Maison de Rosalia, também conhecida como Black Rose. Podemos dizer que ela é a Ayakashi Kan inglesa. Um lugar onde os descendentes de youkais podem viver juntos, seguros e em treinamento. Cada um recebe um agente do Secret Service e impõe seus limites.

Para deixar claro a quem pertencem, os agentes carregam um símbolo como o de seu cliente. No meu caso, esse símbolo é uma aliança, sem adornos, presa em uma correntinha dourada.

Ah, sim. Meu nome é Cashmire Blackie Rose, tenho 13 anos. O youkai de minha família é o Kuroneko. Meus ancestrais fundaram este complexo, por isso seu apelido remete ao meu sobrenome.

Yusuke Montbatten é meu agente, guarda-costas... Ah, chame do que você quiser. Nos conhecemos por acaso quando esbarrei nele em um dos corredores do Museu de História Natural. Eu estava perdida e separada do grupo escolar, e acabei topando com o grupo dele.

O que dizer? Eu me apaixonei pelo rapaz alto, de cabelos cor de fogo e olhos estreitos no momento em que o vi. Ele deve ter se apaixonado por mim também, já que desistiu de uma carreira promissora para fazer parte do Secret Service.

Na família Montbatten o youkai é o Kurotenshi. Que ironia... Porque ele acabou se tornando o meu anjo negro.

– Cashmire-sama, você vai se atrasar para o café - falando no demônio.

Ele já tinha aberto a porta e estava me encarando. Franziu o cenho.

Eu pisquei como que perguntando "O que foi?".

– Cashmire-sama. Com você me provocando desse jeito - ele gesticulou para mim -, fica difícil eu me controlar.

Eu levei alguns segundos para entender. Então olhei para baixo e percebi que minha camisa estava aberta justo no busto, deixando à mostra meu sutiã preto. Corei e fechei-a - meio - totalmente desajeitada. Olhei furiosa para ele, com as pupilas fumegando.

– Que fofa, minha criança com vergonha - ele me seguiu até o closet.

Não sei de onde eu tirei o travesseiro que taquei nele. Mas de qualquer jeito, não funcionou. Yusuke bateu no travesseiro com a mão, tirando o objeto da rota certa contra seu rosto.

– Saía daqui! Eu te vejo no salão de jantar - eu berrei.

Eu só sei berrar? Fala sério.

– Montbatten-kun, eu mandei você descer pro salão!

Ele se assustou.

– Como quiser, Blackie-sama - fez uma reverência e saiu.

Yusuke muda o modo me chama de acordo com a situação.

Me joguei no chão. Dark veio lamber miando lamber minha testa.

– É, Dark. Eu exagerei - olhei no relógio de pulso. - E estou atrasada.

Corri para o corredor amplo. Hikaru estava saindo do elevador.

– Cash-chan!

– Ohayou - eu respondi.

– Sem beijos de bom-dia? - Ele fez um biquinho.

Já estava corando novamente.

– Hikaru-kun, vá acordar a Arkane-chan que você ganha mais.

– Oh, mas que crueldade - ele fingiu um choro. - Parece que o Yusuke-tan não anda lhe dando o tratamento necessário.

Ok, esse cara me irrita.

– E desde quando isso é da sua conta? - Eu fui grossa.

Entrei no elevador e apertei o botão do térreo. As portas já estavam se fechando quando Ginger colocou um pé na frente de uma das folhas. Fran passou por trás dele e entrou no elevador.

– Ohayou, priminha - ele sorriu.

– Ohayou, Cashmire-san - Ginger me cumprimentou.

– Ohayou.

– Ora, onde está o Yusuke-kun? Finalmente ele te deixou andar sozinha? - Fran abafou um riso.

– Haha, muito engraçado - o sarcasmo pendia na minha voz.

O elevador parou no segundo andar, abrindo as portas para Mira e Kain. Pra variar, ele estava a irritando.

– Mas meu anjo, seus cabelos estão terríveis nessa manhã - ele ria.

– Me deixa! - Mira gritava.

Me senti segurando vela ali. Fran e Mira estavam com seus agentes e "namorados". E eu sozinha. Chegamos no térreo e Alex estava de braços cruzados, batendo o pé impaciente. Quando as portas abriram, ela puxou o ar para falar alguma coisa, mas relaxou.

– Pensei que fosse o Arthur - ela suspirou.

– Atrasado? - Ginger sugeriu.

– Como sempre - ela assentiu.

Yusuke estava sentado de pernas cruzadas, coluna curvada, cotovelo na mesa e queixo apoiando na mão. Seus olhos correram para mim e sorriram tristes, claramente expressando martírio. Senti uma mão repousar em meu ombro.

– Brigaram novamente? - Fran sussurrou.

– E novamente a culpa foi minha - admiti.

– Relaxe, ele vai te perdoar - ele me confortou. - Não é mesmo, Ginger?

A voz rouca do moreno falhou e seu rosto ficou um pouco rubro.

– C-Claro, Fran-san - ele se curvou de leve.

Yuto estava tocando alguma melodia no piano, enquanto Yuka repousava a cabeça em seu ombro.

Me encaminhei para a mesa onde Yusuke estava. Eu me sentia tão culpada quanto ele. Esse tipo de discussão se tornou frequente depois de um tempo. Mas nas últimas semanas, a conversa que tivemos agravou a situação.

– Blackie-sama, seus cupcakes são de morango com laranja esta manhã - depositou uma bandeja a minha frente.

– Arigatou.

Ele não voltou a se sentar. Me observou comer com um sorriso casto e depois levou a louça até o balcão da cozinha. Subimos as escadas, encontrando com Alex e Arthur no meio do caminho. O loiro era arrastado pela orelha até o salão.

Terminei de me arrumar, peguei minha bolsa e fui para a entrada. O carro que usaríamos já estava parado na frente dos degraus. Kain ocupava o banco do carona e Mira e Fran os bancos traseiros. Yusuke me esperava.

Ele abriu a porta gentilmente e me auxílio a entrar. Depois foi para o banco do motorista. Kain colocou um dos CD's que estavam no porta-luvas no rádio, aumentando o volume consideravelmente.

– Kain-kun, abaixe isso, por favor - Yusuke forçou a voz.

Eu podia sentir uma veia de irritação brotando na testa dele, e ri. Mira revirou os olhos e se inclinou para dar um tapa em Kain.

– Obedeça ao Yusuke, seu baka - ela gritou.

– Ah, que anjinho mal - Kain massageou o lugar onde ela o bateu.

Fran estava se sentindo um pouco desconfortável, ele não gosta desse tipo de tensão.

Em menos de dez minutos, chegamos ao colégio White Castle. Os estudantes corriam para os portões, visivelmente atrasados como nós.

– Vamos, desçam do carro - Yusuke falou em um tom sem questionamentos.

Ele abriu minha porta e a segurou para Fran. Quando Ginger não estava por perto, ele era o encarregado de cuidar do meu primo, e vice-versa.

– Mais um dia nessa prisão - eu pensei alto demais.

– Não fale assim, priminha - Fran advertiu.

Passamos pelos portões gradeados, ouvindo Mira ser grossa com as garotas que a elogiavam.

Aliás, se estamos tão atrasados, onde estão os outros?