Despertei confusa; Embriagada de sonhos e dúvidas. Raios dourados de alvorada me cegaram. Levei um braço à frente da face, tentando me localizar. Minha cabeça doía. A grama orvalhada gelava a palma de minhas mãos que tateavam em busca de algo familiar. A procura não durou muito. Senti próximo a mim um corpo quente e oscilante; Meus dedos se entrelaçaram em mechas de cabelo, pesado e disforme; Uma respiração forte aqueceu e ao mesmo tempo arrepiou minha nuca.

            Busquei com o olhar o foco de minha atenção, já sabendo o que – ou quem – iria encontrar. E sim, lá estava ele; Adormecido e inundado em sonhos. Uma expressão séria porem relaxada adornava sua face perfeita. Sua pele cor de bronze brilhava à medida que a copa das árvores pendulavam por sobre seus caules. Corri o olhar por todo seu ser, acompanhando cada curva que seu abdome fazia ao se expandir a cada inspiração. A camisa aberta há muito sem a gravata negra, deixava a mostra sua barriga delirante. Corri o olhar um pouco mais pra baixo. Estava perdida em pensamentos.

            Infelizmente – ou, quem sabe, felizmente – algo me arrancou de meus devaneios. Jacob, que jazia deitado de lado, tinha suas coxas entrelaçadas e coladas com outro par de pernas. Longas, alvas e com alguns poucos hematomas espalhados pelas canelas. Um súbito tirou-me do transe. Aquelas eram minhas pernas.

            {Flashback ON}

            - Jacob, o que está fazendo?

            Escutei alguém falar. Uma voz familiar, talvez. Possivelmente, a minha; Ou a de minha consciência. Meus olhos que focalizavam o chão se ergueram, deparando-se com um par de olhos negros e profundos que me admiravam com luxúria. Sua respiração quente e ofegante alagava minha razão. Nossos rostos ficaram colados, emanando desejo.

            O tilintar da floresta embebia a clareira. Desconheci a mim mesma naquele momento  em que seus lábios macios e molhados se apertaram densamente contra os meus, fazendo com que minha razão fosse anulada por completo. Um gemido foi expelido violentamente de seu intimo fazendo com que um arrepio intenso percorresse minha espinha. Os ruídos e aromas do bosque foram resumidos a nada; A um silencio convidativo e excitante. O arfar de nossas respirações era o único som que se podia ouvir ali.

            À medida que nossos lábios ávidos se encaixavam, nossos braços buscavam o corpo do outro, ansiando o calor latejante daquele beijo. Agarrei-o pelos cabelos densos de sua nuca molhada de suor e o puxei mais forte contra mim. Eu desejava aquele ardor. A voracidade com que eu o queria me assustava, mas nada que me fizesse parar.

Sentia o mundo girando sob meu corpo. O calor emanava de minhas bochechas no momento em que minhas mãos tatearam seu corpo, descontroladas de desejo e o despia de sua camisa acabando por arrancar um ou outro botão. Seus lábios úmidos desenhavam o contorno do meu pescoço e ombros, dando pequenos beijos que me provocavam deliciosos arrepios. Com um movimento delicado, lento e sensual, Jacob deslizou suas enormes mãos pelos meus braços, descendo as finas e folgadas alças de meu vestido. As pontas de meus dedos alisavam e arranhavam cada parte de sua barriga provocante, fazendo-o gemer deliciado a cada toque.

 Em uma oscilação perfeita, Jacob apertou seu corpo carinhosamente contra o meu e pôs-se a deitar-me na relva orvalhada. Seu corpo quente me aquecia por completo agora. Suas mãos ansiosas percorriam cada parte sedenta de meu corpo me fazendo desejar aquele toque ainda mais. A geada fria gelava minhas costas nuas enquanto eu sentia o peso de seu corpo, contra e por sobre o meu.

{Flashback OFF}

            Meus olhos ficaram fixos no além. Sem expressão; Vazios. A dificuldade de recordar algo claro e concreto era angustiante. A partir daquele ponto tudo se tornara turvo e incerto, e as lembranças começaram a vir em flashes. Eu queria – e precisava - saber a gravidade do que acontecera ali, mas por algum motivo não conseguia. Maldito vinho.

            - Bella! – disse Jacob se pondo sentado – O que houve? – Ele estava claramente exaltado. Segurou-me pelos ombros, temendo alguma reação extremada. Minha expressão deveria ser aflitiva. Ainda sem conseguir me recompor por completo balbuciei comigo mesma, quase que em pensamentos.

“Meu Deus, o que foi que eu fiz?”

- Bella! – gritou Jacob, agora aterrorizado. – Pelo amor de Deus, fale comigo! – Ele começou a me sacudir devagar, como se quisesse que eu pegasse no tranco. Mas eu ainda estava em transe. Não conseguia pensar, ouvir, sentir e refletir sobre nada; Só queria minhas memórias nulas de volta.

Respirei fundo, senti como se fosse cair novamente deitada na relva verde-esmeralda. Minha pressão caíra e meu coração pulsava nas extremidades de meus dedos lentamente. Um pouco de ar finalmente adentrou meus pulmões e eu pude pensar com mais clareza. Novamente foquei o olhar em nossas pernas nuas, já não mais entrelaçadas. Jacob acompanhou meu olhar e pôde concluir o que me afligia.

- Ja.. Jake, o.. o que aconteceu aqui? - Meus olhos exalavam súplica. O remorso e a ressaca moral transbordavam de minhas palavras.

- Você não se lembra? – fez uma expressão que mesclava descrença com receio.

- Não. – disse fria e notoriamente confusa.

Ele mordeu o lábio inferior, como se segurasse um vômito de palavras. Eu o conhecia tão bem quanto a mim mesma e, claramente, alguma coisa que ele não queria ou tinha receio de me contar, estava guardado.