- O JACOB O QUE? – disse em um tom vários decibéis acima do anterior.

            Apertei meus olhos. Eu sabia que aquilo, de um jeito ou de outro, não acabaria em pizza.

            - Edward, sem gritar. Já te expliquei o quanto isso é difícil para mim. Eu amo vocês dois. Jake é meu melhor amigo – dizia entonando cada palavra - Ele conta comigo. Eu não posso deixar de ir! – retruquei convicta.

            Por Deus, eu não estava de toda errada. Eu não mentia. Jacob era tudo aquilo para mim, e Edward tinha, de algum jeito, que entender aquilo.

            - E porque o seu namorado não tem permissão de ir? – disse mais baixo, mas ainda ríspido.

            - Sei lá! – joguei os braços para cima - Eu tenho culpa do Carlisle ter brigado com o curandeiro da reserva? Diz o Jake que o Billy não vai muito com a cara do seu pai – disse fazendo um biquinho.

            - Jake, Jake, Jake .. – revirou os olhos. Já falei Bella, eu não gosto dessa amizade!

            - Começou – disse, também revirando os olhos.

            Agora eu realmente tinha ficado nervosa.

            - Essa sua insegurança vem de onde Edward Cullen? O Jacob é meu amigo desde que estávamos nas fraldas. Conheço ele bem antes de você entrar na minha vida e, infelizmente, eu não te dou o direito de dizer com quem eu posso me relacionar ou não.

            A expressão que se formou no rosto dele partiu meu coração. Toda aquela raiva, aquela excitação se esvaíram e seu rosto tomou uma feição triste.

            - Bella – disse vindo em minha direção – Eu nunca te proibiria de nada. Nunca te impediria de ser feliz ao lado de quem que fosse. Sei que vocês são amigos, só que...

            - Que? – perguntei.

            Olhei fundo em seus olhos e tomei suas duas mãos nas minhas. Eu detestava todo e qualquer tipo de discussão, briga e derivados que aconteciam entre nós. Era como se eu apertasse meu coração com minhas próprias unhas.

            - Nada – disse em um tom de voz quase inaudível perdendo o olhar do meu.

            Olhando para o chão, ele se levantou. Levantou-se em um movimento suave, mas pesado de tensão. Tomou uma de minhas mãos e, entre as dele, ela sumiu. Pousou-a em cima do peito, do lado esquerdo. Pude sentir seu coração. Constante mas acelerado. Aquele gesto fez com que o meu também se agitasse.

            - Eu simplesmente não estou confortável com essa situação. Por favor, não vá.

            Confortável? Eu estava morta por dentro, mas mais decepcionada ainda pela falta de argumentos dele a fim de que eu permanecesse em Forks.

            Fechei meus olhos, apertados. Segurando para frear uma lágrima que ameaçava se formar no canto externo do meu olho. Suspirei fundo. Um suspiro longo e notoriamente machucado.

            - Desculpe – consegui falar. As palavras pareciam pedras arremessadas contra mim. Cada letra pronunciada era um tipo de dor único que era provocado em mim como conseqüência da dor que eu sabia que eu provocara nele – Tenho que ir.

            E me virei. Dar as costas para ele foi a maior ferida aberta em mim naquele dia. Dei as costas a um sentimento que pairava ali. Eu sabia que eu estava errando, mas eu não queria errar de um todo. Eu não podia fazer aquilo com o Jake. Edward tinha, e eu sabia que podia, me perdoar. Naquele exato momento, eu não só dei as costas ao homem que eu amo. Dei as costas a ele enquanto ele sentia dor, mas não só ele e não só isso. Dei as costas para mim. Ficou nele um pedaço de mim. Eu, pela primeira vez, me senti oca.

            Passando as mãos pelo corrimão gelado e comprido, fui descendo as escadas em um ritmo lento. Abri a porta da frente tentando não arrancar ruídos, o que foi em vão. Mas pelo que parece, ninguém quis intervir com a minha partida. Fui caminhando pela estrada de terra da propriedade e, novamente, ninguém interveio. Ninguém mesmo.