Hospital Stay escrita por LilakeLikie


Capítulo 5
Pegos no Flagra


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, vou me ajoelhar e pedir desculpas.Eu gostaria de ter postado semanas atrás, mas realmente não deu. Eu estava com o capítulo praticamente pronto, mas resolvi fazer alguns cortes em algumas partes e expandir outras.Enfim, apreciem o capítulo que eu pensei em prolongar para compensar a demora na postagem, porém, que o sono impediu.Desculpem-me os erros e boa leitura!



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Uma situação perfeita. Eu ali, parada próxima a calçada com um menino cadeirante, enquanto uma garota de praticamente a minha idade, alta e de cabelos escuros, descia do carro para falar conosco. Bravo, Melanie, você nos achou.

— Responda à minha pergunta, Katherine.

Virei meu rosto para poder vê-la melhor apesar da vontade de sair correndo para o mais longe o pssível dali. Melanie estava parada a cerca de dois metros de nós com os braços cruzados, nos olhando raivosamente. Obviamente, não era do Ethan que ela estava com raiva, e sim de mim.

— Responda Katherine! - gritou.

— Nós… apenas saímos para um passeio.

— Um passeio?! - dizia raivosa - Um passeio, Katherine?! Se esqueceu do que te aconteceu ontem?! Se esqueceu de que você é mais fraca do que finge ser?! Se esqueceu de que você e Ethan vivem num hospital porque os dois estão doentes?!

Ela realmente parecia revoltada com o que eu havia feito. Gritava cada vez mais para tentar me fazer ficar arrependida de ter fugido. Berrava como se eu fosse surda ou estivesse com dificuldades em ouvi-la.

Resolvi que responderia no mesmo tom que ela. Só porque fiz algo que para ela era errado, eu tinha certeza de que o que havia feito estava mais do que certo. Saborear a liberdade por alguns minutos era mais saboroso do que me fechar num cubículo brancro com duas camas e uma televisão.

—Pois é Melanie! Eu não me esqueci de nada disso, mas queria ver você ficar presa naquele hospital todos os dias sem ter o que fazer!

—Você presa no hospital?! Desde quando? Você é doente! Por isso mora lá! Entrem no carro, vou levar vocês dois de volta agora!

Eu queria relutar. Eu queria fugir para longe para não ter de entrar naquele maldito carro e voltar para aquele maldito lugar. Melanie se diz minha amiga hoje, mas se estivéssemos num hoje a cerca de três ou quatro anos atrás, a história seria bastante diferente. Eu teria fugido dali com ela, afinal, Melanie é minha amiga.Minha melhor amiga.

[...]

Por fim, estávamos no carro chegando no hospital e eu mal podia olhar nos olhos de Ethan. Tinha vergonha. Um novo amigo que tinha motivos para rir de mim. Isso se é que poderíamos chamar os poucos momentos que tivemos juntos de amizade.

As portas automáticas se abriram e adentramos o prédio.Melanie empurrava a cadeira de Ethan enquanto eu caminhava lentamente até as escadas.De qualquer forma, eles iriam pelos elevadores e eu definitivamente não queria trocar uma palavra sequer com qualquer um dos dois.

Foi uma longa subida até o andar em que meu quarto se localizava.Eu só queria fugir para longe daqui.Não há lugar como longe daqui.

Fui caminhando até meu quarto sem muita pressa. Quando entrei, tomei um banho e coloquei o pijama novamente. Liguei a televisão e me deitei. Dormir eu não iria de forma alguma, era dia da Gisele fazer plantão.

Creio que cochilei por uns 15 minutos com a tevê ligada. Talvez tivesse caído num sono profundo se uma leve e irritada voz feminina tão conhecida não tivesse me chamado.

— Você só podia estar brincando comigo.

Abri meus olhos assustada. Em meio ao silêncio do quarto aquela quebra fez meu coração acelerar. Ainda vendo as coisas um tanto embaçadas, pude distinguir tal silhueta.

— Do quê você está falando? - disse esfregando os olhos para que pudesse vê-la melhor.

— Da sua fuga com o Ethan hoje cedo. Faz alguma ideia dos perigos que os dois corriam lá fora?

— Mas estamos bem, não aconteceu nada de errado. Daqui a pouco vou receber a minha medicação e ir dormir como se nada tivesse acontecido. Creio que o mesmo acontecerá com ele. Ao menos, pelo que eu pude perceber, ele ainda está inteiro.

Melanie se aproximou da minha cama e sentou-se na cadeira ao lado. Abaixou a cabeça apoiando-a sobre a palma de suas mãos, cobrindo os olhos. Permaneceu assim por alguns instantes enquanto eu a observava calmamente, à espera de mais broncas por qualquer loucura que já cometi na minha vida. Mas não. Quando abriu os lábios para falar qualquer coisa, apenas sua voz chorosa saiu.

— Eu não sei o que seria de mim se você morresse lá fora, sem ajuda. Não sei o que aconteceria comigo se minha melhor amiga morresse e a única pessoa que pudesse ajudá-la fosse um cadeirante que ela conheceu no dia anterior .Não sei o que seria da minha sanidade se a criatura que está agora deitada nessa maca tivesse feito aquele menino passar mal lá fora. Eu sinceramente não sei...

Continuou com a cabeça apoiada nas mãos enquanto falava. Talvez ela realmente estivesse preocupada conosco. Talvez, estivesse apenas preocupada em ser uma boa pessoa. Talvez estivesse apenas fingindo se importar. Melanie sempre teve essas manias.

Estiquei-me até me aproximar suficientemente de Melanie para poder abraçá-la. Raramente fazia esse tipo de coisa, mas desta vez ela merecia um abraço.

Poucos são os casos que merecem meu carinho,senão mais do que raros ou extintos. Ela só mereceu por ser minha melhor amiga, e por ainda se importar comigo e com meus atos,mesmo depois de anos.

Fechei meus olhos e passei meus braços por seus ombros. Não era o melhor abraço do mundo, mas pelo menos era um ato de afeto. Ela retribuiu o carinho me abraçando também. Pude sentir as lágrimas ainda quentes escorrerem de seus olhos e molharem minha blusa. Havia muito tempo que eu não abraçava alguém, mas havia mais tempo ainda que eu não a abraçava.

Depois de algum tempo, Melanie se separou de mim ainda chorosa.Levantou-se para pegar sua bolsa e disse:

— Lamento,mas tenho que ir agora.

Apenas acenei com a cabeça. Eu não tinha o que falar naquele momento. Talvez nem devesse ter falado nada mesmo. Do modo em que estava,tudo parecia estar correndo bem.

Observei a porta sendo lentamente fechada até que a fechadura estralasse. Deitei-me novamente, jogando meus cabelos para trás.

Peguei meu celular e comecei a ver algumas fotos mais antigas. Fazia tanto tempo que eu não o usava,que as fotos mais recentes deviam ter quase um ano.

Ouvi o estalar da porta se abrindo e Gisele entrando com um olhar distante.

— Boa noite, Gisele.

— Ah, olá Kate.

— O que houve?

— Nada não. É que finalmente consegui uma pausa. Se não se importar, vou jantar aqui mesmo - disse me entregando um prato de comida e abrindo outro que trouxera consigo - como estão as coisas?

— Bem. Razoáveis na verdade.Tenho recebido muitas visitas ultimamente.

— Quer que eu saia?

— Não! Claro que não. Você sempre vem aqui, mas é que hoje vi muitas pessoas. Meus pais vieram me visitar, saí com o Ethan até o jardim, Tia Nancy me deu um cheese burger, Melanie nos deu uma bronca...

— Fugiu do hospital de novo? - questionou dando mais uma garfada em sua comida.

— Sim. Levei Ethan até a lanchonete da Tia Nancy. Ele gostou, disso tenho certeza. Melanie é que não gostou nem um pouco de nos ver perambulando sozinhos pela cidade.

— Você foi na lanchonete da Tia Nancy e não trouxe nem um lanche pra mim? Quanta ousadia da sua parte.

— Me desculpe. Acabei me esquecendo completamente.

— Sem problemas, eu estava apenas brincando. - disse abrindo um sorriso - Se você entrasse com um lanche nas mãos e um cadeirante a tiracolo, certamente o que mais chamaria a atenção não seria seu cabelo bagunçado ou sua camisola.

Correspondi ao sorriso. Apesar das piadas, Gisele ainda estava um tanto séria e desanimada. Seus pensamentos pareciam distantes de nossa realidade

— Agora quero saber de você. Está silenciosa demais hoje, o que aconteceu?

— Estou querendo pedir o divórcio. - disse Gisele seriamente.

Permanecemos em silêncio por alguns segundos,talvez até um minuto. Finalmente ela estava abrindo seus olhos e seguindo em frente. Creio que talvez fosse evidente a minha alegria por estar ouvindo aquilo em completa sanidade mental. Tentei não sorrir, mas por dentro eu festejava e saltava como se não houvesse mais fim a minha felicidade.

— Fico feliz por isso.

Do restante, o jantar fora silencioso. Terminei antes de Gisele e levantei-me para colocar a bandeja em cima do carrinho. Sentei-me na cama para observá-la. Não conseguia raciocinar muito bem, talvez fosse o cansaço. Só sei que nada sabia, nada mais queria.

Gisele terminou de jantar e se levantou, despedindo-se. Saiu do quarto,agora restando a companhia de meus devaneios, apenas. A sobra de cansaço e a falta de raciocínio me obrigaram a dormir. Apaguei as luzes e virei-me de lado.

Creio que em menos de dez minutos adormeci. E sonhei. Como sonhei.

Desta vez estava em um campo florido. Sozinha,porém feliz. Ao som de uma música bem calma caminhei pelas flores cheias de cores vivas,respirando fundo o ar puro. Olhei o horizonte e vi as manchas brancas cortando o céu, semelhantes ao algodão mais branco e mais macio que já havia visto em toda a minha vida. Adentrei o pequeno bosque e segui em linha reta,chegando agora a um riacho.

Subitamente todas as cores começaram a desaparecer. Sumiu a vida,sumiram as nuvens,tudo de mais belo havia me abandonado. O riacho começou a desaparecer, juntamente às árvores. Decepcionada, vi um clarão caminhar em minha direção, resultando em uma fortíssima dor.

Acordei com a mão no peito. Doía demais. Era como se meu coração fosse explodir se pudesse. Já ia esticando meu braço até o interruptor para chamar uma enfermeira quando tudo se normalizou. Certamente, depois conversaria com um médico a respeito.

Olhei pela janela e notei que o dia ainda estava escuro. Suspirei. Aquela escuridão me inspirava a fazer tantas coisas…
Fossem com papel e caneta, fosse com fones, fosse com as fugas. Era inspirador desenhar olhando pela janela do meu quarto enquanto o vento da madrugada fazia com que as folhas das árvores se agitassem.

Deitei-me na cama novamente, em meio à uma tentativa de voltar a dormir até o horário da próxima medicação. Não consegui. Tinha medo de simplesmente dormir de sonhar novamente com a solidão. Ou até com coisas piores do que a solidão. Desisto.

Levantei-me e fui caminhando até o espelho do banheiro. Havia muito tempo que eu não era vaidosa de verdade. Meus cabelos, ruivos naturais, antes eram destaque por seu brilho e maciez. Tudo o que restou disso hoje foram cabelos ressecados e quebradiços que mal se ajeitavam ao serem penteados. Eu simplesmente gostaria de voltar a ser uma adolescente normal, longe do hospital. Mas tudo ali parecia me aprisionar, me segurar, como uma condenação.

Penteei os fios embaraçados. Até que não estavam tão ruins quanto eu podia imaginar. Depois de alguns minutos, mirei meu reflexo no espelho. Os fios longos que compunham o peso e o volume de meus cabelos escorriam lisos novamente por meus ombros. Tive vontade de alisá-lo com os dedos, mas me contive. Olhei em volta e só então pude perceber quantos fios foram se quebrando enquanto eu me penteava.

Saí do quarto ainda de camisola. Dentro do hospital, se você estiver passeando de pijama, ninguém vai se importar. Você está doente, pode dormir quando quiser. Que descanse em paz agora…

Andei pelos corredores brancos e frios do hospital. Os corredores que eu conhecia tão bem e ao mesmo tempo, quanto mais os via, mais pavor tinha de ficar aprisionada lá por muito tempo. Se houvesse uma cura para toda a minha dor…

Fui até o refeitório observando cada porta de cada quarto. Todas fechadas. Indubitavelmente, nenhum outro paciente resolveu acordar cedo e sair andando por aí sem rumo pelo hospital.

Subi e desci escadas, fui até o refeitório comer gelatina, andei de elevador - cerca de seiscentas vezes devido ao tédio - e fui até a biblioteca médica dos residentes. De fato, um lugar interessante. Silencioso e provavelmente o local mais pacífico e calmo de todo o hospital.
Li alguns livros - todos médicos ou para estudantes de enfermagem - e cheguei à uma importante conclusão: a medicina é tão complexa, que para se estudar por tantos anos de sua vida, você fica frustrado e resolve descontar sua frustração nos pacientes.

Adormeci sobre os livros. Acordei com o sol batendo em meu rosto. Eu precisava ter uma conversa com Ethan, explicar os motivos da fuga e principalmente, pedir desculpas por tê-lo colocado em uma situação ruim.

Adentrei o elevador e pressionei o botão que indicava o andar do quarto de Ethan. A máquina parou em um dos andares para receber mais pessoas. Foi aí que eu pude olhar bem do lado de fora do cubículo. Tyler estava ali, me procurando. E sua expressão era bastante séria.


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