Radioactive. escrita por nsengelhardt


Capítulo 3
Conheço minha nova família.




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Ao sair correndo do colégio, uma fileira de professores, alunos e monitores tentou me parar para se informar do incêndio, mas eu ignorei-os completamente.

Eu não queria atenção de ninguém e não iria dar atenção pra ninguém além de mim mesma. Eu estava mais cansada do que nunca. Um peso sobrecarregava meu corpo. Adrenalina? Medo? Não sei, só queria sair logo dali. Ir atrás de paz e tranquilidade.

Um pouco antes de chegar ao meu velho carro vermelho desbotado, uma mão me segurou pelo ombro. Virei-me e dei de cara com Marco. Como ele chegara ali tão rápido? Ele deveria estar na enfermaria junto da Sra. Tolman. Como ele me achou, sendo que meu carro fica em uma vaga distante de tudo e de todos, dentre as outras vagas?

Ele me encarou nos olhos. Aqueles seus olhos castanho-escuro atravessando meus olhos heterocrômicos. Algo em seu olhar me deixava nervosa, confusa e com medo. Ele finalmente soltou meu ombro, mas antes que eu pudesse falar ou fazer algo, ele me abraçou.

– Eu sei o que você é. - ele sussurrou em meu ouvido. - Eu sei porque você sempre sobrevive à esses acidentes e como você consegue salvar as pessoas.

– O quê? - falei, confusa, ao me afastar dele. Ele parecia um gigante perto de mim. Qualquer um parecia mais forte e maior perto de mim e minha baixa estatura.

– Eu sei o que você é, porque eu também sou. - ele se aproximou de mim. Seu rosto à oito centímetros do meu. Ele me olhou nos olhos de novo. Então eu finalmente entendi.

A mediunidade.

– Como você sabe? - falei. Ao respirar, eu inalava seu hálito fresco e agradável, como o cheiro de menta e dolces de alcaçus.

– Você é a única aqui que... Que eu não consigo... Hã, decifrar – ele aproximou seu rosto um pouco mais do meu, percorrendo os olhos em cada sarda, covinha, em cada mínimo detalhe do meu rosto pálido, como se tentasse me "decifrar".

– Você não consegue ler minha mente? Não enxerga minha aura? - falei, indo direto ao ponto.

– Hã, é isso ai. - ele se afastou de mim, mas ainda me analisando. - Você é diferente. Quando eu percebi isso, eu entendi que você podia ser uma de nós.

Nós. Ele falara isso com ênfase. Uma montanha de perguntas desmoronou em minha mente. Nós.

– O que você quis dizer com "nós"? - perguntei, confusa. - Existem mais pessoas mediúnicas?

– Existem. Mas são poucas. Na nossa escola, parece que somos só eu e você.

– Mas e Alice? Ela é mediúnica!

– Não, ela é sensitiva. - ele balançou a cabeça em negativa. - É diferente. Ela apenas vê um pouco além da nossa dimensão. Mediúnicos como eu, até mesmo você, podem ver e ouvir absolutamente tudo que existe além da nossa dimensão. Tudo além do nosso alcance.

– Então é por isso que eu consigo ouvir os pensamentos dela. - murmuro.

– Exatamente. - concorda Marco. - Hã, Lie. Eu conheço um grupo de mediúnicos, se não for incômodo, eu poderia apresentar eles à você e...

– Incômodo? Você acha que seria incômodo conhecer pessoas que sabem o que eu vejo, ouço e sinto? - ironizo. - Claro que não, eu ficaria satisfeita em conhecê-los.

Ele sorri. Seu sorriso era pequeno, mas atraente. Ele fez sinal com a cabeça, acompanhado de um "Então vamos?", em direção ao carro dele. Mas eu preferi segui-lo com em meu próprio carro.

Ele deu de ombros e saiu em direção ao carro dele. Fiz o mesmo. Ao me acomodar em meu carro, liguei uma música. Não prestei atenção na música até ouvir o verso "I'm radioactive". Eu sou radioativa, eu sei disso.

. . .

Comecei a entrar em desespero quando fomos nos aproximando de uma floresta. Eu tinha pavor de florestas. Não pela velha história do fictício slender man, mas porque florestas eram o pior ambiente para ir ao anoitecer. Estava anoitecendo! Sheba me mataria se eu chegasse em casa depois das 18h, mas eu não me importava.

Ela não podia me impedir de conhecer pessoas como eu. Pessoas que realmente entendem o que eu vejo e ouço.

Marco parou seu carro na entrada da floresta, onde havia um velho portão. Ele saiu do carro. Parei logo atrás dele e também saí.

– Temos que seguir a pé, não é muito longe, eu garanto. - afirmou. - Tudo bem?

Fiz que sim com a cabeça e então o segui quando ele abriu o portão de madeira que indicava o início da floresta. Já estávamos andando há alguns minutos quando avistou uma velha cabana.

As luzes estavam acesas. Parecia que pelo menos dez pessoas estavam ali. Andamos em direção à casa. Marco me ajudou a subir na varanda de madeira da cabana, já que a única escada estava com alguns degraus quebrados e com alguns pregos saltados pra fora, o que não fazia dela segura.

– Chegamos. - falou Marco, batendo na porta e em seguida entrando.

Pelo menos nove pessoas estavam sentadas, cada uma, em uma almofada enorme e de couro marrom. Haviam armários, balcões, uma lareira perto das almofadas, uma cozinha e uma porta que, provavelmente, levava à um banheiro.

No centro das almofadas, havia uma mesinha feita de madeira, com o tampo de tronco de várias árvores de diferentes tons de marrom. Em cima da mesa, encontravam-se duas tigelas com nachos, copos e refrigerantes, chocolates, uma caixa de pizza, chocolate quente, chá e café.

Em um balcão de madeira com tampo de mármore, havia uma fonte de chocolate e outra de queijo. Perto da lareira, estantes e prateleiras entupidas com livros e revistas e materiais para desenho e pintura.

Na cozinha, duas garotas igualmente altas, magras e louras sorriram e cumprimentaram Marco. Elas acenaram pra mim, como quem diz "Bem vinda ao lar!".

– O atrasado de sempre trouxe uma amiga nova! - gritou um garoto próximo à fonte de chocolate.

– Pessoal, quero lhes apresentar Lie Russo, nossa nova amiga mediúnica. - ele sorriu pra mim.

Não pude conter um sorriso. Aquele lugar era calmo e silencioso, quero dizer, sem nenhum pensamento e nenhuma aura mudando de cor a cada pequeno acontecimento.

Estavam todos alegres, inclusive eu. Aquela poderia ser minha nova família.


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Notas finais do capítulo

Capítulo novo! Espero que tenham gostado! (:



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