru Kaiou.

Mais tarde naquele dia, Makoto pesquisou na internet o nome dela e encontrou informações sobre exposições, quadros e seu talento como violinista, não havia muitos tabloides com fofocas, no máximo menções de ter comparecido a eventos importantes ou saindo com alguém igualmente famoso.

Não era como se ela fosse uma Idol.

A terceira vez que elas se cruzaram foi decisiva. De volta na galeria, Michiru estava vendo uma nova exposição, Makoto estava trabalhando, graças a outra recomendação de Michiru, como garçonete do coquetel.

Ela também havia a apresentado a uma garota energética que trabalhava como guia, uma loira que falava pelos cotovelos chamada Minako, aparentemente ela precisava de alguém para dividir o aluguel de um bom apartamento próximo.

“Acho que eu estou em débito com você”. Makoto disse quando conseguiu uma folga de servir bebidas e encontrou com Michiru num pequeno balcão que dava vista para as luzes da rua.

“Pelo que?” Perguntou sem tirar os olhos da paisagem.

“Por todos esses bicos, eu ganho muito mais neles. A Aino me falou do apartamento, aparentemente ela acha que eu vou me mudar pra lá amanhã”. Confessou já prevendo dores de cabeça.

Michiru teve que rir. “A Minako é extremamente bondosa, mas acho que ela precisa de alguém mais realista como você e...” E mudou o tom de voz. “Eu sei como você pode me agradecer...”

“Como?”

Michiru sorriu. Cortou a distância entre elas e se colocou na ponta dos pés e capturou os lábios de Makoto. Era um beijo doce e a mais alta foi pega completamente de surpresa.

Ela afastou gentilmente Michiru pelos ombros.

“Er... Me desculpe, mas... eu não... eu não sou....” E agora não sabia como se explicar, ou como colocar de uma forma que não fosse ofensiva.

“Lésbica?” Michiru completou sem meias palavras.

“Bom... E-eu não fico com outras mulheres”. Decidiu usar suas próprias palavras.

Michiru piscou os olhos surpresa, ela podia jurar que Makoto era bissexual, ou talvez estivesse com vergonha pela diferença entre elas?

“Oh, eu achei que você fazia o tipo”. Disse ainda se recuperando da recusa. Quando havia sido a última vez que ela havia sido recusada? Já nem conseguia se lembrar.

“V-você é muito bonita, mas eu realmente não... realmente não fico com outras mulheres”. Murmurou ainda sem graça.

“Eu gostei de você Makoto”. Confessou. “É a primeira pessoa em anos que alguém me recusa”. Disse piscando.

Makoto acabou olhando Michiru de cima embaixo, certamente ela era alguém desejável e talvez as pessoas ficassem com ela até mesmo por curiosidade, mas isso era algo que ela não conseguiria fazer. Makoto acreditava em amor e romance.

E talvez Michiru precisasse acreditar um pouco mais também.

“Você flerta com todo mundo?” Makoto perguntou sem pensar duas vezes.

Michiru riu na hora. “Ora, que tipo de pessoa você acha que eu sou?” Ela sequer parecia ofendida.

“E-eu não quero te ofender nem nada, é só que...”

“Não”. Respondeu antes que aquela enrolação se prolongasse e ela não gostava de meias desculpas jogadas num papo furado. “Eu só fico com pessoas que sejam capazes de me prender na cama”.

E o rosto de Makoto ficou tão vermelho que pelo resto da noite ela não conseguiu encarar Michiru, mas depois disso elas viraram amigas.

“Você está sonhando acordada”. Makoto disse estalando os dedos na frente do rosto da anfitriã.

Michiru sorriu. “Ah, eu estava apenas lembrando de uma coisa...”

“O que?!O que?!” Minako perguntou se debruçando sobre a mesa.

“O príncipe que você se refere” Disse olhando para a loira. “Queria me amarrar na cama, eu não concordei e nós terminamos. Ele deve ter achado alguém com os mesmos gostos que ele”. E por último lançou um olhar para Makoto.

A mais alta girou os olhos, a essa altura ela já a conhecia bem demais. “Você não avisou a ele que quem gosta de ficar no comando é você?”

“Mas vocês não tem nenhum tipo de fantasia?” Minako perguntou curiosa. “Quer dizer, eu não gostaria de ser amarrada e não curto esse tipo de fetiche, mas já me vesti de várias coisas e isso é divertido”. Disse com um sorrisinho.

“Eu não me sinto confortável para falar sobre isso...” Makoto disse olhando para baixo.

“Nós não vamos implicar com você”. Michiru prometeu.

Embora Makoto tivesse quase certeza que Michiru usaria como provocação.

“Vai, Mako-chan!” A loira insistiu.

“Chocolate!”. Makoto disparou. “Co-cobertura de chocolate...”

“Eu já usei chantily!” Minako disse erguendo a mão como se fosse algum tipo de disputa.

“E você?” Makoto perguntou se voltando para a anfitriã que voltou a tomar o suco em silêncio.

“O meu é segredo”. E piscou.

“O que!?” Minako basicamente se colocou de pé. “Diz pra gente! Somos suas melhores amigas, pode contar!”

Michiriu abriu a boca, mas não disse nada. “Não, eu só conto se um dia vocês forem pra cama comigo”.

“Oh, é esse então? Três?” Minako abriu um sorriso de orelha a orelha. “Eu nunca tive coragem”.

Michiru ficou pensativa. “Eu não gosto muito de dividir...”

E a conversa seguiu até o café da manhã terminar. Quando já estava quase na hora do almoço, Michiru teve que dispensar as amigas e sair, ela estava dando aulas de violino num conservatório.

Ela pegou as chaves do conversível, deu uma última olhada no espelho e passou a mão pela saia do vestido de bolinhas para se certificar de que não estaria amassado, prendeu o cabelo num rabo-de-cavalo, a última coisa que precisava era do vento para arruinar seu cabelo.

E tudo estava bem, ela deveria chegar lá antes do horário como sempre, ainda conseguiria tomar um chá e observar os pequenos tocarem. Ela dirigia rápido, ela gostava de velocidade, talvez por isso metade das pessoas com que se relacionava tinham motos...? Curiosamente eram sempre mulheres, homens ricos eram frescos e só ligavam para carros esporte.

–/-

Já havia se passado uma semana, Haruka nem viu o tempo passar, trabalhou tanto nos últimos dias que só chegava em casa e dormia. E foi quando a secretária eletrônica piscou com uma mensagem de Setsuna que Haruka se lembrou que tinha uma namorada.

Não era como se ela estivesse a evitando... bom, na verdade estivera. Ela não queria falar sobre a vidente ou sequer mencionar Michiru. Ela vinha dormindo tão cansada na esperança de não sonhar, de não lembrar de nada ao acordar, mas ela lembrava... e não havia uma forma de controlar os sonhos, havia?

Ela não podia evitar de pensar em Michiru. Maldita fosse, inteligente, atraente... ela se parecia e não se parecia com Setsuna. Setsuna também era inteligente, também era atraente, mas...

... Setsuna era um livro aberto, Michiru era como uma concha fechada. E ela queria desesperadamente saber mais sobre a outra. Mas ela tinha que esquecer isso, ela não voltaria a encontrar com Michiru, claramente elas eram pessoas bem diferentes.

Haruka dobrou as mangas da camiseta e saiu de casa para se encontrar com Setsuna, talvez a melhor coisa a fazer fosse dizer toda a verdade, Setsuna nunca omitiu qualquer coisa e Haruka se considerava uma pessoa sincera, que não mente ou guarda segredos. Se ela estava interessada em outra pessoa ela diria isso a Setsuna, não é como se o relacionamento delas estivesse muito estável mesmo.

Pensando a respeito, Haruka se perguntou quando elas deixaram de se comportar como um casal e passaram a ser pessoas que tinham que se encaixar de alguma forma nos horários uma da outra para passarem um pouco mais do que algumas horas juntas.

“Ah droga, eu estou indo terminar um relacionamento não estou?” Haruka bateu com a mão na testa, ela odiava se sentir dessa forma.

E como se tudo que estivesse sentindo não fosse castigo o bastante, seu celular tocou quando ela já estava quase chegando ao lugar combinado. O número era desconhecido, mas isso não era um problema, Haruka sempre distribuia seu cartão, graças ao trabalho de mecânica.

“Haruka Tenou”. Falou depois de atender no terceiro toque.

“Haruka? Aqui é a Michiru. Que bom falar com você”. A voz do outro lado soou um tanto aliviada e alegre.

Haruka segurou a respiração. Era um castigo divino não era? Mentalmente ela amaldiçoou todos os deuses existentes.

“M-michiru? Como conseguiu o meu número?” Perguntou sentindo o coração disparar.

Ela riu. “Você acha que eu sou uma stalker? Eu peguei o seu cartão, você deixou sobre a mesa”.

“Ah... claro...” Ela não se lembrava disso. “Er... então, como posso ajudá-la? Espero que não tenha ficado resfriada depois daquela chuva”. Disse sinceramente.

Michiru sorrriu, por que ela tinha que ser tão atenciosa? “Graças a você”. E ela podia imaginar Haruka corando do outro lado. “Mas eu receio que preciso da sua ajuda novamente...”

“Espero que não esteja chovendo novamente”. Haruka brincou.

“Não, o problema é com o meu carro, você está ocupada?”

“Na verdade eu estou... qual o problema?”

“O pneu furou...” Ela admitiu sem parecer nem um pouco constrangida. Haruka no entanto não conseguia imaginar como alguém como Michiru poderia ficar 5 minutos parada no meio da rua sem que ninguém tenha parado para auxilia-la. Ou era apenas uma mentira?

“Eu posso te dar as instruções e você mesma pode trocá-lo, já fez isso antes?” Perguntou sem saber como deveria se sentir. Seria só uma desculpa para que elas conversassem?

Michiriu riu debochada. “Sim, eu já fiz, mas não tenho o equipamento comigo, por isso, perguntei se você poderia vir me ajudar”. Sua tom soou um pouco ríspido.

Ela certamente não era nenhuma flor delicada.

“Me desculpe, mas eu estou no meio de um compromisso...” Se desculpou. “Ou tentando chegar em um”. Pensou. “Quer que eu mande um reboque?”

“...Não, eu mesma faço isso. Obrigada pela ajuda”. E desligou sem esperar por uma resposta.

Haruka encarou o celular, TPM....? Agora que ela tinha o celular de Michiru poderia ligar depois e se desculpar sabe-se lá pelo que.

Não demorou muito para avistar Setsuna sentada já tomando uma xícara de café, seu cabelo estava preso num coque e ao julgar pelas roupas ela tinha vindo direto do trabalho.

Haruka acenou e ocupou a cadeira em frente.

“Eu já pedi um suco pra você”. Setsuna disse erguendo a mão e chamando o garçom que se aproximou com um copo.

"O-obrigada”. Haruka sorriu sem graça.

“Você tem trabalhado muito”. Não era uma pergunta, Haruka apenas assentiu enquanto bebida. “Algum problema?”

Haruka deu um longo suspiro. “Eu acho que sim”. Respondeu um tanto quanto hesitante em olhá-la nos olhos.

Namorar com Setsuna as vezes fazia com que Haruka parecesse uma criança.

“E a vidente?”

Haruka estranhou. Sestuna não era de mudar de assunto.

Ela hesitou, mas do que adiantaria mentir? “Ela disse que eu me apaixonaria por alguém”.

Setsuna piscou os olhos surpresa.

“Oh, e você se apaixonou?” Seu tom não era acusador, era calmo e relaxante.

Haruka fechou os olhos. Definitivamente, Michiru era a única coisa que havia pensando nos últimos dias e mesmo agora...

“... Eu acho que sim...” Murmurou baixo.

Setsuna sorriu. “Sabe, ela me disse a mesma coisa”.

Foi a vez de Haruka arregalar os olhos e olhar para a namorada.

“E você...?”

Sestuna assentiu.

Haruka riu. Gargalhou. Passou a semana inteira se sentindo culpada e agora... Era tudo mesmo uma grande piada de mal gosto.

“Isso é mesmo sério?” Perguntou com a mão cobrindo o rosto.

Foi a vez de Setsuna suspirar. “Eu não planejei que isso acontecesse...”

“Já chega, eu acho que nós duas não temos mais o que dizer uma pra outra já faz algum tempo”.

“Eu vou sempre lembrar com carinho do tempo em que estivemos juntas”. Setsuna começou.

Haruka podia sentir os olhos marejando e a última coisa que ela precisava era ouvir aquele discurso bonito e caloroso de como tudo foi muito bom e que quando chegasse a hora elas poderiam voltar a ser amigas e todo mundo ficaria feliz.

“Haruka, Setsuna”. Foi quando a voz de uma loira chamou atenção das duas. A loira estava do outro lado da pequena cerquinha passeando pela rua. Ela rapidamente percebeu que estava atrapalhando, pois Setsuna estava com uma expressão triste e Haruka estava de cabeça baixa e parecia que queria chorar.

E Usagi nunca as viu daquela forma. No entanto, Haruka foi a primeira a se levantar, ela tirou uma nota da carteira e deixou sobre a mesa.

“Obrigada por tudo”. E literalmente pulou a cerca, passou os braços pelo ombro da loira. “Odango, para onde vamos?” Suas mãos apertaram ligeiramente o ombro da loira para que ela entendesse seu pedido.

Usagi deu uma rápida olhada na direção de Setsuna, mas esta apenas assentiu levemente.

“Haruka... o que aconteceu?” Ela perguntou docemente quando elas já estavam longe o bastante do café.

Haruka abriu a boca para responder, mas as lágrimas que começaram a cair falavam por si só. Usagi apenas a abraçou.

“Eu acho que simplesmente não era pra ser...” Haruka admitiu quando conseguiu se recuperar.

Usagi sorriu compadecentemente. “Eu tenho certeza que você vai encontrar a pessoa certa”.

“Enquanto isso eu me divirto com as erradas?” Perguntou secando as lágrimas e meio que rindo.

Usagi deu um tapa de leve no ombro dela. “Não diga isso! A sua linha vermelha deve estar em algum lugar por aqui”. Disse estendendo os braços e indicando a praça em que estavam.

Haruka ergueu a sobrancelha e olhou em volta.

“Pff, claro...” Debochou dando uns tapas de leve na cabeça da mais nova. “Eu te deixo me pagar um sorvete para que eu me sinta melhor”.

Usagi foi basicamente correndo até a barraquinha e trouxe um daqueles sorvetes com três bolas. Elas foram andando enquanto comiam. Usagi era a companhia perfeita para qualquer hora, Haruka seria muito sortuda se tivesse se apaixonado por alguém doce como ela e se esse amor fosse retribuído.

“Ne, Odango, se o seu namoro não der certo por alguma razão, eu posso entrar na fila?” Perguntou num tom que não deixava claro se era brincadeira.

O rosto de Usagi ficou da cor de um pimentão, mas ela sorriu abertamente. “Eu procuro você primeiro”. Haruka riu. “Mas você não pode desistir de procurar, porque quando você menos esperar vai encontrar quem está do outro lado da sua linha vermelha”. Disse estendendo o mindinho.

Haruka girou os olhos, mas antes que pudesse fazer algum comentário uma placa chamou sua atenção, ela se aproximou curiosa, Usagi veio andando logo atrás querendo saber o que havia roubado a atenção de sua amiga.

“Destino, huh?” Murmurou ao terminar de ler.

O cartaz indicava uma exposição de Michiru Kaiou.

Continua.


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Notas finais do capítulo

Gostaria de pedir desculpas pela demora em atualizar, havia prometido na primeira semana de julho, mas fiquei ocupada com alguns problema familiares...Mas a história toda já está planejada é só escrever mesmo : )