Eu abri os olhos, querendo fechá-los novamente e voltar a dormir. Ele já deve estar vindo, mas eu não quero vê-lo. Todas as manhãs eu acordo mais cedo do que os outros, para evitar que ele me encontre de pijama, com os cabelos bagunçados e um hálito horrível.

Desci da cama e caminhei, descalça mesmo, até o banheiro. Assim que liguei o chuveiro, uma batida proveio da porta.

– Cashmire-sama? Já acordou?

Ignorei. Não devo satisfações a ele. E além do mais, é uma pergunta idiota já que ele sabe a resposta.

Mas espere aí! Quando eu não respondo, ele...

A porta foi escancarada.

– Cashmire-sama!? Onde você está!? -Ele gritava desesperado, enquanto revirava o quarto.

Me enrolei na toalha e saí do banheiro.

– Qual é a sua?! Quer acordar todo mundo?! - Berrei.

– Oh, Cashmire-sama. Então você estava aí?

Pronto, acabou a doçura. Agora ele vai agir normalmente.

– Que dama mais atrevida. Não deveria se apresentar em tais trajes - ele ironizou.

Revirei os olhos e voltei para o banheiro.

– Você já me viu em trajes piores - eu dei de ombros.

Já que meu banho matinal foi arruinado - para variar -, me sequei e vesti o uniforme. Yusuke entrou no banheiro e me pegou pela cintura, arrancando um suspiro de surpresa.

– Quer ajuda, Cashmire-hime? - Ele sussurrou com aquela voz doce.

Me recuperei e bufei mirando o espelho.

– Você é meu servo, mas na maior parte do tempo parece que eu é que sou o seu brinquedo.

– Ora, ainda está cedo para isso - ele falou com um sentido duplo. - Se comporte - me beijou no topo da cabeça.

Droga, é sempre assim. Por que tudo não volta a ser como era antes?

Yusuke abaixou-se e subiu minhas meias negras até a metade de minhas coxas, passando seus dedos pelos contornos delas. Eu corei e cerrei os olhos. Por impulso, bati em suas mãos e me desvencilhei dele.

– Se você me vê como uma criancinha que tem de ser protegida, deveria me proteger de você em primeiro lugar - já estava berrando de novo.

Ele encolheu os ombros e ficou perplexo por um segundo. Fui para o quarto batendo os pés no chão. Quem ele pensa que é para brincar comigo desse jeito?

Senti sua mão puxando a fita nas costas do meu colete, e ele me grudou ao seu corpo. Era tão bom, tão quente. Meus joelhos fraquejaram e ele nos sentou no chão. Meu pescoço estava sendo atacado com beijos suaves e mordidas leves. Ele me aninhou em seus braços.

– Eu sempre te verei desse jeito - declarou. - Você é minha, e eu posso te ver do jeito que for mais conveniente.

Como ele pode ser tão bipolar? Num momento está ardendo em brasas, e no seguinte está frio como o gelo.

– Sorry - eu me soltei. - Acho que eu cansei de tudo isso.

– Cashmire-sama.

– Então pode ficar com a Cashmire que nunca vai crescer. Essa aqui cansou de você.

Idiota! Eu estou sempre aqui, ao seu dispôr. E você me rejeita! Idiota!

Saí do quarto. Soquei a porta nos batentes e peguei o elevador.