No dia seguinte, Ally abriu seu armário e teve uma surpresa: havia novamente um envelope com um bilhete dentro. Ela o abriu, e como esperava, havia um pequeno poema, escrito com uma letra um pouco borrada. Talvez a pessoa que o escreveu estivesse com pressa. Ela o leu e percebeu que na verdade não era um poema como na última vez, e sim a letra de uma música que ela já conhecia. No instante em que percebeu que era uma de suas músicas favoritas, Ally gelou. Como alguém saberia os seus gostos musicais, se ela ainda não havia o compartilhado com ninguém? Então ela lembrou que uma vez, durante o intervalo, ela cantarolou um trecho bem baixinho para si mesma, enquanto admirava as flores do clube de jardinagem. Ela finalmente guardou o envelope dentro do armário e foi para a sua primeira aula do dia. A sala ainda estava vazia, talvez ela tivesse chegado um pouco cedo. Então resolveu dar uma volta pela escola para passar o tempo. Foi aí que encontrou Kentin, sentado no pé de uma árvore perto do clube de jardinagem. Ela se aproximou e notou que ele estava abatido.

– Oi... Está tudo bem? – Perguntou Ally, preocupada com o colega.

– Ah... – Kentin ergueu a cabeça rapidamente e enxugou os olhos com a manga do suéter verde com uma listra vermelha que sempre usava. – Está tudo bem, não há com o que se preocupar! – Ele deu um sorriso forçado.

– Não é isso que o seu rosto diz, Kentin... – Ally se agachou em frente a ele e o encarou. – Olha, mesmo que a gente não se conheça muito bem, saiba que você pode contar comigo para o que der e vier. – Ally sentou-se ao lado do amigo.

– Eu... – Kentin hesitou por um instante, antes de desabafar. – Eu vou ser transferido. – Disse ele finalmente.

– É por isso que está tão triste? – Perguntou Ally.

– Não é só isso... Meu pai me alistou em uma escola militar! – Completou ele, choramingando. – Ele ficou sabendo que Ambre tentou roubar meu dinheiro e eu não me defendi. Ele me acha um inútil, covarde... O que é pura verdade! Mas eu não quero ir para esse lugar, eu não quero! – Ele abaixou a cabeça sobre os joelhos, tentando esconder as lágrimas.

– Converse com seu pai, diga para ele pensar melhor sobre isso, quem sabe ele mude de ideia. – Aconselhou Ally, tentando acalmar o ânimo de Kentin.

– Não adianta. Quando ele coloca uma ideia na cabeça, não há quem o faça mudar. – Kentin escondeu o rosto com as mãos a fim de esconder as lágrimas e ao mesmo tempo enxugá-las.

– Poxa... Eu gostaria muito de saber o que fazer quanto a isso. – Ally abaixou a cabeça e olho para os tênis All Star que sempre usa que já estava um tanto sujo.

– Não se sinta culpada, você não é obrigada a me ajudar sempre que eu estiver num aperto. – Disse Kentin, com um semi sorriso.

– Mas é isso que os amigos fazem, não é? – Ela olhou-o nos olhos e sorriu.

– De qualquer maneira... – Disse Kentin. – Hoje é o meu último dia aqui nesta escola, nesta cidade.

– É sério? – Os olhos de Ally se arregalaram e sua boca fez um formato de O.

– Sim, mas só essa sua cara já me animou um pouco! – Disse Kentin, rindo.

– Pelo menos isso! – Ela riu também. O sinal para a entrada tocou e ambos se levantaram e seguiram em direção à suas salas.

Ao chegar à porta, Ally notou que estava um pouco atrasada, então entrou de fininho e desculpou-se com o professor.

– Perdeu a hora? – Virou-se Lysandre, que sentava em frente à Ally.

– Não, eu estava falando com Kentin... – Respondeu Ally, baixinho.

– Kentin? – Lysandre arcou as sobrancelhas, como sinal de dúvida.

– Kentin, aquele garoto de óculos, que chamam de Ken. – Explicou ela.

– Ah sim! – Ele colocou a mão no rosto e riu. – Eu havia esquecido...

– Você tem uma cabeça de vento mesmo! – Ally e Lysandre riram.

– Posso saber o que é tão engraçado? Poderia nos contar Ally e Lysandre? – O professor chamou a atenção dos dois que se endireitaram em seus lugares imediatamente.

– Nada, senhor Faraize... – Ally abaixou a cabeça, segurando o riso. Era a primeira vez que um professor lhe chamava a atenção. Ela olhou para trás e Castiel sorriu para ela de modo debochado, então ela virou os olhos e sorriu de volta.

Durante o intervalo, Amy e Ally sentaram-se nos degraus do pátio e ficaram conversando sobre a transferência de Kentin, até que Castiel veio e se sentou do lado de Ally, que não o tinha visto e continuou conversando com Amy que só fazia que sim com a cabeça. Castiel fez um sinal de silêncio para Amy e ela concordou. Então ele soprou a orelha de Ally que deu um pulo e o empurrou por impulso.

– Ai! – Reclamou Castiel, que havia se desequilibrado. – Até que você tem um bom reflexo... – Ele riu.

– O que tem na sua cabeça? Você quase me matou de susto! – Ally cruzou os braços e virou as costas para Castiel.

– Do que vocês estão falando? – Perguntou ele, para mudar de assunto.

– Kentin... – Respondeu Amy.

– Aquele anão? O que tem ele? – Perguntou Castiel, curioso.

– Falou o titã colossal. – Comentou Ally, rindo da cara de mau humor que Castiel fez. – Ele vai ser transferido para uma escola militar, e tudo isso é culpa da Ambre. – Ally encarou Ambre, que estava do outro lado do pátio rindo com seus “clones”. Ela encarou de volta e sorriu ironicamente.

– Por que é culpa dela? – Indagou Castiel, sem entender nada.

– Porque o pai do Kentin acha que ele foi um covarde, deixando que Ambre roubasse seu dinheiro. Então o matriculou nessa escola militar. – Respondeu Ally, chateada.

– Bem faz ele! Kentin tem que aprender a ser um homem de verdade. – Disse Castiel, em tom superior.

– Como você é machista, ridículo! Não acredito que você disse isso. – Ally ficou vermelha de raiva. – Se bem que vindo de você, não é nenhuma surpresa...

– Não pensei que ficaria tão brava assim... – Castiel arcou as sobrancelhas, surpreso.

– Pois é, fiquei. – Ela encarou-o com desprezo por um instante. Mas Castiel deu um sorriso de um lado da boca e Ally desviou o olhar.

– Eu estava te procurando. – Disse Lysandre, que se sentou ao lado de Castiel. – Perdi meu bloco de notas, eu preciso urgentemente encontrá-lo!

– Quer ajuda para procurar? – Perguntou Ally.

– Não! – Respondeu Lysandre rapidamente. – Quer dizer... Não quero tomar o seu tempo, Ally. Eu e Castiel iremos encontrar. – Lysandre levantou-se e saiu puxando Castiel pela manga da sua jaqueta de couro preta, sem deixar que Ally dissesse alguma coisa sobre o assunto.