Norte estava sentada na confortável cadeira de seu escritório, lendo a quinquagésima carta daquela terça-feira.

O trabalho nunca fora fácil. Ser o Papai Noel nem deve aparentar ser. Mas depois da confusão do ano passado o trabalho parece ter sido duplicado.

Umas férias seriam boas, ele pensa consigo mesmo.

Já ia pegar mais uma carta quando batem violentamente na porta.

Fazia um bom tempo que não batiam na porta com aquela urgência. Um ano para ser exato. E a última vez que o fizeram as notícias fora péssimas.

Norte abre a porta hesitante. Ela range bem alto, algo que agora era inevitável.

Tenho que comprar outra porta...

Do outro lado, um Yeti tinha a expressão desesperadamente assustada. Norte não deixou de ficar preocupado com aquilo.

- Pelos Céus! O que aconteceu? - ele pergunta.

O Yeti faz sons estranhos e desesperados, apontando freneticamente para a grande porta de madeira a alguns metros deles.

- A Sala do Globo?

O Yeti puxa Norte pelo braço e o arrasta para lá. O velho russo nada compreendia, mas tinha uma hipótese. Uma hipótese assustadora demais para pensar.

O Yeti abre a porta como se o mundo acabasse. E quando a Sala se torna visível, Norte quase cai para trás.

Estava escuro demais. Tudo envolto por uma sombra assustadora e gélida. Os duendes e Yetis na sala estavam escondidos, protegendo-se de algo que ainda não era vivível.

- O que está acon...

Norte mal terminou de falar e uma conhecida areia negra envolve o Globo Terrestre. A areia desliza para baixo transformando-se em duas sombras maléficas.

A sombra de Breu era reconhecível, e se foi depois de uma risada fria. Porém a outra, Norte não conhecia. Era a forma de uma mulher. Ela também riu, depois de sair. Porém a escuridão não se fora.

Isso não era nada bom. Não mesmo! Aquilo era o pior dos presságios. Norte nunca imaginou que teria de reunir os Guardiões novamente... E agora, desconfiava se eles são de fato páreo para essa nova ameaça.

Norte girou a chave. O brilho azul envolveu a sala e o Globo, afastando algumas das sombras. Os Guardiões foram chamados.

Coelhão foi o primeiro a chegar. Perambulava a Sala de Reunião impaciente, girando seu bumerangue no dedo num óbvio nervosismo.

- Estão demorando muito. - ele comenta.

- Eu dei o chamado faz 3 minutos, Coelho. - diz Norte numa calma controlada.

- Não sei como consegue ficar tão calmo, Norte! O pouco que me contou já está me dando nos nervos. 3 minutos me parecem décadas!

Nesse momento a Fada do Dente entra junto de cinco fadinhas. Pousou delicadamente ao lado do coelho cinza.

Sua expressão era tão confusa quanto a do coelho alguns momentos atrás.

- Norte? Por que nos chamou? O Natal é daqui a umas semanas...

- Já explicarei tudo com calma, Fada. Esperemos Sandman e o Jack.

A Fada ruía as unhas com uma ansiedade que dava nervoso. Norte imaginou que ela já deveria ter uma ideia do que se tratava o chamado. E quase teve certeza quando ela começou a cantar uma música sobre dentes.

Sandman chegou em silêncio como sempre. Entrou pela janelas numa bicicleta de areia dourada voadora e aterrissou perto de Norte. Ele fez uma expressão confusa e uma interrogação brilhou acima de seus cabelos dourados.

- Já explicarei tudo, Sand - diz Norte - falta só o Jack.

- Como sempre... - o Coelho reclama.

- Eu tô aqui!

Todos viraram surpresos para ver a figura de cabelos brancos acostada à janela, com o cajado em mãos e um meio sorriso na face. Jack desceu ao lado de Sand.

- Qual é a boa? - ele pergunta.

- Boa? Absolutamente nenhuma. Vim tratar de um assunto seríssimo com vocês. - diz Norte.

Norte descreve a aparição de Breu e sua nova aliada desconhecida. Diz que a sala ainda está escura e sombria, e que nunca ficou assim por tanto tempo (nem nas aparições de Breu).

Depois de contar tudo, uma lua minguante brilha acima da cabeça de Sand.

- Ainda não falei com ele, Sand.

- Melhor falar agora - diz a Fada, num tom deprimido e preocupado.

Norte se aproxima de uma pequena caixa ornamentada em cima da mesa. Ninguém nunca repara nela, para o alívio dele. Ele a abre com cuidado e pressiona o cabo da adaga que estava dentro dela.

Ao fazer essas simples coisas nenhum mal pensamento deve ser pensado, nenhuma coisa ruim deve ser falada. Senão o caos é espalhado por todo o mundo. Norte gostava de chama-la de Caixa de Pandora. Assemelhava-se muito a esta. Quieta e relaxada, a Caixa e a Adaga só fazem o Bem, ajudando no contato com o homem da lua.

Mas se for pensada com más finalidades... Norte odiava pensar nisso.

Depois de invocar o Homem na Lua com a adaga, o brilho lunar atravessa a janela, formando um círculo de luz no chão.

- Ajude-nos - Norte diz, implorando ajuda.

A sombra de Breu se estampa no círculo. Ao lado dela, a sombra da mulher desconhecida. Ambos lado a lado. Numa união aparentemente perigosa.

- É a mulher de que falei - Norte diz aos outros Guardiões.

- É esposa do Breu? - Jack pergunta.

- Duvido bastante.

A luz da lua faz com que o símbolo dos Guardiões brilhe. O pedestal de madeira se levanta.

- Novos Guardiões - murmura Coelhão.

- Quem serão? - a Fada se pergunta, em dúvida e ansiedade.

- Vamos ver. - murmura Norte consigo mesmo.

A luz lunar encobre todo o pedestal e surge a imagem de três Guardiões.

Um deles tinha um capacete viking. O cabelo era liso e castanho, batendo no pescoço. O olhar parecia determinado, mas também temeroso. Norte pensou consigo que ele era magro demais.

Do lado do menino havia uma garota. Tinha os cabelos enrolados e armados, num ruivo vivo. Segurava um arco-e-flecha e tinha o olhar desafiador. Norte ficou um pouco satisfeito ao ver a arma em suas mãos.

E a última era uma garota delicada. Tinha os cabelos loiros e MUITO grandes! Segurava uma frigideira como quem queria matar e salvar logo depois.

Norte sabia o nome dos dois primeiros. Já ouvira falar de seus feitos. Mas, por suas contas, nenhum deles deve provavelmente estar vivo.

Terá de tentar viajar pelo tempo com o Globo de Neve, se é que era possível.

- Os dois primeiros chamam-se Merida e Soluço. Já ouvi... Boatos sobre ambos. A do cabelo eu nunca vi.

- Esses são nossos Guardiões? - pergunta Jack.

- Mas que isso - Norte responde - são a nossa esperança.