Eu estava sonhando. Aquilo não existia, não no meu mundo. Estávamos numa cascata de cachoeira maravilhosa, nunca vi algo mais lindo, a água cristalina reluzia com o sol e batia em nossos rostos, parecendo com que brilhássemos. Anthony me olhava com aqueles olhos grandes esverdeados só dele. Ficamos juntos por um bom tempo ali, embaixo de algumas árvores em frente a água, conversando, Anthony me perguntava coisas e eu perguntava há ele. Por um momento me perguntei se ele existia, ou se estava sendo fruto da minha imaginação, pelo visto, fértil em criar algo tão lindo como ele. Mais algum tempo ali e resolvemos continuar o “passeio”. Pegamos os cavalos e  comecei a correr com o meu, branco chamado Spike.

- Quer competir? – Gritou Anthony, há alguns metros de distância que eu.

Dei uma gargalhada e apressei Spike, assim Anthony me ultrapassou correndo com seu cavalo e olhando para mim sorrindo.

Chegamos num gramado, era algum tipo de campina, que possuía um lago no fim. Anthony pegou minha mão ao descermos dos cavalos e me levou para perto da pequena lagoa daquele lindo lugar. Nos deitamos, um ao lado do outro e ficamos em silêncio. Não consegui olhar para ele sem meus olhos brilharem e minhas bochechas pálidas virarem rosa. Como isso pode acontecer? Em tão pouco tempo alguém sentir algo tão forte por um quase desconhecido. Mas não,eu não estava apaixonada. Só não pedi mais nada para que tudo ficasse bem, naquele momento, naquele lugar perfeito que poderia ser chamado de paraíso.

Anthony se sentou e disse:

- Acho que está na  hora de irmos.

- Já? Quer dizer, que rápido. – Ri. – Nunca vi uma tarde passar tão rapidamente.

- Ouvi dizer que quanto melhores são as coisas, o tempo passa mais rápido. Principalmente quando você está com alguém                 que te faz sorrir.

- Então tenho certeza de que essa sua hipótese, melhor dizendo, está absolutamente correta.

Ele olhou no fundo dos meus olhos novamente, abrindo o sorriso perfeito.

- Eu percebi que você estava lendo um livro antes de virmos, trouxe ele? – Perguntou.             

- Sim, está aqui. Um minuto.

Fui até meu cavalo e peguei o livro que estava em cima da cela. Voltei e me sentei ao lado de Anthony.

-  Romeu e Julieta? O que é isso? Pra algum trabalho da escola? – Disse ele, pegando o livro e folhando algumas páginas.

- Não. Eu mesma peguei. Porque? Acha que não sou romântica?

- Nem um pouco. Não sei o que as mulheres veem nesse livro,  é tão sem graça. Quer dizer, nada acontece. Não entendo essa história do Romeu morrer por seu amor, é tudo tão estranho.

-Bom, eu gosto. E acho lindo o ato de Romeu, essa, na minha opinião é uma das coisas mais lindas que um homem pode fazer. Não morrer, é claro. Mas se deixar levar por um amor que mesmo não sendo acabado, se desfez e com certeza a cena mais linda, é a da morte. No final da história. – Confessei.

- Muito bem. – Disse Anthony, folheando mais algumas páginas do livro e chegando ao final do mesmo, recitou: - "Aqui, quero fixar meu eterno repouso. E desta carne laça do mundo sacudir as estrelas funestas, olhos, vede mais uma vez, braços, permiti-vos um último abraço. E lábios, vós que sois a porta do hálito, com um beijo legítimo selai este contrato com a morte exorbitante".

Não disse nada, apenas o olhei encantada.

- Sou tão bom quanto Romeu, percebe? – Riu Anthony

- É claro. Anthony, acho que está na hora de irmos. Daqui a pouco meus avós vão começar a se preocupar comigo. - Parei com minhas ilusões, de encanto e magia e disse, séria.

- Nossa, tinha me esquecido completamente. Vamos.

Nos levantamos, pegamos os cavalos e voltamos para a casa. Novamente apostando uma corrida dentre os vales das colinas, ao pôr do sol.