Círculo das Ruas escrita por Marykelly


Capítulo 3
Estranhos por Toda Parte


Notas iniciais do capítulo

Cá estou. Passei um tempão pra escrever esse. Esperto que gostem. :)




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– Que ótimo. Você a matou! – escuto uma voz falando ao longe. Gostaria de dizer pra ela para me deixar em paz, que quero continuar dormindo.

– Cala a boca, Natália! É lógico que não foi tão forte assim. Olhe, ela ainda está respirando. – Dessa vez a voz soa mais próxima. Mais real. Mas que diabos, não se pode mais dormir sossegada? – Mas que droga, o que essa garota tava fazendo ali? Ela apareceu de repente. Não deu tempo de desviar.


Começo a recobrar a consciência e a ganhar novamente o controle do meu corpo. O barulho incômodo me faz tentar levantar, mas assim que começo a me mover sinto uma dor lancinante nas costas.


– Mas o que... – sou interrompida por um arquejo.

Oque que tinha acontecido comigo?

– Hey, você está bem? – ouço a voz de uma garota e aos poucos a cena vai ganhando foco.

Noto algumas pessoas agachadas, me estudando, com se eu fosse um animal de laboratório.

– O-onde eu estou?... Quem são vocês? – Faço um grande esforço para erguer minha coluna e sentar-me.

A memória retorna e tento recuar freneticamente, mas minhas costas vão de encontro à parede. Forço minha mente, tentando me lembrar do que se fazer em ocasiões como essa.

Gritar?

Correr?

Se fingir de morta?

Se ao menos o Arnoldo aparecesse.

– Garota, se acalme! Você está bem? Precisa que chamemos uma ambulância? – Olho, desorientada, para o garoto que falou comigo. Mas por que diabos eles iriam chamar uma ambulância se querem me matar?

– Quem são vocês? Me deixem ir embora!

– Escuta, não machucaremos você. – ele deve ter percebido o pânico na minha voz. Ele me oferece a mão para me ajudar a levantar, mas a recuso e levanto-me sozinha. – Sente alguma dor? Você consegue andar? Já pode voltar de onde veio? Aliás, de onde você veio?

– Caramba, Roger. Pare de fazer tantas perguntas, ela está desorientada. – Outro garoto fala, aparecendo no meu campo de visão. Sua face mostra algumas cicatrizes, provavelmente causada por brigas. Que ótimo. Encrenqueiros. Assim que ele segura meu braço eu o puxo de volta, prensando-me ainda mais na parede.

– Não encoste em mim. – digo.

– Ei, se acalme. – ele diz. Irritado com a minha reação.

– O que vocês querem? – pergunto.

– Não queremos nada de você. – O Roger levanta a voz, como para me fazer escutar o que ele vem tentando dizer. Não me sinto tão ameaçada quando olho para ele, é o único que aparenta ter um jeito menos mortífero. – É... Você apenas desmaiou e... Trouxemos você para dentro.

– Desmaiou? Cara! Você quase a matou se jogando em cima dela. – A garota me olha de cima a baixo, me estudando. Ela me parece familiar. Estranho. – E o que você estava fazendo por aqui?

– Eu só estava caminhando e... – Paro. Eu não ia dizer que me perdi. – O que aconteceu? A minha cabeça dói. – passo os dedos pela parte de trás da minha cabeça e checo-os, como se esperasse ver sangue.

A maioria das pessoas que estavam ao meu redor já se dispersou, me lançando olhares que preferi pensar que não era o que eu imaginava. Eu não estava em posição de arrumar confusão.

– Esses dois imbecis estavam brigando. Você sabe como é... O Roger não conseguiu desviar do golpe e foi lançado bem em cima de você. E ai... strike! –Enquanto ela falava, foquei no espaço que eu me encontrava. Como que agindo no automático, ando em direção ao centro, para ter uma visualização mais ampla.

– Que lugar é esse?

Por fora, só aparentava ser mais um galpão abandonado, mas por dentro era totalmente diferente. As paredes eram totalmente pintadas de preto e havia treliças espalhadas por toda a parte, na vertical e, próximo ao teto, na horizontal. As estruturas de ferro meio enferrujadas criavam algo parecido como alas, onde havia uma grande quantidade de equipamentos, da qual a maioria eu não sei o nome.

No centro havia uma enorme área livre com o piso acolchoado e uma rede ao redor, mantida em pé por vigas de ferro. Formando um circulo. Arregalo os olhos, não podia ser. Esse qualquer um era capaz de reconhecer, mas eu estava custando a acreditar que aquilo era mesmo um ringue.

– É uma academia de luta. Você sabe.... – Roger se aproxima de mim até estar ao meu lado. Pelo canto do olho vejo que ele me observa. O seu cabelo longo e meio cacheado só o deixava com um ar infantil. Mas, por mais que eu estivesse cercada de pessoas ensandecidas, inclinadas à violência e viciadas em esteroides anabolizantes, eu não deixaria de dar um soco nele caso tentasse alguma gracinha. – O meu nome é Roger. – ele estende a mão para mim. Fico olhando para ela por um estante e depois volto meus olhos para ele, fazendo uma careta. Ele percebe que não vou cumprimenta-lo e abaixa a mão, conformado. – Está bem, então. Aquela ali é a Natália. É a única garota daqui. A única que o Jon não colocou pra correr. – Ele solta uma risada seca e Natália bate no ombro dele, o censurando.

Agora lembro por que ela me era familiar. Foi com ela que Margaret falou para não esganar a outra garota. Será que Margaret vinha aqui?

Ela se aproxima e fala um “Oi” sem muita emoção. Natália era totalmente o oposto de Roger, tinha o cabelo cortado até acima da orelha, a sua pele era morena, tão escura quanto chocolate. Aposto que ela deve ser tão forte quanto muitos dali, mas não a ponto de deixar seus músculos muito evidentes.

– E aquele lá no canto, aquele feioso. É o Coba. Se eu acabei te derrubando, a culpa é dele. – O Coba estava no canto da parede desde que eu o repreendi por me tocar.

Escuto-o rosnar e lança um olhar feroz para o Roger.


– Então... aqui não é a “central de comando” dos Algoz. É? – Me arrependo assim que pergunto. Eu decididamente tinha que aprender a me controlar.


Os três me olham como se eu estivesse louca, e, em seguida, Roger e Natalia não conseguem prender o riso.

– Pensou que fazíamos parte da gangue? – Roger pergunta.

Abro a boca, para responder, mas Natália me interrompe falando primeiro. – Fala sério, se fossemos, você já era.

Vejo, passando pela entrada, uma grande sombra, usando seu terno escuro e o quepe. – Arnoldo! Ah, ainda bem.

– Senhorita? Oh, que bom que a encontrei. – Tenho vontade de abraça-lo, mas me contenho. Aliás, a situação não estava tão ruim quanto antes. Arnoldo não ultrapassa a linha da entra e os encarava. Está tudo bem?

– É... Obrigada... Gente. – engulo em seco. Eu não tinha nada que agradecer, mas era a única forma de chamar a atenção deles e a paziguar a situação.

– Como é? – O Roger pergunta, levantando uma das sobrancelhas.

– Vocês sabem. Por terem me ajudado. – Estou de costas para o Arnoldo, então cravo meus olhos neles para dá-los a entender que preciso que eles entrem nessa. Prefiro que o Arnoldo não saiba o que realmente aconteceu.

– Então... tudo bem. Eu já... vou indo. – Dou um aceno forçado para os três e giro sob meus calcanhares, sem esperar resposta. Marcho em direção à porta, não quero olhar para trás e ver que eles pretendem iniciar alguma briga. Pelo canto do olho vejo que eles me observam enquanto Arnoldo abre a porta do carro para que eu entre. Não sei por que, mas isso me incomoda.

Mas isso não importa. Não os verei novamente.


***



Não foi difícil convencer o Arnoldo a não contar nada. Fiz algumas promessas de que não me meteria em lugares assim outra vez e que nunca mais – nunca mesmo - me esqueceria de chama-lo novamente. Ele ficou meio cismado, mas acabou cedendo.





Agora aguardo no sofá enquanto minha mãe discursa com meu pai, sobre mim. Eles conversam na biblioteca, não espero ouvir nada, meus pais não costumam elevar a voz.




Alguma coisa me dizia que eu teria problemas.


Meus pensamentos são interrompidos pelo barulho de alguém sentando ao meu lado. Tommy.


– E então, o que foi dessa vez? E por que não me chamou? – Seu velho tom de superioridade. Tommy era um fuçador por natureza, adorava interferir na minha vida e, na maioria das vezes, sentia na pele as consequências disso. Ele tem uma cicatriz um pouco acima da testa. A briga lhe custou 4 pontos na cabeça. Já perdi a conta de quantas vezes já o meti em encrencas, mas parece que ele não liga muito pra isso.

– Eu não fiz nada. É... outra coisa. – Dou de ombros.

– Você está esperando que eles saiam?

– hm... Tommy, me responda uma coisa.... – Ele apenas assente.

– O que você sabe sobre os Algoz? Quero dizer, o que realmente sabe sobre eles?

– Primeiro que eu não te contaria mesmo se soubesse e segundo... por que quer saber sobre isso? Se você estiver pensando em se meter...

– Não é nada disso. É só... Curiosidade.

– Tudo que você precisa saber é que tem que evita-los e ficar longe da área deles. – Percebo que ele tenta se controlar pra não me segurar pelos ombros e me sacudir. Me obrigar a não fazer seja lá o que ele pensa que quero fazer.

– É esse o ponto. Que área á essa? É apenas um ou vários lugares? E como se identifica se alguém é ou não um deles?

– Caramba Abby! Não! Chega de perguntas. Apenas... fique longe, está bem? Faça o que eu digo.

– Não. – Digo, irritada. – Não vou seguir cegamente o que você me diz. Só por que é o que você diz e ponto. Me fale a verdade.

– Você não entende nada. – Ele fala enquanto levanta, me encarando.

– Idiota.

Ele respira fundo, fechando os olhos e apertando o polegar e o indicador no dorso do nariz. – Vá para o seu quarto, Abby.

– Tommy... – Ele abre a boca para me interromper mas a voz que sai não é a dele.

– Vá para o seu quarto. – Meu pai está com o ombro apoiado no batente da porta, me olhando. Me mantenho estática ao ver sua fisionomia nada satisfeita, mas logo depois a tensão se esvai quando ele pisca pra mim esboçando um pequeno sorriso. – Logo mais conversamos.









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Notas finais do capítulo

Bom? Ruim? Comentem. :) Até o próximo.