Passei a noite inteira acordada tentando entender os últimos acontecimentos. Depois que meu pai me disse que eu fiquei 3 meses desaparecida alguns policiais pegaram meu depoimento no hospital, o que eu achei inútil, já que eu não conseguia me lembrar de nada, absolutamente nada. Meu pai apagou no sofá ao lado da minha cama de hospital, ele não devia dormir assim a muito tempo, mas eu permaneci acordada, com a cabeça girando enquanto vasculhava meu subconsciente, na esperança de encontrar algo que pudesse jogar uma luz em cima de todo esse mistério.

Finalmente amanheceu e eu consegui ter alta, pra falar a verdade não via a hora de ir embora para casa, aquele hospital me dava arrepios, ou se não era só a minha mente extremamente fértil. Meu pai dirigiu com cuidado redobrado enquanto íamos pra casa, eu olhava a paisagem do lado de fora perdida em pensamentos, ate que fui puxada do meu transe com meu pai me chamando.

-E então Elizy, vai sair do carro e entrar em casa?!- Meu pai perguntou com um sorriso terno no rosto.

Sai do carro e andei em direção a casa que me era tão familiar, afinal eu tinha crescido ali, mas ao mesmo tempo tudo parecia novo demais para ela. Enquanto analisava essa sensação, tomou um susto com Hanna saindo como um furacão pela porta da frente e correndo em direção a ela.

-Elizy, nem acredito que você está de volta amiga!- Hanna disse me dando seu típico abraço de urso.- Senti tanto a sua falta, pensei que nunca mais ia te ver e...

Os olhos de Hanna estavam cheios de lagrimas e eu pude ver o quanto eu tinha feito falta.

-Eu estou de volta amiga, é isso que realmente importa agora.- eu disse abraçando-a o mais forte que eu podia.

-Tudo bem meninas, sei que vocês tem muito o que conversar, mas é melhor fazer isso do lado de dentro da casa não acha?!- Meu pai disse ao se aproximar de nós.

Sorrimos para ele e entramos. Hanna não parava de falar em como estava feliz por me ver de novo, que havia vindo todos os dias na minha casa e mantido tudo em ordem, que meu pai era um verdadeiro desorganizado e que tínhamos muitos assuntos para colocar em dia.

Preparamos o jantar como sempre fazíamos quando Hanna estava na minha casa, depois assistimos a um pouco de TV com meu pai e então subimos para o meu quarto.

-E então, como se sente estando de volta?- Hanna me perguntou se jogando na minha cama.

-Sinceramente? Estranha!-Eu disse por fim.

Hanna me olhou com duvida.

-Estranha? Mas por que?- ela perguntou.- Pensei que se sentiria feliz por estar de volta!

-E estou, só que tudo está ao mesmo tempo igual e diferente.- Eu disse me sentando ao lado dela na cama.- Minha cabeça está uma confusão, não consigo acreditar que eu fiquei 3 meses desaparecida e não lembro de nada que aconteceu ou de onde eu estava!

Por alguns minutos ficamos em silencio. Era frustrante eu ter perdido 3 meses da minha vida e não me lembrar de nada.

-Sabe o que eu acho que você precisa?- Hanna me perguntou levantando da cama como seu costumeiro bom humor.- Acho que você precisa do famoso brigadeiro da Hanna e de uma noite de atualizações.

-Só você mesmo.- eu disse me levantando sorrindo e abraçando ela.

-Eu sei, eu sei, eu sou demais.- Ela respondeu com seu lindo sorriso.- Mas agora por favor Elizy, vá tomar um banho, você está com um cheiro de hospital terrível.

Hanna saiu saltitando do quarto e foi em direção a cozinha. Eu segui seu conselho e fui tomar um longe banho, realmente precisava tirar esse cheiro de hospital. Enquanto estava no chuveiro escutei um estrondo e me assutei.

-Hanna, é você? –Perguntei do banheiro do meu quarto, mas não obtive resposta.

Vesti o roupão, sai do banheiro e me deparei com algo no mínimo inusitado. A janela do meu quarto que quando eu entrei estava fechada com um cadeado agora estava escancarada e batia contra a parede, ao ritmo do vendo raivoso que entrava. Um arrepio subiu pelas minhas costas, corri para fechar a janela.

- O que houve?- Hanna perguntou entrando no quarto vestindo seu pijama de frio que tinha asas de anjo desenhadas nas costas e com uma panela de brigadeiro na mão.

-A janela se abriu com o vento, eu acho.- respondi ainda com duvidas sobre o que realmente tinha acontecido.

-Deixa que eu ajeito isso, vá vestir seu pijama porque tenho muitos assuntos para te atualizar.- ela disse pegando o cadeado da minha mão.

Entrei no banheiro novamente, vesti meu costumeiro pijama de moletom e fui de encontro a Hanna que me esperava sentada no tapete do meu quarto, comendo um colher de brigadeiro. Me sentei ao seu lado e logo ela começou a me contar das coisas que tinham acontecido nesses últimos 3 meses. Não vi a hora que pegamos no sono.

“A casa estava escura, me levantei com um susto, sentia alguém me observando, procurei por Hanna mas não a encontrei em lugar nenhum no quarto, mexi no apagador mas a luz não se acendeu. Um misto de medo e adrenalina percorria minhas veias. Sai do meu quarto e fui em direção ao corredor, parei em frente ao quarto do meu pai, ele também não estava lá, continuei andando, mas de repente passos me chamaram a atenção, olhei para trás e pude ver apenas uma sombra. Fiquei paralisada, tentei gritar mas a voz não saia. A sombra então começou a se aproximar, fechei os olhos tentando afastá-la de mim e imediatamente senti cheiro de queimado, quando abri os olhos novamente vi os dizeres escritos na parede do corredor:

‘A HORA ESTÁ PROXIMA, EM BREVE VOCÊ TERÁ QUE ESCOLHER DE QUAL LADO IRÁ FICAR!’”

E então eu acordei, suando e ofegante. Hanna continuava em seu sono pesado deitada no colchão inflável ao lado da minha cama. Me levantei tentando organizar meus pensamentos e fui tomada pelo horror quando me deparei com a parede do corredor, nela estavam escritas as mesmas palavras do sonho, porem agora elas eram apenas cinzas e não fogo flamejante.

E então eu tive certeza, aquilo não tinha sido um sonho...