Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara


Capítulo 7
Capítulo 7 - O Concerto




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O Natal no orfanato foi grandioso como um “Alegro non motto”, pelo menos nada faltou à mesa. Eu me reconfortava com o fato de que “Papai Noel” não esqueceria aquelas crianças.

***

_ Estou feliz – ela agarrou o braço de seu agente.

_ Disponha – Kazuyuki beijou-lhe as mãos. – Use as luvas, suas mãos estão frias.

_ Está bem – ela pegou as luvas do casaco quando sentiu o celular vibrar. – Alô?! Já estamos saindo, Bianca. No hall de entrada, então. Até depois. Beijos.

_ Sua amiga? – abriu a porta do carro para Erika.

_ Aham! Ela está ansiosa – sorriu enquanto escorregava para o assento.

_ Até parece. E você não? – ele ligou o carro e virou para ela erguendo a sobrancelha.

_ Sem comentários – deu-lhe o palmo de língua.

Kazuyuki a surpreendeu. Inesperadamente, ele tomou seus lábios num gesto possessivo. Ela não se importava, pois fazia muito tempo desde a última vez. O hálito com gosto de menta a deixava sem nenhuma vontade própria para se afastar.

Erika aconchegou a cabeça no ombro dele enquanto sentia a mão grande acariciar seus cabelos na nuca. Mãos que lhe davam segurança quando entrelaçadas nas suas, mas que podiam ser ternas e provocadoras quando passeavam por seu corpo.

Ele se afastou levando-lhe um suspiro lânguido. Os olhos negros dele faiscavam enquanto o coração dela disparava. Aos poucos a respiração se suavizava fazendo o agente voltar. A razão controlava novamente a compositora. Eles seguiram em silêncio até chegarem ao teatro municipal.

_ Erika... – ele sussurrou-lhe no ouvido segurando-a pelo cotovelo. – Conversaremos depois – os flashes das máquinas pipocavam em torno deles.

Ela anuiu sorrindo enviesada. Bianca já a aguardava e Erika foi apresentada aos seus pais, que não entendiam o alvoroço em torno de sua presença. Para os Monelli, ela era apenas uma estudante de música. Richard havia cedido ingressos para o melhor lugar. Kazuyuki interveio rapidamente, conduzindo-os para o camarote.

Bianca era incansável ao elogiar-lhe o gesto gentil, mas algo nesse gesto deixava Erika desconfortável, fazendo-a sentir um zumbindo alertando sua mente. Os anos no meio artístico a haviam treinado para o perigo. E Richard...

A amiga e os pais se sentaram nas três cadeiras da frente enquanto os dois ficaram logo atrás. As luzes se apagaram e o concerto iniciou impecavelmente no horário. No escuro, Erika corou de contentamento ao sentir sua mão envolvida. E ao fechar os olhos foi transportada ao passado pela música que Richard tocava.

_ Por que você está me deixando? – a raiva estava estampada em seu rosto.

_ Por causa disso, Hikari. Simplesmente não conseguimos mais manter uma conversa civilizada e fica muito difícil continuar a agenciá-la. Mas não se preocupe Hiura é um ótimo agente.

_ Como assim é um ótimo agente? Quando você me consultaria?

_ Estou fazendo isso agora. Ele está lá fora.

_ Você está louco para se livrar de mim, não é? – disse magoada. – Faça-o entrar... O que está esperando?

_ Tudo bem – Tsuchiya Kamizono abriu a porta.

Erika não quis dar o braço a torcer de imediato, mas tinha gostado do rapaz. Ele parecia uma pessoa comum, mas ao contrário isso parecia destacá-lo. Kamizono saiu apressado deixando-os a sós.

_ Qual o seu nome? – ela pegou uma maçã dando uma mordida suculenta.

_ Kazuyuki Hiura – ele curvou-se num cumprimento pomposo qual um gentleman fazendo Erika gargalhar até lagrimar.

_ O que faz... você pensar... que consegue... me agenciar? – conseguiu dizer entre as risadas enxugando os olhos.

_ Sei tudo sobre você – seu sorriso era confiante.

_ Ah, é? – olhou-o totalmente incrédula. – Então, o que me deixaria zangada.

_ Isso, por exemplo.

Ele aproximou-se dela carregando-a sob protesto para seu quarto.

_ Seu bruto. O que você pensa que está fazendo? – ela esperneava e socava-o no ombro.

Kazuyuki depositou-a no chuveiro, molhando-a da cabeça aos pés, fazendo-a soltar um grito por causa da água gelada e vários impropérios.

_ Você tem uma sessão de fotos. Esteja pronta em dez minutos. Por que se não cumprir o horário... – sorriu novamente seguro de si - posso eu mesmo lhe dar banho, enxugar e vesti-la.

_ Sai fora! – ela bradou.

_ Parece que consegui deixá-la zangada, afinal – ele fechou o box e saiu assoviando.

Erika riu da lembrança. Eles tinham caminhado juntos e discordavam em quase tudo, porém a placidez franca dos olhos dele lhe trouxe a paz que necessitava. E agora, ela sentia o coração apertado, pois morria aos poucos todas as vezes que ele se afastava.

_ Nós precisamos ir – a voz enrouquecida despertou-a do breve devaneio.

_ Já? – tentou decifrar os olhos dele no escuro.

_ Prefere ficar que comemorar seu aniversário – ele sussurrou em seu ouvido fazendo-a se arrepiar.

_ Bianca... – tocou o ombro da amiga. – Você agradece Richard por mim?

_ Você nem vai ficar até a pausa? Ele vai ficar triste.

_ Como assim? – sentiu novamente aquele alerta, mas foi tarde a luz do holofote se acendeu sobre eles.

_ Senhoras e senhores. Feliz Natal!!! Obrigado por terem vindo a este concerto. – Richard falou ao microfone e foi aplaudido. – Neste ano, fui aceito na Tokyo Federal Art University. Muitos de vocês podem pensar: “O que mais um garoto prodígio poderia aprender...” Bem, talvez que eu não sou o único – sorriu maroto – infelizmente. Mas, está sendo muito gratificante travar conhecimento com outros alunos talentosos. Especialmente... – mostrou-se tímido arrebatando um “ohhh” da platéia ante sua declaração. – Duas garotas, que estão presentes hoje. Garotas?

Erika olhou surpresa para Kazuyuki, que parecia preocupado e agora, Bianca tinha um ar culpado.

_ Você sabia? – disse incrédula e depois sussurrou para que somente ela ouvisse – obrigada pela dor de cabeça que vou ter com a imprensa.

_ Mas... Ele disse que isso não prejudicaria você – a amiga fez bico quase às lágrimas.

_ Elas são um pouco tímidas. Deixe-me apresentá-las – Richard apontava para o camarote iluminado. – Bianca Monelli e sua voz de rouxinol acompanhada de seus pais – eles acenaram ganhando aplausos da platéia. – E Hikari Tsuki, nossa compositora mais cotada com seu agente. Levante-se, querida! Não vemos você “aí” atrás.

Erika não teve outra escolha e pôs em seu rosto seu melhor sorriso. As câmeras de celulares pipocaram e um burburinho se formou.

_ Dedico a essas duas garotas a próxima música. Aliás, é uma de suas composições mais recentes. “Encanto”, que tem versos muito bonitos. Mas... Eu vou me abster de cantar porque sou melhor no violino.

A escuridão tomou conta enquanto seu corpo tremia de raiva.

_ Senhor Morelli – Kazuyuki apertou-lhe a mão. – Senhora Morelli, Bianca – beijou a mão das duas galantemente. - Foi um enorme prazer, mas diante das circunstâncias... Teremos de sair sorrateiramente – ele sorriu de modo seguro e calmo. – Hikari... Venha.

***

Por que procuramos a nós mesmos dentro das trevas? O olhar de Bianca pedia desculpas num mudo silêncio e tudo que pude fazer foi tocar-lhe o rosto amigavelmente antes de partir.


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Notas finais do capítulo

Bem... Definitivamente foi uma armação. Erika já não estará anônima. Como ela enfrentará a imprensa? Será que isso poderá estremecer a amizade dela com Bianca? Katsuyuki é apenas um caso ou um romance sério? Erika dará o troco para Richard? Não percam!!!