Depois Da Meia-noite escrita por MiuMiu


Capítulo 2
Frustração


Notas iniciais do capítulo

"Naqueles dias, havia nefilins na terra, e também posterior­mente, quando os filhos de Deus possuíram as filhas dos homens e elas lhes deram filhos. Eles foram os heróis do passado, homens famosos."- Gênesis 6:4



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Não falei nada e nem esbocei emoção, que droga, agora eu tinha que agüentar ser taxada de louca e falar com um psiquiatra

–Como está se sentindo?- Ele perguntou enquanto se sentava em uma poltrona ao lado de meu leito

–Você obviamente sabe o significado de frustração, não é?- Indaguei, ele me lançou um olhar desafiador, ah vai se ferrar!

–Então, por que se sente frustrada senhorita?- Ele me perguntou, deixe-me pensar, Humm... Por tudo!

–Me sinto frustrada por não ter um pai, por meu namorado estar morto, por minha vida ser exposta para o mundo, por minha mãe me obrigar a entrar em concursos de Miss desde criança e principalmente por não ter conseguido me matar- Gritei, meu coração acelerou, dava para ver, pois meus batimentos estavam sendo monitorado, de 54 ele deu um salto para 60 batimentos

–E agora, não sente um alívio?-

É verdade, eu me sentia mais leve, assenti com a cabeça

–Sua mãe quase teve um infarto, você não pensou que isso causaria dor a ela?-

Não, eu não pensei, até por que ela também não pensa em mim e nem quer saber o que quero realmente fazer na vida, acredite, não escolhi ser famosa

–Não, minha mãe não me quer, ela quer o dinheiro que minha fama traz... Quando eu fiz seis anos tive que desfilar em um concurso de beleza no Hamptons, depois não parei mais, minha mãe ficou obcecada, ela nem perguntou se era isso que eu queria fazer, entendeu?-

Ele assentiu com a cabeça e fez anotações em um caderno com capa verde-musgo que eu não tinha notado antes

–Tudo bem, obrigado por me responder as perguntas... Dr. Flynn pediu para não te dizer nada, mas acho que deveria saber que sua tentativa de suicídio já é noticia em todo mundo-

O que?

–Não se assuste eles pensam que você desmaiou por que não tinha comido nada naquele dia, a mídia não sabe da sua overdose, apenas desconfia-

Eu nem piscava, apenas tentava processar o que ele tinha acabado de falar

–Sua mãe te internou na minha clínica de reabilitação- Ele disse tranqüilamente

–Você só pode estar brincando- Falei com raiva

–Não, você realmente vai para minha clínica-

–Você quer dizer hospício- Retruquei.

Ele apertou os olhos venenosamente

–Se você prefere chamar assim, tudo bem-

–Minha mãe que é louca, os paparazzi vão descobrir, não posso ir para um hospício-

–Sim, você pode e deve ir- A naturalidade dele diante da minha situação me dava raiva

–Tudo bem, se ela quer assim, eu vou, até por que isso tem um lado bom-

Dr. Zacharie parecia intrigado, seu maxilar se tornou rígido

–Que lado bom?-

–Minha carreira vai acabar- Falei com um sorriso, eu podia jurar que vi um sorriso discreto no rosto dele também

–Amanhã você será transferida para lá e fique calma, ninguém vai saber que você ficará no meu hospício-

Ele se levantou e andou até a porta

–Bom, amanhã vai ser um dia cheio então descanse bastante... Ah sim, sua mãe quer te ver agora-

Ele picou o olho para mim e saiu, minha mãe entrou alguns segundos depois, ela estava com olheiras como se não dormisse á muito tempo e vestia uma calça jeans, tênis da Adidas preto e uma blusa xadrez

–Querida, você acordou!- Ela falou emocionada e veio correndo me abraçar, meu corpo doeu

–Calma mãe, calma- Eu pedi, ela me soltou e se sentou na mesma poltrona em que o Dr. Zacharie estava

–Calma? Lux Elena Martine, você tentou se matar e agora quer que eu fique calma?-

Ah não, drama agora não

–Mãe, me escuta pelo menos uma vez, não quero que se meta no que eu sinto, no que eu falo, no que eu visto ou no que eu penso, você não me deixa viver, então decidi morrer ou invés de desfilar e fingir que estou feliz quando na verdade não estou, meu namorado morreu, minhas amigas são fúteis e se acham por que são ricas, minha vida é vazia e sem sentido, não quero fazer o que você queria fazer-

–Oh filha me desculpe, não sabia que você se sentia assim... Eu não fui modelo por sua causa, não queria ficar grávida, pois eu só tinha 24 anos e minha carreira estava deslanchando, tive que parar... -

–E meu pai?- Perguntei

–O que tem ele?- Ela franziu o cenho

–O que aconteceu com ele?-

–Ele nunca soube de você... Na verdade, a família dele não gostava da minha família e minha mãe me obrigou a terminar tudo-

O que? A minha doce vovó Helena separou meu pai da minha mãe?

–Mas, por que você fez isso?- Perguntei aflita

–Se fosse comigo eu fugiria com ele!- Completei, minha mãe começou a chorar

–Não tinha como, eu não podia mais trabalhar de modelo, o único dinheiro que eu tinha era a mesada da minha mãe e os pais dele não aprovavam, isso foi injusto, eles não ligavam para o que eu sentia por ele-

–É exatamente isso que você está fazendo comigo, passando por cima da minha vontade para satisfazer as suas, você não liga para o que eu quero ou sinto, me internou em um hospício e nem me avisou antes- Desabafei, ela se levantou da cadeira me abraçou

–Me desculpe, fiz isso por que eu te amo-

–Eu sei que sim, eu também te amo- Respondi

Então meu pai não me abandonou?

–Será que ele está vivo?- Indaguei

–Ele quem?-

–Papai- Falei, ela pareceu ficar perturbada com isso, me soltou e voltou para a poltrona

–Não sei e você vai se mudar amanhã, então é melhor descansar-

Minha barriga começou a roncar

–Estou com fome- Reclamei, minha mãe foi falar com a enfermeira Madeleine para me trazer comida, minha bexiga estava cheia então fui fazer xixi, passei o dia comendo e assistindo televisão, dormi cedo, o que é estranho, pois não é um hábito meu dormir ás19h00min, aposto que Madeleine colocou algum remédio para dormir no meu jantar, o ruim foi o sonho... Aaron estava andando em um cemitério, um cemitério enorme com lápides belíssimas, em sua mão direita estava um colar de prata com pingente de um pentagrama dentro de um círculo e sua mão esquerda segurava um pequeno livro de capa preta, perto dele havia um desenho de um círculo de invocação, Aaron se sentou perto do desenho e abriu o livro, ficou folheando várias páginas até encontrar a que queria, começou a ler algumas palavras em latim, depois um portal negro se abriu dentro do círculo e de lá surgiu uma mulher

–Oh pensei que você não iria me chamar novamente- Falou a belíssima e voluptuosa mulher, ela tinha pele morena, cabelo castanho bem liso, grandes olhos pretos, usava um longo vestido vermelho com fenda na perna e um sapato de salto prateado

–Me desculpe, é que eu estava ocupado-

–Tudo bem docinho... E então, você consente em me dar a sua alma?-

–Sim- Ele disse rapidamente, dava para ver que a mulher estava feliz e satisfeita

–Só uma pergunta- Ele pediu, o sorriso dela desapareceu

–O que é?-

–Posso ver ela depois disso?-

–A sua namoradinha mimada?- A mulher parecia irritada

–Lilith, não fale dela com esse tom- Pediu Aaron, ela sorriu

–Claro que pode vê-la- Lilith segurou a mão dele e puxou apenas sua alma, o corpo físico caiu inerte no chão e eles desapareceram no portal negro

Então acordei gritando, minha mãe se assustou e foi me abraçar, ela dormiu na cama do acompanhante que ficava perto da minha, comecei a chorar

–Calma filha está tudo bem agora, não chore- Ela me consolava, não pode ser... Aaron realmente morreu daquele jeito?

–Mãe, ela levou a alma dele, foi por isso que ele morreu-

–O que?- Minha mãe parecia confusa e nervosa – Sobre o que você está falando Lux?-

–Lilith, uma mulher horrível que saiu de um portal negro e levou a alma do Aaron-

Minha mãe me abraçou mais forte, eu estava chocada

–Esqueça isso, foi apenas um sonho ruim, volte a dormir- Eu resolvi ceder e tentei dormir novamente... Uma garotinha pequena estava deitada em um tapete e desenhava em um caderno com giz de cera dragões que cuspiam fogo, ela usava um vestido floral, uma tiara azul-clara e sapatilhas cor-de-rosa, seu cabelo era loiro e ondulado nas pontas, deveria ter entre três e quatro anos de idade, uma mulher ruiva, jovem e bonita que parecia ser uma modelo de tão magra a pegou nos braços

–A vovó vai te mostrar uma fada-A mulher disse, elas foram até um lindo jardim, onde voavam borboletas e pássaros cantavam

Sentada em cima de uma rocha estava sentada uma segunda mulher, parecida com a primeira, só que um pouco mais velha

–Vovó, cadê ela?-

–Ela quem Lux?- Perguntou a avó que também se divertia

–A fada, cadê ela vovó Helena?-

–Será que é esta aqui?- Helena indagou enquanto mostrava em sua mão um pequeno frasco que continha uma mulher luminosa em miniatura que tinha asas de libélula

–Nossa, que linda, eu posso ficar ela?-

–Ela é livre filha- Disse a primeira mulher –Não podemos ser donas dela-

–Por que não mãe?- Perguntou a criança, sua mãe a colocou no chão e se sentou ao lado de Helena

–Por que ela é um ser mágico que ajuda a natureza-

–Eu a encontrei presa nesse vidro e agora tenho que solta-la, a natureza precisa dela- Falou Helena -E além da mais ela também é a sua fada protetora-

–Ela pode falar?-

–Sim, pode conversar com ela-

Lux se aproximou do vidro e ficou observando a pequena fada de cabeleira castanha e de rosto que apresentava finos traços angulosos, a pequena fada usava um pequeno vestido vermelho

–Como você se chama?- Perguntou Lux

–Morrigu- Ela respondeu

–Filha, acorda- Alguém falava, meu corpo foi sacudido –Lux!-

Abri meus olhos, depois de alguns segundos minha visão focalizou, eu ainda estava no hospital

–Vem se arrumar, você precisa tomar banho-

Assenti com a cabeça e vagarosamente me levantei da cama, decidi que esse não era o melhor momento para perguntar a minha mãe sobre essa tal “fada” Morrigu, tomei um banho frio e depois fui me arrumar, vesti uma calça jeans, um tênis da Nike azul, uma blusa preta de manga curta e uma jaqueta jeans, Dr. Flynn foi ao meu quarto me dar auta do hospital e se despidir. Peter foi me buscar e eu entrei na limousine com minha mãe, estranhei por não ter fotografo nenhum me esperando na porta do hospital, a vista de Nova York era linda, eu estava perturbada ainda por causa do meu sonho com Aaron, eu sentia que era verdade

Rapidamente chegamos ao hospício que se chamava Recanto das almas resolutas. Que nome mais idiota!

Desci da limousine e dei um aceno de despedida para Peter, minha mãe me seguia segurando minha mala roxa do Louis Vuitton, um homem alto e moreno que usava um terno preto estava do lado de dentro do portão

–Seus nomes, por favor- Sua voz era grossa

–Lux Elena Martine- Eu respondi

–Christine Lucia Martine- Minha mãe falou, o homem sussurrou alguma coisa no rádio e olhou para nós

–Podem entrar-

O grande portão gradeado branco se abriu, a frente do hospício parecia um parque de recreação, tinha muitas flores e várias pessoas de todas as idades que conversam entre si, vi uma garotinha segurado um pequeno passarinho de cor azul, uma mulher de meia idade beijando um homem de meia idade e também vi um lindo garoto moreno com asas negras...

Um garoto de asas negras?

–O que foi filha?- Ouvi minha mãe perguntar, não, eu não podia responder, tinha um lindo garoto de asas negras plantando mudas de roseira na minha frente, bom, eu estou no hospício então nada mais me surpreende

–Fala alguma coisa Lux... - Ela seguiu o meu olhar e viu ele também, ninguém pareceu notar além de nos duas

–Oh não... É um Nefilim!- Minha mãe falou... Ei! As asas dele desapareceram

Como isso é possível?


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Notas finais do capítulo

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