Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara
Meu maior sonho é compor um clássico, a obra-prima de minha vida, uma Sinfonia para ser tocada pela orquestra que seguiria os gestos de minha batuta.
A melodia ressoava em minha mente, um “adagio”, isso teria que ficar para mais tarde, pois aquele lugar era uma mini cidade.
***
Erika estava perdida e tinha apenas cinco minutos para achar sua sala de aula. Ela corria olhando para o relógio e não percebeu mais duas pessoas correndo em sua direção.
O problema era que as outras duas pessoas também não olhavam e no final... Eram corpos, braços, e pernas misturadas num bolo como se eles fizessem parte de uma coisa só.
_ Ow! Tira a mão da minha b...
Mas Erika interrompeu o garoto antes que ele terminasse dizendo onde a mão dela foi parar.
_ É você quem está com a cabeça nas minhas coxas! – Erika empurrou o rosto dele com as mãos.
_ Espera... Não se mexe... Acho que você não precisava apertar o meu seio.
Eles acabavam de descobrir que havia uma terceira pessoa.
_ Ah! Desculpa – Erika se levantou com tudo fazendo o garoto escorregar por suas pernas e se estatelar no chão enquanto limpava a poeira de sua saia. – Você está bem?
_ Estou. Obrigada – a garota agradecia pela ajuda em se levantar.
_ Você tem dinheiro para pagar seguro por danos físicos? – o garoto levantou o rosto irado.
_ Meu Deus! – a garota parecia surpresa ao levar a mão à boca. – Esbarramos em Richard Kamioka.
_ Quem? – Erika pôs a mão na cintura.
_ Você não conhece o garoto prodígio.
_ É claro que conheço, mas tenho certeza de que não é esse tarado. Talvez... – olhou para ele e assustou-se com a semelhança. Ele se sentava esfregando o punho como se estivesse dolorido – alguém muito semelhante.
_ Sou o próprio! Como se chama? – disse sério levantando-se enfim.
_ Amane – ela hesitou por um momento – Erika Amane.
_ E o seu? – o sorriso perfeito dele parecia inofensivo a princípio.
_ Bianca Monelli – a garota respondeu conrando levemente. - Você acabou de me dar um autó...
_ Bom saber... Receberão uma notificação da diretora se minha mão inchar. - Richard lançou um sorriso arrebatador para dizer sarcástico.
Ele continuou a se limpar e quando se deu por satisfeito pôs-se a caminhar sem olhar para trás.
“Que pena! Tão bonito por fora... Dentro é uma casca vazia.” Bianca guardava os pensamentos para si.
_ Hunf! Idiota! – Erika ajuntou uma pedrinha acertando-o bem na nuca de Richard.
Por um momento ela pensou que o garoto voltaria, mas ele apenas esfregou a nuca e ereto prosseguiu até sumir de visão.
A garota estava de boca aberta, petrificada com sua atitude e parecia querer lhe dizer algo, mas a campa soou avisando ambas que deveriam correr. E elas correram lado a lado.
_ Você sabe onde fica o prédio do primeiro ano? Sala 1-A?
_ É só me seguir... Você é da minha sala.
_ Que bom! Prazer!! – Erika estendeu a mão enquanto corria.
_ Igualmente... Apesar do esbarrão e tudo... – a garota riu trocando a pasta de mão para lhe cumprimentar.
Por sorte, o professor ainda não havia chegado, mas... Por azar, “o garoto Id” encontrava-se sentado. A expressão impassível não demonstrava conhecê-las.
Havia somente dois lugares disponíveis, um ao lado e outro atrás dele. Erika bateu propositadamente com a pasta no braço dele antes de se sentar atrás.
_ Ah! Desculpa. Eu sou tão desastrada – fingiu arrependimento e acrescentou num sussurro só para ele. – Pode acrescentar isso também... antes de falar com a diretora, bebezinho.
_ Bom Dia, classe! Aos alunos novos sejam bem-vindos – o professor de História da Música chamou a atenção para si. – Meu nome é Kondo, Chikara. Sou conhecido como o professor Esparta. Então... Estejam avisados de que a minha matéria pode reprovar. Quem acha que pode faltar porque esta matéria é fácil já está na minha lista negra. Por favor, abram na página cinco. Agora, quem pode me responder... O homem primitivo fazia música?
Os alunos se calaram retirando seus materiais da mochila e pastas, o barulho de páginas folheadas chegou até os ouvidos de Erika, que discretamente anotou aqueles sons, convertendo-os para notas musicais em seu caderno pautado.
***
Muito mais tarde durante o intervalo... Ela se sentou numa mesa vaga. Richard Kamioka estava de pé procurando em vão um lugar vago. Os olhos deles se encontraram e ela se divertiu por notar-lhe a indecisão. Ela sorriu erguendo a sobrancelha e provocou apontando-lhe a cadeira vaga em sua mesa.
_ Venha! Vamos fazer as pazes – Bianca surgiu ao lado dele.
Richard a acompanhou em silêncio, demonstrando claramente que não era sua vontade e sentou-se na cadeira mais distante da “louca” como ele a nomeou mentalmente. Bianca era afável e não parecia notar o clima pesado ou simplesmente era desligada demais.
_ Como eu estava dizendo... – Bianca se sentou na cadeira entre os dois – que tal começarmos de novo?
_ Por mim... – Erika balançou os ombros em descaso enquanto sorvia o suco.
_ Desde que essa desmiolada mantenha as mãos longe de mim – ele espetava a salada com garfadas vigorosas sem a menor necessidade, demonstrando seu estado de humor apesar de novamente adotar aquela máscara inexpressiva.
_ Kamioka, posso chamá-lo de Richard?
Ele simplesmente assentiu continuando a estraçalhar sua comida.
_ Eu sou italiana, mas o meu nome já me denuncia – Bianca era incontestavelmente linda mesmo sem sorrir, mas sorrindo era realmente o retrato de candura. – Tenho dezessete anos e adoro comer doces – apontou para o prato de bolo. – E quero me formar em Instrumento e Canto Lírico.
Como Richard continuava taciturno, Erika se dipôs a falar de si.
_ Acho que minha aparência fala por mim. Eu também tenho dezessete e tenho por mania comer tudo que aparecer na minha frente e for comestível... – nesse ponto ela foi interrompida por Richard que tossia ao se engasgar, mas ela continuou sem dar importância - ... Eu quero ser compositora.
_ Você está bem? – Bianca se virou genuinamente preocupada com Richard.
_ Não toque em mim! – ele foi categórico quando recuperou o fôlego evitando que Erika batesse em suas costas.
_ Okay! – ela levantou as mãos e passou a devorar o sanduiche de salada com apetite fazendo a maionese escorrer pelo canto da boca, inconsciente da sedução que provocava no rapaz passou a língua para limpar o excesso.
_ Errr... – ele saiu do transe temporário – eu preciso ir.
_ Espera! – Bianca segurou-o levemente pelo braço. – Você não nos disse nada a seu respeito.
_ É só ir às bancas. Saberá tudo que quiser comprando uma revista – ele sorriu de forma profissional e se afastou.
_ Hunf! É um completo “ID”.
_ Você não está com pressa, está? – os olhos verde-água a fitavam com tristeza suplicando por mais alguns minutos.
_ Na verdade... Estava, mas espero você terminar. É que estava indo procurar a sala de Canto Coral, sou boa para me perder – Erika sorriu enviesada.
_ Ah! Temos mais uma aula em comum. – Bianca simplesmente sorriu feliz – então, podemos conversar. Se, pretende cursar Composição e Arranjo, deve estar com a grade de programação cheia... Vai ter aulas-extras?
_ Aham! – disse preocupada – nem sei se vou dar conta.
_ Instrumento também?
_ Piano.
_ Nossa! E quem vai ser seu professor?
_ Tokunaga, Amahiro.
_ Meu Deus! Então... Você deve ser tão talentosa quanto o Richard.
_ Quem me dera... Ele tem o que eu não tenho.
_ E o que seria? – Bianca estava surpresa.
_ Técnica – Erika se calou e por fim desbafou – ele era meu ídolo. Estou decepcionada por ele ser tão “ID”. Mas, você não me ouviu falar isso certo? Eu prefiro morrer antes de confessar isso para ele.
_ O que é ID?
_ Abreviatura para idiota.
Bianca riu ante de tecer seu comentário.
_ Vai ver... Ele só não teve tempo para nos conhecer melhor. Tem pessoas que demoram a se socializar... – Bianca o defendeu.
_ Minha intuição nunca falhou até hoje, mas bem que eu gostaria de estar errada desta vez.
_ Tem muito tempo até o final do ano. Terminei. – Bianca se levantou com sua bandeja enquanto Erika terminava de limpar a boca.
_ Quem sabe? – Erika a acompanhou.
***
Nosso encontro havia sido desastroso e com um início tão ruim nunca imaginaríamos que dali floresceria uma amizade, pelo menos tínhamos a certeza de que Richard estava a um passo bem mais longe.
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