12h30, dia do chá de bebê

“Não acredito que me fez acordar cedo. Lindsay já saiu e não sei pra onde foi. –L.”

“Parece bom! Hilary também. Quero fazer alguma coisa. –K.”

“Que tal um almoço e uma volta pela cidade? Preciso respirar.”

“Combinado. Passo aí daqui há pouco.”

                Estava dando certo. A nota mental de Kendall era, em uma hora, estar pronto e dirigir algumas quadras em direção a casa de Logan e Lindsay. Hoje era o chá de bebê e seria na casa dos Francis. Logan não poderia saber. Automaticamente Kendall não poderia nem pensar em falar sobre isso.

                - Vamos – ele disse a si mesmo quando passou a chave no trinco da porta. – Você consegue, Knight.

                Após respirar fundo, saiu de casa. Não demorou muito para encarar aquilo como um dia normal, legal, ótimo para sair com os amigos. Ligou para James e Carlos, os outros caras da banda.

                Horas se passaram, e os quatro estavam rindo, conversando. Estava dando certo.

                Até o momento que...

                - Hm – murmurou James. – Lindsay está para ter o filho daqui há dois meses. Ela não vai fazer festa? Tipo, aquelas coisinhas femininas que todas as grávidas fazem?

                - Chá de bebê, idiota. – Carlos riu. – Verdade. Não planejam isso, Logan?

                - Ah, eu não sei... – Logan sorriu. – Acho que ela quer, mas não me diz. Claro que eu ficaria meio estranhado com isso... Mas ia gostar. Quero que Stefan nasça logo.

                Kendall sentiu seu coração latejar.

                - Você vai ser um ótimo pai – murmurou para o amigo.

                - Eu não garanto que vou ser um bom... tio – disse James, causando a risada de todos.

                - Vocês sabem. Eu gosto da Lind. – Logan continuou falando, sorrindo de canto e mostrando suas covinhas. – Ela é muito legal e também sei que será uma mãe maravilhosa. Eu só... Não sei. Queria que tudo fosse mais planejado. Ter filhos com vinte anos é um pouco complicado.

                - Sei como é, cara. – Carlos sorriu, pondo a mão no ombro do amigo. – Na verdade, não sei não. Mas imagino que seja meio complicado mesmo.

                - É como dizem... – James limpou a garganta. – A vida é muito curta para ser organizada.

                Todos eles riram, menos Kendall, que encarava o visor de seu celular com uma SMS da sua namorada: “Está tudo dando certo aí?”. Kendall digitou rapidamente que sim, e perguntou se aquilo teria que durar mais algum tempo. Hilary respondeu que não, e que poderia deixar Logan ir pra casa, e ir buscá-la pois estava ficando tarde e ela não queria sair sozinha.

                - Pessoal, preciso ir – disse Kendall, sorrindo. – Hilary... Hilary está saindo da casa da mãe dela agora e está anoitecendo. Sabem que ela tem medo dessas coisas, não?

                - Claro, cara. – James sorriu. – Vá buscar a sua mulher. Logan, vai fazer algo? Carlos?

                - Hoje é sábado, o que eu tenho pra fazer? – Carlos riu.

                - Eu vou... Acho que vou passar na casa da minha sogra e ver se está tudo bem.

                - Não faça isso! – Kendall exclamou. – Digo... Você nunca vai na casa da Sra. Francis.

                - Eu sei, mas eu quero mudar. O pai dela já não gosta tanto de mim... Preciso de um crédito. E a Sra. Francis é uma boa pessoa.

                - Verdade... – Kendall tentou não soar nervoso, mas falhou. – Mas talvez ela esteja com a Lindsay e as duas estejam fazendo... Você sabe... Coisas... De... Mulheres.

                E, para piorar, uma prima de Lindsay – que gostava de Logan e acredita que sim, ele era uma boa pessoa – passava no outro lado da calçada.

                - Ei, aquela ali não é a Gabriella? – perguntou Logan. – Gabi! – exclamou.

                A garota olhou para o grupo e mandou um adeus, e então atravessou a rua e cumprimentou todos.

                - O que vocês estão fazendo aqui? – ela sorriu, simpática. – Achei que estivessem na festa.

                Opa.

                - Festa? – Logan franziu o cenho. – Que festa?

                - Ahn... O chá de bebê do seu filho? – Gabriella sugeriu com uma risada. – Hilary está lá, achei que Kendall e vocês iriam mais tarde.

                Silêncio mortal de meio minuto.

                A última coisa que Kendall e os outros dois rapazes viram foi Logan indo em direção ao carro, abrindo a porta ferozmente, e pegar no volante. Knight foi atrás dele. E logo depois ele sabia que o mundo estava prestes a explodir.

***

19h, apartamento da Hilary

Hilary chegou em casa e case arrancou a porta ao abrir.

                - Mais cuidado por aqui, mocinha! – exclamou Kendall. – Poderia ter se machucado.

                - Não fale como se se preocupasse com isso – murmurou. – Eu não acredito no que você fez.

                - Eu?! Mas o que eu fiz?

                - Eu só te peço uma coisa – ela virou-se para ele. – Uma única coisa! Deixe o Logan longe de Lindsay por um dia. Era só você ter esperado mais umas três horas e tudo tinha dado certo.

                - Não acredito que irá me condenar por um problema que nem é nosso, Hilary. – Kendall sentou-se no sofá. – Pra começar, não era nem para eu ter aceitado.

                - Mas aceitou. Tinha que ter cumprido sua promessa.

                - Não prometi nada.

                - Você concordou! – ela gritou.

                Kendall ficou sem ação por alguns segundos. Hilary passava de um lado para o outro, aflita, com medo, e ao mesmo tempo cheia de raiva. Não que realmente estivesse querendo culpar o namorado de tudo, mas o seu maior receio morava a poucas quadras dali – Logan e Lindsay. O que estava acontecendo lá? Logan iria matar Lindsay. Lindsay poderia perder o controle. Estresse não seria bem para o bebê. Hilary não seria mais madrinha. Estava enlouquecendo.

                - Tentei o meu melhor, ok? – disse Kendall. – Mas não deu. Uma hora Logan percebeu que eu estava evitando falar de você e de Lindsay. Ele perguntou o que estava acontecendo. Eu não... Eu não poderia...

                - Custava ter mantido ele calmo, Knight? – Hilary perguntou colocando as mãos na cintura. – Você sabia que isso era importante. Isso era... Ah... Era a fase final, e a Lind estava quase feliz.

                - Vamos nos colocar ao contrário, ok? – disse ele. – Se fosse eu dando uma festa e você não pudesse saber, ia querer que Lindsay te contasse, não?

                - Não é assim que funciona. Você não está com um bebê no seu útero. Nem útero você tem. Não pode ter opinião.

                - Quer dizer que eu tenho que mentir pro meu melhor amigo só pra você e sua amiguinha se darem bem? – ele levantou-se e olhou dentro os olhos da namorada. – É isso que está me dizendo?

                - Ela também é sua amiguinha. Nós nos conhecemos há muito tempo, Knight. Você deveria ter repensado esse seu conceito.

                - Adoro Lindsay, mas eu não quero mentir para o meu melhor amigo.

                - Então entre seu melhor amigo e sua namorada, você vai preferir seu melhor amigo? – perguntou Hilary com a voz completa de raiva.

                - Não, não, não... – ele virou as costas e foi para o banheiro. – Eu não vou nem responder isso. Você está sendo infantil, Hilary.

                - Volte aqui! – ela gritou. Percebendo que o mesmo não voltava, ela foi atrás dele. – Infantil? Tudo bem, senhor maduro!

                - Não, você não está entendendo – disse ele, passando uma água no rosto. – Você sempre faz esse joguinho. Parece uma garota de 10 anos, Hilary!

                - Joguinho? Que joguinho?

                - Joguinho. Você fica se colocando de vítima sempre como se eu estivesse trocando você. Sempre. Seja quando eu viajo, quando eu saio com alguém, quando eu tenho que ir trabalhar... Você sempre faz isso. E eu sempre tenho que bancar o namorado preocupado e ótimo que diz “não, querida, não é isso. Você é o meu mundo”.

                - Você deveria parar com isso, porque eu não sou assim. Está fazendo uma calúnia.

                - Calúnia é eu mentir pro meu amigo dizendo que você e Lindsay estão só conversando. Vocês querem sempre fazer algo errado, já percebeu?

                - Era o chá de bebê dela! O que tem de errado nisso?

                - Logan é o pai daquela criança e parece ser esquecido! – Kendall levantou as mãos. – Logan deveria estar lá com ela, vivendo essa felicidade toda que vocês queriam. Junto com a esposa dele! Até eu ficaria nervoso se soubesse que você estava esperando um filho meu, fizesse uma festa de família, e eu não fosse convidado.

                - A diferença é que você não é Logan. Você não fica bêbado todo dia e chega brigando com a sua esposa em casa – disse Hilary. Kendall arregalou os olhos, surpreso. – O quê? Vai dizer que você não sabia disso? Pois é, Kendall. Seu melhor amigo, que conta tudo pra você, é desse jeito. E você fica acobertando-o.

                - É por isso que ele sempre falta uns compromissos de banda... – o rapaz murmurou. – Deus, como eu não percebi isso?

                - Agora coloque-se no meu lugar, ou no lugar de Lind. – Hilary abaixou o tom da voz. – Você ia querer mesmo que um cara desses estivesse perto do seu filho, da sua família, de você? Vê que perigo Logan representa para essa gente?

                - Ele só precisa de ajuda... – Kendall murmurou. – Ele precisa de alguém que o entenda, e eu não sou esse amigo. Eu não passo por metade das coisas que ele passa.

                - Logan foi quem aceitou casar com Lindsay. Logan foi quem curtiu a ideia de ter um herdeiro. Ninguém compreende por que ele não gosta mais disso tudo.

                - Ele é novo demais, deve estar pirando.

                - Pensasse nisso antes de tê-la engravidado. – Hilary murmurou, saindo do banheiro.

                Kendall apoiou as mãos na bancada da pia, olhou-se no espelho, e então fechou os olhos e tomou um fôlego.

                - Precisamos resolver isso – murmurou ele para o próprio reflexo.