Maison De Rosalia (Black Rose) Interativa escrita por Izabell Hiddlesworth


Capítulo 21
Extra - Valentine's Day


Notas iniciais do capítulo

Oii!! Meu presente do Valentine's Day pra vocês!! ♥

Avisos sobre o cap.:
1.º: Shounen-ai de leve logo na primeira parte.
2.º: Viollet e Miguel, Shiyo e Yuiichi ainda não faziam parte da Black Rose.
3.º: Liam escutando a música "Your Guardian Angel" do The Red Jumpsuit Apparatus, na última parte.
4.º: A autora está profundamente deprimida porque o Yusuke da vida real não fez nada que chegasse no mínimo do cap.

Divirtam-se!! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/361230/chapter/21

 Maison de Rosalia, uma propriedade fundada com o intuito de promover a integração social dos descendentes youkais. Essa data serve de alguma coisa para isso? Não.


 Valentine's Day. O dia mais meloso e cor-de-rosa de todo o calendário. Trezentos e sessenta e cinco dias, mas só hoje os garotos se sentem livres para serem fofos. Por esse motivo - fútil -, a mansão foi decorada desde ontem com serpentinas, confetes, corações, velas perfumadas, flores, balões e animais de pelúcia.


 Meu quarto amanheceu coberto de lírios, copos-de-leite e pétalas de rosas brancas. A fragrância que as flores soltavam enchiam minhas narinas alegremente. O criado mudo estava abarrotado de chocolates brancos, decorados com fitas e pacotes prateados. Uma criatura albina estava sentada em minhas pernas, observando meu despertar.


- Guten tag, Ginger - Fran sorria larga e docemente para mim.


 Não hesitei em retribuir o sorriso do pequeno, também não haviam escapatórias. Era como se tivessem me aberto as portas do Paraíso, mas como terrível pecador, eu não podia adentrá-las. Acariciei seus cabelos e murmurei um cumprimento matinal.


- Então, o que é tudo isso? - Gesticulei para o quarto.


 Ainda não tinha notado o urso gigante de pelúcia branca, com seu grande olho azul - o único visível - me encarando. Como qualquer outra pelúcia feita pelas mãos de Fran, o urso era todo remendado, enfaixado e possuía um tapa-olho.


- É pra você - ele cobriu a boca para abafar um risinho encabulado -, não é óbvio?


 Ponderei um pouco sobre o que responder. Detesto datas desse tipo, porém, sendo por e para Fran eu faço qualquer coisa. Até mesmo aceitar essa melosidade toda por um dia. Abaixei a cabeça por um breve instante, dando chance para que minha franja caísse sobre meus olhos.


 Lhe dei um sorriso de canto, balançando a cabeça para retirar a franja do meu campo de visão. Eu queria abraçá-lo, e jamais deixá-lo ir. Mas na posição de mordomo, isso não me é permitido sob nenhuma circunstância.


- Que trabalho eu te dei. Como conseguiu colocar tudo isso pra dentro sem que eu percebesse? - Perguntei, curioso - ou só enrolando mesmo.


- Ah, foi fácil. Eu entrei no modo youkai e fiz tudo com o máximo de discrição - Fran coçou a nuca.


 Kami-sama, me perdoe por violar os lábios de um de seus anjinhos. Mas situações e oportunidades como essa não surgem todos os dias.


 Estiquei meu braço para tocar-lhe as bochechas rosadas. O puxei com o máximo de cautela para mim, selando nossos lábios de forma casta e preciosa. Antes de me afastar, passei suavemente a ponta de minha língua em seus lábios finos.


 Fran ainda estava de olhos fechados quando eu nos separei, esperando por mais alguns beijos. Ri ingenuamente da cena, virando o rosto para não constrangê-lo demais.


- Happy valentine's day, Prinz Fran - beijei sua fronte.


 Sua resposta foi um biquinho decepcionado e braços cruzados em notável indignação.


- Ah, só isso? Deu trabalho pra trazer e arrumar tudo isso aqui, sabia?


- Você não disse que tinha sido fácil?


 Gargalhei um pouco, bagunçando suas madeixas brancas.


- Vamos nos trocar - disse, me levantando da cama.


 Já estava tirando o palitó do pijama, quando senti os olhinhos de meu pequeno mirando minha nuca.


- Juntos? - Ele sugeriu.


 Engoli em seco e fechei os botões que tinha aberto.


- Nem pensar. Vá para o seu quarto, mocinho - voltei para a cama.


- Ah, Ginger, só hoje. Por favor - seus olhos castanhos com leves toques de magenta se arregalavam suplicantes.


 Por sorte, eu tenho um perfeito auto-controle.


- Para o seu quarto - apontei para a porta.


 O pequeno fechou o sobrecenho, escorregou suas mãos da barra de meu palitó e se encaminhou para a porta.


- Seja rápido, entendeu? - Dei uma última provocada.


 Ele fez que "sim" com a cabeça e saiu. Ah, tão doce.







 Vamos checar tudo de novo. Chocolates? Ok. Flores? Ok. Coelho de pelúcia? Ok. Presente? Ok. Certo, a Yomi-chan vai amar. Falando nela, ouvi o chuveiro sendo desligado sorrateiramente. Talvez meu anjinho estivesse tentando me surpreender para descobrir se eu tinha preparado algo.


 Me coloquei no tapete no centro do quarto, ajeitei o blazer e a gravata e peguei o vaso de orquídeas no chão. A maçaneta da porta do banheiro girou demoradamente, causando um angústia desnecessária em meu pobre coraçãozinho. Ah, que cruel você é, Yomi-chan.


 Enfim, meu anjo saiu para o quarto, com os cabelos pingando no capacho. Ela enxugou as orelhas com a ponta da toalha e ergueu seus olhos vinho para mim.


- O que você quer? - Que falta de humor mais sexy.


- Você - sorri, com um pouco de malícia.


 Arkane enrolou a toalha e a jogou em mim. Ri e caminhei em sua direção, esticando o vaso de orquídeas para ela.


- Feliz dia dos namorados, meu anjo - beijei-a no pescoço.


 Seu rosto corou imediatamente, uma reação deliciosa aos meus olhos. Como eu podia conter o riso diante dela? Impossível.


- M-Mas... Eu não preparei nada para você - ela admitiu, encarando o assoalho.


- E você acha que eu ligo para isso? - Beijei seus lábios suavemente. - O que me importa é que você esteja bem, e fique feliz com o meu presente.


 Indiquei sua cama, coberta de chocolates e outras coisinhas há mais. Ela sorriu encabulada, colocou o vaso no chão e segurou meu queixo com as mãos.


- Acho que o melhor presente que você pode me dar - ela ponderou, pigarreando um pouco -, é você.


 Suas mãos subiram por minha nuca, prendendo-me em um beijo ardente. Peguei-a no colo, rodopiando um pouco. Depositei meu anjo em cima do colchão, sorrindo de orelha à orelha.


- Não vai retirar o blazer? - Ela perguntou.


- Ha, e depois eu que sou hentai - me inclinei sobre ela. - Não podemos passar desse ponto.


 Ela concordou com a cabeça e puxou-me pela gravata. Meus dedos se perderam em seus fios cumpridos, assim como os dela se enterraram nos meus.


- Eu te amo, Hikaru - o beijo no pescoço foi retribuído.








 Bem, nem sei se eu gosto de verdade da Mira-sama. Mas o dia dos namorados vale pra qualquer coisa, do meu ponto de vista. E, com certeza, a Mira-sama não vai se conformar em não receber nada de mim.


 Eu acordei cedo, comprei flores e balas, fiz um cartão e decorei perfeitamente. Não queria dar chocolates, nossa relação não entra nos padrões conjugais. E, se depender de mim, jamais entrará.


 Retirei uma das rosas do embrulho exageradamente vermelho e a segurei um pouco acima da ponta do nariz de Mira. Suas pálpebras se franziram um pouco, e o nariz se mexeu em curtas fungadas. Aos poucos, os orbes arroxeados se abriram para mim, me sorrindo. Ainda assim, sua personalidade forte estava à espreita, esperando meu primeiro deslize.


- Boa dia, princesa - brinquei com a rosa em seu nariz.


 A azulada se sentou aos poucos, calma e preguiçosamente. Era divertido vê-la assim. Parecia vulnerável a qualquer carícia. Beijei-lhe as bochechas, a testa e selei seus lábios apressadamente.


- Hm, que injusto. Foi tão rápido - ela reclamou.


 Peguei a caixa de balas, junto com o cartão e a entreguei. Seus olhos se desviaram para o buquê em cima de suas pernas. Eu o trouxe até o alcance de suas mãos ansiosas, permitindo que ela sentisse a maciez das rosas.


- Só para você não dizer que eu não presto para nada - deixei a coluna ereta e me afastei um pouco de sua cama.


- Obrigada, Kain - ela se colocou de joelhos e me roubou um beijo. - Eu amei.


 Ela saiu correndo pelo quarto, procurando sua câmera fotográfica. Depois, agarrou-me pelo braço e me arrastou até o espelho de moldura elegante ao lado da penteadeira.


- Vamos eternizar o momento? - Perguntei o óbvio.


- Sim. Aproveite, meu bom humor é raro. - Sério? Não me diga.


 Não resisti aos impulsos humanos e lógicos. A abracei fortemente, com carinho e zelo, passando meus braços ao redor de seu tronco magro. O buquê de rosas estava firme em sua mão. A câmera tinha sido pendurada num vinco no topo da moldura do espelho.


- Sorria - murmurei em seu ouvido.


 Até que saímos combinando, vendo por nosso reflexo. Nossos cabelos estavam presos em coques desleixados que apareciam pelas laterais da cabeça, os olhos em tons de roxo e os sorrisos singelos e um tanto encabulados que se apoiavam um no outro.


- Feliz dia dos namorados! - Dissemos para a câmera quando seu flash nos iluminou.







 Desde as cinco horas da madrugada, a mansão já estava em alvoroço. Milagrosamente - ou não -, eu não consegui pregar o olho a noite inteira, só fiquei me virando de um lado para o outro. Solução? Abandonei minha cama e migrei para o quarto da Alex-chan.


 Minha morena dormia serenamente, seus lábios chegavam a se erguer em um sorriso tênue. Me aninhei debaixo do cobertor, encobrindo-a com meu corpo. Sua pele estava um tanto gélida, mas eu a esquentei em poucos minutos, assim como impregnei meu cheiro nela.


 Em determinado momento - que eu não percebi porque já tinha caído no sono -, a Alex-chan se virou de frente para mim. Seu espanto foi ingenuamente engraçado. Ela arregalou seus olhos chocolates para mim e seus lábios balbuciaram som nenhum. Por reflexo, ela tentou me empurrar para fora da cama, mas eu sou mais forte.


- Good morning, my lady - desci as pálpebras sem fechar os olhos. - Dormiu bem?


- G-Good morning - ela virou o rosto para esconder o rubor posterior.


 Encachei a palma de minha mão em seu queixo e trouxe seus belos olhos de volta à mim. Reparei em cada detalhe da visão de seu rosto pela manhã, ao despertar. Tão fofa, me trazia uma sensação de paz e calmaria. Eu me sentia leve e livre.


- Pena que você não está vendo o quanto é linda ao acordar - cofiei as madeixas escuras que lhe caíam pelas laterais do rosto.


- A-Athur-kun, o que está fazendo n-no meu quarto? - Ela tentou falar o mais rápido possível.


- Hm, não consegui dormir - trouxe-a mais para perto. - Então, vim pra cá. Você me traz paz, sabia?


 Alex não respondeu nada. Provavelmente estava com medo de que sua voz falhasse. A insegurança me estalou nos neurônios, talvez eu estivesse invadindo seu território e sua privacidade. A afastei um pouco e a encarei nos olhos.


- Pôde ouvir o quanto meu coração bate rápido quando estou com você?


 Tomei uma de suas mãos e a coloquei no centro de meu peito. Mais uma vez seus olhos se arregalaram assustados para mim. Era divertindo sentir sua mão trêmula em mim, um gosto divino.


- Eu te amo, Alex-chan.


 Nossos lábios se encontraram. Foram beijos ardentes, puros e cautelosos. Minhas mãos vagavam por suas costas estreitas, chegando até o cóxis e a nuca. Não duvido nada de que Alex não vai levar a menor fé em minhas palavras, mas eu continuarei insistindo e tentando, quantas vezes for preciso.







 A extensa mesa do salão de jantar estava vazia. Exceto por mim e por Yusuke. Cada um de nós ocupava uma das cabeceiras da mesa. O moreno tomava o café-da-manhã em silêncio, nem sequer me lançava alguns olhares furtivos. Foi extremamente tedioso.


 Fiquei esperando que ele me dissesse algo, me desse algo. Mas nos vazios quinze minutos que passamos ali, ele apenas comeu e bebeu. Levantei-me, afastando a cadeira da mesa com um barulho exagerado.


- Vou para o meu quaro - anunciei.


 Ponderei na espera de uma resposta, mas tudo o que ouvi foi um "Hm". Bufei alto e subi as escadas do mezanino. Maldita data que caiu justo no fim de semana. se eu tivesse ido para a escola talvez tivesse ganho presentes, presentes que eu pudesse esfregar na cara de Yusuke para vê-lo ficar com pelo menos uma pontinha de ciúmes.


 Yomi-chan e Hikaru estavam passando pelo corredor. A saia da albina estava ligeiramente presa no elástico de sua calcinha, deixando a peça íntima à mostra. Pensamentos hentais à mil me rasgaram o bom senso, mas eu o reconstruí antes de dizer qualquer besteira.


 Mudei de  corredor, tentando não atrapalhar os pombinhos. Mas aí, a porcaria do karma aprontou comigo mais um vez: Mira e Kain estavam de braços dados, indo para o salão de jantar. Atrás da orelha de cada um havia uma rosa, e com seus cabelos presos em coques, eles formavam um bela imagem de casal perfeito - somente nessa data.


 Corri pra dentro do elevador e apertei o botão de meu andar com raiva. O bendito do elevador resolveu parar no andar do Arthur-kun só pra me sacanear. Quando as portas se abriram, Alex-chan apareceu pendurada nas costas do Arthur. Cara, será que o Universo inteiro conspira contra mim? Não, acho que é só o povo da Black Rose mesmo.


- Ah, ohayo, Cash-chan - Arthur me cumprimentou.


- Hm. Bom dia pra vocês - murmurei azedamente e saí do elevador.


 E daí que não era meu andar? Eu ia subir pelas escadas mesmo, já que parece que todo mundo quer me mostrar o quanto estão apaixonados. Argh. Enfim, o meu andar. Quando estava chegando na porta de meu quarto, Yusuke saiu do elevador. Meu cenho se franziu, mas dei de ombros. Que droga, até o elevador me odeia!


 Me apressei em girar a maçaneta e, com metade do meu corpo dentro do quarto, Yusuke me pegou pelo braço.


- Hei, tem uma coisa que eu quero que você veja - ele nem me olhava nos olhos direito.


- Então me mostra - fui seca.


- Vem.


 Fui puxada até as escadas.


- Por que não usamos o elevador?


- Porque pelas escadas demora mais - ele riu-se.


 Atravessamos a antessala do terraço, chegando na ampla varanda.


- Hm, o sol nasceu faz tempo - apontei para a bola de fogo pendurada no céu.


- Eu sei. Mas não é isso que eu quero te mostrar.


 Yusuke andou até a cerca de ferro negro ornamentado e se inclinou um pouco sobre ela. Sua mão me convidou a me aproximar. Eu o fiz com certa desconfiança, mas me juntei a ele. O moreno apontou para o jardim no térreo.


 Fiquei na ponta dos pés e me inclinei sobre a cerca. Lá embaixo, rosas tingidas de preto formavam o desenho de uma coroa de princesa, tendo rosas vermelhas representando as joias que a cravejavam. Abaixo do sintético canteiro, fitas douradas  escreviam a frase: "For Cash-hime, my little princess.". Ah, tão fofo.


 Corei violentamente, mas logo pulei em seus braços e o abracei com toda a força que me cabia no momento. Ele afundou seu rosto na volta de meu pescoço e inspirou meu perfume com vontade. Um beijo casto no lóbulo de minha orelha e meus pés foram devolvidos ao chão.


- Feliz dia dos namorados, Cash-hime-sama - ele beijou o topo de minha cabeça.


- Happy valentine's day, Yusuke-kun - me elevei na ponta do pés pra lhe beijar a bochecha.









 Ninguém merece. Passar o dia dos namorados com a perna suspensa e engessada numa cama de hospital. Ninguém merece. Já eram 16h da tarde e nem sinal de Miguel. Eu pensei em mandar alguma emprega comprar um chocolate para eu entregar a ele, mas não tem sentido, porque eu sou alérgica.


 Dentre as tradições do dia dos namorados, encontrei uma que dizia que, se uma garota dá um chocolate preto para o garoto de quem gosta nessa data, e ele lhe devolver um chocolate branco até o fim do dia, é porque o garoto aceita os sentimentos dela.


 O problema é que eu sou alérgica à droga do chocolate! Então, eu improvisei. Fiz um cartão para Miguel, em uma folha preta, e o coloquei dentro de um envelope dourado e perfumado. Só espero que ele conheça a tradição.


 As horas se arrastaram lentas, até que ele chegasse no início do último horário de visitas. Suas mãos estavam ocupadas, segurando firme os barbantes do balões enchidos com gás hélio, os ursos de pelúcia e o buquê de margaridas. Uma enfermeira o ajudou a arrumar tudo na mesa de cabeceira e nos deixou à sós novamente.


- Pensei que não viria - cruzei os braços.


- E deixar minha princesa sozinha nesse dia especial? Ha, tem graça - ele se sentou na beirada da cama. - Como se sente?


- Entediada - me afundei no travesseiro estufado.


 Miguel riu um pouco.


- Pra quem são? - Indiquei os balões presos no urso de pelúcia maior.


- Para a minha pequena - ele me beijou na ponta do nariz.


 Só então me lembrei do cartão, escondido debaixo do pesado travesseiro. Fiz um pouco de esforço para apanhar o envelope, mas consegui fazê-lo.


- Aqui. Feliz dia dos namorados - estendi o envelope.


 Ele piscou um pouco atordoado para o objeto em minhas mãos. Seus dedos prenderam a ponta do envelope e o tomaram de mim. Sem mais demora, ele pegou o cartão, correndo seus olhos pelo meu talhe de letra caprichada. Seus olhos sorriam.


 O buquê de margaridas foi colocado em meu colo, com a abertura voltada para mim. Percebi um envelope prata em meio às flores e me apressei em retirá-lo. O cartão dentro do envelope era branco, para minha eterna felicidade.


 As palavras eram curtas, simples e definitivamente apaixonantes. Os balões foram soltos, permitidos a preencher o teto sem graça do quarto de cores e estampas. Miguel beijou meus lábios castamente, me deixando sem ar.


- Só porque hoje é um dia especial - ele piscou para mim e olhou para o relógio de pulso.


- Lamento pequena, tenho que ir - seu abraço quase me sufocou com tanto amor. - Te vejo amanhã, minha princesa.


- Nem mais um beijo? - Choraminguei.


 Miguel revirou os olhos rindo e se inclinou por cima de meu ombro.


- Quando você fizer dezoito, vão ser quantos beijos você quiser - ele sussurrou, me estalando um beijo na lateral da cabeça.


- Ahh, que mala!


 Rindo da minha indignação, meu mordomo se colocou para fora do quarto, não sem antes me dar um último beijo. Só mais cinco anos para eu me vingar, só mais cinco anos.







 E depois de mais um típica briga de casal, dessa vez eu cedi. Cedi porque eu já tinha comprado o presente dele, preparado um cartão e feito chocolates caseiros em forma de "Y". Ainda por cima, tive de ir até a casa dele. Quer mais humilhação que isso?


 Como se pede desculpa mesmo? Ah, não importa. Toquei a campainha na pilastra de concreto, e demorou muito para que uma voz enjoada me atendesse. Depois de muito me insistir, minha entrada foi permitida. Que raio é esse do Yui não querer me ver? Hmp, ele me ama.


 A mãe da praga me olhou de cima a baixo e me instruiu para achar o quarto do idiota. Minha trança ficava batendo na minha bunda enquanto eu subia as escadas, toda hora eu tinha o impulso de virar para trás e dizer "Vá se ferrar, Yui, seu pervertido!".


 Bati na porta escura de leve, encarando o cume do corrimão. Cinco segundos depois, eu já estava socando a maldita porta. Yui a abriu, com uma aura negra saindo dele. Seus cabelos curtos estavam tão desgrenhados, havia olheiras debaixo de seus olhos e sua roupa estava desalinhada.


 Ergui os lábios em uma expressão de repudia. Ugh, é nesse estado que ele fica quando não está comigo? Decepcionante.


- O que você quer? - Que grosso.


- Entrar - empurrei-o para o lado e entrei no quarto sem esperar convite.


 Deixei um Yui irritado tacar a porta contra o batente e caminhar até mim possesso.


- Posso saber o que a bonequinha está fazendo aqui? - Ele cruzou os braços e começou a bater o pé.


- Pelo amor de Deus, acende a luz desse quarto - pigarreei.


 Yui bufou, mas mesmo assim me obedeceu - de má vontade. Ele voltou para perto de mim e o entreguei a sacola com seu presente.


- O que é isso? - Ele balançou-se.


- Abra para ver - cruzei as pernas em sua cama.


 O lacre da sacola foi violado, e Yui enfiou sua mão dentro do pacote para pegar a caixa esverdeada. Quando a caixa foi aberta, ele encontrou os bonecos de plástico - like Barbie and Ken - de nós dois. O embrulho de organza, que continha os chocolates também foi retirado da sacola, junto com o cartão.


- O que achou? - Perguntei orgulhosa.


 Ele apenas se levantou, colocou os presentes em cima da cômoda e se encaminhou ao guarda-roupa. Uma caixa azul-marinho, rala e larga, era sustentada em sua mãos que vinham ao meu encontro.


 Desatei o laço da fita e retirei a tampa da caixa. Um álbum com capa de camurça verde-água, decorada com desenhos curvilíneos se revelava para mim. Sorri. Estava perfeito, abarrotado de fotos e coisas que remetiam as nossas lembranças juntos, com cartas e recadinhos, pétalas de flores, adesivos, citações, recortes, folhas e tudo o mais.


 As lágrimas emocionadas escapavam, mas eu não tentei impedi-las. Agarrei-me ao pescoço de Yui e o enlacei com minhas pernas. Seus lábios socorreram os meus, me colocando em êxtase por completo. E a briga de horas atrás já não tinha a mínima importância.


- Eu te amo - beijei-o com rapidez e intensidade. - Muito, muito, muito.


 Ele riu, deliciosamente.


- Eu também te amo, Shiyo-sama - ele nos derrubou de propósito sobre o tapete. - Para sempre.


 Recebi mais um beijo, antes que eu permitisse meus olhos se fecharem.







 Pensando bem, até que a mansão não desceu de nível só por causa da decoração do dia dos namorados. Parece que o ar até ficou mais leve, mais perfumado cheio de boas vibrações. O rosto de todos exibia um belo sorriso apaixonado na mesa do jantar.


 Os empregados foram convidados a se juntarem à nós sob o céu estrelado. A mesa estava mais extensa e, consequentemente, mais cheia. Os garçons não nos serviriam nessa noite, era cada um por si.


 Possivelmente, o ar mais puro e leve que eu estava sentindo era devido ao fato de que estamos à céu aberto. Ou é só o sentimento denominado amor me pregando mais uma de suas peças. Mas tudo bem, se eu puder ter Fran ao meu lado, com seus pequenos dedos entrelaçados aos meus.


 Os postes de luz que rodeavam a área em que nós nos encontrávamos, foram programados para proporcionar uma iluminação mais amena e aconchegante. Dark estava em sua forma de tigre branco, deitado aos pés da cadeira ocupada por sua hime-sama. Como Fran não gosta do estresse de estar na cabeceira da mesa, eu sempre ocupo seu lugar, ficando de frente para Cash.


 Tomei minha taça e minha colher em mãos e bati a colher de leve no vidro, chamando a atenção de meus companheiros. Sorri - sem mostrar minha perfeita dentição - à todos, tentando ser o mais acolhedor possível. Os olhares surpresos varriam minhas palavras de explicação para longe. Segurei a mão de Fran firme, apaixonadamente.


- Caros amigos, estamos aqui reunidos por um motivo especial. Nesse dia dos namorados, vamos comemorar nossa amizade e nossa união - ergui minha taça no alto.


- Sabia que existia dia do amigo, Ginger-san? - Arkane-sama provocou na outra ponta da mesa.


- Ótima observação - retruquei. - Mas não há datas específicas para se comemorar a amizade verdadeira e o companheirismo.


- Falou tudo - Arthur-kun iniciou as palmas pela extensão da mesa.


 Fran ria tímido ao meu lado, capturando cada mudança de expressão minha. Tão adorável. Acariciei as costas de sua mão com o polegar, fazendo-o corar um pouco mais. Cash estava de olho em nós no lado oposto, criança levada.


 Brindamos, até não acharmos mais motivos pelos quais levantar as taças no ar. Brindamos inclusive por não termos motivos. Os pratos estavam divinos, como de praxe. Uma conversa animada foi sustentada a noite inteira em nosso meio, carregada de risos, sorrisos, gargalhadas, abraços e beijos.


 Depois de degustarmos a sobremesa, decidimos usar a pista externa de dança. A luz dos postes foi direcionada para a área quadriculada em preto e branco, há poucos metros da piscina. Hikaru cuidou para que o som cobrisse boa parte do jardim, numa música não muito lenta, moderna e que nossos pequenos sabiam a letra de cor.


- Me concede a honra, Fran-oji-sama? - Fiz uma reverência para meu albino.


 Ele corou violentamente e hesitou em colocar a mão trêmula sobre a palma da minha. O conduzi até a pista de dança, onde os outros já bailavam sem ritmo, sem preocupações, livremente.


 "Nunca deixarei você cair. Eu enfrentarei tudo com você pra sempre. Eu estarei ao seu lado apesar de tudo isso. Mesmo que salvar você me mande pro céu.", dizia a música de fundo. Os versos pareciam narrar meus sentimos em relação ao meu pequeno príncipe.


- Fran? - Ergui seu queixo gentilmente.


- O que foi? - Ele perguntou baixinho e ingênuo.


 Selei nossos lábios, não pude conter o impulso. Mas fiz isso com pressa, eu precisava me saciar, mas os outros não precisavam ver nem saber. Meu pequeno baixou os olhos e sorriu para o chão. Eu o abracei e me inclinei um pouco sobre ele.


- Espere até a hora de irmos dormir - sussurrei, beijando-lhe o lóbulo da orelha.


 Esse dia sim, fez jus ao cumprimento: "Happy Valentine's Day"!




Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso aí!! Curtiram a "OVA"?

Conversamos nos reviews :3

Beijos apaixonantes kkkkk X]