A dor física, por mais que não pareça, é muito importante. Quando algo é prejudicial ao corpo, a dor aparece, para mostrar que aquilo lhe fará mal. Sentindo uma sensação desagradável, nós evitaremos fazer tal ação.

Porém, a dor interna é bem pior. Fica marcada no coração e na alma por um tempo indefinido. Uma hora, a dor física passa, mas a dor interior pode ficar até o fim da vida.

Refletindo sobre isso, comecei a relembrar de quando eu era criança e fazia ginástica rítmica. Na ginástica, o corpo é muito trabalhado e é necessário que a ginasta seja flexível, então, fazíamos sempre alongamentos.

Me lembro que os alongamentos eram puxados, e doíam muito. Mas mesmo assim, eu gostava de sentir aquela dor. Não que eu fosse uma criança masoquista. Eu não gostava da dor, gostava do que ela representava.

Me alongando, meu corpo ficaria mais flexível, e eu seria melhor na ginástica. Eu tinha o objetivo de trabalhar o meu corpo para ser boa naquilo que eu gostava da fazer. Aquela dor, significava que eu estava progredindo. Quanto mais eu sentisse aquela dor, menos eu a sentiria depois, e melhor eu ficaria. Eu associei a dor ao progresso, e passei a vê-la como uma coisa boa, por isso eu gostava daquela dor.

E mesmo sentindo a dor, eu me alongava todos os dias, e fui recompensada. Meu corpo se tornou perfeito para uma ginasta, e meus movimentos ficaram graciosos. Eu era apaixonada por contorcionismo e queria ter um corpo flexível. Eu jamais consegui ficar como aquelas garotas de circos, mas eu conseguia fazer aberturas perfeitas, pontes que dobravam bastante a coluna e mais um monte de coisas legais. Eu me orgulhava de todo o esforço que passei.

Então, decidi aplicar isso na vida. Se eu, ainda criança, pensava assim, por que não pensar agora? A dor interior, vai me fazer ficar mais forte. E quando aparecer outro conflito, já saberei como enfrentar.

Pensado bem, a dor interior também é muito importante. Pois assim, podemos saber quando temos nossos momentos felizes. Se a vida fosse feita sem momentos ruins, na hora dos momentos bons, eles seriam normais, pois não saberíamos como é a desgraça para poder celebrar o sucesso.

Essa dor interior que agora eu sinto, que eu desejava me livrar, talvez ela seja boa, pois quando isso tudo for embora, eu vou olhar para minha vida e pensar:

“Valeu tudo o que eu passei”