Hymn To Love escrita por AprilandDawn


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por começarem a seguir a história! Achei importante neste capítulo priorizar a vida da Éponine, como pretendo fazer no próximo com a vida do Enjolras. Tudo precisa estar bem claro para o desenvolvimento dos capítulos seguintes. Se gostaram, ou não, por favor comentem! Isso é de extrema importância para mim.



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Musain Cabaret

22h30

Éponine entrou o local e o atravessou com tamanha rapidez que poucos tiveram tempo de ver que era ela quem tinha entrado, mas ainda assim puderam ouvir o barulho de sua bota batendo no chão, o que logo a denunciava. Os frequentadores: de prostitutas, vigaristas à festeiros em geral, eles eram visitas assíduas, logo todos a conheciam. Passando pelo corredor interno, Éponine entrou no cubículo onde costuma se arrumar e encontrou Madame Céline, uma senhora de meia idade que ainda não percebeu isso, a olhando com olhos ferozes e pronta para ataca-la.

- O que houve desta vez? – perguntou com sua voz rouca, em razão do fumo e da bebida. Éponine não focou na mulher e se concentrou no espelho, tentando fazer aquela senhora esquecer do assunto e sair da sala.

- Ah... Desculpe, eu apenas estava... – interrompeu para passar o batom, forçando ainda mais a ideia de que não tinha tempo para aquela conversa -... Cantando para um grupo perto da Saint Denis e acabei me atrasando.

- AH SIM! COMO SEMPRE! – vociferou para a menina, de tal forma que ela interrompeu o que fazia e virou-se para ela, surpreendida. Chegou mais próxima dela e disse: - EU NÃO VOU SUPORTAR ISSO POR MUITO TEMPO!

- HAHA! Você é divertida, Madame Céline. Quem mais aceitaria cantar nesse lugar? – disse, enfrentando a velha senhora com o olhar.

- E por isso sempre aparece com esse mesmo trapo?  – apontou para o vestido  - Não sabe que essa roupa é ridícula?

- É a única que eu tenho, Madame!  - disse Éponine, já perdendo a razão.

- E o que faz com o dinheiro que ganha aqui? Gasta tudo com vinho e whiskey?

- CASSE-TOI!*¹ Isso não é da sua conta! – gritou Éponine, e com um golpe de seu braço, jogou todos os perfumes que estavam na penteadeira ao chão.

- PARE! Sua insolente! – seu olhar estava paralisado e perplexo. - O que fez, seu rato de rua? Se pudesse te expulsaria daqui agora mesmo!

Éponine chegou próxima dela e sussurrou:

- Mas não pode, não é mesmo? – e deu um leve sorriso de canto.

O rosto de Madame Céline já estava vermelho de raiva, porém aquela última frase esfriou seus ânimos. Éponine tinha uma carta na manga e, querendo ou não, era necessário para as duas.

- Se esse lugar fosse... Um pouco mais decente... Você nunca mais colocaria os pés aqui.

Éponine riu, chegou próxima à porta e antes de sair, completou:

- Mas se lembre Madame: nunca será. E você sabe disso.

Mesdames et Messieurs*²,

Apresentamos agora a estrela do Cabaret Musain, a pequena grande voz deste lugar, a nossa querida Jondrette!

Éponine invadiu o espaço escuro, que logo se iluminou e seu rosto ficou de cara para aquele enfoque de luz. Seus olhos brilhavam. Apesar de estar quebrada por dentro, pois aquelas palavras ainda lhe ecoavam, cantar lhe fazia soltar tudo aquilo que sentia. Por um momento se esquecia da sua vida, do seu passado, e era a estrela. Sua dor se transformava em notas musicais que invadiam o ambiente e ela sempre terminava feliz e completa. Não há outro lugar para estar. Ela aprendeu as letras das músicas que gostava quando era criança. Ainda com algum conforto, podia passar longas tardes com sua mãe, Madame Thénardier, ouvindo as músicas populares francesas e cantando com ela. Hoje, para memorizar as letras atuais, precisa gastar seus últimos trocados em cabines de som. Mas as suas preferidas ainda são as músicas antigas, pois a trazem boas memórias.

De plaines en forêts de vallons en collines

Du printemps qui va naître à tes mortes saisons

De ce que j'ai vécu à ce que j'imagine

Je n'en finirai pas d'écrire ta chanson

Ma France

E esta foi a primeira música. Como sempre escolhia músicas lentas para começar, de forma a emocionar o público e acalma-lo para o que viria. E sempre terminaria com canções alegres, pois sabia que a aquela altura todos já estavam bêbados e adorava ver a felicidade em cantar e dançar de seu público. E dessa forma também ela sempre arrancava ao fim vários “Bravo! Bravo! Bravo!” e conseguia algumas bebidas de graça.

02h30

Naquela noite não foi diferente. Ao terminar, os mesmos aplausos a receberam, e os mesmos conhecidos a pegavam pela mão e a levavam até o bar, para que pudesse conversar e beber com todos. Porém naquela noite ela teve uma surpresa: ao chegar ao bar, sua quase irmã Cosette estava lá sentada lhe esperando. Um misto de alegria e medo a invadiu, porém naquele momento tudo que queria era abraçar sua companheira e confidente. E foi o que fez, antes de lhe dizer:

- Cosette! O que faz aqui? – tentou manter um tom sério, pois apesar da surpresa agradável sabia que era um ambiente perigoso.

- Como papa só conhece e confia de verdade em você, ele me deixa sair para te ver. – completou com um de seus sorrisos que iluminam qualquer lugar.

- Mas ele sabe que você está... Aqui?

- Tecnicamente não, mas ele não precisa saber! – sussurrou, com uma leve uma risada abafada.

- Mas... Este não é o lugar para uma jovem dama como você! – sorriu, segurando uma das mãos da amiga.

- Ah, por favor! Logo você me diz isso? Ma soeur*³... Eu sei da onde eu venho... Das minhas origens! Isso aqui está no meu sangue e você sabe disso. – suas duas mãos encontraram as de Éponine e ambas sorriram uma a outra e se manteram daquele jeito por algum tempo.

Até que aquele doce momento foi interrompido por três homens de capa preta que se aproximaram de Éponine, um deles se aproximou e uma voz sussurrou em seu ouvido:

- Precisamos conversar.

Éponine se voltou para ele e completou:

- Sobre o que? Não tenho nada para falar com você, Montparnasse. – seu olhar se tornou turvo mais uma vez e o encarou com coragem e destreza.

- Não? Esqueceu que dividimos tudo? Ou você quer uma doce surpresa?

- Pára! – sussurrou de volta, respirou fundo e continuou – depois nós conversamos, está bem? Cosette está aqui.

- Sim... Eu percebi – levantou seu tom de voz olhando a garota. – Ela não tem nada para me oferecer também?

- Olha! Toma aqui! – e tirou de seu bolso os únicos francos que tinha e lhe deu. – É tudo que tenho. Agora saia daqui!

- Mas saiba que o nosso assunto nem sequer começou. – disse com um olhar que pouco amedrontou Éponine. Ela estava habituada a estes tipos de encontro e, ficou aliviada por ele ter desistido de irritá-la.

- ‘Ponine, você tem que deixar ele para trás. – disse Cosette, que estava verdadeiramente preocupada com aquelas sombras que acompanhavam a sua amiga. Desde sempre esteve.

- Eu sei. Mas não é tão fácil assim. Eu queria que fosse. – deu um suspiro profundo e, continuou:

- Vamos embora daqui? Acho que é melhor para mim e para você.

- Mas, sem bebermos nada?! Vamos levar algo pelo menos. Não se preocupe, eu pago!

- Oh, que menina rebelde!  - completou Éponine, e ambas deram uma gargalhada.

Caminhando pelas ruas noturnas de Paris, com uma garrafa de vinho, ambas conversavam sobre o seu dia. Cosette não tinha muito sobre o que contar, pois seu pai lhe pagava aulas particulares e ela não saía de casa. Era um alívio para Cosette ter continuado a amizade de infância com Éponine, que floresceu na pensão dos Thénardier antes dela ter sido adotada pelo Monsieur Madeleine.  Ombro a ombro caminhando na rua, Éponine lhe confidenciou o que aconteceu no dia anterior.

- E então, percebi que alguém estava me cutucando. Acredita, Cosette? Aquele bourgeois me viu na rua.

- E o que tem isso?

- Alguém me enxergou, e não só me viu. Isso nunca acontece. – e riu de sua própria situação.

- Não diga isso. E ele conversou com você? – disse, e logo depois virou a garrafa de vinho.

- Pst. Era um petit bourgeois. Loiro e alto, olhos azuis, mas extremamente arrogante. Pensou que eu era uma pedinte de rua. – pegou a garrafa de Cosette e roubou mais um gole.

- Nossa! E então?!

- Como ele me ofereceu uns francos, eu ofereci minha voz. E cantei. Mesmo cntra a vontade dele.

- Como assim? Ele não queria te ouvir?

- Não... Eu disse, ele era um poço de arrogância. E por incrível que pareça ele conhece o Grantaire, uma das pessoas que mais gosto.

- Quem é este? Nossa... Você conhece tanta gente!  - disse Cosette, que olhava deslumbrada para a sua amiga. Na verdade, a única.

- Ele é uma das pessoas mais gentis e inteligentes que eu já conheci. As vezes encontro ele perto da Sorbonne, e em outras no Musain, onde sempre compartilhamos isso aqui – e levantou a garrafa de vinho. Ambas riram alto em meio à rua vazia.

- Agora você precisa ir para casa, Euphrasie. E não estou brincando.

- É, eu percebi. – disse num tom de lamentação. Sabia quando tinha que ouvir a amiga.

- Vamos, eu te levo.

- Mas no caminho você tem que me cantar alguma música.

- Está louca? Se eu acordar Monsieur Madeleine nunca mais vamos nos ver de novo.

E ambas desceram a estreita rua que dá para a Rue Plumet, em plena madrugada, mas dessa vez mais quietas, pois sabiam que se alguém as ouvisse seria confusão certa para as duas. E assim a noite passou, como tantas outras na vida de Éponine. Mas depois de se despedir de Cosette, essa foi bem mais feliz, concluiu com si mesma.

*¹ - Vai se fuder!

*² - Senhoras e senhores.

*³ - Minha irmã.


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