Iris escrita por diginyan


Capítulo 9
A Voice In The Dark




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"Ficamos felizes que vocês tenham comparecido. O Pentágono não pode comparecer, e, portanto, fazem-se presentes por meio deste oráculo, que reflete fielmente o pensamento de cada um de seus líderes.

Seremos breves, pois há muito o que dizer-lhes, e ainda mais a fazer. Há muitas primaveras o mal extinguiu-se destas terras, e fora expurgado pelas mãos e pelo sacrifício do maior arauto que já existiu neste continente. Seus esforços prolongaram a paz por anos inconcebíveis, e hoje, a corrupção assola o curso natural da vida. Não podemos permitir que isto prossiga, ainda mais por mãos de discípulos nefastos. Existe um artefato que é protegido pelos mais poderosos alados, e rcoeúne em si a essência de cada divindade. Ainda que tenha como finalidade a proteção das raças inferiores às deidades, já fora usado em benefício próprio. Não podemos permitir tal atrocidade ocorrer novamente, e por tanto, requisitamos sua ajuda."

O silêncio tomava conta do grande salão, onde postavam-se sentados os jovens discípulos em círculo, ao redor de um grande cristal que refletia nas grandes paredes as cores do arco-íris.

"Ainda que seja estritamente necessário, compreendemos que talvez algum de vocês não esteja preparado, ou sinta que sua ajuda não será útil à nossa causa. Desta maneira, vocês estão livres para que sigam suas histórias sem nossa interferência."

Entreolharam-se todos, até que o gnomo levantou-se e partiu, deixando um espaço vazio na grande mesa. O sátiro observou o lugar vazio, e compreendeu os motivos do antigo companheiro de viagens. Lembrou-se do incidente na floresta, e pediu a bênção aos elementos para que tivesse sido apenas um pesadelo ruim... muito ruim.

"Muito bem. Cada um de vocês precisa deixar suas ambições pessoais para trás. Não existe glória pessoal nisto. Vocês devem amar, sim, a todos que conhecem, e, se acharem que será mais válido, lutem por eles. Mas, acima de tudo, vocês devem pensar no coletivo.

Vocês devem estar perguntando-se a missão que lhes daremos. Pois bem: vocês devem partir ao sul, mas em direções diferentes, onde não existem mapas precisos, e mais além da concepção dos Alados que rodeiam nossos reinos. Repetimos, quem crer não ser digno deste fardo, ainda pode partir. Seus cursos serão diferentes, e suas missões, talvez mais perigosas. Precisamos correr riscos, pois no futuro não haverão outras opções."

Orube fitou profundamente Vincent. Ela sabia que o Arauto do Cataclismo precisaria ir sozinho, porém, também sabia que desejava isto - porém, eram ordens do Pentágono, e não havia forma de contornar este destino.

"E agora, vocês podem partir. Lhes daremos as informações necessárias em breve, e esperamos que sejam todos triunfantes. Não sabemos com o que estamos lidando, e talvez hajam perigos infindáveis através dos limites conhecidos. Que os deuses lhes protejam."

Em um reflexo de segundo, todos encontravam-se no centro da capital arcana, de certa forma confusos e ainda estonteados. A maga correu para os braços de Vincent, com um olhar preocupado. Apesar das palavras de conforto do guerreiro, a ninfa sabia que não podia alterar o futuro - coisas ruins podiam acontecer, e não haviam certezas de que nem ele, nem ela, estavam prontos para isso.

A noite passara rápido, mais do que os dois amantes desejavam. A aurora tornava a raiar no céu liláceo de Somnium, e precisavam partir. Despediram-se com um último beijo, com as últimas juras, e um último "eu te amo" soprado ao vento. A ninfa prosseguiu em seu corcel, alvo como a lua, e fora a primeira a deixar a capital. Logo atrás de si, o shaman a seguira, porém, já em direções opostas. Não tivera tempo de contar à Orube o que sonhara naquela noite tempestuosa, e não tinha certezas se ela tivera visto o mesmo. Sendo assim, orava para os elementos que tudo desse certo, no final.

–x-

Os dias de viagem que seguiam-se um atrás do outro deixavam a maga exausta. Seus sonhos a levavam em contato com Vincent, e ela podia sentir o mesmo que seu amado, mesmo que por apenas algumas horas. Esta ligação o acalmava e o dava forças para continuar em sua jornada, da mesma forma que acontecia com ela.

As mudanças repentinas de clima e vegetação deixavam a jovem ninfa confusa, e a diferença entre vilarejos diversos a impressionavam. Encontrara pequenas aldeias de diferentes raças, incluindo algumas que nunca havia visto antes, nem mesmo nas capitais. Enquanto atravessava mais as estradas que levavam aos limites dos reinos, observava que a escassez de Alados, os guardiões dragônicos crescia pouco a pouco. Em determinado ponto, já não era possível observar nenhum destes que fosse puro - apenas híbridos, com asas em tons diferentes, e até mesmo físicos que diferiam dos guardiões. A vegetação em torno das estradas tornava-se mais densa, de uma flora exótica. Já não podia identificar todas as espécimes, mesmo tendo grande conhecimento em herborismo, por ter aprimorado-se neste campo enquanto estava na Escola Ametista. A fauna diversa também a encantava, e durante várias noites, passara maravilhada ouvindo a melodia das harpias, enquanto observava o céu noturno, repleto de constelações diferentes.

Também passara por imprevistos, e, algumas vezes, encontrava-se com mercenários que passavam furtivos. Costumava congelá-los e partir, sem ferir desnecessariamente, pois lhe era penoso precisar tirar a vida de alguém. Não entendia a barbárie e a brutalidade, as quais Vincent usava em combate - e apenas em combate, felizmente.

–x-

Já se passavam duas estações quando Orube ouvira os primeiros rumores de sua missão. Descansava - um luxo que não se dava sempre - em uma taberna, enquanto observava se haviam pergaminhos destinados a si, e alguns comentários eram feitos sobre uma caverna, a dias de distância do vilarejo. Dois orcs e um centauro falavam, em um rústico idioma comum, sobre as lendas que rodeavam o local, e da forma que ninguém nunca pudera aproximar-se da entrada daquela gruta.

–Talvez ninguém tenha sido homem o suficiente para entrar, não?

Os indivíduos viraram-se, confusos, para a ninfa.

–Hum... A pequenina acha que é forte? Que pode saber o que tem lá? Pois não pode. Não mesmo.

O orc, junto com as palavras, expelia um quase insuportável cheiro de álcool. Mas, não era de se esperar menos.

–É perigoso lá, moça. Tem barreira mágica. Diz ter dragão.

–Dragão? Centauro, eu vi dragões. Mas, se puderem dizer-me o que mais ouviram falar, eu agradeceria...

Entreolharam-se os três. Quem era esta jovem, afinal? De qualquer maneira, estavam estupefatos demais para prosseguir a conversa. Em um canto escuro, acendeu-se uma pequena lamparina. A atenção de Orube voltou-se para a silhueta que entornava-se ainda obscurecida. Em um contato de olhares, e tudo silenciou-se. De encontro à ninfa, uma curvilínea djinn traçava o caminho por entre as mesas. Tudo permanecia imóvel e silencioso, e a maga tentava conter sua admiração.

–Arauto da Noite... Talvez perdida? Não... certamente não.

O olhar daquela criatura era profundo e desafiador. Era uma espécime tão rara quanto a ninfa; remanescentes dos reinos etéreos, viviam dentre as nuvens, até que a corrupção de seu povo os trouxe para as terras desconhecidas. Lhes restavam suas caudas voláteis, que deslizavam por quaisquer superfícies, e eram exímios ilusionistas. Não tiveram impactos na história dos reinos, e alguns nem mesmo acreditavam em sua existência - como Orube, até dado momento.

–Você tem algo que eu queira? Ou isto é só para confundir-me?

–Talvez eu tenha informações, minha jovem. Talvez... mas talvez não.

E assim, a ilusão se fora, da mesma maneira que começara. No lugar da lamparina, entretanto, havia uma pequena algibeira. A ninfa seguiu até a mesa, tomou a algibeira para si, e instintivamente saiu da taberna, ignorando a conversa com os orcs e o centauro.

Prosseguiu até a estalagem em que pousava, e, cuidadosamente, abriu o item que havia pego anteriormente. Dentro da algibeira, encontrara uma ampulheta. Dentro da mesma, um pó levemente azulado permanecia trancado por uma trava. Interessada, porém desconfiada do que aconteceria, a ninfa destrancou delicadamente a ampulheta, para que transcorresse normalmente. Quando o último grão de areia havia passado para o outro lado, um brilho anil tornara a resplandecer no quarto de Orube. Em um dos locais menos iluminados pelo luar, a silhueta da djinn surgiu novamente. Seus longos cabelos cacheados eram do mesmo tom da areia que compunha sua ampulheta - azuis-claro como o céu vespertino. Seu rosto continha algo de misterioso, mas ainda assim, era extremamente atraente para quaisquer olhares desavisados.

–E então, você não conteve a curiosidade... Isto é bom, Arauto.

–Minha curiosidade é saber o porquê você se interessa.

A maga inspirava exatamente o que sentia: a vontade de saber mais, e uma leve desconfiança por trás de suas intenções.

–Você precisa do artefato, não precisa?

–Como você sabe? E... do que exatamente você está falando?

–A ilusão envolve bem mais do que apenas confundir, querida.

A djinn fizera referência a voltar para sua ampulheta, porém, fora impedida pela maga.

–Diga-me seu nome. Diga-me o que sabe.

–Ny'slor. - Os olhares das duas belas criaturas encontraram-se, desafiadoramente. De certa forma, criavam confiança - Você procura o Manto Lunar. É isso que posso dizer-lhe com certeza.

–Mas... O Pentágono disse-me que eram artefatos criados pelos deuses.

–Exatamente, maga. É uma grande lenda, e está perdido há tantos invernos que não existem calendários que poderiam definir; nem mesmo as apuradas contagens mantidas pelo reino Glaciel. Fora tecido com os sonhos de Nix, e, diz-se poder ocultar qualquer silhueta por baixo de si. Ele tem todo o firmamento em sua extensão, e incumbe a quem o usa toda a bênção da noite. Aqui. - Moveu delicadamente os dedos pelo ar, e materializou um pergaminho no colo de Orube, que sentava na beirada da cama, iluminada pela Lua. - Isso lhe explicará.

A visão de Ny'slor tornou-se novamente apenas o pó que constituía o interior de sua ampulheta. Desenrolando cuidadosamente o grande pergaminho, pudera observar, em um alfabeto antigo, que tratava-se de uma das lendas anciãs. Pergaminhos como estes rodeavam os cinco reinos, e valiam medalhas raríssimas, por terem sido manuscritos há eras atrás, quando os anões ainda forjavam suas armas, e os elfos dividiam-se em raças.

Calmamente, leu toda a história em prosa, que contava-lhe os mitos sobre Nix, que havia dominado o Caos, com o custo de perder seu amado. Ao final, um sentimento de angústia tomara a jovem ninfa, porém, ao adormecer e observar novamente a face de seu amado em seus sonhos mais profundos, a paz e o amor voltaram ao coração da maga.


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