As aulas pareciam durar séculos até o sinal tocar, a cada passo que eu dava até a sala dos professores era como se eu estivesse indo pra forca, parei em frente a porta e fiquei um tempo pensando em alguma desculpa que eu poderia dar. Abri a porta e me deparei com Hiyama Kiyoteru, o meu professor de geografia e um dos "menos chatos" pois não sei se posso considerar algum professor legal, ele estava conversando, ou melhor discutindo com uma garota da cabelos verdes longos, eu faço algumas aulas com ela, acho que seu nome é Miki, Miku... algo assim. Ela vivia discutindo com um ou outro professor, algo que me chama atenção é que toda aula depois do intervalo ela entrava na sala com o mesmo pão com alho-poró na mão, comia até a metade e jogava a outra metade no chão, então uma de suas poucas amigas ia lá catar e jogar fora. Não lembro um único dia que ela não tinha feito isso. Um grito atrapalhou meus pensamentos.
–Cala a boca, seu filho da mãe idiota- aquela garota estranha sempre respondia as pessoas assim....
–sou seu professor, você deve me respeitar... - Kiyoteru começou a falar, mas a menina nem deve ter escutado pois já estava educadamente me empurrando pra ir até a porta.
–Olha aqui garota, vou ligar pros seus res...- o professor gritava, já que ela já tinha saido da sala.
–ai, ai essa Miku... -Kiyoteru suspirou- ei, Kaito, o que faz aqui?
–Estou esperando o professor de matématica, ele vai ligar pra minha casa pra avisar que tenho chegado atrasado- acho que Kiyoteru nem tinha notado minha presença ali antes.
–ele já foi embora, talvez tenha esquecido de você, o que você aprontou dessa vez? Outra nota baixa?
–Não, eu durmi demais e me atrasei de novo...
–tente acertar seu despertador.
–sim, senhor...
–ei, posso te pedir um favor.
–c-claro.
–poderia organizar aqueles livros ali? - já estava cansado e aposto que se eu chegasse tarde, meu chefe Gakupo brigaria comigo e teria desculpa pra me fazer ficar até mais tarde.
–sim, senhor. -não gosto de dizer não as pessoas, por algum motivo deixar alguém precisando de ajuda me lembra meu pai, que deixou a gente quando mais precisavamos de ajuda.
Fiquei um tempo arrumando os malditos livros, já devia estar escurecendo quando sai da sala dos professores e dei de cara com a Miku, ela ainda estava ali, achei que já tivesse ido pra casa a muuuuito tempo. Pra minha surpresa ela me chamou.
–ei, você não é o idiota que chega atrasado toda aula? - ela estava me esperando?
Suspirei, depois do dia cansativo que eu tive, uma discurssão com uma encrenqueira não era a melhor opção.
–eu chego atrasado as vezes, mas não é de propósito... -Comecei a caminhar, como de manhã comi apenas uma maçã, acabei gastando mais do que devia no almoço e fiquei sem dinheiro pra pegar o metrô. Infelizmente ela me seguiu.
–por que não respondeu ao professor hoje de manhã?
–não a-achei nescessário...-o que ela quer comigo?
–covarde de merda!
–n-não, eu só estava tentado não arranjar problemas...
–por que aceitou ajudar o Kiyochato?
–a-apenas pra ser g-gentil...
–Gentil? Que gay!
–n-não é... -olhei as horas, Gakupo vai me matar.-  tenho que ir pro trabalho, desculpe.

Comecei a andar mais rápido, e ela acompanhou, parece que realmente queria conversa, me interrogar ou fazer mais pergunta constragedoras, quem sabe um pouco de cada.
–Trabalho? você não é novo demais pra isso?
–sim, mas tenho que ajudar minha família... -por que me sinto tão a vontade a falar disso com essa garota? Qual meu problema? Ela é tão estranha... Mas não estranha ruim... Olhando assim é até bonitinha...
–que merda, hein? -ela parou pra rir um pouco da minha desgraça,  bonitinha, mas ordinária - faz o que?
–trabalho em um bar... -ela sorriu maliciosamente, tenho medo de saber o que ela pensou - não é nada demais, sou apenas garçom...
–parece legal, você pode beber escondido quando quiser.

–na verdade não suporto bebida, nem bebâdos...
–então esse lugar deve ser o inferno pra você hahahaha -riu irônicamente- sabe, eu gostei de você, quero te ajudar.
–que? por que? -nunca imaginei Miku ajudando alguém, ainda mais eu! Ainda lembro de um dia que uma colega dela, Kasane Teto machucou a mão no vôlei, quase o time todo foi ajudar, e ela simplismente sai andado e rindo baixinho.
–eu preciso virar "uma pessoa melhor", então minha primeira boa ação vai ser melhorar sua vidinha de merda.
–não preciso de ajuda - mentira, é claro que preciso, mas não dela.
–seu idiota, você não pode me enganar, você vai me ajudar a ser uma pessoa boa - merda, não consigo dizer não a alguém que me pede ajuda, não importa quem seja. - e em troca eu faço sua vida não ser tão ruim.
–tudo bem -suspirei- e como você vai fazer isso?
–eu tenho dinheiro, querido, posso fazer o que eu quiser - sorriu.
Chegamos até o bar onde eu trabalho.
–bem, tenho que ir.
–Espera, então temos um trato?
–aham... -acho que essa não é a melhor decissão a tomar, mas o que ela poderia tirar de mim? eu já não tenho quase nada.
–então, vou ficar aqui e verei você trabalhar -ela puxou uma cadeira e se sentou- aliás que lugarzinho de merda esse.
Maravilha!