Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 34
Ressaca


Notas iniciais do capítulo

Oi genteeee!
Aqui estou eu com um capítulo novo e, antes de mais nada, vou me desculpar pela demora. O negócio é que eu prometi a mim mesma que não escreveria mais nada enquanto não terminasse o último capítulo de Manchas - e agora que terminei, voltei pra vocês!! :3
Esse capítulo é dedicado pra duas pessoas. Pra Luiza linda aka Alask, porque hoje é o aniversário dela. Parabéns, coisa fofa!
E a outra pessoa pra quem eu dedico esse capítulo é pra uma amiga minha de anos. A gente se conheceu na quinta série quando ela foi atropelada na minha frente D: e tipo, ela é a pessoa mais talentosa que eu conheço. Eu sou apaixonada por uma série chamada Hemlock Grove e SHIPPO MUITO Roman e Peter, por isso ela fez um vídeo deles PARA MIM MWAHAAHAHA. Anyway, o vídeo é lindo, quem quiser ver tá aqui no canal dela, ela faz vídeos de séries e tals. https://www.youtube.com/user/TorresKarolina

Ok, agora vou agradecer às pessoas lindas que recomendaram PW, Fanfic Sagas e Sra Herondale. Muito obrigada, meninas, eu amei!
Espero que gostem do capítulo! Boa leitura!



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Suspirei, bebendo um gole da minha cerveja que já estava quente. Eu já estava começando a sentir calor, então tirei a malha que estava usando e coloquei-a nas costas da cadeira e prendi meu cabelo num rabo de cavalo (ele estava quase comprido o suficiente para os fios não ficarem escapando!). Eu deveria estar mais animada, mas um descontentamento geral com a vida havia resolvido tomar conta de mim naquele dia, fazendo-me ficar irritada e deprimida.

Nunca pensei que diria isso – mesmo para mim mesma –, mas eu bem que poderia fazer uso de um dos cigarros do Asher no momento.

O pior em dias como esse era não saber exatamente o que estava mexendo comigo. Não era uma coisa só, mas uma combinação de pequenas insatisfações que me faziam querer que aquele dia apenas acabasse.

– Que bicho mordeu você hoje, hein? – soou uma voz atrás de mim.

Não me virei, apenas terminei minha cerveja quente e sinalizei para o barman me trazer mais uma enquanto JJ dava a volta na mesa para sentar-se na cadeira à minha frente.

– Sei lá – resmunguei, afastando um fio que tinha se soltado do elástico do meu rosto. – Desculpa, eu sei que estou sendo uma péssima companhia hoje.

JJ sorriu daquele jeito encantador de bom moço dele, mas eu percebi que no fundo era meio forçado. Seus cabelos castanhos estavam sem a costumeira camada de gel e caíam em seus olhos escuros que permaneciam sem brilho nenhum, sem se importar que seus lábios estivessem sorrindo. Talvez eu não fosse a única meio para baixo ali. E, apesar do que dizem sobre solidariedade na tristeza, eu não me sentia melhor com aquilo. Saber que meu amigo não estava tão feliz como merecia ser só me deixava mais deprimida.

– Eu também não estou fazendo um bom trabalho – JJ disse, em seguida pedindo uma dose de uísque para o garçom que tinha vindo trazer minha cerveja.

Suspiramos ao mesmo tempo e rimos disso, embora fosse um riso fraco. O garçom trouxe o uísque puro de JJ e ele o bebericou enquanto eu derramava minha cerveja garganta adentro. Estávamos num bar perto do trabalho, onde uma banda que JJ gostava estava tocando. Ele que havia me convidado e eu senti que precisava ir, não sabia o que estava acontecendo com JJ, mas sabia que havia algo. Queria poder falar abertamente com ele, mas ambos estávamos meio reticentes, rodeando sobre o assunto sem nunca chegar nele de fato.

– Você chamou a Cherry e o casal vinte? – JJ perguntou de repente, rodando seu copo nas mãos.

Assenti, colocando minha cerveja na mesa.

– Cherry não vai poder vir – respondi, apoiando o cotovelo na mesa engordurada. – Ela disse que tinha coisas para resolver. Sabe-se lá o quê. Parece que o Mitch tem trabalho acumulado ou algo assim, mas a Erin disse que ia aparecer. Que não é só porque está com uma melancia entalada na barriga que não pode ter um pouquinho de diversão. Palavras dela.

JJ soltou um risinho pelo nariz e terminou seu uísque num gole.

– Estamos fazendo uma confusão, não é? – falou, quase como um desabafo, colocando o copo na mesa.

– Uma confusão? Com o quê?

– Sei lá. Com a vida – afastou o cabelo dos olhos como se aquilo o irritasse e se inclinou para trás na cadeira. – Era para ser mais fácil, não acha?

Era como se ele estivesse vocalizando meus pensamentos, dizendo exatamente o que estava em meu coração.

– Eu passei a infância inteira querendo ser adulta – confessei, melancolicamente. – Tinha uma ideia diferente do que é de verdade.

– Uma merda? – JJ ofereceu.

– Exato.

– O mesmo aqui, irmã.

– Pelo menos a gente pode transar.

– Agora você vai esfregar sua vida sexual na minha cara? Faz muito tempo que esse corpinho aqui não tem ação nenhuma.

Isso me fez quase cair da cadeira de tanto rir. JJ riu também e dessa vez pareceu verdadeiro. Enxuguei as lágrimas do canto dos olhos e me ajeitei na cadeira. Meu cabelo já tinha soltado do elástico em várias partes, então eu o soltei e o amarrei de novo, ainda rindo um pouco.

– Mas falando sério, Max – JJ falou, acenando para o garçom para trazer mais um uísque e voltando a ficar sério. – Você não acha que a gente está fazendo tudo errado?

Apoiei as pernas na cadeira sem me importar que estivéssemos num lugar público. Eu já não estava vestida para a ocasião de qualquer maneira, com meus jeans surrados, tênis e uma blusa que mais parecia um pijama, então nem liguei. Fiquei passando o dedo pela boca da garrafa da minha cerveja pensando sobre a pergunta de JJ. Eu achava que entendia o que ele estava dizendo. Não era uma coisa só. Era tudo. Todas as vezes em que me imaginei com vinte e três anos eu me imaginei uma pessoa diferente. Uma pessoa que tivesse tudo resolvido, tirando a vida de letra. Imaginava-me fotografando para revistas, morando em uma casa que fosse minha, provavelmente planejando meu casamento com James. Talvez eu tivesse um cachorro.

A verdade é que eu me imaginava sem problemas. Sem dúvidas, inseguranças. Eu achava que o caminho era um só e bastava seguir em frente.

É, eu era bem estúpida.

– É, às vezes eu acho que sim – suspirei, querendo ser fumante mais do que nunca. – Eu não sou nem metade do que queria ser com a idade que tenho. Não alcancei nada que pensei que teria alcançado. Não sei, só parece que eu tenho vinte e três anos e ainda não fiz nada com a minha vida.

O garçom trouxe o uísque de JJ e foi embora. JJ esticou o braço e segurou minha mão. Seus dedos eram muito macios na minha pele, confortantes.

– Acho que as pessoas que têm tudo resolvido ou são alienígenas ou mentirosas – bebeu um gole do seu uísque e ficou olhando para o líquido âmbar no fundo do copo. – Eu achei que teria uma vida diferente também. O pior é que sinto que nem devo reclamar, porque minha vida não é horrível, entende? Só não é...

– Como você queria que fosse – completei por ele.

JJ assentiu, puxando sua mão de volta e colocando os pés na cadeira, que nem eu, segurando seu copo com as duas mãos agora.

– O Ryan está lá em casa – soltou de repente.

Levantei a cabeça para olhá-lo, surpresa.

– O quê? – perguntei, pensando não ter ouvido direito.

JJ mordeu os lábios, parecendo miserável.

– Tem uma semana – contou, ainda olhando para o fundo do copo e tomando um gole ocasional. – Margareth e ele brigaram e ele saiu de casa. Disse que não tinha para onde ir e pediu para ficar comigo – seus olhos encontraram os meus e pude claramente ver a dor neles. Sua voz ficou mais baixa e, mesmo que estivéssemos bem longe de onde a banda estava tocando, ainda foi difícil de ouvir o que ele disse em seguida. – Ele não tem ideia, Max. Ele não tem a menor ideia. Ele não sabe o que faz comigo, o quanto me machuca apenas com sua presença. Ele sorri e me agradece por ser seu melhor amigo e ajudá-lo nesse momento. Porra, ele...ele tá quebrando meu coração – suas últimas palavras saíram como um soluço.

Eu não sabia o que dizer. Não tinha palavras para ele, então foi minha vez de me esticar e segurar sua mão. Seus dedos se fecharam nos meus, agarrando-se ao meu pequeno consolo.

– Eu sinto que não consigo seguir com a minha vida por causa do que sinto por ele. Eu sinto que ainda estou esperando que um dia ele perceba, de alguma forma, que...sei lá, que nós devíamos ficar juntos – JJ suspirou e bebeu mais um longo gole do seu uísque, para depois apoiar o copo e a cabeça na mesa. – Mas como eu sei que devíamos? Só por que eu quero? A verdade é que eu preciso deixa-lo ir, deixar isso ir. Esse sentimento que, para ele, nem existe. Eu tenho que aceitar e seguir em frente. Eu só não sei como. É tão mais fácil apenas amá-lo, Max. É só o que eu sei fazer.

Queria poder ter respostas para JJ. Queria poder lhe dizer o que fazer. Mas não podia. Não tinha ideia do que faria com que ele ficasse bem, o que era certo, o que não era. Sequer sabia se havia uma atitude certa ou errada a se tomar. O amor podia fazer mal? Eu sabia que sim. O amor de JJ por Ryan era precioso demais para ser esquecido, abandonado, ou era capaz de machucar tanto o meu amigo a ponto de se transformar em ódio e amargura?

Se alguém tivesse me feito essa pergunta há um mês, eu teria concordado, dito que ele precisava deixar Ryan ir sim, que não valia a pena amar alguém que não só nunca iria amá-lo de volta, mas nem era consciente dos seus sentimentos. JJ estava amando e sofrendo sozinho – e há muito tempo. Ele merecia seguir em frente e ser feliz.

Mas agora eu não podia dizer isso.

E se o amor por Ryan fosse a única coisa capaz de fazê-lo feliz? E se, mesmo não correspondido, esse fosse o sentimento que fazia dele a pessoa incrível, boa e linda que era?

Eu havia terminado com James porque não era mais capaz de amá-lo como um dia havia amado. E sabia que, se Asher não me quisesse, mesmo assim eu não poderia tentar apagar o que sentia por ele. Ainda que machucasse, eu não poderia fazê-lo sumir da minha vida feito mágica.

Talvez fosse melhor amar sem ser amado do que simplesmente não amar.

Passei os dedos carinhosamente pelos cabelos de JJ, cuja cabeça continuava apoiada na mesa.

Chamei o barman. Íamos precisar de mais uísque.

Quando Erin chegou, quase uma hora depois, JJ estava bêbado e eu estava seguindo pelo mesmo caminho, embora não costumasse ser do meu feitio. Hoje, no entanto, eu iria encher a cara e roubar um pouco daquela alegria falsa que o álcool provia.

Um pequeno pensamento cruzou minha mente, sobre as coisas que eu fazia quando bebia – tipo fazer uma tatuagem e convidar colegas de quarto gostosos pro casamento da minha melhor amiga – mas eu o ignorei rapidinho.

– Olha quem chegou! – JJ exclamou, passando um braço pelos ombros de uma Erin irritada e apoiando o seu peso nela. – A sra. Reed! Como vai o homem perfeito? E a cerquinha branca? E a melancia entalada?

Erin se desgrudou dele, contorcendo o rosto, provavelmente ao sentir seu hálito de uísque.

– Oh, que divertido – falou cheia de sarcasmo, jogando-se numa cadeira como um saco de batatas e tirando o moletom e o cachecol. – Vamos chamar a grávida pra sair e encher a cara. Oh, espera...

Tentei esconder as risadinhas bobas que saíam da minha boca com a mão.

– Desculpa, Erin – falei, sem conseguir parar de rir. – Não foi planejado.

Ela só me olhou com cara feia e pediu um suco de limão para o garçom.

– Você odeia suco – apontei. A mulher era uma eterna viciada em Coca-Cola.

– É, mas aparentemente, quando você está grávida, tudo te dá gases – Erin e sua honestidade assustadora...

JJ se jogou na cadeira ao lado dela e sorriu, mostrando todos os seus dentes brancos.

– Eca – disse. – Me lembrem de nunca engravidar.

Não consegui me segurar e literalmente caí da cadeira, rindo. JJ riu mais ainda e tentou me ajudar a levantar enquanto Erin se encolhia em sua própria cadeira, fingindo que não nos conhecia.

– Eu devia simplesmente ter ficado em casa hoje – suspirou enquanto eu me ajoelhava no chão e usava a mesa para me levantar. JJ conseguiu, milagrosamente, erguer a cadeira.

Quando todos voltamos a nos sentar de maneira – quase – decente, tentei sufocar o riso idiota e ficar séria. O garçom trouxe o suco de Erin, que tomou um gole e depois o largou na mesa, olhando-o como se o líquido a ofendesse.

– Qual o problema com a gente hoje? – perguntei, falhando miseravelmente na tentativa de ficar séria e voltando a rir. – Tá todo mundo emburrado.

Se olhar matasse, eu teria caído dura daquela cadeira com o fuzilamento dos olhos de Erin.

– Tente entrar no segundo trimestre e começar a ter um tesão desgraçado justamente quando seu marido resolve pegar trabalho extra – desabafou, rolando os olhos. – Sério, do jeito que eu estou até aquele cabeludo de meia idade com cara de pedófilo no balcão tá parecendo atraente pra mim.

JJ e eu viramos para olhar discretamente (nem tanto) o cabeludo de meia idade com cara de pedófilo no balcão.

– Eca – dissemos ao mesmo tempo, fazendo Erin esboçar o primeiro sorriso desde que chegara.

Ela terminou seu suco num gole só, fazendo careta como se fosse remédio, e se levantou.

– Bom, já que eu não posso beber, nós vamos dançar – falou, com as mãos no quadris, esperando que JJ e eu nos levantássemos.

Ligeiramente obrigados, fomos até a parte do bar onde a banda estava tocando e onde algumas pessoas dançavam e cantavam junto com a música. Larguei-me dos meus amigos e fui para o meio, fechando os olhos e me mexendo ao ritmo da música, sentindo-a em vez de ouvi-la.

Erin com certeza sabia das coisas. Não havia nada como dançar para se esquecer de pensar, deixando a música tomar conta da sua cabeça e corpo até tudo sumir ao seu redor.

E foi exatamente isso que eu fiz.

...

– Calem a boca, pelo amor de Deus – Erin admoestou enquanto JJ e eu, pendurados um no outro, não conseguíamos respirar de tanto rir.

Do que estávamos rindo? Não tinha nem ideia.

O elevador abriu e Erin nos empurrou para fora e, de alguma maneira, JJ e eu conseguimos alcançar a porta do apartamento de Cherry sem cair. Minha amiga tirou minha bolsa de mim irritadamente e cavou até achar as chaves, abrindo a porta em seguida.

Caímos para o lado de dentro, JJ por cima de mim, dando uma cotovelada violenta nas minhas costelas, mas eu nem senti a dor já que realmente não conseguia parar de rir.

– Só pode ser castigo por eu ter chamado minha mãe de velha maluca – Erin murmurou enquanto tentava fazer a gente levantar. – Isso é praga dela com certeza.

Cherry não estava em casa, o que foi um alívio, já que estávamos fazendo tanto barulho que a Cereja Assassina iria acordar com um humor dos infernos e bater nossas tripas no liquidificador.

Não sei como, mas Erin conseguiu nos levar até o meu quarto e nos fazer trocar de roupa. JJ acabou vestindo minha camisa Max’s Kansas City, já que era a maior que eu tinha, e meus shorts folgados de corrida. Eu estava com o primeiro pijama que Erin encontrou na gaveta da cômoda, que infelizmente ainda era do meu tempo de adolescente, ou seja, velho, rasgado em alguns lugares, mal me servia e tinha estampa de galinhas.

JJ se jogou na cama e estava roncando baixinho antes mesmo de sua cabeça tocar o travesseiro. Eu cambaleei, com a ajuda de Erin, até o banheiro para escovar os dentes. Precisei sentar na tampa do vaso sanitário porque já estava caindo, mas consegui segurar a escova sozinha. Erin se apoiou no balcão e suspirou.

– Desculpe por hoje – balbuciei com pasta de dente escorrendo pelo queixo. – A gente não queria te dar trabalho.

Erin bufou, soltando o longo cabelo do rabo de cavalo que estava usando e deixando-o cascatear por seus ombros. Ela tinha deixado seu casaco e malha em algum lugar, pois só estava usando uma blusa amarela de lã fina que parecia fazer sua pele brilhar.

Ou talvez eu estivesse mais bêbada do que pensava.

Mesmo com a pequena barriga saliente, Erin continuava sendo a mulher mais bonita que eu conhecia. Nem a carranca em seu rosto mudava isso.

– Não esquenta, Max – falou, finalmente relaxando a expressão e batendo na minha cabeça como se eu fosse um cachorrinho. – Não foi tão insuportável.

Sorri, deixando cair pasta de dente no pijama. Revirando os olhos, Erin me ajudou a levantar e cuspir na pia. Em seguida me entregou uma toalha.

– Mas por que vocês estavam bebendo? – ela perguntou, apoiando-me para voltar ao quarto. – Quer dizer, o JJ eu até entendo, mas você...você só bebe assim quando tem algo errado.

Consegui chegar até a cama do quarto e me deitei ao lado de JJ, que já dormia profundamente. Erin sentou-se na poltrona ao lado da cama e passou os dedos pelos meus cabelos enquanto eu bocejava.

– Eu sei – acabei dizendo, começando a me sentir sonolenta. – Tem algo errado.

– O quê? – perguntou, soando preocupada. – Algum problema com sua família? Com o trabalho? Com Asher?

Sorri e fechei os olhos. Eu estava me sentindo bem, deitada na minha cama e com os dedos de Erin em meu cabelo. Mas no fundo eu sabia que era uma felicidade enganadora. Eu certamente não estaria me sentindo tão bem se estivesse sóbria.

– Não. Sim – respondi, aconchegando-me mais no meu colchão. – Eu só não estou no meu melhor dia hoje.

Ela não disse nada, então, depois de um tempo, eu confessei:

– Eu não sei o que fazer com ele, Erin.

Abri os olhos e vi minha amiga olhando para mim com preocupação.

– Asher? – perguntou.

Assenti.

– Ele diz que gosta de mim, faz as coisas mais fofas, me faz derreter como manteiga na frigideira – fui falando, sem ter certeza de que estava fazendo sentido. – Sem falar que ele me fode como... –

– Muita informação! – Erin interrompeu-me, me fazendo soltar uma risada. – Eu não quero saber da sua vida sexual, muito obrigada.

Franzi o cenho.

– Você nunca teve problemas com detalhes antes – e era verdade. Erin sabia de cada detalhe da minha vida sexual com James e muitas vezes ela que me incitava a falar.

– É, mas no momento eu estou tão excitada que posso acabar molestando o seu abajur – suspirou. – Então sem falar de sexo, ok?

Eu ri, ainda flutuando na minha nuvem de álcool, embora ela começasse lentamente a se desfazer.

– Eu só queria confiar nele – falei de repente, voltando à nossa conversa. – Mas sinto como se nem o conhecesse. Na verdade, não conheço.

– Você morou com o cara, Max.

– Sim, eu sei que ele gosta de sucos de soja e de espionar os vizinhos. Mas eu não sei nada sobre seu passado, sobre sua história. A única coisa que sei sobre sua família, descobri por acidente quando a irmã dele invadiu o apartamento há uma semana. Ele não fala comigo, Erin. Oh, ele me beija, me escuta, me faz rir, faz amor comigo, mas, apesar das palavras saírem de sua boca, eu sinto como se ele não estivesse dizendo todas as coisas que importam.

Meus olhos já voltavam a se fechar e eu sentia o sono se aproximando como uma sombra que ia me cobrindo.

– E eu tenho medo disso – continuei, já meio perdida entre realidade e sonho. – Medo de me entregar tão completamente a alguém que não pode fazer o mesmo. Ou que, pelo menos, não me ama o bastante para fazer o mesmo.

Ou que não me ame de qualquer jeito.

Eu nunca cheguei a ouvir a resposta de Erin, se é que ela me deu alguma. Senti areia nos meus olhos quando o sono chegou e me levou com ele.

...

Acordei com JJ puxando meu pé e quase me derrubando da cama, dizendo que estávamos atrasados para o trabalho. Eu estava com a mãe de todas as dores de cabeça. Esse negócio de trabalhar no sábado era a maior furada e, sinceramente, mal podia esperar para pedir demissão.

E ficar desempregada.

Oh, eu não devia estar pensando nisso agora ou minha dor de cabeça iria apenas piorar.

– Acorda, porra – aparentemente JJ estava tendo aulas de delicadeza com Erin. – Estamos atrasados!

Resmunguei, puxando meu pé de volta, sabendo que devia me levantar, mas sem conseguir convencer meu corpo a fazer isso.

– Estamos na casa da chefe – murmurei para o travesseiro, ainda de olhos fechados. – Ela vai entender.

– Talvez, se ela estivesse em casa, embora eu duvide – JJ arrancou minhas cobertas e começou a jogar peças de roupa na minha cara.

Um rapaz adorável, com certeza. Devia ser por essa personalidade errada que aquele corpinho não estava vendo ação nenhuma ultimamente.

– Espera aí – falei, me sentando e tirando um moletom da cara. – Cherry não está em casa?

JJ deu de ombros. Ele já estava meio vestido com a calça cinza colada e a camisa de botões vermelha que usava ontem. Seu suéter ainda estava nas costas da cadeira.

– Não, acho que ela não dormiu aqui.

Xinguei baixinho, levantando da cama e procurando pelo meu iPhone. Apesar de estar morando com Cherry há pouco tempo, eu sabia que não era normal que ela dormisse fora de casa sem avisar. Aliás, não era normal que ela dormisse fora, ponto. Então, foi um alívio encontrar o celular no fundo da bolsa e ver uma mensagem dela, dizendo que estava tudo bem e que ela não ia dormir em casa.

Suspirei, deixando meus ombros caírem e indo para o banheiro tomar banho e ver se conseguia acordar.

Minha cabeça ainda latejava quando entrei na cozinha de roupão. JJ estava tomando uma xícara de café e comendo torradas com geleia. Eu estava me sentindo desidratada como se tivesse andado por dias no deserto, então peguei um copo e o enchi com água da torneira, bebendo-o de um gole, aproveitando para engolir duas aspirinas. Depois, coloquei café numa caneca e me sentei à mesa ao lado de JJ, que me entregou um post-it com um recadinho de Erin, murmurando algo como “estava na geladeira”.

“Saber que vocês estarão com uma britadeira na cabeça pela manhã me faz muito feliz. É nisso que dá sacanear a amiga grávida. Amor, Erin”.

– Capeta – murmurei.

JJ só assentiu, parecendo tão mal quanto eu.

Terminei meu café e levantei da mesa, muito enjoada para pensar em comer alguma coisa.

– Se você vestir outro moletom, eu juro que toco fogo em você – JJ ameaçou, lembrando da minha roupa do dia anterior com óbvia reprovação. – Tenta não se fantasiar de mendiga, por favor.

Mostrei a língua para ele, mesmo sabendo que era um gesto infantil, e fui me vestir. Que nem gente, dessa vez.

...

O trabalho foi estranho naquele dia. Estranho do tipo desconfortável. Para começar, eu ainda estava de ressaca – e tentando me equilibrar nos scarpins vermelhos que JJ me obrigou a usar por ficarem perfeitos com minha saia lápis preta –, além de precisar ficar aguentado Cherry se esquivando das minhas perguntas. Ela não parecia bem e eu tinha um palpite que uma certa pessoa tinha algo a ver com isso.

– Será que você pode, por favor, me deixar em paz e ir fazer seu trabalho? – perguntara depois de eu segui-la por toda a galeria tentando descobrir o que estava acontecendo. – Veja só, o Sr. Hawk já está aqui.

É, para completar, era a primeira vez que eu precisava ver Chris desde a festa de ano novo. E além de largar o cara no meio da festa, eu ainda tinha ignorado todas as suas ligações. Que vadia.

Surpreendentemente, Chris chegou com um sorriso, agindo como se nada tivesse acontecido, o que só me fez sentir mais culpada. Eu fui mostrando para ele os últimos detalhes, já que a exposição tinha sido adiada para o próximo sábado, e ele se portou como o perfeito cavalheiro que era, sem saber que era exatamente isso que me deixava desconfortável.

Se fosse o contrário eu estaria xingando o cara e provavelmente exigindo que ele me desse algum tipo de explicação.

Mas o cara só tinha elogios para mim.

– Tudo está perfeito, Max. Ninguém teria feito melhor.

Enrubesci e agradeci, ansiosa para me livrar dele, por algum motivo que nem eu mesma entendia.

Christopher sorriu e olhou em seu relógio.

– Que tal aproveitarmos que hoje é sábado e irmos beber alguma coisa? – perguntou, ainda sorrindo lindamente para mim.

Ew, só de pensar em beber meu estômago já embrulhava. Eu nem tinha sido capaz de comer mais do que duas garfadas da minha salada no almoço. Sem falar que eu tinha outros planos.

– Obrigada, Chris, mas eu realmente não posso – falei com um sorriso amarelo.

Ele arqueou uma sobrancelha para mim.

– Vai sair com outra pessoa? – perguntou. E eu não deixei de me perguntar por que ele achava que tinha o direito de me fazer aquela pergunta, mas não me deixei ficar irritada.

Eu não sabia qual era o meu problema. Ele era meu amigo e só estava me fazendo uma pergunta inofensiva. Eu precisava parar de ser excessivamente sensível.

– Bem, é – confessei. – Vou sair com meu namorado.

– Namorado? Eu não sabia que você tinha um.

– É uma coisa meio recente.

Eu estava encostada em minha mesa e, antes que eu pudesse perceber o que estava acontecendo – talvez porque ainda estivesse de ressaca e por isso com reflexos lentos –, Chris se aproximou mais do que o conveniente e enrolou uma mecha do meu cabelo nos dedos.

– Se for quem eu estou pensando, acredito que você merece coisa melhor, não alguém que a trate de maneira tão...incivilizada – murmurou, olhando para baixo em meus olhos. – É o cara da festa de ano novo, não é?

Ok, agora ele já estava passando dos limites e, enquanto eu me preparava para – educadamente – dizer que ele não tinha nada a ver com isso, uma voz que eu conhecia muito bem se adiantou, da porta da minha sala:

– Ele mesmo. Asher Lockwood, O Incivilizado. Agora, será que dá pra tirar as mãos da minha namorada?


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Notas finais do capítulo

Hey, e aí, gostaram? Eu ando um pouquinho decepcionada com os leitores de PW, porque tem tantos e são poucos os que deixam reviews. E pra quem vier dizer que é porque eu demoro pra postar: já pensou que eu possa demorar pra postar justamente porque não tenho nenhum incentivo? Tudo bem que dessa vez foi por outro motivo, mas de vez em quando eu me sinto simplesmente desmotivada :(
Bom, eu gostei muito desse capítulo e espero que vocês tenham gostado também.
Ah, o que vocês acharam da capa nova? Gostaram ou preferem a antiga? Me digam! (foi a nana que fez e eu amei hahaha)
Beijos e até a próxima!