Ao final das primeiras batalhas, não sei dizer se a tensão acabou e por isso todos pareciam confiantes, ou se as circunstancias estavam fazendo o sangue de todos ferverem. Mas queria acreditar na primeira opção.

- Vamos começar logo a terceira batalha. – Disse o Rei, apesar de não estar na sala sua voz era bem audível. – Dys, posicione-se para a luta.

Apesar da proclamação, Dys, o que aparentava ser o mais novo daquele grupo, aparentemente não estava muito interessado em nós.  Posso afirmar mais isso, pois durante as batalhas que se antecederam, em nenhum momento ele mostrou interesse nas batalhas, apenas olhava de relance e depois bocejava e virava a cara para as paredes.

- Vamos, estou esperando. Será que é covarde o suficiente para recuar? – Disse Renma que já havia se encaminhado para a batalha. Ela parecia estar com muita raiva e inquieta com o que estava acontecendo, nunca a tinha visto daquela maneira.

Após um tempo sem movimentação de Dys, Nidhogg se encaminhou na direção dele, o segurou no alto pela cintura e depois o arremessou em direção ao centro do salão, onde ocorriam as lutas.

- Um homem não deve deixar uma dama esperando, mesmo que seja para matá-la. – Disse Nidhogg, e então retornou ao seu lugar.

- Porque eu deveria lutar? Já não sabemos o resul... – Antes mesmo de Dys terminar sua frase, foi atingido por uma forte rajada de vento. Mas apesar de surpreso ele deu uma cambalhota no ar e caiu em pé, como se nada tivesse acontecido.

- Já sabe o resultado? Não diga asneiras. – Disse Renma, ainda com raiva. – Não se pode saber nada até que aconteça.

Ouviu-se gargalhadas, e para surpresa de todos era de Dys, mas era uma risada um pouco mais grave que sua voz, e algo mais forçado.

- Você falando isso? Quanta redundância de sua parte. Alguém que pode ver fragmentos do tempo falando que não se pode saber nada até que se tente, mesmo que ela possa ver o futuro. – Disse Dys, de modo sarcástico e frio. – Não me faça rir garotinha, sua ignorância me faz querer matá-la.

- HAHAHA! Será que essa vai ser a primeira vez que o veremos lutas a sério? Nunca o vi Dys assim. – Disse Nidhogg, aparentemente ansioso com a situação. – Espero uma boa luta de ambas as partes.

Com isso a batalha se iniciou. Renma ativou sua armadura e sua foice e então partiu para o ataque.

Agora que podia manipular melhor o vento, Renma parecia mais confiante, estava mais ágil e versátil na luta. Infelizmente seu oponente também era muito forte. Na primeira investida de Renma, um pouco antes de ela atingi-lo com a foice. Dys fez um leve movimento para baixo com a mão esquerda, o que fez surgir um Katar, uma pequena adaga que se empunha com a ajuda de um bracelete, que se parecia uma extensão de seu braço, e então aparou o golpe como se não fosse nada.

E com um movimento lateral, fez com que Renma perde-se o equilíbrio impulsionando a foice dela para a lateral, criando assim uma abertura para atacá-la. Teria sido fatal se não fosse uma pequena barreira que Renma aprenderá a fazer, mas não era uma barreira resistente que defendia os golpes, e sim uma que redirecionava a força do golpe.

- Vejo que tem uma pequena noção de luta, mesmo que um pouco. – Disse Dys, mas não sabia definir se era um elogio ou um deboche.

Renma não se deu ao trabalho de responder e apenas pulou e passou a flutuar no ar devido a sua manipulação dos ventos, se distanciando aos poucos de Dys.

- Ahh, isso não é justo. Ela pode voar e eu não? – Disse Dys, e pude perceber que ele ainda tinha um pouco de ar de criança. Invejar os outro assim, e se esforçar para aborrecer os outros, o que me fazia perguntar a idade dele.

Mas sabia que não podia me deixar levar pelas aparências, pois mesmo que tivessem aparências humanas eles não eram “normais”, eles não eram humanos como nós. Era uma espécie que estava tentando destruir o mundo em que acreditávamos.

Com o decorrer do tempo a batalha passou a ser mais frenética. Dys pulava e fazia malabarismos na esperança de acertar Renma e acabar com aquilo de uma vez. Mas, fico feliz em dizer, que Renma estava se saindo muito bem contra ele. Não só na observação, mas também na antecipação dos ataques dele.

Renma estava conseguindo acompanhar os movimentos  de Dys com um pouco de facilidade, mas ainda tinha vezes que ele era imprevisível e conseguia transpor a barreira de Renma, que não tinha outra opção a não ser Pará-lo com a foice, mas era meio arriscado e isso causou alguns cortes em Renma.

Houve uma hora em que Dys conseguiu segurar Renma pela perna e a fez cair, mas poucos centímetros de acertá-la no pescoço ele parou.

- Porque parou? – Disse a mulher que se posicionava ao lado de Nidhogg, se não me engano se chamava Zyra. – Não perca tempo e acabe com isso de uma vez.

- Quieta, ela está vendo um fragmento do futuro, logo sairá a profecia dela. – Disse ele empolgado, mas não sabia ao certo como eles poderiam saber sobre os poderes de Renma, mas algo era mais importante, o fato de Renma ter esse tipo de coisa em um combate poderia causar a morte dela.

- “A aranha tece sua teia e pega sua presa. Uma peça deve se sacrificar para que o mundo não desabe” – Disse Renma, com os olhos desfocados e aquela expressão que não pertencia a ela.

- Não acredito que era apenas isso. – Dys falou decepcionado. Como se já esperasse algo do gênero, ou algo mais espantoso, não sei dizer qual.

- O que você quer dizer? – O questionei, surpreso comigo mesmo por fazê-lo.

- Não posso falar. Devem descobrir por si mesmo. – Dys falou chateado, provavelmente irritado com a sua expectativa super-elevada. – Mas você, como não me disse algo de útil, sei que não poderei usá-la e por isso irei matá-la.

E com isso Dys partiu para o ataque novamente, mas Renma não deu sinal de qualquer reação e por isso todos os nossos companheiros ficaram preocupados e tentaram correr para ajudá-la. Mas foram impedidos pela barreira que havia voltado a aparecer.

- Droga de barreira. – Disse Dankan ao mesmo tempo em que dava um soco na barreira. – Não podemos ajudá-la mesmo que queiramos.

- Não se preocupem aparentemente o lado deles não planeja ajudar. -  Disse Mike tentando amenizar a situação.

- Isso é injusto! – Disse Red batendo o pé. – Renma!!!!!!

No momento que Red gritou, Renma pareceu ter reagido e faltando poucos centímetros para Dys acertá-la, Renma criou um tornado em sua volta repelindo-o totalmente e jogando-o conta a parede.

Apesar de o ataque ter sido feito na hora correta, tive a impressão de que não era essa a intenção de Renma. Quando Renma se virou em nossa direção, vi que os olhos dela ainda estavam desfocados e que agora ela emanava uma sensação mais agressiva da que ela costumava ter.

Acho que posso dizer que não era exatamente ela, parecia que estava em transe, como um sonâmbulo. O que era um pouco preocupante.

Mas antes que eu pudesse manifestar qualquer coisa, Renma pulou e se direcionou para onde Dys havia sido jogado. E então começou a disparar varias bolhas pequenas de ar comprimido, o que aparentemente estaria causando grandes danos a Dys, pois aquilo era capaz de atravessar grandes blocos de pedra.

Renma atirou tantas que começou a subir poeira.

Quando a poeira baixou viu-se que Dys estava de pé com poucos ferimentos, apenas alguns arranhões, sendo o mais sério deles um corte no ombro direito, mas aquilo não parecia incomodá-lo.

- Vejo que posso usar meu verdadeiro poder então, sem nenhum remorso. – Disse ele mostrando um sorriso macabro, ou algo parecido alguém com aparência de criança, no rosto.

Dys começou então a se comprimir e então saltou fez um movimento de separação das pernas e dos braços, o que causou uma pequena explosão sônica, e logo após isso pode-se ver asas saindo de suas costas.

- Agora poderemos lutar de igual para igual no ar. – Falou Dys. Mas Renma não deu qualquer sinal de interesse em suas palavras.

O que você diria que era uma batalha equilibrada não valia exatamente para o que se via aqui. Era uma batalha aérea de agilidade, era tão acirrada que qualquer erro na posição de uma perna poderia custar sua vida.

E o interessante era que a batalha parecia uma versão aérea da batalha de Marcos, sendo que Dys seria Marcos que tentava encontrar uma abertura nos ataques de Renma, que possuía uma pequena vantagem por causa do alcance de sua arma.

Mas ainda sim era diferente na forma que a batalha seguia. Como era uma batalha aérea se tinha mais possibilidades, como seguir por vários lados para atacar em um ponto desprotegido.

Que o foi o que Dys fez. Durante um das investidas de Renma, que havia atacado com a foice em um movimento diagonal, Dys se aproveito de sua movimentação para seguir para as costas de Renma, que era um pouco que sua armadura não cobria. Mas o mais estranho foi a demora dele para atacar o que deu a oportunidade para Renma de desviar do golpe de seu Katar, mas ao notar isso, Dys conseguiu desferir um chute nas costas de Renma jogando-a em direção ao chão.

Para a surpresa de todos, Renma conseguiu criar uma camada de vento a poucos milímetros do chão, fazendo com que uma boa parte do impacto fosse contida causando menos dano a ela do que poderia. Mas ainda sim era algo preocupante, vê-la lutar naquelas condições.

- Devo parabenizá-la por durar tanto tempo lutando contra Dys.- Falou Zhyk, fechando o livro e mostrando novamente um certo interesse pela luta que estava ocorrendo. – Nunca ninguém o viu lutar assim, ainda mais sobreviver após isso.

Não queria admitir, mas algo me dava essa sensação. Pois no momento em que Dys manifestou suas asas ele começara a impor o ritmo da luta, o que não deveria acontecer, até mesmo porque Renma possuía uma leve vantagem sobre a arma e o estilo de combate dele.

Renma pareceu ler meus pensamentos, pois começou a criar correntes de ventos pela sala, causando problemas de movimentação para Dys, que começava a ser jogado de um lado para o outro pelas correntes de ar.

Aproveitando-se disso, e o fato de conseguir prever para onde as correntes de ar iriam, Renma jogou sua foice em uma corrente de ar, o que fez com que ela e acertar Dys, e mesmo que de raspão conseguiu cortá-lo um pouco.

Quando a foice voltou para Renma, ela iria tentar fazer a mesma coisa. Mas aparentemente Dys havia se acostumado com a constante mudança no ar, se moveu para perto de Renma para prevenir outro ataque daqueles.

- Não cairei no mesmo truque duas vezes. Vamos ver o que fará sem essa foice irritante. – E com isso Dys acertou o antebraço de Renma fazendo-a soltar a foice e então chutou a foice para o chão, que ficou cravada lá.

E então ele fez algo um pouco surreal, ele fundiu seu braço com o Katar, o que fez de seu braço uma garra que parecia uma lamina de espada com dedos. Aparentava ser extremamente cortante, e então ele cortou o ar, (sim o ar) e fez com que as correntes de ar parassem.

- Agora irei manifestar meu poder por completo!! – Anunciou Dys. – Prepare-se.

Dys segurou seu braço esquerdo e aparentemente estava juntando forças para ele, e quando o braço começou a brilhar o suficiente ele fez um movimento vertical com o braço e então saiu uma faixa crescente luminosa de seu braço.

- Vamos ver como você contra-atacará sem sua Foice. Falou Dys orgulhoso como se já tivesse ganhado a luta.

- Eu...Não...Preciso... De uma arma!!! – Gritou Renma.

E então uma enorme quantidade de vento invadiu o salão, aumentando radicalmente a pressão naquele lugar. E esses ventos se concentravam em volta de Renma que estava entre eles como se formasse um funil de vento em sua volta, e eu diria que aquilo teria a força de um tornado F5, se eu fosse um especialista é claro.

 Assim que o ar ficou comprimido o bastante, Renma fez com que ele começasse a se mover pelo salão indo de encontro com o golpe de Dys, causando uma enorme onda de impacto que fez até as chamas das tochas tremeluzirem.

As forças dos golpes pareciam ser as mesmas, porem como o tornado de Renma era maior, ainda que comprimido, conseguiu extinguir o golpe de Dys e então seguiu em sua direção sugando-o para dentro do tornado e foi de encontro com a parede quebrando tudo e soterrando Dys embaixo da maior pilha de escombros até agora vista.

Após isso Renma, entrou em colapso no ar e foi caindo.

Todos correram para ajudá-la, mas por algum motivo a barreira ainda estava ativa. E por isso ninguém pode passar para ajudá-la e então todos nós achamos que aquele seria o fim de Renma, pois ela estava machucada pela batalha e caindo daquela altura nada indicaria que ela poderia sobreviver.

- Ops. Essa é um bom espécime para estudar. Esse poder dos ventos e essa outra característica de sua personalidade não são comuns nem mesmo para nós. – Disse Zhyk aparando Renma nos braços. – Não posso deixar que morra agora, tenho que estudar sobre ela o Maximo possível enquanto ainda tenho tempo. – Continuou seguindo em direção a saída.

- ESPERE!!! – Gritaram Dankan e Red em uníssono.

- Aonde pensa que irá levar minha amiga? – Disse Red frustrada apoiando as mãos na barreira.

- Não coloque as mãos em minha presa!! – Gritou Dys, sabe-se lá da onde, aparecendo todo ensangüentado nas costas de Zhyk.

- Crianças teimosas deveriam dormir. – E ao falar isso movimentou uma das mãos para baixo e logo Dys estava no chão se contorcendo para se levantar. – Não gaste energia atoa, sabe que não pode escapar da minha prisão gravitacional.

- Agora que esta tudo decidido irei me retirar. – Quando Zhyk disse isso, uma parte da barreira pareceu se quebrar e um raio passou por ela indo em direção a Zhyk.

Quando o raio tomou forma vi que era Dankan, que havia conseguido passar pela barreira.

- Derrote-me primeiro e então veremos se conseguirá levá-la daqui. – Disse Dankan em tom desafiador com confiança e ódio ao mesmo tempo.