Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Esbarrão




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Meu maior sonho é compor um clássico, a obra-prima de minha vida, uma Sinfonia para ser tocada pela orquestra que seguiria os gestos de minha batuta.

A melodia ressoava em minha mente, um “adagio”, isso teria que ficar para mais tarde, pois aquele lugar era uma mini cidade.

***

Erika estava perdida e tinha apenas cinco minutos para achar sua sala de aula. Ela corria olhando para o relógio e não percebeu mais duas pessoas correndo em sua direção.

O problema era que as outras duas pessoas também não olhavam e no final... Eram corpos, braços, e pernas misturadas num bolo como se eles fizessem parte de uma coisa só.

_ Ow! Tira a mão da minha b...

Mas Erika interrompeu o garoto antes que ele terminasse dizendo onde a mão dela foi parar.

_ É você quem está com a cabeça nas minhas coxas! – Erika empurrou o rosto dele com as mãos.

_ Espera... Não se mexe... Acho que você não precisava apertar o meu seio.

Eles acabavam de descobrir que havia uma terceira pessoa.

_ Ah! Desculpa – Erika se levantou com tudo fazendo o garoto escorregar por suas pernas e se estatelar no chão enquanto limpava a poeira de sua saia. – Você está bem?

_ Estou. Obrigada – a garota agradecia pela ajuda em se levantar.

_ Você tem dinheiro para pagar seguro por danos físicos? – o garoto levantou o rosto irado.

_ Meu Deus! – a garota parecia surpresa ao levar a mão à boca. – Esbarramos em Richard Kamioka.

_ Quem? – Erika pôs a mão na cintura.

_ Você não conhece o garoto prodígio.

_ É claro que conheço, mas tenho certeza de que não é esse tarado. Talvez... – olhou para ele e assustou-se com a semelhança. Ele se sentava esfregando o punho como se estivesse dolorido – alguém muito semelhante.

_ Sou o próprio! Como se chama? – disse sério levantando-se enfim.

_ Amane – ela hesitou por um momento – Erika Amane.

_ E o seu? – o sorriso perfeito dele parecia inofensivo a princípio.

_ Bianca Monelli – a garota respondeu conrando levemente. - Você acabou de me dar um autó...

_ Bom saber... Receberão uma notificação da diretora se minha mão inchar. - Richard lançou um sorriso arrebatador para dizer sarcástico.

Ele continuou a se limpar e quando se deu por satisfeito pôs-se a caminhar sem olhar para trás.

“Que pena! Tão bonito por fora... Dentro é uma casca vazia.” Bianca guardava os pensamentos para si.

_ Hunf! Idiota! – Erika ajuntou uma pedrinha acertando-o bem na nuca de Richard.

Por um momento ela pensou que o garoto voltaria, mas ele apenas esfregou a nuca e ereto prosseguiu até sumir de visão.

A garota estava de boca aberta, petrificada com sua atitude e parecia querer lhe dizer algo, mas a campa soou avisando ambas que deveriam correr. E elas correram lado a lado.

_ Você sabe onde fica o prédio do primeiro ano? Sala 1-A?

_ É só me seguir... Você é da minha sala.

_ Que bom! Prazer!! – Erika estendeu a mão enquanto corria.

_ Igualmente... Apesar do esbarrão e tudo... – a garota riu trocando a pasta de mão para lhe cumprimentar.

Por sorte, o professor ainda não havia chegado, mas... Por azar, “o garoto Id” encontrava-se sentado. A expressão impassível não demonstrava conhecê-las.

Havia somente dois lugares disponíveis, um ao lado e outro atrás dele. Erika bateu propositadamente com a pasta no braço dele antes de se sentar atrás.

_ Ah! Desculpa. Eu sou tão desastrada – fingiu arrependimento e acrescentou num sussurro só para ele. – Pode acrescentar isso também... antes de falar com a diretora, bebezinho.

_ Bom Dia, classe! Aos alunos novos sejam bem-vindos – o professor de História da Música chamou a atenção para si. – Meu nome é Kondo, Chikara. Sou conhecido como o professor Esparta. Então... Estejam avisados de que a minha matéria pode reprovar. Quem acha que pode faltar porque esta matéria é fácil já está na minha lista negra. Por favor, abram na página cinco. Agora, quem pode me responder... O homem primitivo fazia música?

Os alunos se calaram retirando seus materiais da mochila e pastas, o barulho de páginas folheadas chegou até os ouvidos de Erika, que discretamente anotou aqueles sons, convertendo-os para notas musicais em seu caderno pautado.

***

Muito mais tarde durante o intervalo... Ela se sentou numa mesa vaga. Richard Kamioka estava de pé procurando em vão um lugar vago. Os olhos deles se encontraram e ela se divertiu por notar-lhe a indecisão. Ela sorriu erguendo a sobrancelha e provocou apontando-lhe a cadeira vaga em sua mesa.

_ Venha! Vamos fazer as pazes – Bianca surgiu ao lado dele.

Richard a acompanhou em silêncio, demonstrando claramente que não era sua vontade e sentou-se na cadeira mais distante da “louca” como ele a nomeou mentalmente. Bianca era afável e não parecia notar o clima pesado ou simplesmente era desligada demais.

_ Como eu estava dizendo... – Bianca se sentou na cadeira entre os dois – que tal começarmos de novo?

_ Por mim... – Erika balançou os ombros em descaso enquanto sorvia o suco.

_ Desde que essa desmiolada mantenha as mãos longe de mim – ele espetava a salada com garfadas vigorosas sem a menor necessidade, demonstrando seu estado de humor apesar de novamente adotar aquela máscara inexpressiva.

_ Kamioka, posso chamá-lo de Richard?

Ele simplesmente assentiu continuando a estraçalhar sua comida.

_ Eu sou italiana, mas o meu nome já me denuncia – Bianca era incontestavelmente linda mesmo sem sorrir, mas sorrindo era realmente o retrato de candura. – Tenho dezessete anos e adoro comer doces – apontou para o prato de bolo. – E quero me formar em Instrumento e Canto Lírico.

Como Richard continuava taciturno, Erika se dipôs a falar de si.

_ Acho que minha aparência fala por mim. Eu também tenho dezessete e tenho por mania comer tudo que aparecer na minha frente e for comestível... – nesse ponto ela foi interrompida por Richard que tossia ao se engasgar, mas ela continuou sem dar importância - ... Eu quero ser compositora.

_ Você está bem? – Bianca se virou genuinamente preocupada com Richard.

_ Não toque em mim! – ele foi categórico quando recuperou o fôlego evitando que Erika batesse em suas costas.

_ Okay! – ela levantou as mãos e passou a devorar o sanduiche de salada com apetite fazendo a maionese escorrer pelo canto da boca, inconsciente da sedução que provocava no rapaz passou a língua para limpar o excesso.

_ Errr... – ele saiu do transe temporário – eu preciso ir.

_ Espera! – Bianca segurou-o levemente pelo braço. – Você não nos disse nada a seu respeito.

_ É só ir às bancas. Saberá tudo que quiser comprando uma revista – ele sorriu de forma profissional e se afastou.

_ Hunf! É um completo “ID”.

_ Você não está com pressa, está? – os olhos verde-água a fitavam com tristeza suplicando por mais alguns minutos.

_ Na verdade... Estava, mas espero você terminar. É que estava indo procurar a sala de Canto Coral, sou boa para me perder – Erika sorriu enviesada.

_ Ah! Temos mais uma aula em comum. – Bianca simplesmente sorriu feliz – então, podemos conversar. Se, pretende cursar Composição e Arranjo, deve estar com a grade de programação cheia... Vai ter aulas-extras?

_ Aham! – disse preocupada – nem sei se vou dar conta.

_ Instrumento também?

_ Piano.

_ Nossa! E quem vai ser seu professor?

_ Tokunaga, Amahiro.

_ Meu Deus! Então... Você deve ser tão talentosa quanto o Richard.

_ Quem me dera... Ele tem o que eu não tenho.

_ E o que seria? – Bianca estava surpresa.

_ Técnica – Erika se calou e por fim desbafou – ele era meu ídolo. Estou decepcionada por ele ser tão “ID”. Mas, você não me ouviu falar isso certo? Eu prefiro morrer antes de confessar isso para ele.

_ O que é ID?

_ Abreviatura para idiota.

Bianca riu ante de tecer seu comentário.

_ Vai ver... Ele só não teve tempo para nos conhecer melhor. Tem pessoas que demoram a se socializar... – Bianca o defendeu.

_ Minha intuição nunca falhou até hoje, mas bem que eu gostaria de estar errada desta vez.

_ Tem muito tempo até o final do ano. Terminei. – Bianca se levantou com sua bandeja enquanto Erika terminava de limpar a boca.

_ Quem sabe? – Erika a acompanhou.

***

Nosso encontro havia sido desastroso e com um início tão ruim nunca imaginaríamos que dali floresceria uma amizade, pelo menos tínhamos a certeza de que Richard estava a um passo bem mais longe.


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