She escrita por Tsubaki


Capítulo 4
Brasas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura! ^^



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Acordei. Davi estava dormindo profundamente ao meu lado. Levanto com cuidado e desço da casa na árvore. Vou andando descalça pelas ruas vazias olhando para o chão. Está frio novamente e eu tenho medo que comece a chover. O medo da chuva me faz querer correr para a segurança debaixo das cobertas.

Risadas e faces coradas. Já devíamos estar dormindo mas é uma festa do pijama, onde meninas de 14 anos como nós precisam ficar acordadas. Angie e eu estamos debaixo das cobertas, ela está com a luz da lanterna iluminando o próprio rosto contando uma estória de terror que começa durante uma tempestade.

A estória de terror começou com a tempestade, onde duas garotinhas dançavam agora só tem uma. Essa garotinha que sobrou tem medo que a tempestade volte.

Angie pulava nas poças de água da rua fazendo água espirar em nos duas e eu ia me equilibrando no meio-fio. Nós duas cantávamos juntas uma cantiga de roda.

Olhei para cima. O portão do cemitério estava aberto. Entrei e procurei por ela. Achei. Olhei bem para o quadrado de mármore com o nome dela entalhado. Caio de joelhos diante dele.

-Por que? por que é o seu nome que tem que estar ai???-Choro. Eu não vim até aqui para perder....Tampo o rosto com as duas mãos. As lágrimas correm quentes pelo meu rosto...são quentes porquê são dela. Eu posso vê-la por detrás das minhas pálpebras.

Choro. Choro pelas nossas memórias. Choro por todas as vezes em que ela foi meu apoio, por todas as verdades que ela me ensinou, por toda a alegria que ela me proporcionou, por todas as coisas erradas que ela transformou em certas, pelos nossos planos para o futuro...por ter me amado quando ninguém foi capaz de amar.

Minha mãe fez as malas e foi embora, meu pai é um bêbado que sei que não ligará para mim. Estou lá nos fundos do quintal de casa sentada no balanço de mãos dadas com Angie.

Choro por todas as vezes que me sustentou, por todas as vezes que não me permitiu cair, por ter estado ao meu lado para tudo...por ter sido minha força quando eu fui fraca demais para lutar, por ter sido minha voz quando eu não conseguia me fazer ouvida, por ter sido meus olhos quando eu estava cega pelo medo...por ter me enxergado quando eu estava invisível.

A turma naquele ano estava grande demais, então dividiram em duas, eu fiquei na 401 e Angie na 402. As meninos não me viam e as meninas me ignoravam. Eu não existia. Eu era transparente.

Era tempo vago e eu estava sozinha perto do muro quando ela se aproximou e disse ao meu ouvido: -Eu posso te ver.

Chorei, choro e vou chorar por causa disso...porquê ela é a única que pode me alcançar quando estou inalcançável. Quem vai me achar quando eu estiver perdida agora?

-Angie...como posso chegar até você?- falo baixinho.

Ela está lá de pé. Do outro lado.

-Vem!

Eu pulo a amarelinha até chegar aonde ela está.

Davi entra na minha frente e me estende a mão. Eu a pego e ele me levanta. Me envolve em seus braços. Escuto soluços. Será Davi? não...sou eu.

-Vamos....vamos sair daqui.- Davi me conduz até o carro. E ficamos lá estacionados em frente ao cemitério. Depois de cinco minutos quando minha lágrimas finalmente cessam, ele me leva até a casa dele. Eu fico esperando na varanda enquanto ele entra para preparar algo para que eu pudesse dejejuar. Sento nos degraus e olho o céu. Está azul.

O céu está claro. Perfeito para um banho de piscina. Nós estamos lá deitadas na grama molhada e apostando quem acha mais formas nas nuvens e rimos, rimos alto.

Davi senta ao meu lado e me passa um sanduíche. Os olhos dele estão vermelhos, parece que não está bem também. Dou uma mordida. Está bom.

É hora do recreio e estamos sentadas no banco do pátio. Ela me passa o lanche dela e eu dou o meu pra ela. Sempre trocamos as lanceiras na hora do recreio.

-Está pensando o oque?- Davi pergunta encostando o dedo na minha testa.

-Angie.

Ele volta a olhar para a frente e ficamos em silêncio até acabarmos de comer.

Depois disso entramos. Os pais dele quase nunca estão em casa...são pessoas muito ocupadas. Ele liga a televisão e se senta no sofá, eu deito com a cabeça no colo dele e ele meche em meus cabelos até que eu durma. No meu sonho tem chuva, um homem está encima de mim e é como se uma faca estivesse entrando em meu corpo, no sonho eu grito por Angie e de repente o homem pega fogo e some em cinzas...a chuva dá lugar ao sol que finalmente aparece. Está tudo bem.

Abro os olhos devagar. Davi dormiu no sofá, sentado mesmo. Eu levanto e ele acorda.

-Vá para o seu quarto.- eu mando

-Vem comigo.- ele responde

Pega-me pelo braço e eu em silêncio sou levada. Ele deita, eu deito e quando vejo estou dormindo novamente. No meu sonho, estamos os três na colina contando as estrelas do céu.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo O/



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