– Tá pronta, querida? - minha mãe fala, escorada na batente da porta.

– Quase, mãe - respondo.

Coloco uma última peça de roupa na mala e fecho o zíper. Me olho no espelho e examino o que vejo. Essa garota, na frente do espelho, não é mais a mesma de um ano atrás. Ela mudou. Ela cresceu e amadureceu. E agora, está finalmente indo para a faculdade.

Gostaria de dizer que o tempo passou rápido, mas não posso, pois o último ano foi o mais devagar da minha vida. Toda aquela história com Daniel ainda é recente, mas já superei. Ou quase. Claro que às vezes me pego pensando nele, mas nada demais. No início eu estava abalada, mal conseguia levantar da cama, brigava muito com meus pais... Depois de um tempinho fiquei bem de novo. E sim, Ashley cumpriu sua obrigação de não me deixar falar com Daniel. Mas isso não vem ao caso. Foi um ano sofrido, eu fiquei com alguns garotos para tentar esquecê-lo de vez, mas não adiantava. Superei na marra mesmo.

Dou uma última olhada no espelho. Roupa legal, maquiagem decente, cabelo arrumado... É, tá na hora. Quando pego minha última mala, vejo Maia, Freud e Adolph vindo em minha direção.

– Vou sentir falta de vocês - meus olhos enchem de lágrimas.

Abraço e afago cada um. Sei que meus pais vão cuidar bem deles. E posso vir visitá-los todo fim de semana que eu quiser. Enfim. Desço as escadas com minha mala e seguida pelo trio.

– Agora deu? - minha mãe diz, impaciente.

– Sim.

Coloco minhas coisas no carro e entro no banco de trás. Meu pai entra no banco do motorista e minha mãe no do passageiro. Chegando no aeroporto, meu pai pega minha bagagem de mão enquanto eu levo minha bolsa e a mala de rodinhas. Faço o check in e, prestes à sentar, sinto um cutucão no ombro.

– CASSIEEEEEEEEE! - Ashley fala, extremamente animada.

– Ashley? - comemoro, um pouco em dúvida.

– Nossa, que animação. Qual ééé, a gente tá finalmente saindo daqui e indo pra FACULDADE, amore!

– E? Só mais estudo, vou ficar longe de quem eu mais amo... Não sei como isso pode ser bom.

– Ah, apesar disso, tem caras bonitinhos lá, e não só caras comuns. Universitários!

– De novo. E? Pior ainda. Só pensam em sexo e festas. Mais babacas ainda. E se acham exatamente por serem universitários.

– Uau, você só gosta de ver o lado ruim das coisas, hein?

– Essa sou eu - sorrio sarcasticamente.

– Sei.

Nós esperamos sentadas à hora do voo. Finalmente ouço uma voz feminina avisando que o nosso voo sairá em quinze minutos.

– Bom, acho que é hora de dizer adeus - me levanto e abraço minha mãe.

– Tchau filha, aproveita. Te amo, viu?

– Também te amo mãe - sorrio pra ela e abraço meu pai.

– Vou sentir saudades. Se cuida, pequena.

– Pode deixar.

Eu e Ashley nos encaramos, nos assegurando de que estamos prontas. Andamos até o portão. O mesmo portão do ocorrido de um ano atrás. A diferença é que agora quem está embarcando sou eu. Dou uma última olhada para trás, por segurança, e abano para os meus pais e os de Ashley. A hora é agora.

Entro no avião e sento no meu lugar, ao lado de Ashley. Coloco os fones, me preparando para uma viagem longa. Porém sou interrompida por Ashley.

– Meu. Deus. Olha aquele cara, ali mais para trás - Ashley aponta pra alguém, mas não consigo ver.

– Não enxergo.

– Ai, cega. Ali, ó!

Olho mais de perto e vejo um garoto alto, forte e loiro, com os olhos cor-de-mel lindos, de deixar qualquer garota hipnotizada. Ele é realmente bonito, está sentado ao lado de uma garota que parece muito desconfortável e não consegue parar de olhar pra ele. Isso me lembra alguém...

– É, muito bonito. Aposto que se acha - digo.

– Quê? Ah, para, você nem o conhece. Nunca julgue um livro pela capa.

– Não foi isso que a vida me ensinou.

– Só porque VOCÊ teve experiências ruins não quer dizer que outro tipo de cara não exista no mundo, Cassie.

– Veremos.

Decolamos. O voo não é tão comprido assim, mas depois de uns minutos, resolvo levantar. Percebo que o garoto me olha de cima baixo e sorri de canto. Reviro os olhos e passo reto por ele. Sabia que era só mais um idiota no mundo. E aposto que esse é desses que não nasceu, foi cagado no mundo. Sem ofensas.

Vou ao banheiro, passo um lip balm, porque meus lábios ficam secos no avião por causa do ar condicionado e saio. O problema é que ao sair, pecho com alguém, dando de cara em seu peito e caindo pra trás, só não chegando ao chão pois esse alguém me segura. Olho para seu rosto e me deparo com um par de olhos cor-de-mel. Ah que beleza.

– Wow, cuidado, garota - ele ri.

– Uhum - falo seca, me retirando de seus braços.

– Err - ele passa a mão no cabelo. - Seu nome é?

– Cassie.

– O meu é Lucas, me desculpe por isso - ele diz, meio sem jeito. Mas hein?

– Sem problemas.

– Então, cê tá indo pra onde?

– Uhm, pelo visto pro mesmo lugar que você, afinal, estamos no mesmo voo? - falo, rindo da bobagem que ele perguntou.

– Ah, é... Que pergunta, desculpe. É que fico sem jeito perto de garotas atraentes como você - ele diz, sorrindo maliciosamente de canto. Eu apenas rio.

– É, tá. Quantas você já pegou com essa daí? - bem que estava demorando para o lado babaca dele aparecer.

– Hãn?

– Exatamente. Desculpa, mas não sou qualquer uma. E você tá me cantando na frente de um banheiro de avião, o cheiro ali não é dos melhores. Além do mais, esses joguinhos aí não funcionam comigo - respondo. - Mesmo assim, boa sorte com isso.

Pisco e saio, o deixando completamente confuso e embasbacado. Acho o meu lugar e vejo o olhar surpreso de Ashley estampado em sua cara.

– O que foi isso? Por quê? Qual o seu problema? - ela já saiu perguntando.

– Desculpe?

– Normalmente quando um cara lindo daqueles dá em cima de você, você não o esnoba, e sim agarra ele! - ela praticamente arranca os cabelos de sua cabeça.

– Ashley, eu não sou qualquer uma.

– Não precisa ser qualquer uma pra pular no colo daquele ali.

Apenas suspiro e coloco meus fones de ouvido. Ashley continua me encarando incrédula por alguns segundos, e depois volta a ler seu livro.