Ainda deitada na cama, pensava no que Ethan seria capaz de fazer. Eu já vira ele tentando conseguir algo que queria muito, ele conseguia ser perigoso as vezes, como foi comigo.

  Resolvi parar de me preocupar com Ethan e pensar na nova fase da minha vida. Uma fase chamada Danny. Tentei ligar para ele antes de me levantar, mas ele não atendeu. “Deve estar dormindo” pensei. Me levantei e tomei um banho. Como era sábado, eu não teria nada pra fazer. Meu banho foi longo e cheio de canções perfeitas terrivelmente cantadas por mim.

Coloquei minha camiseta do System of a Down e uma calça rasgada no joelho. Calcei meu coturno de couro preto e coloquei minha jaqueta.

O dia estava frio, eu estava apoiada na minha janela observando o pequeno jardim da casa dos avós de Danny. Comecei a me perguntar por que será que ele não retornara minha ligação ainda. Pior, por que eu me preocupava com isso? Eu não podia me apaixonar de novo assim, tão facilmente. Era tão idiota, me iludir seria uma pedra no meu caminho agora. Eu precisava de um tempo pra mim. Mas ao mesmo tempo, queria gastar todo esse tempo com Danny, eu soava tão infantil pensando nele o tempo todo.

 Meu telefone tocou me desafogando destes pensamentos. Era Danny.

  -Oi Danny, pensei que você não ia me ligar. Você está legal?

  -Oi, Lili, é eu estou legal sim. Eu estava dormindo, desculpa.

   -Tudo bem. – respondi aliviada – E então, o que acha de irmos ao cinema hoje?

                -Eu tenho muita coisa pra fazer Lili, desculpa

   -Entendi. – confesso que falei meio decepcionada – Fica pra outro dia então.

  -Mas se quiser, - ele voltou atrás, acho que percebeu quando minha voz ficou decepcionada – eu passo aí mais tarde

    -Não, tudo bem. Sério. Eu vou comprar umas coisas, a gente se vê outro dia. Tchau Danny.

      -Tchau.

     Eu desliguei o telefone e fiquei pensando em como Danny estava estranho comigo. Isso não era nada bom. Tentei me distrair lendo o livro que ele me deu, ou ouvindo música, mas cada passo do meu dia me lembrava ele. Por isso meu dia foi um tédio total sem ele. Eu não gostava de me sentir assim em relação a alguém novamente. As vezes era bom, mas por experiência própria, eu sabia sempre acabava em dor.

                **

  Enquanto eu almoçava, ouvi batidas na porta. Eu não sabia como Wayne deixava as pessoas entrarem no prédio e subirem sem antes me avisar. Na verdade sabia sim, muitas vezes eu chegava no prédio e o via dormindo atrás do balcão. Velho inútil.

  Abri a porta e para a minha “não surpresa” era Ethan. Revirei os olhos e ele me deu um sorriso esperançoso.

   -Ethan, por que você ainda não foi?

   -Eu tenho que falar com você! – ele entrou como se eu tivesse o convidado para entrar       

 -Tudo bem, já que eu não tenho escolha, fala logo.

 -Eu não vou usar a desculpa de que achava que o remédio que eu te dei era pra dor, como eu sempre usei. – eu escutava atenta,  mas esse assunto era tão desconfortável como um milhão de facas me perfurando – Eu sabia que era um remédio abortivo, só não queria que um filho atrapalhasse nossa relação.

 -Então quer dizer que você matou nosso filho de propósito?

-Filho? – percebi que Ethan havia deixado a porta aberta e Danny estava parado lá atordoado – Essa parte, você não me contou Lili.

 -Danny, não é uma boa hora para conversarmos. – eu disse um pouco receosa.

 -Percebi. – ele saiu tão rápido que quando cheguei até a porta ele já havia entrado no elevador.

 Quando fui atrás dele, pisei sem querer em um embrulho branco de bolinhas roxas que Danny deve ter deixado cair. Peguei a pequena caixinha do chão e abri. Lágrimas escorreram por minha face assim que vi o que havia no embrulho de presente.

Danny havia comprado um colar igual ao que o assaltante levara de mim. O que eu havia ganhado da minha mãe antes de ela morrer.