Uma Carta Para Abrir Os Seus Olhos escrita por Ishiguro Aname


Capítulo 1
A carta - 1ª parte


Notas iniciais do capítulo

Espero que não achem a leitura cansativa e nem confusa. A fic será postada no formato de carta mesmo, mas vai ser dividida em dois capítulos.

Apreciem a leitura e lembrem-se: tem algumas surpresas! haha



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Kameiros, Grécia – 30 de novembro de 2011

Querido amigo,

Sim, é uma carta que estou segurando. Agora a pergunta que não quer calar. Entregar ao seu destinatário ou não? Não sei se o fato dessa pessoa ser minha amiga há anos faz-me sentir mais seguro ou pensar mais uma vez antes de entrega-la. Sabe o que é colocar em risco uma amizade que já dura oito anos?

O detalhe dessa pequena informação é que eu tenho dezenove, então praticamente fui criado por essa pessoa em questão. Vou admitir, devo a minha maturidade a ele, caso contrário estaria jogado às traças com um pacote de cheetos, latinha de coca-cola e quase vesgo de tanto jogar vídeo-game. Sim, eu era viciado em qualquer tipo de jogo eletrônico quando mais novo e não, meus pais jamais me falaram nada. Era ele quem desligava o aparelho da tomada sempre que eu chegava no desafiante fodão! Não que isso me deixasse triste ou com raiva – admita que você em meu lugar pularia no pescoço do infeliz -, pelo contrário, sentia-me protegido!

É engraçado pensar nisso. Quando tínhamos onze anos, nos conhecemos, ou melhor, nos vimos pela primeira vez. Eu, parvo grego feliz com nada e orgulhoso das minhas notas altas – não julgue uma criança e nem o ensino grego, pode ser mais puxado do que pensa! – e ele, francês recatado com medo de se expor ao mundo. Cabelos ruivos e já tão longos... Não posso falar nada em relação a isso, mas não vem ao caso agora. Enfim, voltando, pequeno francês recatado com dificuldades em se socializar. Nunca vi alguém tão sozinho, e tão feliz em sua solidão. Lia algum livro na hora do intervalo – daqueles grossos os quais mesmo um adulto leva meses para terminar de ler – e por vezes ficava dentro da sala de aula mesmo, se não lendo, colocando a correção dos exercícios na lousa, como quase sempre pedia o professor de ciências nas terças. Eu o observava de longe, era tão diferente de mim que quase não conseguia conciliar as informações que ia adquirindo com as minhas observações. Ainda com onze anos e era tão reservado.

Em um infeliz dia, lá pelos meados de novembro, decidi ir conversar com ele – sim, depois de quase um ano letivo inteiro. E não é que o desgraçado não era tão bobo quanto parecia? Além de nem olhar para a minha cara, falou que não era propenso – propenso, de onde ele tirou essa palavra naquela época? – ficar encarando alguém de longe sem se apresentar formalmente. Ainda me lembro do diálogo daquele dia. Eu fiquei tentado a pular no pescoço dele. Além de me roubar o posto de melhor aluno da quinta série, se atrevia a me enfrentar daquele jeito?

- Se notou que eu te olhava, por que não veio falar comigo? – eu já estava alterado e fulo da vida com aquele menino, mas não é que ele tinha olhos bonitos e uma voz aveludada?

- E por que você nunca veio falar comigo? – nem tirou aqueles olhos magníficos e acastanhados do maldito livro pra conversar comigo olhando pra mim!

- Perguntei primeiro! – os clássicos nunca morrem, tinha que ter uma birrinha.

- Não tenho a necessidade de correr atrás de ninguém, quem quiser que me procure. – não tinha o achado rude... Até aquela frase!

- Então por que fez questão de que eu viesse falar com você agora? – o que eu podia falar? Ele havia reclamado, queria dizer que exigia que eu fosse conversar com ele antes, não?

- Não fiz questão de nada, você é quem está tirando as suas próprias conclusões sobre a minha pessoa. Apenas comentei que sempre vi você me observando, analisando isso, significa que estava interessado em algo relacionado a mim, podia ter vindo conversar comigo. – naquele momento  eu realmente não sabia o que falar. Não por falta de interpretação, mas por falta de resposta, ele estava metodicamente certo!

- Esquece, não sei nem porque eu vim até aqui – saí andando, tentado a voltar para a sala de aula e ficar um bom tempo lá, um pouco sozinho também, para ver se era realmente tão bom.

- A propósito, feliz aniversário, Milo Leodônias– primeiro, ele sabia o meu nome completo. Quando foi que eu me apresentei a ele? Segundo, sabia o dia do meu aniversário. Quer dizer que foi procurar saber, certo? Terceiro, eu me senti feliz pensando nisso. Eu deveria ficar feliz com um completo estranho pesquisando sobre a minha vida?

Naquele dia, eu não pude perguntar como sabia aquelas coisas, o sinal tocou e ele sumiu sem que eu nem tivesse me virado pra encará-lo.

A partir daquilo, peguei um livro a cada semana e me sentei ao lado dele, debaixo da mesma árvore, para ler em sua companhia. Se sentava no canto mais frio de toda a escola, justo o mais frio! Quantas não foram as vezes em que me emprestou o seu único agasalho para que eu continuasse ali? Tinha dias em que eu não conseguia pegar a biblioteca aberta e ele se dispunha a recomeçar a ler o livro que há dias acompanhava apenas para que eu ficasse perto. Acabei conhecendo-o melhor através de seu silêncio e, com este, sentindo-me mais confortável do que naquela baderna que costumava ser no meu pequeno grupo de amigos.

Fora-se um mês naquela situação, quase sem diálogo, quase sem aberturas, apenas nos conhecendo através de olhares e leituras, até que o ano letivo deu-se por encerrado e eu não sabia o que ia fazer depois daquele último dia de aula. Não sabia onde morava, nem seu nome completo, telefone para contato ou conhecidos – ele sempre ia embora sozinho, pelo caminho oposto ao meu.

Mas conseguiu me surpreender, mais uma vez, quando no Natal ele bateu à minha porta me desejando um Feliz Natal e dando-me um presente que guardo até hoje – um escorpiãozinho de pelúcia com o meu nome bordado à mão na cauda. Acabei descobrindo naquele dia que, na verdade, morava na esquina da rua onde eu morava, casa que eu julgava estar vazia, por ter um muro de Berlim cobrindo toda a entrada, sendo que as acomodações ficavam no fundo da construção. Não me chamem de louco ou desligado, isso é o que menos sou!

Não deve ser novidade que passamos o resto das férias nos encontrando no portão da minha casa para beber um suco de laranja e ler um livro.

Francês pacóvio, não pode me culpar por ter deixado o seu aniversário passar em branco! Você parecia ter problemas em se expressar, e eu só percebi isso quando notei a sua mudança repentina de livro. Antes, uma história de guerreiros do século XV, naquele momento, na terceira semana de aula, um drama daqueles que fazem o seu coração se apertar cada vez mais a cada parágrafo, até que chegava o final que o quebrava de vez. Naquele final, um menino de doze anos perde a mãe, logo depois do irmão menor sair do hospital. A mãe havia se sacrificado para salvar o menino. Eu lia com ele naquele dia, a minha surpresa maior foi vê-lo chorando sobre a ultima página, onde relatava o desafeto que o menino tivera pela senhora.

Só então entendi que aquela era a história dele próprio, era um livro que ele havia escrito! Não tinha reparado que não tinha o nome do autor e nem a editora na capa. Eram apenas folhas impressas e digitadas encapadas com papelão e tecido. Apesar de muito simples, era bem feito, com todos os acabamentos possíveis.

- O formato do livro torna a leitura mais agradável – foi o que me respondeu.

 Inclusive, tinha as dedicatórias, onde agradecia a um amigo próximo – não tinha o nome citado – por tê-lo ajudado a superar seus medos, fraquezas e temores enquanto escrevia aquele livro. Falava também que a solidão era o seu refugio, mas aquele amigo era o seu consolo e vontade de viver. Meu oásis no deserto.

 Não, ele não era depressivo, passava longe disso! Só era distante, meio fechado. Para alguém de doze anos, que ainda estava na sexta série, aquilo poderia se assemelhar a uma depressão quem o visse de longe, mas não era. Sua solidão era apenas o seu refugio. Assim como falava na dedicatória. Eu era o seu único amigo, seu consolo de vida. Fechou o livro – perfeitamente trabalhado, diga-se de passagem, com cerca de 100 páginas – e se levantou para voltar à sala de aula, sabendo que eu o seguiria, como sempre fazia.

Mas as coisas a partir dali mudaram. Depois de terminar aquele livro, não pegou mais nenhum, então eu lia sozinho alguns que trazia de casa – depois de quase um ano dependendo daquela bibliotecária folgada, o cabeção aqui lembrou que existiam bibliotecas públicas na cidade – e ele apenas ficava observando o lago que ficava à nossa vista – não estranhem ter um lago dentro da minha escola, naquela região isso é perfeitamente normal.

Em um determinado momento, talvez passados uns quatro dias, eu o questionei sobre não trazer mais os seus livros. Aquela resposta foi diferente do habitual. A sua voz estava mais firme. Estranhamente mais forte. Quase forçada... Sim, forçou para que a sua voz saísse firme. Além das suas palavras terem sido estranhamente diferentes também. É, me respondeu com palavras difíceis, como sempre! Mas pareciam cheias de mágoa. Eu pude perceber isso, aquele morfético!

- Não consegui escrever mais nada sem que eu parecesse um loquaz supérfluo.

- Podia falar do seu querido amigo que te dá força e vontade para viver. Eu adoraria ler uma história sobre ele, deve ser tão interessante que...

- Seu narcisista – ele riu pra mim. Reparei que foi a primeira vez que o ouvia rindo, então ri junto... Ele tinha um riso quase tão aveludado quanto a voz.

O engraçado dessa história é que ela começou engraçada e agora está virando um melodrama, bem daquele tipo novela mexicana, mas sem aquelas lavandeiras chorando ou fofocando, isso já seria demais. Se bem que o meu amigo sempre disse que eu falo demais da vida alheia...

 O assunto referente à minha decisão de entregar ou não essa maldita carta ficou também alheio, afinal, é a base do que estou escrevendo. Apenas preciso escrever um pouco mais pra me sentir incentivado. E é uma história bonita, não?

- Você podia se abrir mais comigo, invés de desabafar apenas para o nada. Tudo bem que a escrita é a melhor maneira de desabafar, mas não prefere que alguém ouça o que você tem a falar e lhe ajude? – eu, pelo menos, era assim, ainda sou. Adoro ouvir críticas apenas para criticar a pessoa de volta! Meu amigo sempre riu disso.

- Prefiro que não fiquem muito a par da minha vida pessoal e prefiro não ouvir comentários sobre a mesma. Os problemas são meus, eu quem preciso lidar com eles.

- Teria, se você estivesse sozinho. – ele deve se lembrar que eu segurei sua mão nesse momento. Ah, mas é claro que eu me lembro perfeitamente dele entrelaçando os nossos dedos e não me soltando mais até o fim da última aula.

- Vai insistir até que eu conte, não é?

- Me conhece suficientemente bem para saber que é isso mesmo o que vai acontecer daqui pra frente.

Mais engraçado ainda é que eu estava certo, e ele me contou exatamente a mesma história que lemos da ultima vez, mas com alguns ínfimos detalhes, como, por exemplo, como era a sua relação com o irmão menor. Me descreveu também como ele era, loiro com olhos brilhantes como o lago à nossa frente, ainda mais branco do que o irmão mais velho. Achei aquilo absurdo, meu amigo era ruivo dos olhos castanhos avermelhados e quase moreno – mas eu quase culpava o Sol grego por isso. Apenas aceitei aquilo quando ele me contou que sua mãe – falecida – era também ruiva da pele com sardas, enquanto o pai, completamente loiro. Ainda riu quando brincou que puxou a mãe e seu irmão teve a sorte de puxar o pai.

Também fiquei sabendo que não eram só de aparência aquelas semelhanças. O irmão, por outro lado, puxou a personalidade doce da mãe, assim como o sorriso, enquanto ele, já devia ser de sua natureza ser reservado e parvo – como eu sempre lhe dizia.

Quer saber o que era ainda mais engraçado? É que passou a me contar a sua vida desde o pé até a cabeça! Soube até, em uma manhãzinha comum, que tinha planos para o irmão mais novo – de apenas quatro anos. Queria que se tornasse um renomado médico e impedisse que coisas como o que aconteceu com a mãe deles tornassem a se repetir em um futuro ainda um pouco distante, diga-se de passagem.

Enfim, voltando.

Naquele ano eu fiquei conhecendo ainda melhor o meu amigo, conhecendo lados que nem mesmo os deuses conheciam – apenas eu, exclusivamente eu, ah, como eu adoro isso – e decifrando ainda melhor como ele era. O esquisito é que faria já dois anos que nos conhecíamos, estávamos já na sétima série, e eu, naquele momento, naqueles tempinhos, descobri que na verdade não sabia nada, absolutamente nada sobre ele! Sabe quando você sente que acaba de conhecer uma pessoa que você já observava há tempos? – Não ouse comparar isso comigo! – Pois bem, é exatamente isso! Toda a imagem que havia formado sobre alguém, some por completo e começa a se sentir melhor por conhecer alguém tão legal e interessante.

Observá-lo foi praticamente um ano da minha vida perdido, porque provavelmente o teria conhecido muito antes, mas valeu à pena.

Não precisei me afastar do restante dos meus amigos para podermos ficar sempre juntos. Os dois “grupos” foram se juntando aos poucos. Contei que tenho um amigo tibetano, outro indiano, e aí tem um espanhol, um italiano chato pra cacete, que aos treze anos passou a namorar meu amigo sueco... E por aí vai? Intercâmbistas que acabaram ficando na Grécia, não me culpe se é um dos países que mais atrai turistas viciados em história!

Mas o meu melhor e mais próximo amigo antes do francês chegar era um grego mesmo, Aiolia - Leonino de raça! -, nunca conheci pessoa mais implicante do que ele. O irmão até que era legal, o problema era que quando eles andavam juntos, você tinha que distinguir eles pela quantidade de palavrões que cada um falava. O mais incrível é que o mais velho – Aiolos – falava muito, mas devo enfatizar, muito menos do que o Aiolia.

Lembra que lá em cima eu falei sobre querer pular no pescoço do imbecil que ousasse puxar o fio do vídeo-game da tomada bem na fase final? Ele fez isso comigo! O termo usado “pular no pescoço”, não foi no sentido figurativo, uma expressão de exagero. Ele, literalmente, pulou no meu belo pescoçinho e quase me matou asfixiado! Tudo porque ele não queria desligar aquele maldito The King of Fighters 97 para irmos logo à festa de despedida da sétima série, sendo que estávamos já completamente atrasados.

Na festa, eu fiquei praticamente mofando em um canto enquanto o Aiolia se entrosava com o meu amigo não-mais-isolado. O que aconteceu? Os dois simplesmente se tornaram os melhores amigos em poucos meses! Eles conversavam bastante, não sei como aquele ruivo desgraçado aguentava o Aiolia, mas pareciam se dar muito bem. Shaka perdeu o posto de conselheiro do leonino quando levava um fora da Marin e o meu – enfatizo, meu – melhor amigo era quem o consolava. Aiolia chamou Marin para dançar, levou um fora, lá foi ele ser consolado, bebê chorão!

Ah, deixa eu contar, só hoje assumo para mim mesmo que o meu ciúmes dele começou naquela festa, a qual eu me arrependi eternamente de ter ido, teria sido melhor se o Aiolia tivesse ficado tentando zerar o The King of Fighters – ele não conseguiu até hoje.

Isso me causou tamanha frustração que eu viajei com a minha família sem me despedir do francês metido ao qual venho me referindo. Ele me trocou, sabe o que é ser trocado do nada? É, do nada, porque ele me ignorou a festa inteira pra ficar com o Aiolia!

Voltando para a história da viagem – é interessante também. Já expliquei, viajei sem ele saber, fiquei em Rodes por dois meses, e lá conheci o Kanon. Também é grego, mas é mais velho!

Eu tinha achado o máximo aquilo, porque foi ele quem se aproximou de mim, em um rochedo, como quem não quer nada, e perguntou o meu nome! Esse rochedo ficava em frente à casa do meu avô, então enquanto os meus pais se exibiam por conta das minhas notas para os meus outros tios e primos, eu ia lá e ficava conversando com o Kanon. Ele era muito inteligente também, engraçado, não posso me esquecer de boca suja e bem atraente. Tinha cara de ser malandro, os olhos pequenos me fascinavam, mas eram tão verdes... Não tinha o que falar dos cabelos, eram de um azul acinzentado, mas ainda azul. A voz era grossa, pela idade, acredita que ele tinha dezessete anos e conversava comigo de apenas treze?

Isso dele ser mais velho ficou martelando na minha cabeça nas duas semanas seguintes. Kanon dizia que era maravilhoso conversar com alguém como eu, dizia que desde que o irmão começara a namorar, ficou mais sozinho e sem companhia, vivia falando que os seus amigos eram uns verdadeiros ignorantes que só sabiam falar de garotas. Foi nesse momento que ele se assumiu homossexual! Fiquei admirado, ele falou de uma forma tão natural, até disse que eu era bem maturo para alguém da minha idade e ficou feliz por eu tê-lo aceitado.

Em um certo dia, lá pelo final da minha terceira semana em Rhodes, eu decidi perguntar por que ele veio conversar comigo, tendo em vista que eu era só um pirralho olhando o mar. A resposta deixou o meu ego acima da minha cabeça. Me achou a criatura mais atraente dentre todas as pessoas e deuses que já havia visto!

Só no dia seguinte, quando ele disse que “era um erro se apaixonar por um anjo”, é que eu me toquei da indireta do dia anterior. Repito, não sou distraído! Dá um desconto, eu tinha acabado de fazer treze anos!

Vou ser direto. Ele me beijou e eu nunca havia sentido sensação melhor. Quando eu falei isso, Kanon apenas me respondeu que havia sensação muito melhor do que aquela e eu a sentiria quando fosse um pouco mais velho. Foi discretíssimo em relação a “esse” assunto. Não me insinuou nada, e é claro que eu sabia do que ele estava falando! Não vou dizer que não fiquei com vontade, e não vou omitir que perguntei se seria ele quem me faria ter aquela sensação tão boa. Em um jogo, dois podem jogar, certo? Mas ele deixou a resposta no ar: “quem sabe?”. Aquela voz rouca, sedutora, simplesmente me enlouqueceu e mexeu com a minha líbido.

Passou-se o meu primeiro mês naquela ilha, tinha ainda mais um mês para ficar conversando com o Kanon. Só lá pro meio da semana é que ele me convidou para ir conhecer a sua casa. Nesse meio tempo, minha família já tinha plena consciência de quem o Kanon era. Menos de que mantínhamos um pequeno caso, apenas algumas carícias e beijos inocentes.

Foi um dia confuso aquele. Conheci a família dele. Com isso quis dizer que conheci suas três primas, seus cinco tios, as duas avós, o avô, o pai, a mãe... E o bisavô não chegou a falar comigo assim que cheguei, tinha perdido a dentadura e aquilo estava uma zona. Enfim, só não conheci o irmão dele de quem tanto me falava. Tanto falava, mas não comentou do detalhe principal, o qual fui descobrir da pior maneira!

Naquela maravilhosa tarde, estava sentado na cozinha, conversando com a mãe dele, que fazia um bolo delicioso de chocolate – o meu fraco, socorro! – e me prometeu deixar rapar a panela da calda. Peguei afinco pela família dele mais rápido do que eu esperava, é verdade, mas estava sendo até que bem legal. O bisavô dele ficou a tarde inteira me agradecendo por ter encontrado a dentadura dele, sério! Mas, voltando. Estava na cozinha, quando, de repente, olhei para trás, na entrada dos fundos da cozinha.

- Aiolos, o que você está fazendo em Rodes? – devo ter usado algum tipo de velocidade da luz pra me levantar da cadeira. O irmão do Aiolia estava ali, na minha frente, na casa do Kanon – O que faz aqui, melhor dizendo.

Só sei que a cena seguinte me deixou em estado catatônico. Kanon abraçou o Aiolos pelas costas e simplesmente o beijou, na minha frente! Na frente da mãe dele! Com o irmão do meu amigo, o qual eu queria fugir porque estava com ciumes por ter roubado meu melhor amigo? É claro que eu senti ímpetos de jogar aquela panela fervendo na cabeça dele assim que vi aquilo, mas só percebi o engano quando Kanon apareceu por trás de mim e me beijou o topo da cabeça. Ele é quem estava usando a velocidade da luz, então? Ou melhor, tinha se duplicado, usado telecinese, sei lá! Então pensei ... Gêmeos! Só então o cabeção – não sou tão cabeçudo assim pra ficar me chamando assim toda hora – aqui se tocou de que o irmão dele era na verdade o seu gêmeo.

- Não seja indiscreto na frente das visitas, Saga, leve o Aiolos para o seu quarto e façam o que tem de fazer lá. – já comentei que a mãe deles estava na cozinha, observando tudo? Adorei a delicadeza dela...  - Vocês dois não sejam indiscretos! Milo não é menino de ouvir essas coisas, andem, vão já para a sala, os dois. – é, eu estava mais surpreso com aquilo do que ela.

O desfecho dessa minha história com o Kanon não foi um dos mais felizes, mas me serviu de experiência. Descobri que ele não havia comentado que tínhamos um caso, porque na verdade não o tínhamos! Meu amigo francês, de Atenas, chegou a conhecer os gêmeos, mas isso eu vou contar só mais pra frente. 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Primeira parte da carta, espero que tenham gostado! Bom, perceberam a bagunça que isso virou pro pobrezinho do Mi?

Até a próxima e ultima parte da carta, flores!



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